sábado, 31 de dezembro de 2011

CIVILIZAÇÃO ATURDIDA - I - Paradoxos da Vida - José Jorge Peralta


Civilização aturdida


CIVILIZAÇÃO ATURDIDA - I
- Paradoxos da Vida -
José Jorge Peralta

I
O MUNDO NA GANGORRA

1. As dificuldades pelas quais passam muitos países, na atualidade, não são apenas problemas localizados. São também a resultante de atitudes programadas, a longo prazo, por instituições diversas que tentam dominar  os Estados e as pessoas, sob a conivência subserviente de alguns. As salamandras e as cassandras estão por toda a parte; as omissões, o medo e a mediocridade também. Alguns apenas querem levar vantagens, nesse simulacro de cassino global, que elegeu a economia como seu valor máximo e vai esquecendo os valores humanistas.
Nesta reflexão, limito-me sumariamente, apenas às grandes articulações mundiais dos últimos 50 (cincoenta) anos, no plano político, econômico,  cultural e humanístico. Um novo Código Mundial de interação humana vai sendo implantado, sorrateiramente, enquanto o Código Humanista vai sendo descartado, em silêncio....
Escrevo esta reflexão para propor elementos pelos quais as pessoas poderão tentar saber se os abalos pelos quais passa a nossa civilização ocidental, são normais da condição humana, ou se há uma traição geral instaurada. Cada um tire a sua conclusão.
Queremos entender o mundo  em que vivemos, sentindo  o seu verso e o reverso; com sua lógica e seus paradoxos; com olhares múltiplos...
Este texto é  um esboço inicial, em processo de construção.

2. Neste momento defrontam-se o Código Consumista, de índole egocentrista, e o Código Humanista, altruísta e solidário.
Não podemos continuar a ser manipulados, inconscientemente, por estas forças paradoxais, sem termos consciência do que se passa. Elas  interferem, em toda a nossa vida, sem sabermos para onde estamos sendo levados, como objetos inconscientes das forças que nos impelem.
Somos “orientados” pela imensa parafernália dos fantásticos meios de comunicação, em princípio, democráticos, à disposição de todos (?!)
Quanta vidas são ceifadas anualmente, nos últimos 50 anos, em guerras formais, entre grandes conglomerados ou entre grupos rivais?

3. O nosso mundo Ocidental precisa de uma eminentíssima revisão, para superar as incertezas e recuperar a dignidade e a liberdade, a paz e a prosperidade.
O maior inimigo da justiça e da liberdade é o medo que leva à omissão de muitos.
São poucos os que regem o mundo, como marionete, mas são competentes e ágeis. São poucos mas sagazes e persistentes, sem ética e sem limites, agindo em diversos estratos sociais internacionais. Suas armas são desleais e às vezes letais. Mas ainda há espaços de liberdade e de luz que precisamos cultivar e sempre preservar.
Precisamos redescobrir nossa identidade humana, com seus valores essenciais, com dignidade e honra, justiça e equidade, solidariedade e altruísmo. Quem não pensa é tutelado, julgando-se livre...

Não podemos enfrentar tão forte  arsenal,  com nosso olhar complacente  e com nossa omissão. A lei é clara: para cada ação uma reação adequada.
Não podemos cruzar os braços, como se a questão não nos diga respeito.
Não há lugar para os quatro macacos: “Não vejo, não ouço, não falo e não faço”...Omitir-se é subjugar-se.

 4. Está em curso, fragmentada e sorrateira, a Terceira Guerra Mundial, com nova estratégia, ainda mais sórdida que a segunda e a primeira, sem que ninguém a entenda como tal. Ante um mundo atônito e comodista, que não  se dispõe a reagir, a luta se instala,  em todas as dimensões das organizações sociais, e na vida  interpessoal.
Que interesses se movem nessa nova orquestração? A quem interessa? O objetivo é o pensamento único, no consumismo desenfreado? Ou há algo mais?
As trincheiras e os baluartes de nossa civilização são os princípios  sólidos que a alimentam, fortalecem e propagam. Destruídas essas trincheiras, na manha ou  na violência, nossa civilização se abala; perde os alicerces e se enfraquece.
Para muitos, a dignidade, a honra  são conceitos ultrapassados, fora de lugar; a liberdade, a solidariedade e a paz são ainda palavras usuais, com sentidos alterados e utilitários, para enganar os incautos.
A questão é complexa. Precisamos equacioná-la, com cautela.

5. As sociedades modernas, anteriormente posicionadas entre os eixos conflituosos EUA-RÚSSIA, nos tempos de guerra fria, na segunda metade do século XX, legaram-nos o vírus  de grande tensão conflituosa, que se  alastra por todo o planeta. Há lutas entre países, entre cidades, entre pessoas e entre ideologias, em macro e micro dimensão.
Conflitos sempre existiram; são congênitos àcondição humana. Mudou a máquina que os impulsiona, sem limites, com uma voracidade espantosa. E mudou muito mais, na percepção ou nas consciências das pessoas.
Que seres humanos, forma a nossa educação ocidental? Queremos formar a pessoa integral, ou robôs?!

