(jn, 2011-07-11)
Lisboa, no canto do cisne que nos atirou para o buraco negro em que sobrevivemos, persiste em agredir cegamente a cidade onde Portugal foi buscar o nome e a região que foi o seu berço.
Acho que todos nós, pelo menos uma vez na vida, nos interrogámos porque raio é que o bom do D. Afonso Henriques se virou para Sul, e não para o Norte, quando se tratou de dar forma e assegurar o espaço vital ao país que fundou a partir do Condado Portucalense.
Tenho boas razões para desconfiar que seríamos bem mais prósperos e felizes se o fundador e seus sucessores tivessem seguido a direcção indicada pela bússola em vez de terem ido por aí abaixo, de espada em punho, a fazer guerra aos mouros, só se detendo quando chegaram às praias algarvias.
O problema é que, apesar de imensamente sedutora, esta opção era desadequada, talvez até mesmo irrealista, à luz dos equilíbrios políticos da Península em meados do século XII.
A passividade com que o seu primo Afonso VII e a monarquia leonesa [???: galega!] observaram a emancipação do Condado Portucalense [anos antes "emancipara"-se o condado castelhano, cedo reconvertido em reino] deve-se ao facto de Afonso Henriques ter optado por combater o império almorávida, conduzindo os seus exércitos para além do Tejo.
Tivesse o fundador ousado atravessar o rio Minho, em vez de fazer guerra aos muçulmanos, e a realidade política da Península Ibérica seria hoje radicalmente diferente.
Por muito que nos custe, esse pecado original a que o nosso primeiro rei foi impelido deve-se a um pragmatismo que não lhe podemos censurar.
Hoje, quase nove séculos volvidos sobre o seu nascimento, Portugal combina uma invejável unidade linguística e as fronteiras mais estáveis e antigas da Europa com uma enorme diversidade de culturas, caracteres e paisagens.
Não é preciso ser antropólogo (basta ter olhos na cara) para constatar que um minhoto é muito parecido com um galego - e muito diferente de um alentejano ou algarvio. E não é preciso ser um geógrafo para observar, à vista desarmada, que a serra dos Candeeiros é a fronteira que cose dois países diferentes unidos há séculos pela política mas separados pela geografia e costumes.
Ignorante da história e da realidade do país que a sustenta, Lisboa, no canto do cisne do centralismo que nos atirou para o buraco negro em que sobrevivemos, persiste em agredir cegamente a cidade onde Portugal foi buscar o nome e região que foi o seu berço.
Quando se trata de portajar as Scuts, não começa pela mais antigas - mas pelas do Norte. E quando se trata de pôr em prática o criminoso plano de liquidação da rede ferroviária, começa por fechar a ligação Porto-Vigo - enquanto reabilita a linha das Vendas Novas.
É nestes momentos de revoltas, cada vez mais frequentes, que questiono a opção geográfica de Afonso Henriques - e me sinto mais um galego do sul do que um português do Norte.
Acho que todos nós, pelo menos uma vez na vida, nos interrogámos porque raio é que o bom do D. Afonso Henriques se virou para Sul, e não para o Norte, quando se tratou de dar forma e assegurar o espaço vital ao país que fundou a partir do Condado Portucalense.
Tenho boas razões para desconfiar que seríamos bem mais prósperos e felizes se o fundador e seus sucessores tivessem seguido a direcção indicada pela bússola em vez de terem ido por aí abaixo, de espada em punho, a fazer guerra aos mouros, só se detendo quando chegaram às praias algarvias.
O problema é que, apesar de imensamente sedutora, esta opção era desadequada, talvez até mesmo irrealista, à luz dos equilíbrios políticos da Península em meados do século XII.
A passividade com que o seu primo Afonso VII e a monarquia leonesa [???: galega!] observaram a emancipação do Condado Portucalense [anos antes "emancipara"-se o condado castelhano, cedo reconvertido em reino] deve-se ao facto de Afonso Henriques ter optado por combater o império almorávida, conduzindo os seus exércitos para além do Tejo.
Tivesse o fundador ousado atravessar o rio Minho, em vez de fazer guerra aos muçulmanos, e a realidade política da Península Ibérica seria hoje radicalmente diferente.
Por muito que nos custe, esse pecado original a que o nosso primeiro rei foi impelido deve-se a um pragmatismo que não lhe podemos censurar.
Hoje, quase nove séculos volvidos sobre o seu nascimento, Portugal combina uma invejável unidade linguística e as fronteiras mais estáveis e antigas da Europa com uma enorme diversidade de culturas, caracteres e paisagens.
Não é preciso ser antropólogo (basta ter olhos na cara) para constatar que um minhoto é muito parecido com um galego - e muito diferente de um alentejano ou algarvio. E não é preciso ser um geógrafo para observar, à vista desarmada, que a serra dos Candeeiros é a fronteira que cose dois países diferentes unidos há séculos pela política mas separados pela geografia e costumes.
Ignorante da história e da realidade do país que a sustenta, Lisboa, no canto do cisne do centralismo que nos atirou para o buraco negro em que sobrevivemos, persiste em agredir cegamente a cidade onde Portugal foi buscar o nome e região que foi o seu berço.
Quando se trata de portajar as Scuts, não começa pela mais antigas - mas pelas do Norte. E quando se trata de pôr em prática o criminoso plano de liquidação da rede ferroviária, começa por fechar a ligação Porto-Vigo - enquanto reabilita a linha das Vendas Novas.
É nestes momentos de revoltas, cada vez mais frequentes, que questiono a opção geográfica de Afonso Henriques - e me sinto mais um galego do sul do que um português do Norte.
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