quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Costumes brasileiros “importados” do judaísmo


  
Costumes brasileiros
“importados” do judaísmo
 
Nelson Menda
 RECOLHIDO POR  MARIA EDUARDA FAGUNDES

É um privilégio poder viver em um país sem furacões, terremotos ou vulcões. Em uma nação gigantesca e extremamente fértil, considerada o verdadeiro celeiro da humanidade. Que consegue agregar à maior floresta tropical do mundo suas imensas reservas submarinas de petróleo, fato que a torna auto-suficiente em uma época de escassez dessa preciosa e limitada fonte de energia. Que possui incomensuráveis mananciais de água doce, o petróleo do amanhã, tanto na superfície quanto no subsolo. Que apresenta um extenso litoral, com 8.000 quilômetros de praias, algumas delas de cair o queixo. Um país que se orgulha em ostentar o título de maior nação cristã do mundo, desde o seu descobrimento pelos portugueses, católicos apostólicos romanos, há cinco séculos. Êpa, eu disse católicos apostólicos romanos? Peço desculpas aos leitores e à imensa legião de cristãos do país, mas acho que me equivoquei nesse último tópico. E já explico o porquê.
 
 
A ERA DOS DESCOBRIMENTOS
Apenas três anos antes do descobrimento do Brasil o número de judeus em Portugal ultrapassava a casa dos 10% da população. Cem mil judeus expulsos da Espanha em 1492 tinham procurado refúgio no país vizinho, pela própria proximidade geográfica, vindo se somar à já existente e próspera coletividade israelita do país. Portugal, à época, tinha uma população estimada em um milhão de habitantes. Por volta de 1496, quatro anos após a chegada dessa numerosa e qualificada leva migratória à terrinha, D. Manuel, o Venturoso, tido como “muy amigo” dos judeus, pediu a mão da filha dos Reis de Espanha, Isabel e Fernando, cujos nomes provocam, até hoje, arrepios em muitos sefaradis. A princesa, que não era esbelta nem esperta, foi buscar orientação com seu confessor, o temível Torquemada, que proibiu terminantemente sua entrada em solo português enquanto existissem judeus no país. D. Manuel estava em uma sinuca de bico. Por um lado, precisava dos judeus, alfabetizados, cultos, poliglotas, em cujo seio era possível encontrar médicos, astrônomos, tradutores e artesãos experientes no manejo do couro e dos metais, em uma época em que Portugal se lançava aos grandes descobrimentos marítimos e precisava dessa mão de obra altamente qualificada. Por outro, o soberano português temia, com justa razão, a presença ao seu lado de uma Espanha militarizada e agressiva que acabara de conquistar a Andaluzia aos árabes e expulsar os judeus do país. Espanha essa que possuía população e território muitas vezes superior ao de Portugal, um pequeno país espremido entre o mar e seu nada amistoso vizinho.
 
 
BATISMO EM PÉ
Com esse casamento, D. Manuel esperava matar dois coelhos de uma só vez. Além de constituir família e garantir a continuidade da sua dinastia, afastava, pelo menos momentaneamente, a ameaça de uma anexação de Portugal pela Espanha. Todavia, como resolver a delicada questão dos judeus, de que ele tanto precisava? No domingo de Ramos de 1497 D. Manuel convidou os israelitas da capital portuguesa para um grande encontro na Praça do Comércio, bem em frente ao Tejo, com a promessa de que embarcariam em navios que os levariam à Terra Santa, sonho da imensa maioria dos judeus ibéricos. Ao mesmo tempo, em segredo, convocou o maior número possível de padres, a quem foi distribuída uma grande quantidade da assim chamada água benta, no episódio conhecido como “batismo em pé”. Enquanto os religiosos católicos aspergiam a água dita santa sobre a multidão que se acotovelava no cais, D. Manuel, feliz da vida, enviava seu emissário à corte espanhola para avisar que não havia mais judeus em Portugal, só cristãos. E os judeus, olhos fixos no horizonte, “ficaram a ver navios”, pois além de ludibriados com a falsa promessa da viagem à Terra Prometida, ainda tinham sido convertidos, contra a vontade, em cristãos. Cristãos de segunda classe, diga-se de passagem, pois estavam proibidos de ocupar cargos no governo, no clero e na oficialidade militar. Esse lamentável episódio se, por um lado, evidenciou uma atitude de total desrespeito à liberdade religiosa em relação a uma parcela ponderável da população, por outro serviu para deixar uma marca indelével e inequívoca da presença judaica na formação do inconsciente coletivo de portugueses e brasileiros, o que pode ser constatado ao se analisar certos hábitos, muitos provérbios e até mesmo algumas estranhas superstições que se incorporaram à nossa maneira de ser. A própria expressão “ficar a ver navios”, para citar um exemplo, acabou sendo agregada ao vocabulário popular, servindo para designar uma situação de promessa não cumprida, de enganação, de desejo frustrado. Teria sido esse “ficar a ver navios” a única evidência da presença judaica no dia-a-dia da população luso-brasileira, de suposta maioria cristã? Claro que não e o objetivo deste artigo é exatamente o de utilizar artifícios freudianos para resgatar, dos profundos e nebulosos meandros do inconsciente para o estado de consciência plena, uma série de fatos que evidenciam, de forma cabal e inequívoca, a forte presença judaica nos hábitos da população brasileira.
 