II
CONFRONTO DE VALORES E PRINCÍPIOS

6. A tensão bipolar, EUA-Rússia, desfez-se, mas não acabou. Permaneceram suas sequelas ameaçadoras e desagregadoras. Deixaram o mundo em permanente convulsão. O patrimônio material e econômico tornou-se o centro privilegiado das atenções, com a derrocada dos valores morais e humanistas, da ética, da honra e da dignidade. Estes ficaram relegados a segundo plano, em muitos grupos sociais. Até os valores espiritualistas, muitas vezes se degradam, na falta de uma formação mais profunda e holística, ou se confrontam em lutas por um poder banal, às vezes brutal.
O planeta todo é um imenso campo de batalha. O Mestre já adiantou: “Não vim trazer paz mas a espada”. É uma ordem contra a omissão e o medo.
As tensões da guerra fria deslocaram-se das relações internacionais e contaminaram as  relações pessoais, interpessoais e intergrupais. Semearam a cizânia e a consequente incerteza, aliada  da ganância de muitos. Produziram a insegurança e a violência, que se propagam como praga.
Neste mundo incerto, matam-se muito mais pessoas, com palavras ferinas, com maledicência, com artigos de jornal ou com sentenças de tribunais, do que no gatilho dos bandidos, no trânsito caótico ou nas guerras insensatas. Tudo isto se passa, ante o olhar complacente do farisaísmo legal.
As Agências de Notícias selecionam e enfocam as ocorrências do modo que  lhes interessa, para dirigir a consciência das “massas” e a todos controlar.

7. Em vez de bombas atômicas, usam-se outras “bombas” mais destruidoras, mais eficientes e letais: Histórias em quadrinhos, que passam na televisão, o dia inteiro, para crianças e adolescentes; outros programas de televisão, rádio e games de computador, filmes e até canções e notícias.
Fazem da morte e da trambicagem, ocorrências triviais; fazem da vida um valor descartável, ocasional. Fazem dos bens materiais o único ideal.
Cria-se o conceito de guerra deletéria, sem limites, em nome da liberdade de comunicação. É asupremacia do mercado sobre a vida.
É doutrinação explícita em massa. Essas são as armas e trincheiras mais mortíferas e eficazes. São capazes de pulverizar os princípios humanísticos e éticos multisseculares que garantem a força matricialpropulsora de nossa civilização e da dignidade humana, que, entretanto, carregam em seu bojo forças deletérias, selvagens, desumanas.
Diante de tais forças deletérias dos meios de comunicação, a assistência bate palmas para o bandido e vaia o  justo humilhado...

III
OS ARAUTOS DOS NOVOS TEMPOS

8. As Grandes Resoluções da ONU/UNESCO, sobre Direitos Humanos e outros complementares, assim como os memoráveis documentos da Igreja, sobre a Justiça, a Dignidade e a Fraternidade humana, são letras mortas, ou enfraquecidas, diante da avalanche dos programas de comunicação em massa, que atingem muitos milhões de pessoas, por segundo, durante as 24 horas do dia. Esta inversão de valores é facilitada pela impotência e a incompetência dos pais e das famílias, para coibir tão graves invasões dos nossos lares, que  dizem serem invioláveis. Mas não são mais...  As  pessoas responsáveis continuam em silêncio cúmplice!! A omissão é o refúgio  dos fracos e dos néscios.
Os modernos meios de comunicação são uma força estupenda, em todos os extratos sociais, para o Bem ou para o Mal.
Uma imagem vale mais do que milhões de palavras... Ponto para os mídia.
A família perdeu quase toda a autoridade sobre seus filhos, com trágicas consequências. As famílias vivem atônitas, sem saída (?!). Nosso tempo não distingue liberdade de libertinagem e de opressão mascarada.
omissão e o comodismo de muitos levou a essa situação periclitante. As pessoas têm medo ou preguiça de pensar. Não querem ser incomodadas.

9.  Assim o inimigo vai implodindo dez mil anosde história e conquistas, ferindo a civilização, mas garantindo a sobrevida do consumo descontrolado. A volta da barbárie... vai produzindo  montanhas de lixo tóxico..., eletrônico ou moral.
Sem disso nos apercebermos, vivemos numa condição de “guerra” planetária. É a eterna luta do bem contra o mal e do humanismo contra a  ganância deletéria dos chacais.

Mas apesar das aparências pouco alentadoras, bem sabemos que “não há mal que não se acabe, nem bem que sempre dure”.  Se assim é, não podemos desistir. Precisamos persistir.
Precisamos saber encontrar a saída. Ela existe.
Cada um faça a sua parte. Ninguém se omita.
Precisamos preparar os arautos dos novos tempos. Mas não sejam babacas. Qual será a nova mensagem, capaz de articular e de superar tantos paradoxos?!

10. A Ética Protestante e o Espírito Capitalista, de que muitos falam, está revelando as suas contradições mais deletérias e anti-humanistas.
O predomínio da economia, traz algum bem-estar e mais desequilíbrios e frustrações. A felicidade, em  vez de estar  mais perto, está mais longe.
Defrontam-se, em nossas vidas, o novo Código Mundial, de índole consumista e o Código Humanista, altruísta, incrementado pela  ONU (?) e pela Igreja e por outras instituições dignas e conscientes.
O caminho da solução poderá passar peloencontro entre todas as religiões sérias e de boa vontade, onde cada um terá algo a oferecer pela universal fraternidade, num ponto matricial de intersecção.

CIVILIZAÇÃO ATURDIDA – II
- Paradoxos da Vida -  
IV
A BARBÁRIE OU GUERRA A PRINCÍPIOS?

11. Acreditamos que a luta  pela sobrevivência e as dificuldade e desafios da vida, fazem parte dacondição humana. No entanto as lutas grupais são acirradas, cada vez mais, na complexidade mundial. Vence quem enfrenta os desafios, com brio e saber. Mas a equação não é tão simples assim.

