notável.
Magnífico comentário do amigo Marcos Celeiro em resposta a um utilizador da norma isolacionista para o galego e em defesa da nossa norma internacional, em defesa do reintegracionismo. Leiam, não tem desperdício:
"Tu não utilizas a ortografia que utilizas porque elegeste essa, utilizas essa porque é a única na que sabe
"Tu não utilizas a ortografia que utilizas porque elegeste essa, utilizas essa porque é a única na que sabe
s escrever, a única que mais ou menos che ensinaram. Se conhecesses e dominasses a ortografia RAG, a AGAL e o Acordo Ortográfico, poderias eleger, como eu elijo esta. O isolacionismo não é uma escolha, é uma imposição, e hoje por hoje, o reintegracionismo é um ato de rebeldia, que implica estudar a língua na clandestinidade, pois no ensino está proibido.
Nem eu nem o 100% dos reintegracionistas nascemos sendo reintegracionistas, nem nos ensinaram na escola nada disto, nem sempre pensamos assim. Eu com 16 anos tirava merda contra os reintegratas, hoje aqui me tens. Evidentemente, detrás disso há uma evolução, um ver mundo, um escutar outra gente, um processo de apreendizagem, um esforço.
O problema não é só ortográfico. A Iolanda poderia adaptar ortograficamente o seu artigo à norma RAG e haveria muito léxico que seria estranho. E sabes por que? Porque é LEXICO CULTO, este artigo está escrito num REGISTRO CULTO DA LÍNGUA, esse que o galego oral da aldeia não tem. E está-cho a dizer um fulano como eu que nasceu e vive na aldeia, se sente muito orgulhoso do seu galego dialetal de aldeia.
A estratégia espanholista-autonomista consiste em fazer do galego uma língua litúrgica e coloquial, nunca uma língua plena, é dizer, com todos os REGISTROS e com todos os USOS. Desde o vulgar até o culto mais pedante, passando polo coloquial, o jurídico, o técnico, as gírias, etc. Segundo esses exterminadores, o galego fica reservado para a casa com a família e os amigos (registro coloquial) e para a literatura (registro literário). O resto dos usos é ocupado polo castelhano.
Por exemplo, um uso jurídico. Como se diz em galego «con la venia de sus señorias»? No galego oral das aldeias não existem essas expressões, ou se recuperam as do galego medieval (os textos notariais medievais dizem «juri» não «xurado»; dizem «despesas», não «gastos», dizem «orçamento», não «presuposto») e do português contemporâneo, que é exatamente o mesmo, so que com mais léxico, ou recorrimos ao castelhano, que é como geralmente acontece. Eu tenho um amigo juíz, galegofalante e muito defensor da lígua, mas não escreve as sentenças em galego, e tem poder para fazê-lo. Sabes por que? Porque não tem léxico suficiente, e se o inventa, pois resulta que os inventos ainda não os conhece ninguém aparte dele.
Outro tanto com os usos técnicos. No galego mamado de aldeia também mamas o nome das peças dum motor diesel? Por que caralho chamas «buxia» a uma vela de ignição ou «tornilho» a um parafuso? O castelhano tembém ocupa esse nicho. E se tens uma avaria, acabas usando o léxico castelhano porque senão os mecánicos, ainda que sejam galegofalantes e só galegofalantes, só entendem o nome das cousas em castelhano.
A língua oral que chegou até os nossos dias são as ruinas duma língua. Carece de escrita e carece de registros cultos, que foram substituidos polo castelhano. Das ruínas podemos reconstruir o edifício, mas para isso temos que eliminar os elementos deteriorados e substituí-los por outros que funcionem para ocupar esse lugar. Resulta que do nosso edifício há cópias exatas em Portugal, Brasil, Angola, etc. Por que não utilizar isso? Por que criar um edifício misto entre galego e castelhano que nem é uma cousa nem outra, que só serve como elemento simbólico-identitáro mas não tem o valor funcional?
Eu falo galego. E escrevo galego. E faço-o assim por vários motivos:
- Rigor linguístico, é o que melhor representa a minha fala, com vogais abertas e fechadas, nasalidade, etc.
- Tradição. É a continuidade do galego de Martim Codax e Meendinho (o qual nunca escreveu «Mendiño»)
- Compatibilidade. Escrevendo assim, este texto pode ser lido por quase 300 milhões de pessoas.
- Segurança. É uma ortografia coerente, não duvido.
- Enriquecimento. Tenho acesso a literatura e cultura (e léxico) de cinco continentes.
Cada quem é livre de fazer o que quiser. Eu simplesmente explico a minha eleição, depois de poder eleger por ser capaz de escrever na norma RAG-ILG, na norma de mínimos, na norma da AGAL, na velha norma portuguesa, e no Acordo Ortográfico. E sendo de aldeia, falando galego dialetal, sem esconder esses traços dialetais, sem me envergonhar por isso, nem por ter aceitado a norma oficial em outras épocas. Hoje já não, nesta puta vida algo apreendi, e tanto me tem o que dirão, que me chamem elitista, antipatriota, português de merda, ou o que queiram. Eu sou quem obtenho os benefícios da minha eleição: tenho um monte de livros e filmes subtitulados na minha lingua, o 100% do meu software na minha língua, centos de amigos brasileiros e portugueses, relações laborais com brasileiros e portugueses, e mil cousas mais. Tudo o que ganhei mudando quatro letras de merda não o troco por nada deste mundo."
