domingo, 6 de maio de 2012

Augusto Boal morreu


Dramaturgo Augusto Boal morreu aos 78 anos

04.05.2009 - 08:39 Por Isabel Coutinho
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A obra de Boal está traduzida em mais de 20 línguas e o <i>The Guardian</i> considerou-o tão importante como BrechtA obra de Boal está traduzida em mais de 20 línguas e o The Guardianconsiderou-o tão importante como Brecht (DR)
 Todos podemos fazer teatro. Todos podemos ser personagens das nossas próprias vidas. Era nisto que acreditava o dramaturgo brasileiro de ascendência portuguesa Augusto Boal, fundador do Teatro do Oprimido, que morreu sábado de madrugada, aos 78 anos, no Rio de Janeiro.
Embaixador da UNESCO para o teatro e nomeado em 2008 para o Prémio Nobel da Paz, Boal tinha uma leucemia e morreu de insuficiência respiratória no Hospital Samaritano.

Para os brasileiros e os amantes do teatro e da promoção da igualdade entre os homens, Boal "deixa uma marca que jamais será esquecida", afirmou o presidente brasileiro, Lula da Silva, para quem o dramaturgo era "o exemplo de um companheiro que dedicou a sua vida à transformação social por meio da arte".

Numa das últimas entrevistas que deu - à Carta Capital -, Boal defendia que, "hoje, todas as formas de expressão e comunicação estão nas mãos dos opressores". Na sua opinião, "o que a televisão oferece é um crime estético". Afirmava: "E ainda acham estranho que alguém saia matando quinze pessoas de uma só vez. O cérebro das pessoas está impregnado dessas imagens. As rádios também repetem o mesmo som o tempo todo. Sem falar no tecno, que desregula até marca-passo, e é pior que ouvir gente quebrando tijolo em construção. O que a gente quer, no Teatro do Oprimido, é lutar nestes três campos: palavra, imagem e som."

Augusto Boal nasceu no Rio de Janeiro em Março de 1931, filho de pai português. Formou-se em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na década de 1950, enquanto realizava estudos de doutoramento em Engenharia Química, na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, estudou também dramaturgia na School of Dramatics Arts com John Gassner, professor de Tennessee Williams e de Arthur Miller.

No Teatro de Arena de São Paulo criou o Teatro do Oprimido, que lhe deu reconhecimento internacional por aliar arte dramática e acção social. "Todos os seres humanos são actores - porque actuam - e espectadores - porque observam. Somos todos espect-actores", afirmava. E este conceito ajuda as pessoas a inserirem-se na sociedade, acreditava.

Foi preso e durante a ditadura militar (de 1964 e 1985) esteve exilado em vários países e também em Portugal. Nos anos 70, trabalhou durante dois anos com A Barraca, onde assinou a peça Barraca Conta Tiradentes (1977) e escreveu com Chico Buarque Mulheres de Atenas, uma adaptação de Lisístrata, de Aristófanes.

Quando estava no exílio Chico Buarque dedicou-lhe a canção-carta Meu Caro Amigo ( 1976). Ouça aqui   http://www.youtube.com/watch?v=88QbytxUyLc
 "Meu caro amigo eu não pretendo provocar/ Nem atiçar suas saudades/Mas acontece que não posso me furtar/ A lhe contar as novidades/ Aqui na terra 'tão jogando futebol/ Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll/ Uns dias chove, noutros dias bate sol/ Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta" , ouviu-se na homenagem que os amigos lhe fizeram.
http://www.publico.pt/Cultura/dramaturgo-augusto-boal-morre-aos-78-anos-1378354

Encontrei uma matéria mais completa sobre a presença do Augusto Boal em Portugal.

 É do Luis Aguilar,PROFESSOR, FORMADOR DE FORMADORES, ENCENADOR, ESCRITOR E EDITOR ,que coordena a TEIA da língua portuguesa  http://www.teiaportuguesa.com/  , em Universidade de Montreal  e dedica-se à lusofonia»»»
Vi o o artigo no  http://www.luisaguilar.ca/jornalismo/augustoboal.htm .

