Aldeia avieira da Póvoa de Santa Iria ameaçada de demolição pela Câmara de Vila Franca de Xira
Esta cultura faz parte do movimento migratório que acompanha a história do país: em meados do século XIX, pescadores de Vieira de Leiria deslocavam-se sazonalmente para o Tejo e o Sado, numa área compreendida entre a Chamusca e Grândola, à procura do sustento da pesca que não encontravam durante o inverno no mar, tendo, um dia, aí se fixado em permanência.
Hoje, esta cultura marca a identidade viva e secular destas zonas ribeirinhas, com as casas em palafita (sobre estacas), cuja tipologia habitacional (organização do espaço) é distinta e irrepetível, os barcos típicos (bateiras) e a continuação destas artes por vários pescadores.
Já desde 2008 que existe um projecto para a candidatura da cultura avieira a património nacional, liderado pelo Instituto Politécnico de Santarém, contando com o apoio de diversas autarquias e tendo muitas entidades e instituições se juntado a este propósito desde então.
No início de Setembro de 2010, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) aprovou o co-financiamento, dentro do PROVERE, do Projecto de Desenvolvimento da Cultura Avieira do Tejo e do Sado, com o objectivo de estudar a cultura avieira, criar um plano de acção e de definição de estratégias para o desenvolvimento de uma rota turística, cultural e económica com base nas zonas ribeirinhas e singularidade das aldeias avieiras. Uma das ideias será criar uma rota turística que vai da Marina do Parque das Nações, na foz do Tejo, em Lisboa, até Constância, e que poderá ser percorrida por via fluvial ou terrestre.
Este projecto será financiado a 70% por fundos comunitários, no âmbito do QREN, com os restantes a provirem das autarquias envolvidas no projecto, até ao momento seis (Almeirim, Alpiarça, Azambuja, Cartaxo, Salvaterra de Magos e Santarém).
Também no âmbito do Projecto Polis Rios, muito publicitado pelo Ministério do Ambiente, a ter início no rio Tejo, se “poderá integrar o apoio à requalificação das aldeias avieiras”, de acordo com as palavras do presidente da Administração Hidrográfica do Tejo, em representação da Ministra do Ambiente, no encerramento do I Congresso Nacional de Cultura Avieira, em Maio deste ano.
Apesar do reconhecimento da importância desta cultura e o interesse pelo seu estudo e valorização patrimonial e turística, existem aldeias avieiras ameaçadas de destruição. É o caso de dois assentamentos da cultura avieira de grande importância, situadas no concelho de Vila Franca de Xira (VFX), em Esteiro da Nogueira e Póvoa de Santa Iria.
A aldeia avieira de Póvoa de Santa Iria já foi parcialmente demolida pela Câmara Municipal, a qual tem a intenção de deitar abaixo o que resta, colocando um fim aos últimos testemunhos materiais e representativos desta comunidade única no concelho. Muitas das famílias e pescadores que aí viviam foram realojados longe do rio e do local onde habitam há gerações, sem grandes alternativas perante a degradação das suas habitações que a Câmara prefere demolir a reabilitar.
É que a construtora Teixeira Duarte comprou os solos da Póvoa de Santa Iria situados junto ao rio, onde se insere o bairro dos avieiros e em tempos havia salinas, com séculos de existência, antes de terem sido ilegalmente aterradas. Para este local a Câmara aprovou um loteamento com 1270 fogos a favor da construtora, só possível através da revisão do próprio Plano Director Municipal, em 2009, tendo, assim, avançado recentemente com a deslocação dos pescadores e suas famílias e a destruição das casas avieiras para permitir mais construção e betão na zona ribeirinha.
Tudo isto com a cumplicidade do programa Polis para a requalificação da zona ribeirinha do Tejo na zona sul de VFX que inclui esta área em questão. Estranhamente, o Polis ignora a existência do bairro de avieiros e as famílias e pescadores que aí tinham ou têm a sua habitação, junto do rio, visando apenas “proporcionar à população que tem como sua principal subsistência a actividade piscatória no rio Tejo, as condições necessárias para a guarda dos seus artefactos de pesca e local seguro de amarração das suas embarcações”. E, mais, prevê a instalação de um Parque Urbano, com gasto de verbas públicas, na área de cedência dos espaços verdes do loteamento.
Aliás, é muito questionável que as verbas públicas colocadas à disposição pelo Polis estejam a ser utilizadas pela Câmara Municipal de VFX para efectuar obras em áreas de cedência de espaços verdes de novos loteamentos por si aprovados e que estão projectados desde a Póvoa de Santa Iria até ao Sobralinho junto ao rio, aumentando a pressão humana sobre o Tejo. Os objectivos do Polis estão, portanto, subvertidos, já que está a ser usado para alimentar a especulação do solo, destruir o património cultural e danificar a identidade local, ao invés de promover a requalificação da zona ribeirinha, a preservação dos valores naturais e aproximar as populações do usufruto sustentável.
João Serrano, do núcleo coordenador do projecto de Desenvolvimento da Cultura Avieira, mostra-se muito preocupado que este “património histórico e cultura possa vir a ser destruído”, referindo que a intenção do projecto é “valorizar tudo o que ainda existe e as famílias que continuam a viver do Tejo". O núcleo apelou para que "não deitem abaixo o que resta, recuperem a aldeia avieira e mantenham os 19 cais palafíticos", como a que a Câmara Municipal adira ao projecto, o qual “seria ainda mais forte se a aldeia avieira da Póvoa de Santa Iria estivesse incluída, porque este seria o primeiro ponto de paragem da Rota dos Avieiros”, na nova rota turística a ser criada.
http://www.beparlamento.net/aldeia-avieira-da-p%C3%B3voa-de-santa-iria-amea%C3%A7ada-de-demoli%C3%A7%C3%A3o-pela-c%C3%A2mara-de-vila-franca-de-xira
Hoje, esta cultura marca a identidade viva e secular destas zonas ribeirinhas, com as casas em palafita (sobre estacas), cuja tipologia habitacional (organização do espaço) é distinta e irrepetível, os barcos típicos (bateiras) e a continuação destas artes por vários pescadores.
