quarta-feira, 16 de março de 2011

Que é feito da candidatura do patuá à UNESCO?

Que é feito da candidatura do patuá à UNESCO?

MARCH 14, 2011
by pontofinalmacau

A intenção foi assumida em 2006, mas pouco se sabe de avanços no projecto. A APIM, que lidera a plataforma pelo reconhecimento do crioulo local, recusa falar. A saída de Alan Baxter de Macau será sentida, diz Miguel Senna Fernandes.

Maria Caetano

A saída do linguista Alan Baxter do Departamento de Estados Portugueses da Universidade de Macau (UMAC) deixa o território “mais pobre” no que diz respeito a especialistas que se dedicam ao estudo dos crioulos asiáticos – em particular, do patuá. A opinião é de Miguel Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM) e director do grupo Doci Papiaçam di Macau, que confessa não saber em que ponto se encontra actualmente a candidatura do falar maquista a património universal intangível da UNESCO.

Em Outubro de 2006, as associações de matriz macaense da RAEM assinaram um protocolo para a preparação da candidatura, com a Associação de Promoção da Instrução dos Macaenses (APIM) na liderança. A plataforma incluiu também a ADM, a Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas (APOMAC), o Clube de Macau, o Instituto Internacional de Macau (IIM), o grupo Doci Papiaçam di Macau e o Círculo de Amigos da Cultura de Macau, contando na altura com apoio manifesto do anterior Chefe do Executivo, Edmund Ho, que marcou presença na cerimónia.

O projecto contou desde cedo com o apoio científico do até aqui responsável pelo Departamento de Estudos Portugueses da UMAC, no cargo desde o ano lectivo de 2007/2008, e que, conforme noticiou a TDM no último sábado, deixou a instituição por motivos profissionais, para passar a leccionar no Brasil, na Universidade Federal da Bahia.

Segundo o PONTO FINAL conseguiu apurar, Baxter garantiu que irá manter-se como consulto para a candidatura do patuá a património universal reconhecido pela UNESCO, mas manifestou desconhecer que passos terão sido dados para a formalização da iniciativa – já que esta se encontra directamente a cargo da APIM.

A associação, contudo, recusa dar conta das diligências já tomadas para a concretização do propósito, cinco anos após este ter sido oficializado em protocolo de cooperação. “Neste momento, não me quero pronunciar sobre isso”, disse ao PONTO FINAL José Manuel Rodrigues, presidente da APIM, afirmando apenas que “na altura oportuna” irá prestar esclarecimentos públicos sobre a matéria.

O responsável da associação disse também entender que o projecto poderá continuar a contar com o apoio do linguista, especializado no crioulo local. “Creio que o nosso amigo Alan Baxter continuará a dar o apoio que entender que deve dar à causa da eventual candidatura do patuá”, afirmou Rodrigues.

Mas em que ponto está afinal todo o processo do qual se fala há anos? É difícil dizer. Miguel Senna Fernandes, que por via da ADM e Doci Papiaçam di Macau integra a plataforma para a promoção do patuá, estima que poucos avanços tenham sido feitos e reconhece a necessidade de se ir além das rubricas que ficaram no papel do acordo.

“Há que tomar uma posição em relação ao protocolo. Os protocolos assinam-se e devem ser, pelo menos, pensados, pelo menos discutidos. Mas nunca foi discutido. Nós nunca discutimos sobre isto. É a primeira vez que eu digo isto, mas é uma realidade. Há que fazer qualquer coisa”, defende.

O advogado e dinamizador do grupo de teatro local que anualmente leva à cena récitas em patuá manifesta incómodo com a demora no “processo”. Admite até que a ausência de qualquer formalização da intenção torne difícil chamar “processo” ao projecto.

“Chega a uma certa altura que já não se sente piada nenhuma em ter sempre de justificar”, queixa-se Senna Fernandes, instando a APIM a dar passos concretos para a candidatura à UNESCO.

“A APIM encabeçou o processo, vai ter de decidir. Há que perguntar, afinal, o que vai ser feito. Isto é importante”, alerta, defendendo que a associação deve manifestar “se afinal quer ou não quer o protocolo”.

É um passo que a APIM “tem de dar, porque nós demos sempre”, diz o presidente da ADM, lembrando o trabalho que tem vindo a ser realizado anualmente pelo Doci Papiaçam. Em breve, o grupo pretende avançar para uma ambição mais modesta, que entende não entrar em conflito com os propósitos liderados pela APIM: apresentar a candidatura do teatro em patuá a património cultural intangível junto das autoridades da RAEM, por via do Museu de Macau.

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