Muito boa. E agora refresquei a memória. O Augusto Boal trabalhou em Portugal no Teatro Barraca e  teve um papel importante na renovação do teatro portuguêsLembrei agora que o grupo de democratas portugueses, em S.Paulo, que me apresentaram o Augusto Boal, o conheciam muito bem do tempo em que ele esteve em Portugal!

Leia
Morreu o Leão da Arena: Augusto Boalpor
Luís Aguilar
Morreu, aos 78 anos, o dramaturgo, encenador, ensaísta, teórico de teatro e político, Augusto Boal, conhecido internacionalmente pela criação do Teatro do Oprimido e pelo trabalho que realizou nos anos 60, no Teatro de Arena de São Paulo. Morreu aquele para quem o teatro não era apenas um espectáculo, mas uma forma de vida. Porque tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!Considerava Augusto Boal, nomeado Embaixador Mundial do Teatro pela Unesco, tendo integrado, igualmente, e integrou a lista de candidatos ao Prémio Nobel da Paz em 2008. O discurso do último Dia Mundial do Teatro é da sua autoria: Assistam ao espetáculo que vai começar; depois, em suas casas com seus amigos, façam suas peças vocês mesmos e vejam o que jamais puderam ver: aquilo que salta aos olhos.
Este texto é, simultaneamente, um testemunho, uma singela homenagem e um grato reconhecimento a Augusto Boal, de quem muitos ensinamentos recebemos, com quem muitos sonhos e projectos partilhámos, com quem muitos fóruns de discussão realizámos. Nele se registam memórias de uma pessoa viva, com ganas de dizer algo através do teatro, nos domínios da intervenção política e social da terapia, da educação e até do teatro. Mas, à parte tudo isso, Augusto Boal, malgré lui, foi uma personalidade que contagiava o seu entusiasmo a sua força de viver, o seu charme, a sua alegria, a sua tolerância, a quem estivesse perto de si. Uma simples conversa com ele transformava-se numhappening teatral. Quando analisava um espectáculo dramático, falava mais da forma como o público intervinha ou como reagia e experienciava o actor ao representar a peça. 

Conhecemo-lo nos idos de 75. Nessa altura integrávamos a Direcção daEscola Superior de Teatro do Conservatório Nacional de Lisboa e, por inerência, à Comissão de Gestão da Casa de Garret. Víamos, nessa altura, Teresa Mota atarantada de um lado para o outro, perguntando-nos porque não se contratava o Augusto Boal, o homem do Teatro Arena de São Paulo, o homem que podia revolucionar a Escola de Teatro, numa altura em que alguns revolucionários descentralizaram a revolução para Évora, desejando o fim da Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional. Ele tem de ficar em Lisboa, dizia-nos Teresa Mota. É que David Mourão Ferreira, Secretário de Estado da Cultura não tinham honrado o compromisso de contratar Augusto Boal e a equipa que trouxera consigo. Contagiados por Teresa Mota e Richard Demarcy que invocavam ser um gesto revolucionário, contratar Augusto Boal, começamos a seguir a direcção do realismo e a exigir o impossível. Encarregou-se Amilcar Martins, que integrava o elenco directivo da E. S. T., de falar com Augusto Boal, enquanto eu iria invadir a secretaria do Conservatório Nacional (invadir é o termo, já que nessa altura, era a mesma “assaltada”por mais de 30 pessoas que integravam as diversas Comissões Directivas das cinco escolas) para sondar as possibilidades de contratar Augusto Boal. Nenhuma!, respondia-nos o lendário senhor Antunes, chefe de uma secretaria em verdadeira revolução em curso. Horas depois, lá obtivemos a possibilidade de contratar Augusto Boal por 12 contos mensais, salário que era estipulado para todos os trabalhadores da casa.

