quinta-feira, 10 de maio de 2012

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Nova 'versão' da construção de Chico Buarque

Um bom dia a todos

Rui Correia


Nova 'versão' da construção de Chico Buarque

Beijou seu dicionário como se fosse o último
E cada glossário seu como se fosse o único
E ligou o computador com sua mão tímida
Subiu a tradução como se fosse máquina
Ergueu no Word quatro versões sólidas
Palavra com palavra num texto mágico
Seus olhos embotados de sono e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse dono d’agência
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Digitou e resmungou como se ouvisse o cliente
E tropeçou no escritório como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio da sala da família
Morreu à frente da televisão atrapalhando a vida

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou seu dicionário como se fosse o único
E cada glossário como se fosse o pródigo
E ligou o computador com sua mão bêbada
Subiu a tradução como se fosse sólida
Ergueu no Word quatro versões mágicas
Palavra com palavra num texto lógico
Seus olhos embotados de sono e vida
Sentou pra descansar como se fosse dono d’agência
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Digitou e resmungou como se fosse o próximo
E tropeçou no escritório como se ouvisse o cliente
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio da sala náufraga
Morreu à frente da televisão atrapalhando a família

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou seu dicionário como se fosse lógico
Ergueu no Word quatro versões flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um PM
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu à frente da televisão atrapalhando o sábado

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