Nem eu nem o 100% dos reintegracionistas nascemos sendo reintegracionistas, nem nos ensinaram na escola nada disto, nem sempre pensamos assim. Eu com 16 anos tirava merda contra os reintegratas, hoje aqui me tens. Evidentemente, detrás disso há uma evolução, um ver mundo, um escutar outra gente, um processo de apreendizagem, um esforço.
O problema não é só ortográfico. A Iolanda poderia adaptar ortograficamente o seu artigo à norma RAG e haveria muito léxico que seria estranho. E sabes por que? Porque é LEXICO CULTO, este artigo está escrito num REGISTRO CULTO DA LÍNGUA, esse que o galego oral da aldeia não tem. E está-cho a dizer um fulano como eu que nasceu e vive na aldeia, se sente muito orgulhoso do seu galego dialetal de aldeia.
A estratégia espanholista-autonomista consiste em fazer do galego uma língua litúrgica e coloquial, nunca uma língua plena, é dizer, com todos os REGISTROS e com todos os USOS. Desde o vulgar até o culto mais pedante, passando polo coloquial, o jurídico, o técnico, as gírias, etc. Segundo esses exterminadores, o galego fica reservado para a casa com a família e os amigos (registro coloquial) e para a literatura (registro literário). O resto dos usos é ocupado polo castelhano.
Por exemplo, um uso jurídico. Como se diz em galego «con la venia de sus señorias»? No galego oral das aldeias não existem essas expressões, ou se recuperam as do galego medieval (os textos notariais medievais dizem «juri» não «xurado»; dizem «despesas», não «gastos», dizem «orçamento», não «presuposto») e do português contemporâneo, que é exatamente o mesmo, so que com mais léxico, ou recorrimos ao castelhano, que é como geralmente acontece. Eu tenho um amigo juíz, galegofalante e muito defensor da lígua, mas não escreve as sentenças em galego, e tem poder para fazê-lo. Sabes por que? Porque não tem léxico suficiente, e se o inventa, pois resulta que os inventos ainda não os conhece ninguém aparte dele.
Outro tanto com os usos técnicos. No galego mamado de aldeia também mamas o nome das peças dum motor diesel? Por que caralho chamas «buxia» a uma vela de ignição ou «tornilho» a um parafuso? O castelhano tembém ocupa esse nicho. E se tens uma avaria, acabas usando o léxico castelhano porque senão os mecánicos, ainda que sejam galegofalantes e só galegofalantes, só entendem o nome das cousas em castelhano.
A língua oral que chegou até os nossos dias são as ruinas duma língua. Carece de escrita e carece de registros cultos, que foram substituidos polo castelhano. Das ruínas podemos reconstruir o edifício, mas para isso temos que eliminar os elementos deteriorados e substituí-los por outros que funcionem para ocupar esse lugar. Resulta que do nosso edifício há cópias exatas em Portugal, Brasil, Angola, etc. Por que não utilizar isso? Por que criar um edifício misto entre galego e castelhano que nem é uma cousa nem outra, que só serve como elemento simbólico-identitáro mas não tem o valor funcional?
Eu falo galego. E escrevo galego. E faço-o assim por vários motivos:
- Rigor linguístico, é o que melhor representa a minha fala, com vogais abertas e fechadas, nasalidade, etc.
- Tradição. É a continuidade do galego de Martim Codax e Meendinho (o qual nunca escreveu «Mendiño»)
- Compatibilidade. Escrevendo assim, este texto pode ser lido por quase 300 milhões de pessoas.
- Segurança. É uma ortografia coerente, não duvido.
- Enriquecimento. Tenho acesso a literatura e cultura (e léxico) de cinco continentes.
Cada quem é livre de fazer o que quiser. Eu simplesmente explico a minha eleição, depois de poder eleger por ser capaz de escrever na norma RAG-ILG, na norma de mínimos, na norma da AGAL, na velha norma portuguesa, e no Acordo Ortográfico. E sendo de aldeia, falando galego dialetal, sem esconder esses traços dialetais, sem me envergonhar por isso, nem por ter aceitado a norma oficial em outras épocas. Hoje já não, nesta puta vida algo apreendi, e tanto me tem o que dirão, que me chamem elitista, antipatriota, português de merda, ou o que queiram. Eu sou quem obtenho os benefícios da minha eleição: tenho um monte de livros e filmes subtitulados na minha lingua, o 100% do meu software na minha língua, centos de amigos brasileiros e portugueses, relações laborais com brasileiros e portugueses, e mil cousas mais. Tudo o que ganhei mudando quatro letras de merda não o troco por nada deste mundo."
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