Manuel de Sousa opina no wikipedia/9.07.06-Debate sobre a língua
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:Vers%C3%B5es_da_l%C3%ADngua_portuguesa/Arquivo3
- Caríssimo,
- Nós, os portugueses, temos uma tendência -- às vezes até doentia --
para lamentar as oportunidades perdidas do passado. Mas continuamos,
hoje mesmo, a descorar o muito que ainda temos de bom...
- Creio que não exagero se disser que nenhum país do mundo desdenharia
perante a possibilidade da língua que ostenta o seu nome ser
considerada uma das mais faladas do mundo!
- Olhe para a Inglaterra, o que eles ganham pelo facto da sua ser a
"lingua franca" por excelência do mundo contemporâneo! Olhe para a
Espanha, o que eles se esforçam por integrar continuamente os falarem
latino-americanos (ao ponto da Real Academia Española considerar como
correctos usos próprios dos hispânicos e que os castelhanos mais
puristas sentem repugnância em aceitar...) e como eles se envolvem na
expansão do idioma nos Estados Unidos! Olhe para a França, que através
da sua política de francofonia, se esforça por travar a decadência do
idioma francês, enquanto língua de comunicação transnacional...
- E nós o que fazemos?
- Permitimos que o nosso idioma tenha, há praticamente um século (a
completar no, não muito distante, ano de 2011) duas ortografias oficiais
diferentes; temos tendência a considerar o "brasileiro" como um outro
falar, necessariamente mais pobre e adulterado; tardamos em definir (em
conjunto com o Brasil) uma estratégia global para o ensino do português
como língua estrangeira; não nos preocupamos com o facto do francês se
expandir na Guiné-Bissau ou o inglês em Moçambique;... contrariando a
nossa própria história, parece que queremos até "que a nossa língua
continue a reflectir o povo português e não uma mescla multicultural"!!!
- Li no Público que há 235 milhões de falantes da nossa
língua. Já reparou no enorme mercado cultural que isto representa? Já
reparou na notoriedade que Portugal tem, pelo simples facto dos falantes
da nossa língua serem 23 vezes e meia o tamanho da nossa população? Já
pensou que isso se pode traduzir, também, em benefícios políticos e
diplomáticos?
- Se a prática do "orgulhosamente sós" vingar, um dia os nossos netos
vão lamentar o que estamos hoje a fazer ou, talvez melhor, a não fazer!
Da mesma forma que nós hoje achamos que foi uma pena que as riquezas das
índias e dos brasís se tenham esfumado e pouco, de duradouro, tenha
ficado.
- Acha verdadeiramente que é este o caminho mais proveitoso para os portugueses? Eu acho que não. Cumprimentos, Manuel de Sousa 23:20, 9 Julho 2006 (UTC)
- P.S. - Só um comentário final sobre as consoantes mudas: as pessoas não escrevem inflacção
porque lhes soa melhor (aliás, como saberá, inflação nunca se escreveu
com dois "cc"!), escrevem assim por uma "suposta coerência" com outros
casos em que, apesar de serem completamente desnecessários, as regras
ortográficas impõem que seja acrescentado um "c" ou um "p" lá no meio da
palavra. Nada mais. Quanto à ortografia francesa, ela não é exemplo
para nós. Era, para a ortografia etimológica que seguíamos antes de
1911. Agora, as ortografias do espanhol ou do italiano são mais próximas
da nossa, uma vez que concedem uma preponderância maior à fonética do
que o francês ou o inglês.
|
|
Sem comentários:
Enviar um comentário