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Uma certa pseudo-lusofonia
Por Hoje Macau | 28 Fev 2011 | Enviar por emailAcordo Ortográfico pode criar ilusão de união da Língua Portuguesa
O Acordo Ortográfico reforça a ideia de uma “pseudo-lusofonia” ao uniformizar a ortografia do português, considerado o elo de ligação e a prova de que existe ou deve existir um espaço lusófono, defendeu o académico Pedro Martins. Ao considerar que a “lusofonia tem uma aplicação prática com um intuito político-diplomático”, Pedro Martins, da Universidade de Siena, Itália, aponta a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas (UCCLA), o Prémio Camões e o Acordo Ortográfico como representações formais e institucionais de uma “pseudo-lusofonia”.“O Acordo Ortográfico é o exemplo mais claro desta dupla vertente da lusofonia, pois os países estão a tomar medidas para o aplicar, mas com uma vertente utópica, já que se pretende nivelar uma ortografia do português que não é igual e não tem de ser igual, porque representa as diferenças de cada um dos países” lusófonos, disse o académico à agência Lusa em Macau.
À margem da conferência internacional “A Lusofonia entre Encruzilhadas Culturais”, na Universidade de S. José, na qual participou, Pedro Martins disse que o Acordo Ortográfico “contribuiu para uma utopia ao querer nivelar a ortografia dos oito países de língua portuguesa que são obrigatoriamente diferentes”. “Poderemos até escrever da mesma forma, mas haverão sempre diferenças que nos permitirão identificar cada um dos países”, observou, considerando que, neste contexto, o que “interessa perceber é se este acordo pretende verdadeiramente unificar esta comunidade ou se está a ser criado para esconder as diferenças que existem e que têm de ser marcadas e estudadas enquanto situações independentes.”
Ao observar que se for aceite a tese de que a língua é considerada o elo de ligação entre todos os países e comunidades lusófonas e sobretudo a prova de que existe ou que, pelo menos, deve existir um espaço lusófono, Pedro Martins referiu que “não deixa de ser caricato, e até mesmo contraditório, aquilo a que se tem assistido ao nível da aplicação desta política linguística”.
“Seria interessante reflectir sobre se se pode verdadeiramente falar de lusofonia quando um dos seus elementos fundamentais, a língua não se encontra assegurada enquanto tal e questionarmo-nos se a nação lusófona existe hoje e tem condições para subsistir ou se tudo não se trata de uma grande utopia e invenção”, defendeu.
Os defensores do Acordo Ortográfico realçam os aspectos positivos da uniformização da escrita do português, promoção e internacionalização da língua, enquanto que as vozes críticas apontam interferências no património linguístico de milhões de pessoas que formam a denominada comunidade lusófona e a incoerência da reforma.
O Acordo Ortográfico está em vigor em Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e em Timor-Leste, restando a sua implementação efectiva em Angola e Moçambique.
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Escrito por Hoje Macau em 28 Fev 2011. Arquivado sob Cultura. Pode seguir todas as respostas sobre esta entrada através de RSS 2.0. Você pode deixar uma resposta, ou trackbacks a esta entrada
Pois o académico disse mesmo ‘mas haverão sempre diferenças’, ‘unificar esta comunidade’, ‘política linguística’, ‘a língua não se encontra assegurada’, ‘nação lusófona’?
Não disse.