FRANCISCO BORJA DA COSTA POEMA UM MINUTO DE SILÊNCIO Calai Montes Vales e fontes Regatos e ribeiros Pedras dos caminhos E ervas do chão, Calai Calai Pássaros do ar E ondas do mar Ventos que sopram Nas praias que sobram De terras de ninguém, Calai Calai Canas e bambus Árvores e "ai-rús" Palmeiras e capim Na verdura sem fim Do pequeno Timor, Calai Calai Calai-vos e calemo-nos POR UM MINUTO É tempo de silêncio No silêncio do tempo Ao tempo de vida Dos que perderam a vida Pela Pátria Pela Nação Pelo Povo Pela Nossa Libertação Calai - um minuto de silêncio... NOTA: Borja da Costa, poeta timorense e compositor do Hino Nacional de Timor Leste, foi morto a 7 de Dezembro de 1975, assassinado pelas forças indonésias que invadiram Timor.
Luís Cardoso ("Takas") - poeta e escritor timorense Luís Cardoso de Noronha é um dos mais importantes escritores timorenses. Nasceu em Cailaco, vila do interior de Timor-Leste.Estudou nos colégios missionários de Soibada, Fuiloro e no Seminário de Dare. Quando se deu a revolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal frequentava o Liceu Dr. Francisco Machado em Díli, vindo posteriormente a prosseguir os seus estudos em Portugal. Não esteve presente na guerra civil e na posterior invasão indonésia, tendo concluído os seus estudos, no exílio. Formou-se em Silvicultura pelo Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, onde tomou conhecimento das obras científicas e poéticas de Ruy Cinatti que o ajudaram a fazer a viagem de regresso ao mundo físico e sobrenatural de Timor-Leste. Desempenhou as funções de representante do Conselho Nacional da Resistência Maubere, entre outras actividades como as de contador de histórias timorenses, cronista da revista Fórum Estudante e professor de Tétum e Língua Portuguesa nos cursos de formação especial para timorenses. As suas obras literárias de maior vulto são: Crónica de uma travessia – A época do ai-dik-funam (1997) Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo (2001) A última morte do Coronel Santiago (2003) Requiem para o navegador solitário (2007) Retirado da Vikipédia, a enciclopédia livre.
POEMAS DE XANANA GUSMÃO PÁTRIA Pátria é, pois, o sol que deu o ser Drama, poema, tempo e o espaço, Das gerações, que passam, forte laço E as verdades que estamos a viver. Pátria... é sepultura... é sofrer De quem marca, co'a vida, um novo passo Ao povo - uma Pátria - é, num traço simples... Independência até morrer! Do trabalho o berço, paz tormento, Pátria é a vida, orgulho, a aliança Da alegria, do amor do sentimento. Pátria... é tradições, passado e herança! O som da bala é... Pátria, de momento! Pátria... é do futuro a esperança! OH! LIBERDADE! Se eu pudesse pelas frias manhãs acordar tiritando fustigado pela ventania que me abre a cortina do céu e ver, do cimo dos meus montes, o quadro roxo, de um perturbado nascer do sol a leste de Timor Se eu pudesse pelos tórridos sóis cavalgar embevecido de encontro a mim mesmo nas serenas planícies do capim e sentir o cheiro de animais bebendo das nascentes que murmurariam no ar lendas de Timor Se eu pudesse pelas tardes de calma sentir o cansaço da natureza sensual espreguiçando-se no seu suor e ouvir contar as canseiras sob os risos das crianças nuas e descalças de todo o Timor Se eu pudesse ao entardecer das ondas caminhar pela areia entregue a mim mesmo no enlevo molhado da brisa e tocar a imensidão do mar num sopro da alma que permita meditar o futuro da ilha de Timor Se eu pudesse ao cantar dos grilos falar para a lua pelas janelas da noite e contar-lhes romances do povo a união inviolável dos corpos para criar filhos e ensinar-lhes a crescer e a amar a Pátria Timor! (Cipinang, 8 de Outubro de 1995) GERAÇÕES Nomes sem rosto corações esfaqueados de lembranças nas lágrimas de crianças chorando pelos pais... Mais do que a morte que os fez calar em cada gota de lágrima a cena cruel ...uma mãe que gemia sem forças seu corpo desenhava marcas da angústia esgotada Os farrapos que a cobriam Rasgados no ruído da sua própria carne sob o selvático escárnio dos soldados indonésios em cima dela, um por um Já inerte, o corpo da mulher se tornou cadáver insensível à justiça do punhal que a libertara da vida enquanto... golpes de coronhadas se repercutiam nas gotas de lágrimas que iam caindo da mesma face das crianças Um pai se ofendera no último não da sua vida a mulher violada assassinada sob os seus olhos O cheiro da pólvora vinha de muitos furos daquele corpo que já não era corpo estendido sem forma de morte e... As lágrimas secaram nas lembranças das crianças veio o suor da luta porque as crianças cresceram Quando os jovens seios estremecem sob o choque eléctrico e as vaginas queimadas com pontas de cigarro quando testículos de jovens estremecem sob o choque eléctrico e os seus corpos rasgados com lâminas eles lembram-se, eles lembram-se sempre: A luta continuará sem tréguas! (Cipinang, 5 de Novembro de 1995) POVO SEM VOZ Nosso grito é o silêncio Na passagem do tempo E o tempo é o sangue No silêncio do mundo! - Ouvi, mundos! Ouvi , gentes da política! Invadistes a nossa Pátria com o Suharto, Isolastes Timor-Leste na guerra fria e torturasses-nos com a indiferença e matastes-nos com a cumplicidade. - Ouvi, ouvi as vossas culpas! Desengajastes a nossa causa com Jacarta, Minimizastes o nosso direito na ONU e prendestes-nos com iénes e massacrastes-nos com dólares. Nosso tempo é o silêncio Nas mudanças do mundo e o sangue é o preço nos mundos do silêncio! - Ouvi, mundos! Ouvi, gentes do poder! Abençoastes a mortandade com Catedrais, Enterrastes a tragédia nos investimentos e desafiastes a nossa consciência e reprimistes os nossos anseios. - Ouvi, ouvi as vossas culpas! Atraiçoastes os vossos próprios princípios, Manipulastes as vossas próprias normas e encarcerastes-nos na realpolitik e matastes-nos como os direitos humanos. ... Somos POVO SEM VOZ alma sem fronteira com a dor corpo na escravidão aberto ao tempo Pátria - um cemitério de interesses! A nossa luta... é a história do poder do silêncio! |
terça-feira, 14 de agosto de 2012
poema de borja da costa e outros
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