 
“PÃO-DURISMO MINEIRO”: MITO OU REALIDADE?
Os judeus participaram de todos os ciclos da economia brasileira, inclusive o do ouro e pedras preciosas das Minas Gerais. Obrigados a se manter no anonimato, para não serem denunciados à Inquisição e ao mesmo tempo preocupados em seguir as regras dietéticas da kashrut (1), desenvolveram um mobiliário que permitia agradar a gregos e troianos, que é a famosa “mesa com gavetas” dos mineiros. Em que consistia? Muito simples: as mesas das cozinhas e copas onde eram realizadas as refeições dispunham de gavetas estrategicamente dispostas no lugar onde os comensais deveriam sentar. A cada refeição, eram preparados dois pratos para cada pessoa. Um, taref (2), para inglês ver, no caso de chegar alguma visita inesperada, composto pelos alimentos habituais da cozinha mineira, como lingüiça, torresmo, leitão e outros quitutes que, além de seu elevado teor calórico, eram proibidos aos judeus. O outro prato continha os alimentos preparados segundo a tradição judaica de não misturar carne com leite e derivados, de evitar a ingestão de crustáceos e peixes sem escamas e uma série de outras recomendações, especialmente a de não consumir carne ou gordura de porco. E era um tal de bota e tira os pratos nas tais gavetas a cada aproximação de um estranho que o zé povinho acabou forjando a lenda de que os mineiros eram pão-duros, pois preparavam dois tipos de comida. Uma, de melhor qualidade e sabor, para o pessoal da casa e outra, mais simples, para o caso de chegar uma visita inesperada.
 
 
O FESTIVAL DA ALHEIRA
Quem freqüenta, no Rio, as sinagogas Shel Guemilut ou ARI, já teve a oportunidade de passar pela frente de um tradicional restaurante português localizado nas proximidades. Esse estabelecimento costuma realizar, todos os anos, um “Festival da Alheira”, ansiosamente aguardado pelos apreciadores da boa mesa. Mas afinal, o que vem a ser a alheira? Uma das evidências para um judeu ser denunciado à Inquisição era o fato de não comer carne suína, especialmente os embutidos com ela preparados, como o presunto, os salames e as lingüiças. Uma casa portuguesa genuinamente cristã deveria exibir, penduradas e à vista de todos, fieiras de embutidos de porco preparados com essa carne considerada impura pelas leis dietéticas judaicas. Os israelitas portugueses, especialmente das regiões da Beira Alta e Trás os Montes, logo se deram conta do risco que corriam ao não exibir essa tradicional – e proibida – iguaria no entorno de suas casas. Criaram uma falsa lingüiça que, ao invés do porco utilizava carne de gado. No lugar do toucinho, de cor branca, colocavam nacos de pão e, para mascarar o cheiro, folhas de um arbusto da região de nome alheira que possuía um forte odor, semelhante ao do alho. Além de afastada a razão para uma possível denúncia, estava criado um novo e delicioso prato, que até hoje faz a festa em muitas casas e estabelecimentos especializados em culinária regional portuguesa. Mas atenção, antes de pedir uma alheira em um restaurante de comida portuguesa, bata um papo com o maitre a respeito do seu conteúdo, pois muitos fabricantes do produto, desinformados sobre a origem e o valor histórico da iguaria, acabaram substituindo a carne bovina por... adivinhe... nada mais nada menos do que... porco.
 