Ninguém está contente com o que tem e quer o que de outro puder tirar.
Mas trabalhar de sol a sol, talvez passando sede e fome, poucos toleram. Levantar cedo, trabalhar, estudar, amealhar cultura, compartilhar vivências na comunidade, solidariamente, altruísmo, a muitos aborrece. O egocentrismo a muitos aniquila.
 A ganância é como o fogo: sempre quer mais. Sempre foi assim.
A mentira, para muitos, é válida, desde que traga vantagens. Alguns, repetindo muitas mentiras, pensam que estas se transmutam em verdade e se desiludem e frustram... A mentira é sempre mentira; não adianta adoçar a pílula! A verdade é sempre verdade, ainda que amordaçada ou vencida por sentenças jurídicas falseadas.
É a guerra suja implantada. 
É uma guerra de malvadeza, por pseudo ou reais direitos pessoais, grupais ou nacionais, armada até em alguns tribunais. Uma guerra econômica, com trapaças milionárias e outras mazelas, como a maledicência e a injúria institucionalizadas.

12. Para sair da enrascada, é só se dispor a trabalhar e ir a luta, como pessoas capazes e não parasitas. Quem foi enganado busque se esclarecer. Não se deixe passar por otário. Sem dedicação e trabalho não há bem-estar
Há uma “guerra suja” da barbárie, que somente poderá ser contida, com a restauração de um humanismo sadio, que restabeleça a dignidade, a justiça, o respeito, a honra e a equidade e o espírito deempreendedorismo, em cada célula da humanidade.
Precisamos aprender, uma vez por todas, sem medo e sem covardia: tudo o que é organização humana precisa estar sempre em estado de renovação, como o dia e as estações do ano. Nada pode se petrificar, sob pena de se inviabilizar. Precisa estar em estado de Restauração permanente, para não cair na imobilidade estéril. Precisamos sempre trabalhar e estudar.
No cristianismo, Pedro significa “pedra”, solidez, mas não petrificação.

13. O epicentro da crise, ao menos na Europa, está na miragem divulgada de que é possível viver bem sem trabalhar, à custa de subvenções e empréstimos que mais tarde precisam ser pagos. Não podemos nos enganar e nos iludir.

Muitos reclamam por suas condições precárias... Mas na Escola, na Faculdade, em vez de estudarem para fortalecer ideias e o poder de criatividade, dedicação e responsabilidade competente, privilegiaram a diversão, os folguedos, com sombra e água fresca, e a conquista do Diploma. Este, sem  o correspondente saber, é apenas um pedaço de papel descartável.
O Diplomado, sem saberes, sem competências e sem habilidades e sem espírito de cooperação, convivência e dedicação, não vale nada. É pessoa descartável. Foram enganados por uma Academia sem compromisso, talvez omissa.
Criamos uma geração enrascada e perdidaque procura mordomias e sinecuras, que já estão tomadas. Só vence quem refizer seu percurso e for à luta; quem arregaçar as mangas e for trabalhar com compromisso de produzir e de recuperar a consciência humana. Quem só procura facilidades já está derrotado...




V
A VOLÚVEL CONDIÇÃO HUMANA


14. Em todas as profissões, ao lado de muita gente competente e séria, há os desonestos, corruptos e os chacais. Este é o nosso mundo real. Precisamos nos acostumar... Na vida nada é fácil, mas traz compensações para os capazes.
É uma guerra política para atacar rivais que têm de se defender, pelo direito de decidir com liberdade. Querem açambarcar o comando local ou extorquir países, até então soberanos, e subjugá-los. É a disputa institucionalizada.
Vivemos em estado de guerra de interesses e de rapinagem, contra os bens culturais, psíquicos e materiais, ou contra a honra alheia. A guerra é uma constante, na espécie humana. Quem não souber reagir é tragado...
Mas estejamos certos de que, entre os humanos, nem  o bem e nem o mal são absolutos. Não há mal que não possa melhorar, nem bem que não possa piorar. Precisamos estar preparados.
Não podemos voltar aos tempos da feroz Inquisição, nem cair na imóvel omissão.

15. Esta condição foi instaurada a partir daderrocada dos princípios e valores que garantiam a coesão, o respeito, a dignidade, a honestidade e a responsabilidade das pessoas e das comunidades, nas relações pessoais e impessoais, e o bem-estar de todos. Sabemos, no entanto, que estes princípios sempre foram  relativos e relativizados. Não são absolutos.
Na prática, muitas vezes,  a teoria é outra.

16. A incoerência sempre reinou, até nos espaços onde menos se espera, com um farisaísmo endêmico...
Hoje vai se instaurando o princípio de que oúnico valor é “levar vantagem”, a qualquer preço e em qualquer condição. O jogo, a mentira, a trapaça, a burla e a simulação são lei geral, para quem adere a tais princípios letais.
Num passado recente esta inversão de valoresera mais discreta e camuflada. Hoje é quase oficializada, mas mantém a máscara, para vender “gato por lebre”.
Vai se implantando a lei da selva, da barbárie, como se fosse o paraíso da liberdade e do bem-estar.
Sentenças de morte, contra inocentes, são dadas e executadas até em alguns tribunais, (morte psíquica) e nas ruas das cidades, por vagabundos astutos, por todo o nosso mundo.
São muito poucos, talvez 1%, os semeadores de cizânia; mas conseguem abalar a segurança global e a esperança na humanidade. Conseguem  abalar os pilares da civilização e deixar o mundo à deriva.




VI
DIVERSIDADE NA PRAÇA UNIVERSAL

17. A rapina e a barbárie encontram caminho livre, quando se extinguem os princípios, que garantem a convivência solidária e a dignidade,.
Quando se derruba um princípio essencial, todos os demais vão tombando, lentamente, como umdominó universal, se não formos capazes de estancar o processo, com uma ação preventiva, pronta e previamente preparada.  A teoria do dominó merece mais atenção: quando umA lei muda todas as demais podem mudar, se a ocasião for propícia e a omissão persistir.

