segunda-feira, 21 de maio de 2012
Desabafo timorense
in diálogos lusófonos
SEXTA-FEIRA, MAIO 18, 2012
Desabafo timorense
Dez anos depois da restauração da independência, o ambiente que se vive em Timor-Leste é de paz e de estabilidade. Há unanimidade na constatação desse facto. Mas há divergência quanto ao entendimento de que o balanço é completamente positivo. Não é. Não soubemos tirar partido do ambiente de paz em que temos vivido nestes últimos anos e fomo-nos deixando dormitar convictos da normalidade da letargia. Havendo paz, sendo esse um aspeto fundamental para o desenvolvimento do país, poderíamos ter avançado muito mais se, ao invés de desperdiçarmos o dinheiro que enche os cofres do Estado e num ápice desaparece sem que bem se perceba o seu destino, o tivéssemos aplicado no que desde a independência se consideram continuamente prioridades do Estado: a saúde, a educação, as vias de comunicação, o saneamento básico, a agricultura, a justiça, o poder local... Está quase tudo por fazer... Mas hoje não vou falar dos aspetos negativos que ensombram os dias da nossa independência. Não vou repetir que já era tempo de não haver crianças a trabalhar, vendendo fruta, crocodilos de madeira ou bandeirolas. Nem que não valia a pena escondermos as nossas mazelas por detrás de folhas de zinco, só porque temos visitantes ilustres... É que as mazelas não desaparecem por magia! Não somos mágicos. A nossa terra, o nosso rincão, o nosso pedaço de paraíso é que tem magia! E nós nem sempre sabemos lidar com essa magia porque somos pequenos e distraídos. Se não, já teríamos percebido que, sendo pouco mais de um milhão de timorenses, não seria nada difícil construir um Estado próspero e desenvolvido onde todos nos sentíssemos acarinhados! Contudo - apesar de tudo quanto sabemos ainda não ter sido feito pela nossa pequenez e distração, pela nossa dormência ou mesmo pela nossa ignorância feita arrogância de quem julga tudo saber, a par da constatação de que ainda está tudo por fazer -, persiste a lógica constatação de que Timor-Leste só tem dez anos de vida como Estado independente, é um Estado pós-conflito e durante mais de duas décadas os timorenses apenas puderam preocupar-se em arranjar formas de sobrevivência em cada dia da sua vida. E isso explica tudo! E porque fomos determinados e vencemos uma luta desigual, porque estamos a aprender a construir o nosso Estado, porque somos um povo generoso que recebe de braços abertos todos quantos nos queiram bem, podendo mesmo parecer uma incongruência o desabafo de quem talvez exija demais de si próprio, persiste o nosso imenso orgulho em ser timorense pelo que não é demais daqui lançar um enorme grito: Viva Timor-Leste!
Ângela Carrascalão Sexta-feira, Maio 18, 2012
http://timor2006.blogspot.pt/
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