Chegava-nos, entretanto, a boa nova de que Augusto Boal, gratíssimo pelo interesse, aceitaria a nossa proposta. Mas 12 contos era o que pagava pela renda da casa que alugara na 5 de Outubro e tinha a cargo mais três pessoas de teatro, necessárias à consecução do projecto que definira com David Mourão Ferreira, que lhe virou as costas, por razões que ainda hoje não percebemos. Numa operação de assalto cultural à mão armada impusemos (ainda não sabemos como) a contratação de Augusto Boal e mais três, a Cecília, sua companheira, a Márcia e um outro profissional de que já não nos lembramos o nome. Esse gesto mereceu, como se compreende, críticas contundentes por parte dos Velhos do Restelo da Casa de Garret: O que é que um químico percebia de teatro? perguntavam-nos. Mas o tempo brindava os ousados e a revolução fazia milagres.
Com Augusto Boal procedemos à reformulação de todos os Planos de Estudo da Escola Superior de Teatro, não porque fossem maus, mas porque os novos ventos da revolução, impunham outros. E a renovação fez-se, a revolução seguiu o seu processo em curso e a Escola Superior de Teatro ia funcionando, quando, nessa altura, muitas outras escolas e universidades mais clássicas paralisavam. Criava-se então o Curso de Formação de Actores-Animadores com grande estrondo e rodeado de escândalo, mesmo em tempos de revolução. A inovação é isso aí, cria sempre oposição - sossegava-nos, serenamente, Augusto Boal.
Embora a excelente resenha de Isabel Coutinho no jornal público não refira, foi grande o contributo de Augusto Boal, para a renovação do teatro português e, sobretudo, para a formação pessoal e profissional de muitos actores e encenadores portugueses: colaborou na reforma da Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional de Lisboa, colaborou com várias companhias de teatro, como por exemplo, a Barraca, orientou muitas acções de formação, não só no domínio teatral, mas no da animação, da sociologia e da terapia.
Quando Chico Buarque lhe escreve a carta musical, o Meu Caro Amigo, Boal estava em Portugal. No Brasil a coisa estava preta e era preciso muita mutreta para levar a situação. Tivemos o privilégio de atender o telefone do Chico Buarque que queria anunciar a saída do disco ao Boal: - Está aqui um tipo a dizer que é o Chico Buarque, o quê é que eu faço? dizíamos. Se ele diz que é o Chico é porque é mesmo, dizia Boal, afastando de si uma tonelada de papéis, percorrendo o espaço até ao telefone com a sua rizada inconfundível.
Agora desaparecido, Boal não é lembrado como merecia pelos portugueses. Deixo aqui os meus agradecimentos ao contributo que Boal teve na minha formação e rendo-lhe a minha homenagem pelo muito que fez e criou. Das técnicas de teatro fórum, ao teatro do invisível muito do que propos nos vários livros que publicou, do teatro à terapia, é aplicado em vários domínios da actividade humana. Ao meu, outros testemunhos se registaram:
Augusto Boal, um brasileiro extraordinário, que me marcou profundamente pelo amor que tinha ao teatro e à humanidade- diz Isabel Santos em entrevista ao jornal LusoPresse. Por seu turno, Amilcar Martins para quem Boal é o exemplo de cidadão humanista e democrata considera tê-lo o mestre influenciado de forma tão fecunda nas práticas teatrais e de expressão dramática. Experimento, também, e mais uma vez, um sentimento de orgulho por, em 1975/1976, ter sido eu o porta-voz da Comissão Directiva no convite a Boal para ser professor de Práticas Teatrais e Interpretação na Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional de Lisboa, refere ainda Amilcar Martins, hoje professor de Expressão Dramática e Teatro da Universidade Aberta. Avelino Bento, hoje professor da área científica da Expressão Dramática e Teatro da Escola Superior de Educação de Portalegre, reconhece hoje a influência de Boal nas suas práticas, ainda que na altura estivesse descentralizado em Évora.