 
PASSAR A MÃO NA CABEÇA
Quem já não ouviu ou pronunciou a expressão “passar a mão na cabeça”, que significa proteger ou mesmo fazer vista grossa para um determinado fato?. Se o leitor suspeita que essa frase esteja relacionada ao ato judaico de abençoar alguém colocando as duas mãos sobre sua cabeça ao mesmo tempo em que se pronuncia uma breve oração em hebraico, está redondamente acertado. É mais uma prova da influência judaica na cultura popular brasileira.
 
 
VESTIR A CARAPUÇA
É uma expressão com origem trágica, pois remonta ao obscuro período da Inquisição em que os condenados eram obrigados a vestir trajes ridículos ao comparecer aos julgamentos e Autos de Fé. Além do sambenito, túnica com o formato de um poncho, precisavam colocar sobre a cabeça um longo e ponteagudo chapéu, conhecido como carapuça. A frase “vestir a carapuça” acabou sendo incorporada ao português escrito e falado com o sentido de “assumir a culpa”.
 
 
NÃO APONTAR PARA AS ESTRELAS
Apontar para uma estrela, segundo o conceito popular, poderia causar o surgimento de uma verruga na extremidade do dedo infrator. Qual a origem dessa crendice? É fácil de entender. O calendário judaico é regido pela lua e o despontar da primeira estrela marca o início de um novo dia, especialmente se esse dia for o Shabat (3). Antes da expulsão da Espanha de 1492 e da conversão forçada de Portugal de 1497 era comum que as crianças judias, ao entardecer das sextas-feiras, ficassem procurando no firmamento o brilho da primeira estrela, indicativa da chegada de um dia muito especial. Era a Estrela D’Alva, também conhecida como Vésper, mas que, na realidade, não é exatamente uma estrela, mas sim o Planeta Vênus, que por brilhar com mais intensidade se destaca dos outros corpos celestes. Quem apontasse primeiro provavelmente ganharia a admiração dos mais velhos e, quem sabe até, algum presente. De uma hora para outra esse gesto simples passou a ser denunciador da condição judaica e a primeira coisa que as precavidas mamães fizeram foi assustar seus filhos com a possibilidade do surgimento de uma baita verruga na ponta do dedo. A Inquisição, felizmente, já acabou há bastante tempo, mas a crendice ainda persiste em muitas regiões desse imenso país. Por isso, não se preocupe quando vir uma criança ou adulto apontando para o céu. Mesmo porque já se sabe que as verrugas são causadas por vírus e os dermatologistas dispõem de eficazes tratamentos para erradicá-las.
 
 
OFERECER A BEBIDA AO SANTO
É comum em muitos bares e botequins de norte a sul do Brasil despejar no chão o primeiro gole de aguardente, em sinal de respeito “ao santo”. Qual o santo? Nada mais nada menos do que o nosso conhecido Eliyahu Hanavi (4), o Profeta Elias da tradição judaica. Nas mesas do Seder (5) de Pessach (6) é costume reservar um lugar para o Profeta, colocando-se um prato, talheres e um cálice com o delicioso vinho adocicado especialmente preparado para a ocasião. Ninguém toca nesse cálice, reservado para Elias. Diz-se que, a cada ano, ele faz uma visita a todos os lares judaicos durante o Pessach e não ficaria bem encontrar seu cálice sem o precioso líquido. Com as perseguições aos judeus, começou a ficar perigoso mencionar o nome de Elias, que passou a ser chamado de “santo”. De profeta para santo e de vinho para pinga foi um pulo.
 
 
COVA DE SETE PALMOS DE FUNDURA
O grande escritor e poeta João Cabral de Melo Neto imortalizou nos versos de “Morte e Vida Severina” a estrofe que fala de uma cova com sete palmos de fundura. É uma tradição 100% nordestina envolver as pessoas falecidas em uma mortalha de linho, sepultando-a em cova preparada em terra virgem com a profundidade de sete palmos. Também fazia parte da tradição judaica ibérica, por ocasião da morte de um ente querido, ao invés de sepultá-lo em um caixão, revestir seu corpo em uma mortalha confeccionada com algodão ou linho e enterrá-lo em uma cova escavada igualmente em terra virgem e com os mesmíssimos sete palmos de profundidade. Os homens costumavam ser sepultados envoltos no seu talit (7), manto com franjas utilizado durante as cerimônias religiosas. Coincidência? Nada disso. O Nordeste foi colonizado por judeus, gente!
 
