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No livro de memórias Navegação de cabotagem, diz Jorge Amado: «Não nasci para famoso nem para ilustre, não me meço com tais medidas, nunca me senti escritor importante, grande homem: apenas escritor e homem». E, no entanto, foi famoso, ilustre, foi um grande homem. Foi um dos grandes escritores do seu tempo e um dos maiores que escreveram em língua portuguesa. Chega ao mundo num cenário de luta pela posse da terra. E o ambiente de violência e drama, que envolve a sua infância terá influência na sua obra, principalmente nos primeiros livros. A cheia do rio Cachoeira e a epidemia de varíola, a «bexiga negra», obriga a família a transferir-se em Ilhéus. Em 1917 mudam para a Fazenda Taranga, em Itajuípe, onde o pai volta à lavoura de cacau. Antes dos seis anos, sua mãe já o ensinou a ler. Em Ilhéus vai à escola de D. Guilhermina, professora que não poupa o uso da palmatória. Ainda menino, Jorge sabe já que a vida não é fácil: Eu vinha de uma infância nas terras bravias do cacau, assistira ao drama da conquista da selva, ouvira a voz dos advogados nos júris dos coronéis de toda a audácia, ainda infante fora banhado pelo sangue de meu pai, ferido numa tocaia. Trazia dentro de mim os ecos da grande epopeia, e também os lamentos lancinantes dos trabalhadores curvados nas roças, numa vida de bestas de carga. Adivinhando-lhe o inconformismo, o pai quer domar a sua natureza de potro rebelde. Da palmatória da D. Guilhermina, passa para a disciplina jesuítica – é matriculado, em regime de internato, no Colégio Antônio Vieira.
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