Para toda a ação precisa haver uma reação proporcional, para mantermos o equilíbrio na sociedade.
Se as forças negativas, desagregadoras, agem, persistentes, contra as forças positivas, agregadoras, também as forças positivas precisam reagir, na mesma proporção ou mais intensamente, contra as forças negativas, por  estas serem deletérias e destrutivas. As forças positivas e as forças negativas estarão sempre em confronto irreconciliável, em toda a humanidade.
O confronto existe e é viável, porque o positivo nunca é absolutamente positivo e nem o negativo é absolutamente negativo. Quase tudo pode ser mudado...
Repito: Entre os humanos, não há bem que não possa piorar e nem mal que não possa melhorar. E vice-versa.
Os males de uma região, às outras, rapidamente, se espalham e a muitos contaminam, pela agilidade os meios de comunicação de massa!
Mas também o bem tem grande força de irradiação se seus agentes  não se omitirem, sentados na presunção... e no espírito derrotista.

18. Vivemos frente à frente, numa Praça Universal.
Mas os triunfos da humanidade serão sempre precários e passageiros. Há uma luta permanente, entre os princípios do bem e os princípios letais, entre os adeptos dos primeiros e os adeptos dos segundos.
No fim, todos sabemos que os princípios dobem triunfarão, ainda que  percam muitas batalhas evitáveis, por omissão ou covardia de alguns.
É sabido que os filhos das trevas são mais ágeis do que os filhos da luz, quando estes se acovardam.

19. Está na hora de pensarmos como utilizar os instrumentos,  ágeis e eficientes, da comunicação à escala mundial, para formular os novos princípios, construtores da  solidariedade, da equidade, da paz, com a superação da barbárie. Precisamos recuperar aalteridade global.
Precisamos reunir todos os obreiros/operários da paz, com justiça, dignidade e solidariedade, para podermos, juntos, construir um mundo melhor para todos, independentemente de religião que professam, da nação, da raça ou da condição social.
Que todos os obreiros da paz se sintam e respeitem como irmãos, reunidos em princípios essenciais que os irmanam, pois Deus é amor e o amor tudo tolera e tudo suporta. É a unidade na diversidade.
Este é o grande desafio que o Criador propõe à humanidade, tal como Gideão testou os seus soldados (Juízes 7).

20. Apesar dos desconfortos, essa luta permanente,  entre as forças do bem e do mal, é mais bem-vinda do que uma pasmaceira geral que deixa as pessoas desocupadas, amorfas e insensíveis. Esta afirmação é mais um paradoxo vital que nos inquieta e nos estimula.
Ficamos então com o poeta Gonçalves Dias:
“Não chores meu filho
Não chores, que a vida
é luta renhida.
Viver é lutar.
A vida é combate
 que os fracos abate,
E os fortes, os bravos
só pode exaltar!”
Só teremos uma civilização traída, se cada um não fizer a sua parte.

poder e cidadania


PODER E POLÍTICA
SOBERANIA E CIDADANIA
                                                       na opinião do Prof. Peralta

Em Conferência, na Casa de Portugal de São Paulo, no dia 28 de maio, o Prof. Dr. J. Jorge Peralta declarou que o Governo do PS, em Portugal, precisa ouvir e atender o povo e cultivar a auto-confiança da nação, respeitando as forças matriciais que a sustentam. Precisa fazer Política, com P maiúsculo.
        Aqui apresentamos um resumo de um dos sub-tópicos desenvolvidos pelo Professor...
        No mundo moderno, as pessoas precisam conviver com a diversidade. A pluralidade é a grande marca do nosso tempo. Todos estamos sempre aprendendo.
         É exigência de liberdade responsável e da justiça. Quem se acomoda incomoda.
         Fazer Política também é promover a esperança, com dignidade e responsabilidade; é levar prosperidade e bem estar; é promover a cooperação entre todos.
         Não se concebe um regime, dito democrático, considerar o seu opositor como seu inimigo. A oposição responsável e sadia é necessária, numa real democracia. Deve ser respeitada e ouvida.
         Assim sendo, não se concebe, no Governo do PS, chamado Socialismo Democrático, a repulsa aos portugueses, que depois de 35 anos do 25 de abril,mantêm viva a sua veneração por Salazar. Outros pensam diferente. É o direito de cada um.
         Liberdade de opinião é para todos ou é só para alguns? Alguém optou  pelo pensamento único?
         Este é apenas um aspecto do posicionamento do Governo, mas o conferencista considerou-o essencial. No entanto, na Conferência, este também foi apenas um sub-tópico das idéias abordadas.
         Se a Democracia é o Governo do Povo, pelo Povo e para o Povo, quem está no poder tem todo o direito que ter as opiniões que quiser, mas não pode repelir as manifestações livres da opinião do povo, como se uns poucos fossem  os “donos” da “verdade”. O povo precisa se manifestar “sem censura”.
        O Governo Democrático precisa saber respeitar as opiniões contrárias às suas. Eventuais desmandos precisam ser  apontados e eventualmente contestados.Ou então declare-se implantada  a “tirania”(?!)
        Mas este é um Governo “Democrático”. Não têm o direito de satanizar ninguém. Seria atitude repressora insustentável. Estaria na contramão da história.
         A Tirania, decididamente, não sabe conviver com a Democracia.
         Então é preciso coerência, sem atitudes dúbias. É preciso transparência.
         Dizia o Grande intelectual, Antero de Quental, fundador do primeiro Partido Socialista em Portugal, em 1870:
                         “Revolução não quer dizer guerra, mas sim, paz;
                          não quer dizer licença, mas sim ordem”
          O Governo atual, do PS português, parece que ainda não conseguiu implantar o Socialismo Democrático que prometeu ao povo.
         O PS precisa saber implantar a alternativa democrática que o povo escolheu. Precisa ouvir e atender à vontade do povo que o elegeu. Só o povo é soberano.
         O povo certamente não está com saudade do regime precedente, cuja época já passou, mas não aceita o desrespeito a um homem, para ele, imortal.
         O que quer é que o atual Governo tenha mais responsabilidade e severidade, no trato do patrimônio público; que garanta uma educação melhor para todos; que garanta a prosperidade da nação; que estimule os empreendedores da nação, na indústria, no comércio e na agricultura, na ciência e na tecnologia; que coíba os abusos e a corrupção.
         O Governo tem obrigação de cultivar a auto-confiança e a auto-estima do povo. Os desmandos e inconsistências deste governo fazem o povo ter saudade do regime precedente. Isto é absolutamente  normal e legítimo.
         Em vez de cultivar um insustentável complexo de culpa, o governo precisa saber elevar a moral da nação, recuperando nele a confiança em seus altos destinos.
         Um governo que se posiciona à margem da nação não se sustenta. Perde a legitimidade.
         Com uma educação sucateada, tudo vai ruindo...
         O primeiro baluarte que desmorona é a auto-estima. Levar o povo e a juventude a perder a auto-estima, é crime de lesa-pátria.
         O Professor Peralta proferiu a Conferência a convite da nova Direção do Partido Socialista de São Paulo, dentro de um programa de Formação de Quadros de Lideranças Políticas. O Conferencista é professor da Universidade de São Paulo (já aposentado).
         Desenvolveu o tema: Política e Cidadania – Fazer Política, no Mundo Luso-Brasileiro.
         Insistiu que a Política séria é uma ação essencial nas sociedades democráticas.
         Nossos jovens precisam saber que a militância política não é  atividade para corruptos, como muitos pensam; é atividade digna para pessoas  dignas que amam seu país, seu povo, a quem devem servir com dignidade e competência, em benefício de todos. Os Políticos sérios procuram o bem e não os bens do povo, como dizia o grande Vieira.
         Precisamos formar a juventude para o exercício pleno e responsável da cidadania. Precisamos de uma educação séria do homem integral, concluiu.
       O Professor Peralta falou para uma platéia atenta, interessada e bem informada, que teve participação efetiva nos amplos debates que sucederam a apresentação do tema, do qual aqui demos apenas uma amostragem.
         Em outros momentos poderemos dar destaque a outros tópicos muito interessantes da palestra.
         O texto que serviu de base à palestra está publicado no websítio: Portal da Lusofonia (clique) 

