domingo, 4 de setembro de 2011

Será que é mais correto dizer que o Galego é pai do Português, ou que ambos têm uma raiz comum? "»




Em dialogos_lusofonos Margarida Castro escreveu: «Peço aos amigos na GALIZA [...] que esclareçam esta polêmica segundo a sua opinião/opinión. "Será que é mais correto dizer que o Galego é pai do Português, ou que ambos têm uma raiz comum? "»
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Bom, respondo breve em espaço e em ideias:

1.- Comecemos por afirmar que pelos anos referidos (sécs. XII-XV) as diferenças entre as diversas "línguas" peninsulares não eram tão marcadas como o são hoje.

2.- Parece-me que não erro se afirmo que dessas "línguas" as únicas então bem elaboradas eram a galega (ainda não portuguesa), sobretudo, e a catalã.

3.- A castelhana ou espanhola não começará a ser decentemente (e imperialmente!) elaborada até ao séc. XV, justamente quando a Galega (já não só Galega, mas também Portuguesa) estava a desaparecer dos âmbitos institucionais da Galiza pela pressão da coroa castelhana (só castelhana e não espanhola), que impunha a sua língua junto do seu "império"...

4.- O primeiro gramático castelhano (na realidade andaluz), Lebrija (ou Nebrija), escreveu no prólogo à sua obra, que dedica a rainha Isabel de Castela (só Castela e não Espanha): «siempre la lengua fue compañera del imperio [= poder político, governo ou, como hoje dizem, governança]». De facto, em 1492, diz escrever a gramática castelhana para que os novos súbditos da rainha (entre os quais cita os bascos) conheçam a língua em que estão redigidas as leis de modo que não tenham desculpas para não obedecê-las.

5.- Durante os sécs. XII, XIII e mesmo XIV a língua dominante nas relações familiares (e não só) dos reis citados, no ocidente peninsular, era a Galega ou Portuguesa, enquanto mais cada vez a língua "oficial" do reino castelhano era a castelhana, mas a castelhana de então, não a castelhana de hoje. É verdade de Calino que cumpre ter em conta e situar convenientemente. Dificilmente imaginamos o que acontecia então e, em todo o caso, sempre desde o nosso presente. Daí que os erros de paralaxe sejam reiterados...

6.- A língua literária até ao séc. XV foi, em todo o ocidente ibérico, a Galega e já igualmente Portuguesa, que como disse então era já língua bem elaborada, perfeitamente acabada, face à castelhana cujos cultores andavam hesitantes entre os diversos dialetos usados no reino de Castela.  Face ao galego-português ou, como dizia Rodrigues Lapa, o grande filólogo português, o castelhano era e é "conglomerado dialectal", segundo a definição do saudoso García de Diego, secretário da Real Academia Española por longo tempo.

7.- A elaboração conseguida para o galego foi transferida naturalmente (sic) ao português. Na realidade não houve mais do que rotura da continuidade, na parte galega, e continuidade, na parte portuguesa. Hoje o reino bourbónico está a tratar (maltratar) o "galego" incidindo nessa rotura até ao esmagamento, por um lado, das falas galegas e, por outro, da formalização gráfica do "galego" "oficializado". É trato político radical cujo destino será o extermínio dos galegos (falantes) e do "galego" escrito. A real e sutil perseguição do Galego ou Português galego por parte do reino bourbónico e, em particular, por parte dos governantes da "Comunidad Autónoma de Galicia", é manifesta a qualquer observador suficientemente atento.

8.- Termino: O Galego (= falas galegas) de hoje e o Português (= falas portuguesas) de hoje são netos ou bisnetos das etapas gloriosas da língua Galega ou Portuguesa, tanto tem. O Galego de hoje não é pai do Português de hoje, mas parentes consanguíneos que desfrutam do mesmo ADN...

Não sei se respondi ao caso. Entrementes...
 
Ualeamus et gaudeamus igitur!: A/


 

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