 
ACENDER VELAS PARA AS ALMAS
A cerimônia doméstica do Shabat tem início logo após a dona da casa ter acendido as duas velas do candelabro ritual e pronunciado a benção própria para a ocasião. Quando isso acontece? Um pouco antes do pôr do sol das sextas-feiras. Como driblar os olheiros da Inquisição? Acendendo velas “para as almas”, além das sextas, também às segundas-feiras. Pronto, estava resolvido o problema. O acendimento das segundas-feiras era só para despistar e o das sextas para valer. A moda de acender velas duas vezes na semana pegou. Para felicidade das almas e dos fabricantes de velas.
 
DIA NACIONAL DA FAXINA
Em que dia da semana os brasileiros costumam fazer a faxina e trocar a roupa de cama e banho de suas casas? Pense bem antes de responder: às segundas, terças, quartas ou quintas-feiras? Não acertou? Isso mesmo, pois todos sabem que o dia nacional consagrado à faxina é às sextas-feiras. Você já questionou o porquê desse dia? Será que não tem algo a ver com a preparação para o Shabat, que, por uma estranha coincidência, também acontece ao entardecer das sextas-feiras? Mais uma coincidência? Não, tudo a ver com um país que foi descoberto e colonizado por israelitas, que precisaram esconder essa condição durante muitos séculos para não serem denunciados, perseguidos, torturados e mortos pela Inquisição, mas que conseguiram transmitir para o restante da população uma série de costumes, provérbios e princípios que hoje em dia estão intimamente ligados ao próprio estilo de vida do povo brasileiro, ao qual os judeus, juntamente com os católicos, protestantes, muçulmanos, evangélicos, espíritas, budistas, umbandistas e agnósticos fazem questão, com muita honra, de pertencer.
 

(1)- Kashrut – Lei dietética judaica
(2)- Taref – Alimento impróprio para consumo pela lei dietética judaica
(3)- Shabat – Dia sagrado dos judeus, que vai do entardecer das sextas-feiras ao mesmo período do dia seguinte
(4)- Eliyahu Hanavi – Nome hebraico do Profeta Elias
(5)- Seder – Mesa cerimonial para a celebração do Pessach, a Páscoa Judaica
(6)- Pessach – Celebração festiva da libertação dos Judeus do jugo egípcio
(7)- Talit – Manto cerimonial utilizado pelos homens no Shabat e datas festivas
 
 
 
 
 
Tiradentes era Judeu
 
Relembra-se que de fato, Joaquim José da Silva Xavier - o Tiradentes - foi enforcado, muito mais por ser judeu cristão novo, do que mesmo por seus patrióticos, exemplares e históricos ideais de Independência do Brasil.Tanto assim, que seus companheiros Inconfidentes não sofreram pena de morte. Tiradentes merece um destaque especial em seu conceituado jornal online, pelos dois motivos: por ser judeu e Lider no Movimento que despertou o Brasil para a sua Independência, legando-nos este País maravilhoso!!!!!!! - Nisso tudo há uma triste, dramática e lamentável inversão do óbvio: embora para humilhar publicamente, torturar, roubar e matar os judeus portugueses e seus descendentes no Brasil, a monstruosa Inquisição reconhecia muito mais os cristãos novos como judeus, do que muitas outras entidades judaicas na diáspora...
Miguel Ribeiro Gomie – Jornalista
 
 
 
 
O Judeu Joaquim Nabuco
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A Universidade Federal Rural de Pernambuco promoveu um evento nacional para comemorar o centenário de Joaquim Nabuco, inaugurando a Cátedra Anita Novinsky, recém criada nessa Universidade, dedicada à pesquisa sobre cristãos-novos, judaísmo e sua presença no nordeste.
Organizou este evento o professor Caesar Sobreira, autor do livro Nordeste Semita, que foi lançado durante o Colóquio. Participaram do evento, além de diversos acadêmicos, Paulo Valadares e Lina Gorenstein, pertencentes à equipe de pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância, (LEI), da Universidade de São Paulo, que ressaltaram a genealogia judaica de Joaquim Nabuco e a cidade de Barcelos, berço de seus antepassados rabinos
 

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