Calorosas saudacoes de
Simao SOUINDOULA
2011, ANO INTERNACIONAL DAS POPULACOES AFRODESCENDENTES
A ROTA NORTE-AMERICANA DA ESCRAVATURA
OS CONGOS/ANGOLAS CONTRIBUIRAM NA FORMACAO DOS MELUNGEONS
E
uma das conclusões que se alista do livrinho que acaba de ser
publicado, em Luanda, sob o titulo, previsível, « Angolanos na formação
dos Estados Unidos de América ».
Esta
simpática síntese foi editada, corajosamente a conta de autor, pelo
jovem Vladmiro Fortuna, conservador no Museu da Escravatura.
Selado
em 143 páginas, o estudo articula-se em quatro capítulos dentre dos
quais o autor aprecia, sucessivamente, e para o essencial, a natureza
das relações entre os Europeus e os primeiros negro - africanos na
América do norte no seculo XVII, insistindo nas relações na Colónia de
Jamestown, na Virgínia, em 1607.
Aborda, naturalmente, a constituição dos enigmáticos melungeons e alguns traços históricos « angolanos » nos EUA.
O
neo- americanista juntou ao seu ensaio dois mapas que indicam a famosa
região Congo/Angola, principal zona de embarque dos cativos conduzidos
para o norte do Novo Mundo, entre 1619 e 1660, e cujos direcções
privilegiadas foram a Virgínia e Nova Amesterdão.
Anexou gravuras de Rugendas que estampilhou retratos dos originários do Reino e da Colónia,
uma estampa representando o elegante Francisco Angola, homem livre na
principal cidade holandesa do setentrião americano e uma fotografia de
uma família de algodoeiros, perto de Savannah, na Geórgia, nos anos
1860.
A
fim de apoiar o seu ponto de vista sobre a intensidade do abastecimento
da mão-de-obra escravo dos dois territórios para a América
setentrional, Fortuna recorda, para o essencial, na base dos trabalhos
do casal, erudito, norte-americano, John Thornton e Linda Heywood, que,
entre 1710 e 1769, 15,7% dos cativos introduzidos na Virgínia, vinham do
actual território angolano.
MELUNGEONS
Quanto a Carolina do sul, registou, entre 1733 e 1807, a instalação de uma populacao niger, cujo 39, 6% era originário das terras dos Nzinga.
Um dos factos antropo - biológicos e sociais, maiores, da significativa instalação na Virgínia dos congos, mundongos, cassanjes, matambas e benguelas
será, visivelmente, a sua mestiçagem, continua, com diversos grupos de
ameríndios e europeus ; dinâmica que permitira a emergência de uma
componente humana bastante particular, os melungeons.
Contrariamente
a investigadores que supõem uma etimologia árabe deste etnónimo,
Thornton e de opinião que o termo e de origem bantu. Provém do vocábulo malungu, no seu sentido, forte, de companheiro de infortúnio e de irmão de travessia.
A hipótese bantu e reforçada pelo campo semântico em kikongo e kimbundu, que atesta os termos lungu, ulungu(sing) e malungu (plur), no sentido de embarcação.
O quadro sinonímico nessas duas línguas e claro, nlangu ou kalunga significando uma massa de água, o mar.
O
termo utilizado no porto, o proto- crioulo afro- português, e que será
introduzido no inicio do século XVII, nas plantações virginianas, e bem
« melungo ». Tudo indica que esses infelizes « Portyghee »
abandonados pelo um navio na costa atlântica oeste, norte - americana,
eram constituídos de ibéricos, tanto leucodermes que melanodermes.
Convencido pela esta hipótese, Tim Hashaw escolhera o termo malungu
para o título de um dos artigos, os mais falados, trabalho publicado,
em 2001, na revista de William and Mary College, em Atlanta.
Esta suposição de uma etimologia bantu e reforçada pela sólida perpetuação desta designação no Brasil. Sua cristalização em melungeon derivaria da influência tonal do inglês.
A ascendência « angolana» de algumas famílias desses « mongrels »
(mestiços) será suposta pelas suas particularidades patronímicas. Com
efeito, encontra-se, no seu seio, pretos chamando-se Emanuel Driggers
(Rodriggus), Chavis e Fernando.