          http://www.portaldalusofonia.com.br/poderepolitica.html

eduarda fagundes e o novo ano


                                                               Ano Novo, novos tempos
                                                                                      
                                                     
                                                      Foto: arquivo particular
 
Num mundo tão competitivo, na disputa pela vitória, seja no esporte ou na vida, o homem lança mão de tudo que tem, desde o seu conhecimento até as ultimas novidades tecnológicas e científicas. No fito  do "ouro", faz buscas,  exercícios à exaustão, consome drogas, permitidas ou não, que na maioria das vezes lhe corroem a saúde, lhe consomem o brio e até a  vida. Será que vale a pena ? Será que o lema do ressuscitador das Olimpíadas, o barão de Coubertin, de que o importante é competir, é válido para se ser feliz?
 
No vai e vem das civilizações o ponto comum são as constantes transformações. E a cada mudança o homem, seu provocador e utente, procura corresponder às exigências da sociedade a que pertence.  Como ferramentas de inserção usa a tradição, a história, o conhecimento que a educação traz. Mas num mundo,  como o atual, sem fronteiras culturais, com informação em tempo real, está cada vez mais difícil manter ou criar um  modelo específico educacional  capaz de,  ao mesmo tempo,  respeitar a individualidade cultural  e capacitar o cidadão para um espaço globalizado.  Cada vez está mais difícil manter regras morais que afinem com os conceitos pessoais, que não agridam os princípios históricos e culturais dos povos em geral. Aqueles que nos sucederão  estão praticamente dependentes das máquinas e da comunicação virtual. Vivem em constante estresse para se manterem  atualizados. Estar "antenado", ciente do que acontece no mundo e  na mídia,  é a geral prioridade. Quem não está por dentro do que acontece nos quatro cantos da Terra  é desprezado, ignorado, é um zero à esquerda no grupo de relacionamentos.
 
Desde que Guttemberg descobriu a imprensa no século XV,  até os tempos atuais,  com a internet do séc. XX,  o homem deu um passo gigantesco na comunicação e aproximação humanas. São tantas as notícias e novidades que o cérebro não é capaz de processar tudo o que recebe e de reter tanto saber.Todos esses conhecimentos se refletem no nosso cotidiano,  interferem nos nossos relacionamentos, influenciam  nossas avaliações e valores. Tudo isso nos deixa estressados, fadigados e se tentarmos absorve-los caímos na estafa, na doença,  ou então, periódica e preventivamente,   nos alienamos de tantas noticias, para proteger a saúde de nossas mentes.
Achar o meio termo é um desafio. Só mudando a conduta, criando uma certa autonomia capaz de responder equilibradamente às solicitações da sociedade presente, alcançaremos qualidade de vida, objetivo daqueles que nos precederam e de nós mesmos.  Talvez o bem-estar da humanidade esteja, hoje, no evitar confrontos, comparações, cobranças desproporcionais e descabidas, no estimulo ao respeito cultural dos povos, à volta do ritmo educacional do contador de histórias, mesmo que seja virtual, quando a criança tinha tempo para brincar, assimilar e experimentar as suas descobertas, exercitar a sua criatividade, aprender e vivenciar as coisas verdadeiramente importantes. Utopia? Quem sabe? Se, como humanidade,  já auferimos tantos conhecimentos científicos,  quem sabe agora também cresçamos na espiritualidade, na capacidade de realmente sermos entes completos, mais felizes!
As perspectivas e objetivos desta nova geração para este incipiente milênio deveriam ser repensados. O  éthos , o comportamento social mais saudável e harmônico, a  postura equilibrada  entre a tecnologia e os recursos da natureza, a busca de ideais e de idéias, deveriam ser  prioridades voltadas para a sustentabilidade e sobrevivência da Terra. Quem sabe desta vez a sabedoria  adquirida ao longo dos séculos supere a ganância,  o egoísmo e a mediocridade humana neste novo ano que se inicia? Talvez assim tenhamos uma chance de habitar este planeta, de termos um lar, de existir, por mais uns tempos!
 
