sábado, 19 de maio de 2012

liberdade de imprensa: pressões políticas contra a RTP Açores




Comunicado do Conselho
                                            de Redação da...
João Soares Ferreira 18 May 21:16
Comunicado do Conselho de Redação da RTP-Açores (TV)

Nos últimos dias o bom nome dos jornalistas da RTP-Açores foi posto em causa por dois políticos com responsabilidades na nossa Região, de uma forma absolutamente lamentável e que os membros eleitos deste Conselho de Redação repudiam veementemente, na defesa da honra e do bom nome dos profissionais que, legitimamente, representam.
O primeiro caso ocorreu na Assembleia Legislativa Regional com o deputado e líder do CDS-PP Açores, Artur Lima, e o segundo caso ocorreu na ilha de São Miguel com o Secretário Regional dos Equipamentos, José Contente.
O caso Artur Lima
No passado dia 11 de Maio, quando o parlamento discutia duas propostas de resolução do PPM e do PSD sobre a situação na RTP-Açores, o líder do CDS-PP caluniou de forma desabrida e vergonhosa os profissionais da RTP-Açores, sugerindo que não eram isentos e que estavam ao serviço de alguns partidos.
Disse ainda que para alguns jornalistas da RTP-Açores a coesão acaba no umbigo deles “porque têm o seu ordenadinho ao fim do mês e estão–se borrifando para a coesão das outras ilhas e para a pluralidade democrática”. Disse ainda que, todos os meses, existiam exemplos desses na Assembleia Regional.
Artur Lima acusava os profissionais da RTP-Açores que cobrem os trabalhos parlamentares de falta de isenção (apontando na direção da cabine da RTP), dando como exemplo o facto de não terem dado voz a uma intervenção de um deputado do CDS-PP.
Referia-se a uma intervenção do deputado Luís Silveira sobre as lhas da Coesão, afirmando que fora a única a não ter tratamento noticioso por parte da RTP-Açores.
Para além de não ser verdade, pois não foi a única a não merecer tratamento noticioso, o tema da coesão tinha sido alvo de um conjunto de perguntas ao governo três semanas antes, na sessão de Abril, por iniciativa do PPM, onde todos os partidos, incluindo o CDS-PP, intervieram.
A rasteira acusação teria, segundo o sr. Artur Lima, a intenção de “calar o CDS-PP”, intenção “malévola” que não passa de um delírio do sr. deputado.
O senhor deputado esquece, ou desconhece, alguns «pormenores» que já tinha obrigação de conhecer:
- Nos serviços de informação diária é impossível relatar tudo o que se passa no parlamento. Há, naturalmente, um processo de seleção. Que é, e sempre será, de carácter subjetivo. Quando o sr. Artur Lima aparece na televisão entende que é um bom serviço. Quando não aparece entende que é mau e que peca por falta de isenção.
- Os jornalistas que cobriram os trabalhos parlamentares de Maio deram prioridade ao que consideraram mais importante, pois para além das intervenções em plenário tiveram também de cobrir várias conferências de imprensa dos partidos na esfera da atividade parlamentar, inclusive com o CDS-PP. Uma das reportagens a que foi dada prioridade, em detrimento daquela que o sr. Artur Lima queria que tivéssemos feito, foi uma conferência de imprensa conjunta do CDS-PP com o PSD.
- Curiosamente, nesta semana em que o sr. Artur Lima decidiu atacar, de forma vil e rasteira, os responsáveis pela cobertura dos trabalhos parlamentares para a RTP-Açores, foi o próprio líder do CDS-PP, entre os deputados de todas as bancadas, aquele que apareceu mais vezes na televisão.
A RTP-Açores e os seus profissionais, que no entender do sr. Deputado «não são isentos», cobriram acontecimentos em que por cinco vezes o sr. Artur Lima aparece a falar de viva voz. Foram igualmente feitas reportagens com intervenções de outros deputados do CDS-PP, nomeadamente de Paulo Rosa e Luís Silveira.
- Repudiamos a forma despudorada e injustificada como o Sr. Artur Lima pretende atingir o bom nome dos profissionais da RTP-Açores. Se tem razões de queixa deve dirigir as suas baterias para outro lado.
- Se a intenção é intimidar e condicionar o trabalho dos jornalistas da RTP-Açores está a perder o seu tempo. Como já anteriormente fizemos, quando é necessário dizer basta a comportamentos abusivos não temos receio de o dizer. Não trabalhamos nem para o governo e/ou partido que o sustenta nem para a oposição. Prestamos um serviço público, naturalmente sujeito a erros e suscetível de não agradar a toda a gente.
O caso José Contente
No dia 11 de Maio, o sr. Secretário Regional dos Equipamentos, José Contente, procurou condicionar e acabou mesmo por interferir abusivamente no trabalho da equipa de reportagem da RTP-Açores, que cobria noticiosamente os estragos causados pelo mau tempo na zona da Bretanha, ilha de São Miguel, tentando persuadir a equipa de reportagem a não enviar para Lisboa um bloco de imagens em «bruto» que incluíam um depoimento da presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e procurando impor a sua presença em direto no Telejornal da RTP-Açores, depois de gorada uma intervenção no Telejornal da RTP-1, a qual não se chegou a realizar por Lisboa se ter desinteressado desse direto.
As chefias de informação da RTP-Açores já tinham decidido, e mantiveram essa decisão, que o direto para o telejornal da RTP-Açores se faria apenas com uma breve intervenção da jornalista no local, sem entrevistados, pois já dispunhamos de um depoimento do Presidente do Serviço Regional de Proteção Civil.
Mas o Secretário Regional dos Equipamentos insistiu nos seus propósitos, chegando mesmo a sugerir à equipa que estava no local que não respeitasse as diretivas das suas chefias e que o entrevistassem em direto.
A insistência acentuou-se quando o sr. José Contente teve conhecimento que a redação da RTP em Lisboa utilizara imagens do mau tempo na Bretanha e uma curta declaração da presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Colou-se então à equipa que se encontrava a recolher imagens e a preparar o direto, dificultando o seu trabalho.
Depois, em pleno direto, interrompeu de forma abrupta a intervenção da jornalista Ana Filipa Ferreira, agarrando-a pelo braço que segurava o microfone e falando de forma intempestiva para o mesmo sem sequer aparecer na imagem, facto que ele afirmou não ser relevante pois as pessoas conheciam a sua voz (!!!). Esse episódio deixou estupefactos os profissionais da RTP-Açores no local.
Este comportamento, indigno de um político com as suas responsabilidades, é também vexatório para os profissionais da RTP-Açores, pois os telespetadores desconheciam o que se passara antes. Inconcebível que perante um cenário de catástrofe alguém se preocupe apenas em aparecer na televisão e em evitar que outros apareçam.
Os profissionais da RTP-Açores não pactuam com atos dessa natureza. Não se deixam influenciar nem se intimidam com qualquer tipo de ameaça mais ou menos velada.
Estamos conscientes que sendo este um ano de eleições, há muito nervosismo em alguns políticos. Reafirmamos porém que não aceitaremos quaisquer pressões ou interferências que pretendam de algum modo condicionar o nosso trabalho e a forma isenta e profissional como procuramos agir no dia a dia, mesmo que isso não agrade a alguns senhores.

Ponta Delgada, 18 Maio 2012

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