Histórias de Lisboa antiga
OS HOSPITAIS MEDIEVAIS DE LISBOA - Hospital de Salomão Negro
Temos conhecimento de numerosos judeus
no território do reino de Portugal desde antes da fundação da nacionalidade até
ao século XV. Tendo a comunidade hebraica um importante papel na sociedade
portuguesa, nomeadamente junto do rei, aconteceu que, por força do contrato de
casamento de D. Manuel I com a filha dos Reis Católicos, foram os judeus
obrigados à conversão ao cristianismo ou à expulsão de território nacional, em
1497. A comunidade judaica circulava livremente pelo território nacional mas
estava sujeita a leis de apartamento, em que as habitações teriam de se concentrar
num determinado local; no entanto, era livre de manter e praticar a sua
religião e possuía magistratura própria para o julgamento dos seus crimes, sem
que fosse esquecida a sua submissão às ordenações gerais do país. Obrigados a
viver nas cidades apartados de cristãos e muçulmanos, os judeus habitavam nas
diversas Judiarias de Lisboa. Inicialmente, as judiarias comunicavam livremente
com o exterior, mas D. Pedro I decretou que fossem encerradas por portas, as
quais se encerravam ao anoitecer, para serem novamente abertas ao nascer do sol.
A Judiaria Velha ou Judiaria Grande de Lisboa localizava-se na freguesia da Madalena,
num espaço limitado geograficamente pelas igrejas de S. Nicolau a oeste,
Madalena a oriente, S. Julião a norte e rua Nova dos Mercadores a sul.[1]
A comunidade judaica possuía escolas próprias, cultivando os estudos de
Astrologia, Matemática, Geografia, Medicina e Cirurgia; tendo longa tradição no
exercício da Medicina, vários médicos judeus progrediam com altos cargos na
corte portuguesa. Talvez a família hebraica mais importante do reino fosse a
família Ibn Yahya, com vários dos seus elementos exercendo o cargo de Rabi-mor
de Portugal, por nomeação régia. Chegou-nos o conhecimento de muitos médicos
importantes dessa família, nomeadamente Yahya ibn Ya’ish, “o Negro” (físico de
D. Afonso Henriques), Moshe Gedaliah ibn Yahya ou Moisés Navarro de Santarém
(físico de D. Pedro I), Gadaliah ibn Yachya ha-Zaken (físico-mor de D. Fernando),
Yehudah ibn Menir ibn Yahya / Navarro (tesoureiro e físico de D. Pedro I e D.
João I), Moshe Navarro, também conhecido por Mestre Moussem (físico de D. João I),
Gedaliah ben Shlomo ibn Yahya ou Mestre Guedelha (físico e astrólogo de D.
Duarte e D. Afonso V) e Abraham Guedelha ou Mestre Abram (físico-mor da
princesa D. Beatriz, cunhada de D. Afonso V[2]).
No contexto das leis de apartamento, torna-se
natural que a abastada comunidade judaica possuísse hospitais próprios, sendo
que o local mais apropriado em Lisboa se situasse na Judiaria Grande; tomámos
conhecimento de dois hospitais situados nesse bairro de judeus, sendo um deles hospital
de banhos e o outro conhecido como Hospital de Salomão Negro. Este último
encontrava-se localizado na Rua da Praça, ao Poço da Foteia, na área actualmente
situada entre a Rua do Comércio e a Rua de S. Julião. Foi fundado por Shlomo
ibn Yahya ben David, também conhecido como Salomão Guedelha ou Salomão Negro,
judeu (1367-1430), que o legou, com mais bens, à comuna dos judeus.O
hospital foi incorporado no Hospital de Todos-os-Santos[3] cerca de 1503.
[1]
João Silva de Sousa, Mouros e Judeus na
Cidade de Lisboa nos séculos XIV e XV, http://triplov.com/letras/Joao_Sousa/mouros-e-judeus/index.htm
[2]
Reuven Faingold, Judeus nas cortes Reais
Portuguesas, www.reuvenfaingold.com/artigos/12.pdf
Fonte:http://lisboaantiga.blogspot.pt/2012/10/os-hospitais-medievais-de-lisboa.html
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