Esses
eram, muitas das vezes, homens livres, « companheiros» de colonos
ingleses, a exemplo, nos anos 1620, de António e da sua esposa Isabella
ou de John Pedro.
Essas
comunidades de “híbridos” evoluirão na Virgínia, Carolina, no
Maryland, Delaware, Kentucky, Tennessee, Ohio, na Louisiana, no New
Jersey e Texas.
ANGOLOOLISCHEN
Mais
ao norte, na Nova Amesterdão, uma dezena de cativos vindos da África
central, sob encomendas, comprados junto de corsários ou embarcados em
São Paulo de Loanda, ocupada pelos holandeses, de 1640 a 1648, se farão
assinalar em 1644, pela submissão de uma petição solicitando a sua
alforria. Nota-se, aí, as assinaturas de « negros neerlandeses » tais como Paul d’Angola e Simon Congo.
Os registos dos baptismos na Nova Amesterdão confirmam a presença desses « angoloolischen slavinnen ». Encontra-se, aí, dezenas de van Angola tais como Pallas Negrinne van Angola ou Antony van Angola-Negers.
Na Virgínia, os arquivos conservaram documento sobre famílias niger tais como Cumbo, antropónimo, tornado Cambow ou Longo.
Na
Colónia britânica de Jamestown, listas de « portugueses » ( ?) foram
preservadas. Nota-se, aí, o casal Congo/Cossongo e uma mulher nomeada
Palassa, antropónimo muito usado no seio dos Bantu instalados no norte
do Novo Mundo.
Observa-se
nos arquivos que o filho do Governador da Virgínia tinha ao seu
serviço, um negro - africano, visivelmente bantu, chamado Ndulu.
As comunidades de escravos vindos do Ndongo, Matamba, Cassanje e das regiões adjacentes perpetuarão o topónimo Angola em diversas localidades território americano.
Rebeldes originários dessas entidades criaram, no delta do Braden, perto de Saint Augustine, na Florida, um verdadeiro « palenque ». Impuseram a este terra de alforria, o nome de Angola.
António, homem livre, com o estatuto de serviçal, conseguira adquirir uma fazenda e colara, nela, o nome do pais dos Ngola.
Na
Virgínia - esta Angola deslocalizada – o título genérico do Rei
Federador -, foi atribuído no século XVIII, numa dinâmica antropo –
hydronimica, no Condado de Cumberland, a uma ribeira. Hoje, encontra-se,
aí, uma reserva natural com esta apelação.
THE ANGOLITE
O
topónimo Angola e, também, certificado em diversas localidades tais
como no Estado de Nova Iorque, em Buffalo, cidade fundada em 1873, perto
da Lagoa Erie, e no Indiana, onde foi acoplado a uma cidade
universitária.
A
denominação Angola, a mais célebre nos Estados Unidos de América, e a
que foi posta ao Penitenciário do Estado de Louisiana, criado em 1835,
numa antiga quinta, conhecida, hoje, como « The Farm » ; e cuja principal publicação tem como titulo « The Angolite » ( ?).
Na
verdade, o nome Angola acabou para significar, nas colónias e nos
outros territórios da América do norte, luta pela liberdade.
A grande utilidade da síntese de Vladmiro Fortuna e de ser uma tentativa, versão recapitulativa, em português do « Captive Passage » entre o litoral da « Cote d’ Angole », o do Reino dos « Mbanza » e a América setentrional.
Naturalmente,
ele reconhece o carácter sintético do seu trabalho, esperando que as
pesquisas sobre o assunto evoluirá significativamente.
Com
efeito, esforços devem ser feitos no estudo das sobrevivências
linguísticas e antropológicas bantu nos Estados Unidos de América,
sobre documentos de arquivos ou baseando-se nas praticas ou tradições
actuais, nos passos de Lorenzo Dow Turner, Patricia Jones-Jackson ou
Winifred Kellerberger Vass.
E só a este preço que a componente bantu do melting - pot melungeon, poderá ser bem esclarecida.
Simao SOUINDOULA
Comité Cientifico Internacional
Projecto UNESCO “A Rota do Escravo ”
C.P. 2313
Luanda (Angola)
Tel.: + 244 929 79 32 77
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