O
Fado é lecionado pela primeira vez numa universidade portuguesa, disse o
musicólogo Rui Vieira Nery, que vai reger a disciplina «Culturas
Musicais em Portugal: O Fado», no âmbito da Licenciatura em Ciências
Musicais da Universidade Nova de Lisboa.
Em
declarações à Lusa, o musicólogo, que foi um dos responsáveis da
candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, afirmou que o
objetivo da cadeira é "dar aos alunos um panorama geral da emergência do
Fado a partir dos processos de mudança nas práticas musicais urbanas em
Portugal, na viragem para o século XIX".
A disciplina visa ainda dar a conhecer o desenvolvimento do género fadista até aos nossos dias.
"Propõe-se
um modelo de periodização e caracterizam-se as sucessivas etapas do
percurso histórico do Fado, procurando abordá-las a partir do respetivo
contexto sócio-cultural e detetar em cada uma delas os seus processos de
mudança estética e técnica interna em termos dos principais
protagonistas, do repertório, das convenções poético-musicais e das
práticas performativas", explicou Rui Vieira Nery à Lusa.
A
unidade curricular desenvolve-se em oito etapas. A primeira aborda "a
música no salão burguês luso-brasileiro, do final do Antigo Regime. A
cançoneta, a modinha e o lundum".
Segue-se
"o desenvolvimento do Fado dançado afro-brasileiro, a sua chegada a
Lisboa nas décadas de 1820 e 1830" e "o Fado nos circuitos boémios e
marginais de Lisboa. O mito fundador da [Maria] Severa (1820-1846)".
O
quarto ponto é sobre "a expansão social do Fado na segunda metade do
século XIX. A Revista e o Teatro Musical. As edições para uso doméstico.
A emergência do Fado operário e republicano".
"A
transição para o século XX. Renovação poética e musical. O arranque da
indústria discográfica. Os novos locais de apresentação profissional",
constituem o quinto ponto.
O
sexto e sétimo são, respetivamente, "O Fado no Estado Novo. A censura, a
carteira profissional e o licenciamento de recinto performativos. A
rede das casas de Fado. O debate ideológico e político sobre o género", e
"Os processos de internacionalização e a renovação poético-musical das
décadas de 1960 e 1970. O impacte do 25 de Abril de 1974. A crise do
sector no Portugal democrático".
O
oitavo e último ponto corresponde ao "ressurgimento das décadas de 1980
e 1990. O 'Novo Fado', a entrada na World Music e a candidatura a
Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO".
Com
esta disciplina, Rui Vieira Nery regressa à docência na Universidade
Nova, onde tinha já lecionado e onde é investigador do Instituto de
Etnomusicologia - Música e Dança.
Vieira
Nery foi secretário de Estado da Cultura entre 1995 e 1997, e é
atualmente diretor do Programa de Língua e Cultura Portuguesas da
Fundação Calouste Gulbenkian.
O
musicólogo é também responsável pela docência na área da História da
Música no espaço ibero-americano e por um seminário de doutoramento, em
Ciências Musicais Históricas, dedicado aos "Contextos e estruturas da
vida musical portuguesa (séculos XVI-XXI)".
Diário Digital com Lusa
[Fonte: diariodigital.sapo.pt]
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