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 31 de dezembro de 2011

festival internacional literário em macau 2012




Macau: 1st International Literary Festival – China

Description: http://portuguese-american-journal.com/wp-content/uploads/2011/12/macao-7-250x180.jpg
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Writers from Greater China and the Portuguese-speaking world will participate in the 1st “The Script Road” [Rota das Letras] Literary Festival to be held in Macau from January 29 to February 4, 2012.
Jointly organized by Macau-based Ponto Final newspaper and the local Portuguese Society of Arts and Letters (SAL), in partnership with the Instituto Português do Oriente (IPOR), the event will coincide with the 20th anniversary of the Portuguese-language daily Ponto Final.  According to Ponto Final, the organizers expect the event will attract an estimated  four thousand people.
The goal is to provide Chinese and Portuguese-speaking writers with a platform to exchange views. The festival will include debates, workshops, a book fair and a tribute to Macanese writer Henrique de Senna Fernandes, who passed away last year. A concert is also planned, with musicians from Portugal, Brazil, China and Macau.
Participants include Chinese awarded authors Su Tong, Jade Y. Chen. Su Tong. Well-known names from the Portugal’s literary world, such as José Luis Peixoto, José Rentes de Carvalho, José Rodrigues dos Santos, Alice Vieira and Rui Cardoso e Martins, will also attend the festival. Luis Fernando Veríssimo and Tatiana Salem Levy will represent Brazil.
In addition, the visiting writers will be invited to write short stories about Macau that will later be published into a bilingual edition to be launched at the 2nd “Road of Letters” Literary Festival to be held in 2013.
paj.cm



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POESIA BRASILEIRA: A BOA SAFRA


de diálogos lusófonos


POESIA BRASILEIRA: A BOA SAFRA DE 2010-2011, POR CLAUDIO WILLER

“Nossos críticos continuam preferindo os poetas inteligentes: aqueles racionais, precisos, rarefeitos e bem comportados. E continuam a lamentar a ausência de novos poetas, sem atentar para o que se passa ao seu redor”


Atenção: este evento virtual foi criado para maior circulação e reflexão deste artigo, conto com apoio de todos e todas para maior circulação, divulgação, diálogo, comentários.

(Artigo publicado: Rumos literários - Revista E - SESC São Paulo, nº 176, 2011).

Autores citados por ordem alfabética: Abílio Terra | Afonso Henriques Neto | Andityas Soares de Moura | Augusto de Guimaraens Cavalcanti | Celso de Alencar | Chiu Yi Chih | Claufe Rodrigues | Davi Araujo | Edson Bueno de Camargo | Elizabeth Lorenzotti | Érica Zíngano, Renata Huber e Roberta Ferraz | José Geraldo Neres | Josoaldo Lima Rego | Samarone Marinho

Rumos literários - Ilustrações: Marcos Garuti


Sendo o Brasil um país marcado pela diversidade cultural, é natural que as linguagens artísticas reflitam essa pluralidade de pensamentos e sotaques. É o que ocorre também na literatura contemporânea brasileira. No entanto, livros recentes compartilham tendências estéticas e temáticas.

(...)

Poesia brasileira: a boa safra de 2010-2011

por Claudio Willer

Terão os poetas contemporâneos brasileiros enlouquecido? Entrado em pânico? Em irrefreáveis surtos visionários?
É a impressão que se tem ao ler versos como estes, do recente Uma Cerveja no Dilúvio (7 Letras, 2011), de um poeta do Rio de Janeiro, Afonso Henriques Neto:


há um incêndio a lavrar pela noite
lambendo as páginas da agonia
verbo carbonizado nos cornos do apocalipse
nas cenas de uma bíblia enlouquecida
lábios por onde a poesia
vomitara lascas de labaredas
árduas centelhas do mito
evangelhos soterrados sob negros estampidos
relâmpagos solvidos em rochedos de neblina


Veemente anúncio de um fim do mundo em tom, ritmo e imagens que lembram Jorge de Lima.
Encontra eco em outro lançamento recente, Poemas Perversos (Pantemporâneo, 2011), de Celso de Alencar, paraense radicado em São Paulo:


Devolvamos o rio
Devolvamos tudo aquilo que lhe pertence
[...]
Devolvamos a morte estremecente
e, além da morte,
o cemitério viajante e afundado.
Devolvamos tudo, inclusive o leito experimentado
que acolhe a vastidão de nomes inteiros
e a vida com suas mamas profundamente desfiguradas.
Devolvamos o rio.


Afonso Henriques Neto e Celso de Alencar são poetas maduros, que estrearam, respectivamente, na década de 1960 e 1970. Seus lançamentos estão entre os mais importantes do biênio. Outros mais jovens exacerbam essa dicção através de imagens, de modo não discursivo. Proclamam seus apocalipses pessoais (no duplo sentido da expressão apocalipse, como fim de mundo e revelação).