Ainda o ano passado, em Portugal, o grupo teatral A Barraca levou à cena A Herança Maldita de Augusto Boal, com adaptação do texto e encenação de Helder Costa que no JL n. 1007, p. 6, disse refere que com o 25 de Abril, Boal chegou à terra libertada portuguesa. Aceitou com alegria ser encenador da Barraca durante três anos . [...] Boal, o mestre com que a BARRACA teve a felicidade de aprender nos primeiros passos, um irmão mais velho que teve a ternura e a compreensão para o desejo de Risco e Descoberta do novo desse grupo recém-nascido.
Aqui, no Quebeque, de onde escrevo, a Liga Nacional de Impro, aplica muitas (eu diria todas) das técnicas de Boal, do teatro fórum ao teatro do invisível, passando pelo Ritual ao Contrário e à Denúncia do Cabotinismo. Lembro-me de me ter surpreendido com o grande conhecimento que os quebequenses têm de Boal. Quando referi que havia trabalhado com ele, foi como se dissesse que tinha tido contactos com Deus.
Discutimos com Boal a paternidade do Teatro de Jornal, que ele reivindicava como sua no quadro do Teatro do Oprimido. Expusemos-lhe a evidência: o Teatro de Jornal havia sido criado por Jacob-Levy Moreno, que o praticava em Viena, antes de Boal ter nascido. Ele usava essa técnica para fins exclusivamente terapêuticos – respondia Boal.Não, não é verdade – contra-argumentávamos - antes de Moreno enveredar pela terapia, pelo Psicodrama, visava a estética ainda que com objectivos sociais e políticos, como de resto viria a acontecer com Brecht ou mesmo o próprio Boal. E este diálogo didáctico, à boa moda do Teatro Fórum, continuava. Não sei se fruto deste debate, o certo é que Boal pouco ou nada voltou a falar do Teatro de Jornal.
Quanto a nós as suas principais criações e inovações foram, sem dúvida, o Teatro Fórum e o Teatro Invisível, técnicas que hoje são mais utilizadas nos espaços político, social e terapêutico do que no artístico, como pretendia, inicialmente, o seu criador. Aliás, Augusto Boal acabou por praticar, depois de eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo PT (Partido dos Trabalhadores), o Teatro-Fórum, onde a partir da intervenção dos espectadores, criava projectos de lei. Nascia o Teatro Legislativo: após transformar o espectador em actor, Boal transformava o eleitor em legislador. Utilizando o Teatro como Política, em Sessões Solenes Simbólicas, encaminha à Câmara de Vereadores 33 projectos de lei, dos quais 14 tornam-se leis municipais, entre 1993 a 1996.
Muitas das suas técnicas de intervenção política são hoje macaqueadas nos chamados "apanhados" das televisões. Com efeito, a técnica do teatro invisível, que se caracteriza por colocar em cena pessoas que não têm consciência de estarem a fazer um qualquer papel num qualquer guião pré-estabelecido por um grupo de actores ou não actores, foi "agarrada" pelo actor, também desaparecido recentemente, Dom DeLuise apresentador do programa de vídeos caseiros "The New Candid Camera", que chegou a ser exibido em Portugal e inspirou muitos programas de apanhados, relegados muitos deles para o telelixo. Uma honrosa excepção: o programa de Joaquim Letria, que procurava elucidar os telespectadores sobre os malefícios dos automatismos sociais em determinadas situações.
O conjunto das técnicas que Augusto Boal criou, no quadro do TO, Teatro do Oprimido, inspiram um leque alargado de práticas: todos os seres humanos são actores - porque actuam - e espectadores - porque observam. Somos todos 'espect-actores.
--- On Sun, 5/6/12, MAURO MOURA wrote:

From: MAURO MOURA
Subject: Re: [dialogos_lusofonos] Talento Lusófono, Augusto Boal, fundador do Teatro do Oprimido
To: dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br
Date: Sunday, May 6, 2012, 9:24 AM

 
A reporter se esqueceu da peça "A Herança Maldita".

Em 5 de maio de 2012 22:49, Margarida Castro <margaridadsc@yahoo.com> escreveu:
 

Fundador do Teatro do Oprimido

Dramaturgo Augusto Boal morreu aos 78 anos

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