O anúncio
do despedimento coletivo de 48 pessoas do Público não passou indiferente a
ninguém na sociedade portuguesa; a história do Público tem sido, em grande
medida, a história da evolução da democracia portuguesa.
Desde o seu nascimento, em 1989 –
com início de contacto diário com os leitores em Março de 1990 –, que o Público
se pautou por ser um espaço de enorme liberdade, de total liberdade de opinião,
de pluralidade e democracia; em paralelo, o Público revelou-se com um dos órgãos
de comunicação social que mais lutou pela liberdade de imprensa nos últimos
anos.
Contudo, o constante e crescente
interesse na obtenção de resultados económicos foi empurrando o Público para um
atoleiro complicado; foram saindo os primeiros diretores, outros foram
boicotados, outros despromovidos, outros enfim. Em simultâneo, foram saindo
muitos jornalistas e quadros que conferiam unidade orgânica ao projecto, que,
grosso modo, apesar dos percalços vários,
se tem mantido no rumo definido originalmente.
Nos últimos meses, temos ouvido
histórias deveras tristes sobre episódios de funcionamento do Público, algumas
das quais revelaram uma profunda divisão interna e se tornaram em temas
incontornáveis da actualidade política nacional – o caso das escutas ou o caso
Relvas são disso exemplos.
Nós, ex-Público, somos já mais de
300 pessoas. Em comum, temos o amor que mantemos pelo Público e o prazer de procurar
nele notícias sérias, objectivas e independentes. É com esse espírito que nos reunimos com a
regularidade possível e é com esse espírito que falamos sempre em prol da
continuidade do projecto.
Nestes mais de 20 anos, o Público
tornou-se património nacional, que é nosso (dos que lá trabalharam), dos que
ainda lá trabalham e de todos aqueles que o compram ou lêem diariamente. Por
isto tudo, não ficamos indiferentes ao que se passa no Público. Por isso,
estamos solidários com todos os profissionais que lá labutam, independente do
trabalho que executam. Por isso, e também por sabermos dos tempos difíceis que
o país atravessa, repudiamos a recente
atitude da administração e da direcção editorial de despedir alguns dos
melhores que por lá ainda estão.
Defendemos que mais do que de um
ajuste de quadros e de poupanças, este despedimento colectivo é efectivamente
um saneamento de quadros por discordâncias várias. Reafirmamos que, na medida
do que nos for possível, lutaremos pela revogação destas medidas, e estaremos
juntos, e seremos solidários, não só dos que agora querem atirar pela borda
fora, como dos que lá ficam e que terão um futuro muito árduo. E estaremos
também ao lado dos leitores, de todos os leitores, que perderão muito com a “reestruturação”
ora iniciada.
Os ex-Público
Sem comentários:
Enviar um comentário