Um deles, Chiu Yi Chih, de São Paulo, com Naufrágios (Multifoco, 2011):

inclino-me áspero pinheiro / nos ecos do Amargo
a rachadura é dourada / flor que desafeiçoa
nada nos assegura neste assombro de pássaros.
sinistra morada, esta que nos lança à desaparição.
irreparável símbolo, meu rosto: planeta fora do seu berço

Faz par com o vigor de Augusto de Guimaraens Cavalcanti, do Rio de Janeiro, em Os Tigres Cravaram as Garras no Horizonte (Editora Circuito, 2010): tropicália exacerbada, contracultura atualizada por um poeta jovem, releitura do melhor da beat, surrealismo hoje.


Querem mais imagens poéticas? Mais expressões não discursivas? Novos exemplos de poesia onírica? Que tal José Geraldo Neres, do ABC paulista, com sua prosa poética em Olhos de Barro (Multifoco, 2010): “Água e silêncio. Dedos vazios mergulham à procura dos peixes outrora semeados. Nem girassóis, nem milagres e a carne das palavras. Dou ao tempo outro cardume”. Texto onírico, regido pelo deslocamento.


A seu lado – lançaram juntos – Edson Bueno de Camargo em Cabalísticos, enunciando uma poética e citando Ginsberg:

o poeta é sacerdote
da própria religião
[...]
Rimbaud foi
bruxo a seu tempo
usou a extinção de sua quintessência
e fez poesia além da palavra

A destacar, também, uma obra coletiva fio, fenda, falésia (edição das autoras, Proac-São Paulo) de Érica Zíngano, Renata Huber e Roberta Ferraz, que acabara de lançar lacrimatórios, enócoas (Oficina Raquel, 2009). Comparecem com uma apoteose da fusão de gêneros, da escrita em todas as direções e possibilidades, mas sempre bem resolvidas, com um padrão consistente nessa diversidade: livro que não deveria ser apenas lido, porém estudado e carinhosamente decifrado.


As novas possibilidades da edição – do hipertexto em papel de Érica, Renata e Roberta, passando pelos objetos mais estranhos da produção contemporânea, propositadamente confundindo tudo, à leveza digital de Elizabeth Lorenzotti: a experiente jornalista e poeta estreante mostra como o macrocosmo está evidentemente presente no microcosmo (desde que se saiba ver) com As Dez Mil Coisas (Amazon, 2011), disponível só em e-book.
Analogia coexiste harmonicamente com ironia em Livro Ruído (Eucleia, 2011), de Davi Araujo, paulista prolífico que encontrou editor em Portugal e escreve sobre “Adeus a deus” e “O teatro e meu duplo”.


Poesia se faz no Brasil todo. Josoaldo Lima Rego já foi chamado por mim de “maranhense cosmopolita” por ver “Uma Nadja, sorrateira pelos becos” e proclamar que “é preciso sonhar a anistia dos manicômios” em Paisagens Possíveis (7 Letras, 2010). A propósito de maranhenses cosmopolitas, além de literariamente elegantes, Samarone Marinho, com Atrás da Vidraça (7 Letras, 2011), incluindo a inquietante série intitulada “(imemoriáveis aleijões beckettianos sussurrados da janela do quarto)”.


São exemplos. Haveria mais. Mineiros alquimistas, místicos de elevada dicção, como Andityas Soares de Moura, com Aurora Consurgens (7 Letras, 2010), e Abílio Terra, com Numa Floresta de Símbolos (Alcance, 2010). Mostras de que o romantismo é contemporâneo, em O Pó das Palavras (Ponteio, 2011), do carioca Claufe Rodrigues, experiente difusor e divulgador de poesia.


A safra de poesia de 2010-2011 foi vigorosa. Cabe perguntar se a crítica se deu conta. Infelizmente, à exceção de uma bela resenha de Moacir Amancio (outro poeta extraordinário) tratando de Poemas Perversos, de Celso de Alencar (publicada no suplemento Sabático de O Estado de S. Paulo), nada disso foi comentado, ou quase nada – nossos críticos continuam preferindo os poetas inteligentes: aqueles racionais, precisos, rarefeitos e bem-comportados.


E continuam a lamentar a ausência de novos poetas, sem atentar para o que se passa ao seu redor. Uma Cerveja no Dilúvio, de um poeta da qualidade e importância de Afonso Henriques Neto, ainda não ter recebido nenhuma resenha importante em órgãos da grande imprensa – assim pagando o preço por ser avesso ao mundanismo literário – é admissão de alheamento geral.


Talvez tão importante quanto as boas edições em livro seja a ampliação dos espaços públicos, das chances de poetas se mostrarem ao vivo e se comunicarem com leitores efetivos ou potenciais. Em Belo Horizonte, uma programação semanal e já tradicional. No Rio de Janeiro, aquelas récitas, proliferando há décadas.


Em São Paulo, além da importante função da Casa das Rosas como polo irradiador, graças ao esforço de Frederico Barbosa e colaboradores, estimulando novos saraus (uns 40 por mês na cidade toda, ao que consta), há programação em unidades do Sesc, em bares e casas noturnas, no refinado Lugar Pantemporâneo. E um novo e importante espaço institucional para a poesia, com a abertura da programação de leituras e palestras no Centro Cultural São Paulo, coordenado por Claudio Daniel, também poeta de qualidade.


