sábado, 25 de agosto de 2012

sophia de mello breyner poema açores

Açores
Há um intenso orgulho
Na palavra Açor
E em redor das ilhas
O mar é maior
Como num convés Respiro amplidão No ar brilha a luz Da navegação Mas este convés É de terra escura É de lés a lés Prado agricultura É terra lavrada Por navegadores E os que no mar pescam São agricultores Por isso há nos homens Aprumo de proa E não sei que sonho Em cada pessoa As casas são brancas Em luz de pintor Quem pintou as barras Afinou a cor Aqui o antigo Tem o limpo do novo É o mar que traz Do largo o renovo E como num convés De intensa limpeza Há no ar um brilho De bruma e clareza É convés lavrado Em plena amplidão É o mar que traz As ilhas na mão Buscámos no mundo Mar e maravilhas Deslumbradamente Surgiram nove ilhas E foi na Terceira Com o mar à proa Que nasceu a mãe Do poeta Pessoa Em cujo poema Respiro amplidão E me cerca a luz Da navegação Em cujo poema Como num convés A limpeza extrema Luz de lés a lés Poema onde está A palavra pura De um povo cindido Por tanta aventura Poema onde está A palavra extrema Que une e reconhece Pois só no poema Um povo amanhece Sophia de Mello Breyner, O Nome das Coisas, Morais Editores, Lisboa, 1977

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