Já desde 2008 que existe um projecto para a candidatura da cultura avieira a património nacional, liderado pelo Instituto Politécnico de Santarém, contando com o apoio de diversas autarquias e tendo muitas entidades e instituições se juntado a este propósito desde então.
No início de Setembro de 2010, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) aprovou o co-financiamento, dentro do PROVERE, do Projecto de Desenvolvimento da Cultura Avieira do Tejo e do Sado, com o objectivo de estudar a cultura avieira, criar um plano de acção e de definição de estratégias para o desenvolvimento de uma rota turística, cultural e económica com base nas zonas ribeirinhas e singularidade das aldeias avieiras. Uma das ideias será criar uma rota turística que vai da Marina do Parque das Nações, na foz do Tejo, em Lisboa, até Constância, e que poderá ser percorrida por via fluvial ou terrestre.
Este projecto será financiado a 70% por fundos comunitários, no âmbito do QREN, com os restantes a provirem das autarquias envolvidas no projecto, até ao momento seis (Almeirim, Alpiarça, Azambuja, Cartaxo, Salvaterra de Magos e Santarém).
Também no âmbito do Projecto Polis Rios, muito publicitado pelo Ministério do Ambiente, a ter início no rio Tejo, se “poderá integrar o apoio à requalificação das aldeias avieiras”, de acordo com as palavras do presidente da Administração Hidrográfica do Tejo, em representação da Ministra do Ambiente, no encerramento do I Congresso Nacional de Cultura Avieira, em Maio deste ano.
Apesar do reconhecimento da importância desta cultura e o interesse pelo seu estudo e valorização patrimonial e turística, existem aldeias avieiras ameaçadas de destruição. É o caso de dois assentamentos da cultura avieira de grande importância, situadas no concelho de Vila Franca de Xira (VFX), em Esteiro da Nogueira e Póvoa de Santa Iria.
A aldeia avieira de Póvoa de Santa Iria já foi parcialmente demolida pela Câmara Municipal, a qual tem a intenção de deitar abaixo o que resta, colocando um fim aos últimos testemunhos materiais e representativos desta comunidade única no concelho. Muitas das famílias e pescadores que aí viviam foram realojados longe do rio e do local onde habitam há gerações, sem grandes alternativas perante a degradação das suas habitações que a Câmara prefere demolir a reabilitar.
É que a construtora Teixeira Duarte comprou os solos da Póvoa de Santa Iria situados junto ao rio, onde se insere o bairro dos avieiros e em tempos havia salinas, com séculos de existência, antes de terem sido ilegalmente aterradas. Para este local a Câmara aprovou um loteamento com 1270 fogos a favor da construtora, só possível através da revisão do próprio Plano Director Municipal, em 2009, tendo, assim, avançado recentemente com a deslocação dos pescadores e suas famílias e a destruição das casas avieiras para permitir mais construção e betão na zona ribeirinha.
Tudo isto com a cumplicidade do programa Polis para a requalificação da zona ribeirinha do Tejo na zona sul de VFX que inclui esta área em questão. Estranhamente, o Polis ignora a existência do bairro de avieiros e as famílias e pescadores que aí tinham ou têm a sua habitação, junto do rio, visando apenas “proporcionar à população que tem como sua principal subsistência a actividade piscatória no rio Tejo, as condições necessárias para a guarda dos seus artefactos de pesca e local seguro de amarração das suas embarcações”. E, mais, prevê a instalação de um Parque Urbano, com gasto de verbas públicas, na área de cedência dos espaços verdes do loteamento.
Aliás, é muito questionável que as verbas públicas colocadas à disposição pelo Polis estejam a ser utilizadas pela Câmara Municipal de VFX para efectuar obras em áreas de cedência de espaços verdes de novos loteamentos por si aprovados e que estão projectados desde a Póvoa de Santa Iria até ao Sobralinho junto ao rio, aumentando a pressão humana sobre o Tejo. Os objectivos do Polis estão, portanto, subvertidos, já que está a ser usado para alimentar a especulação do solo, destruir o património cultural e danificar a identidade local, ao invés de promover a requalificação da zona ribeirinha, a preservação dos valores naturais e aproximar as populações do usufruto sustentável.
João Serrano, do núcleo coordenador do projecto de Desenvolvimento da Cultura Avieira, mostra-se muito preocupado que este “património histórico e cultura possa vir a ser destruído”, referindo que a intenção do projecto é “valorizar tudo o que ainda existe e as famílias que continuam a viver do Tejo". O núcleo apelou para que "não deitem abaixo o que resta, recuperem a aldeia avieira e mantenham os 19 cais palafíticos", como a que a Câmara Municipal adira ao projecto, o qual “seria ainda mais forte se a aldeia avieira da Póvoa de Santa Iria estivesse incluída, porque este seria o primeiro ponto de paragem da Rota dos Avieiros”, na nova rota turística a ser criada.
http://www.beparlamento.net/aldeia-avieira-da-p%C3%B3voa-de-santa-iria-amea%C3%A7ada-de-demoli%C3%A7%C3%A3o-pela-c%C3%A2mara-de-vila-franca-de-xira
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