Caberia mencionar alguns bons mecanismos de subvenção, como o Programa de Ação Cultural (Proac) em São Paulo, compensando o preconceito de alguns editores e muitos livreiros. Existem, também, premiações inteligentes. Precisaria, ainda, falar das revistas que publicam poesia; da continuidade de Coyote, do reaparecimento de Babel, entre outras. E do que circula no meio digital. Mas isso demandaria outra matéria. Importa registrar que só não repara na boa poesia contemporânea brasileira quem não quer; quem sofrer de total inaptidão para o gênero.


“Nossos críticos continuam preferindo os poetas inteligentes: aqueles racionais, precisos, rarefeitos e bem comportados. E continuam a lamentar a ausência de novos poetas, sem atentar para o que se passa ao seu redor”

Claudio Willer é poeta, ensaísta, tradutor e autor, entre outros livros, de Um Obscuro Encanto – Gnose, Gnosticismo e Poesia (Civilização Brasileira, 2010) e Geração Beat (L&PM Editores, 2009)

Reprodução do artigo publicado no link:

http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=422&Artigo_ID=6415&IDCategoria=7412&reftype=2

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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

salvar o Tua


Caros amigos,
 
Segue abaixo o link para o blogue AVENTAR onde está disponível o Relatório do ICOMOS/UNESCO que tanto tem dado que falar. Existem duas versões disponíveis: a versão original em inglês e uma versão traduzida para português (em actualização).
 

Agradeço divulgação.
 
Pela defesa do DOURO Património Mundial e pela defesa da Linha e pelo Vale do Tua, um BOM ANO para TODOS!

Atentamente,
Célia Quintas
Associação dos Amigos do Vale do Rio Tua

Date: Friday, December 30, 2011, 12:00 PM

Olá a todos.
O Aventar publicou hoje o relatório do ICOMOS, em Inglês e sua tradução em Português, em que ficam bem demonstrados os malefícios da Barragem do Tua.
Era importante divulgarem o máximo possível.
Bom ano para todos!

EUGENIA LINGUÍSTICA


Língua e eugenia

JOÁM EVANS PIM 30 DE DECEMBRO DE 2011 0

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A eugenia (em inglês eugenics), muito esquematicamente, consiste na aplicação de políticas públicas para a melhora genética de uma população. Galton definiu-a como “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente”. Introduzida polo darwinismo social, teve o apoio de economistas liberais como Keynes, socialistas fabianos como H.G. Wells ou conservadores como Churchill. Qualidade genética estaria relacionada com classe social, defendendo-se a esterilização dos grupos inferiores (i.e., mais pobres, na lógica industrial capitalista) para o benefício da sociedade.
Em termos gerais, este pensamento associa-se às formulações racialistas do século XIX e primeira metade do século XX assim como à sua aplicação política, principalmente na Alemanha nacional-socialista e nos Estados Unidos (neste caso até os anos sessenta). Mas como doutrina de “higiene pública” teve grande seguimento mesmo entre pensadores de esquerda como Salvador Allende (vejam-se as obras de Victor Farías) ou entre o anarquismo (vejam-se os acordos do IV Congresso da CNT celebrado em 1936). A “Politica de Branqueamento” praticada no Brasil apoia-se em teses similares (O espetáculo das raças de Lilia Schwarcz é especialmente ilustrativo).
Embora tenha surgido do geneticismo (e, por tanto, do determinismo biológico), a própria definição oferecida de eugenia por Galton permite a sua extensão para a melhora de qualidades “mentais”, entre as quais se tem enquadrado a língua. As teorias de relatividade linguística de Sapir e Whorf, por exemplo, estabelecem certa base para o desenvolvimento de uma eugenia linguística, pela qual algumas línguas seriam mais apropriadas para certos usos, enquanto outras não seriam válidas para o seu uso pleno, devendo limitar-se o seu cultivo e mesmo proceder à sua esterilização.
A eugenia linguística teve historicamente um forte seguimento na Galiza, onde desde o “Ressurgimento” se tem privilegiado uma visão da língua ligada aos usos folclóricos (florais, poéticos, …) mas afastada do cultivo ensaístico e científico, apenas rachada pela decidida coragem do Seminário de Estudos Galegos. Boa parte das “elites” que administram o país continua achando que o português da Galiza pode ser bom para tratar com o gado, ou mesmo para a poesia folclórica, mas não para a ciência, meios de comunicação ou usos “elevados”. Esta doutrina exerce uma pressão fundamental na vertiginosa queda de falantes em todos os setores e, em especial, entre os jovens.
O “Decreto do Plurilingüismo no Ensino”, aprovado polo atual governo autonómico, é mais um reflexo da política de eugenia linguística. A consequência prática desta medida legislativa é a primazia do espanhol em matérias fundamentais como matemáticas, ciências sociais ou física e química, enquanto a língua da Galiza é relegada a disciplinas consideradas periféricas ou marginais (artes, educação física, empreendedorismo, etc.). Assim, continua fomentando-se publicamente a visão de que o português da Galiza dificulta ou impede a progressão e êxito social, sendo ainda uma língua de Untermenschen que cumpriria esterilizar. A língua própria pode ser, em palavras do atual Conselheiro da Educação, “un muro para el futuro”. Ou, na visão expressada polo Conselheiro da Cultura: “La cultura gallega está muy bien pero limita”.
Conscientes das profundas verbas de Castelão, “se ainda somos galegos é por obra e graça do idioma”, os principais promotores da eugenia linguística na Galiza sabem que o linguicídio é passo fundamental e imprescindível para o etnicídio ou genocídio cultural do povo galego. Não é estranho que as próprias elites culturais galegas, totalmente dependentes dos subsídios e subornos eugenistas, continuam fieis à sua posição colaboracionista justificando a lógica desesperada de fugir e ocultar o caminho mais simples, natural e viável para a dignidade e primazia da nossa língua: a via extensa e útil da Lusofonia.