Considerações filosófico-politicas na construção de alternativas centradas e de sucesso, que sejam quem de tirar a Galiza do fundo no que se acha (I)
Quinta, 24 Maio 2012 10:00
Por Alexandre Banhos
Há muitos observadores aqui na Galiza, e até desde fora dela, que quando a observam, sempre percebem um país cheio de possibilidades, um país que tem umas oportunidades que a outros com mais sucesso, ficam muito longe. Um país do qual o seu génio foi quem de criar Portugal, como declarou Alexandre Herculano, e fazer que a sua língua (é cultura) seja uma das línguas referentes internacionais.
Para o observador parece, como se na Galiza se decidisse não correr a corrida do sucesso, com todas as suas capacidades. É como se os galegos(as) cegos tentassem fazer corridas coletivas contra ágeis e “vivíssimos competidores” sempre devidamente pejados, e como se esses pejos fossem auto-impostos assumindo as leis e normas que o “vivíssimo competidor” lhe impõe.
Esses observadores perguntam-se, e fazem-no tanto os de dentro do país, como os de fora:
-Porque os galegos e galegas são tão eficazes em jogarem a perder?
Afirmar de jeito peremptório que os galegos e galegas são pessoas que jogam a perder, é uma afirmação que parte da analise do nosso observador.
Um dos problemas que se apresentam nas análises sociais e em quase que qualquer pesquisa, é a de fazer as perguntas certas, se um não faz as perguntas certas, muito dificilmente vai dar com as respostas adequadas.
Mas como são as cousas para essas pessoas que compõem o povo da Galiza?
Não há cousa que mais desgoste a um filho desta abençoada Terra, que jogar a perder; é algo que está à vista dos olhos, mas ao fazermos a pergunta sobre os resultados coletivos que percebemos, e não sobre as ações das pessoas, o resultado das nossas percepções é errado, e as soluções que pensamos para o problema ainda resultam sê-lo mais.
O Primeiro problema da ação na Galiza é justamente o contrário, o jogo é para ganhar sempre, há a necessidade de serem sempre parte, se possível, da cabeça ganhadora ou do corpo -massa- ganhadora. Não só isso, todo projeto que se faz vai apostado ao ganho, e no ganho está tudo, depois do ganho nada há.
Não existe nem o galego nem a galega que jogue a perder, esse é o grande problema da Galiza, queremos ganhar sempre, e fazê-lo sempre de jeito o mais imediato possível -para já-.
Todas as pessoas do nosso país, dalgum jeito, percebem no seu íntimo, que andam a ganhar todos os dias. Porém o resultado que os observadores percebem, é o de que o País anda jogando a perder.
O problema coletivo como País das galegas e galegos, não está na questão de jogarem a perder, é justamente o contrário, está em sempre jogarem a ganhar. Demos-lhe pois a volta às cousas, e daremos com o cerne do problema.
Olhemos como se chega ao que observador percebe.
Se for bem certo, que ninguém na Galiza quer perder. Como é que o resultado que percebe o observador é outro? Eis aí o grande problema da Galiza e do seu povo; Pois para pessoas pouco atentas pareceria que o constante triunfo é contrário à derrota, e que isso seria a base do sucesso coletivo.
A galega e o galego são felizes no triunfo que forma parte da sua idiossincrasia, leva-o nos genes. Mas esses constantes ganhos que não são percebidos polo observador da nossa história, polo comum dos observadores todos, passam a ser o cimento da derrota coletiva.
Para descobrimos isso, reparai o que seria fazer as cousas de outro jeito. Simplesmente significaria ter um programa para não ganhar já, se não para fazermos o que vem depois do já.
Esse programa seria o caminho do sucesso. É dizer mudarmos o ganhar já, com o fazermos depois do já.
Porém isso não pode ser feito automaticamente, pois em praticamente todos os casos o ganhar já, e o que leva anexo. É dizer. o como ganhamos e como agimos para isso, resulta incompatível com o depois de já -o sucesso coletivo-.
Como é que o triunfo leva a derrota coletiva?
Como se joga sempre a ganhar, fazem-se sempre apostas de muito curto percurso. Quanto mais curto o percurso, menor projeção temporal e mais limitada nos objetivos, e por tanto, mais segura a sensação de trunfarmos, de ganhar já.
Quer-se ter sempre cavalo ganhador. E sempre é o dos outros, o dos “vivíssimos competidores” o cavalo mais seguro, leva-o ao triunfo, ademais a inércia do poder que usufruem os “vivíssimos competidores”. Quem, pois, vai querer perder? Ninguém.
Na história a Galiza às vezes houve apostas fortes e coletivas para o ganho, para o grande ganho, v.g. as revoltas irmandinhas (guerra civil
Se repassarmos quase todas as alternativas e ofertas políticas que há hoje na Galiza ou que se tentam construir na Galiza, com vontade e pensadas desde a Galiza, acharíamos que o depois de já é uma grande ausência clamorosa...
Quem quer o depois, que é aposta de mais percurso, quando aspiramos a ganhar já. Na escrita por ex. a deriva para modelo castelhano foi a aposta por o ganhar já, que amais poupa muita trabalheira pois no outro modelo (este que sigo) há disciplina e já não rege o tudo vale1. Olhemos isso assim e entenderemos melhor o problema.
Para umas pessoas que querem ganhar sempre, há muito medo das luitas de risco, onde de partida se pode perder, e para não perder, renuncia-se a lutar, pois só se quer jogar a ganhar –ir ao seguro- que é o mecanismo mais seguro de como povo, perdermos sempre.
Isso sim, sempre nesse caminho de derrota coletiva, e triunfos “no já” alguns, além da sensação individual de triunfo, apanham uns feijões para um bom caldo vital... Porém não são mágicos.
Na Galiza há um medo pavoroso a dar o voto a quem pensas que não vá ganhar: é horrível sentir-se derrotado esse dia, podendo ganhar. Que bom é darmos o voto aos que ganham sempre, e saber o dia da votação que um está entre os que ganharam. Não votar, para muitos, é mais um jeito de tentar de outra maneira ganhar.
Qual a solução?
Qualquer alternativa de sucesso, para ganharmos coletivamente, tem que enfrentar isso, pensar sempre não no já, e sim, bem além do já.
É dizer a alternativa de sucesso tem que lhe dar a volta a esse casaco de ganhadores que tanto veste nalguns dias e que muito se gosta amossar2... Pois esse novo jeito é o caminho para a vitória... Se o fizermos bem3, e tal como somos, quem na Galiza vai querer sair derrotado.
Notas:
1 Como diz o Lluis Aracil (com certeza esse catalão é o mais grande sociolinguista peninsular) em revista Agália num. 17 pag.10 “neste modelo, a única condição é que qualquer cousa que for castelhano pode passar por galego. A única condição é ser castelhano”.
2E quando governa alguma alternativa do país, como trabalha para o já, -há que gozar (no sentido duplo espanhol e lusófono) o trunfo... E esquecer o -além de já.
3Eu polo de pronto já estou a pensar num sistema de propaganda justo ao contrário da que até agora sempre se fez na Galiza, para que esse cidadão que sonha com ganhar perceba e sofra com as suas opções de derrota.
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