Foi recentemente lançado no mercado português, pela editora Clube do Livro, o mais recente livro de Onésimo Almeida, em forma de antologia que reúne, num volume de 395 páginas, alguns dos seus melhores textos. Esta é a primeira antologia de textos deste prolífico escritor, e ao apostar nesta edição, em que o seu autor apenas Onésimo – Português sem Filtro O best of da “escrita onemesiana”
escreveu uma breve nota prévia, a editora
proporciona ao público português (e não só) este recomendável best of da “escrita onemesiana”. Onésimo Almeida é, indubitavelmente, um dos melhores escritores portugueses da atualidade, e é com agrado que os seus ávidos leitores saudarão o aparecimento desta antologia.
Se ler uma obra deste prolífico escritor é já em si um prazer, este é ainda maior quando, num único livro estão reunidos algumas das suas melhores crónicas, que ele apelida sagazmente de “ensaios em mangas de camisa”. Assim sendo, neste volume ora editado, encontramos uma seleção de textos de cinco obras suas, a saber Sapa(teia) Americana, Que Nome É Esse, ó Nésimo? – e outros advérbios de dúvida, Rio Atlântico, Onze Prozemas (e um final merencório), e Aventuras de um Nabogador & outras estórias-em-sanduíche. Os textos selecionados foram dispostos tematicamente nos cinco capítulos que compõem esta portentosa obra, intitulados, respetivamente “Da Portugalite Crónica”, “Da Lapa Atlântica”, “Da Margem Luso-Americana do Rio”, “Do Imenso Mar Americano” e “Por Esse Mundo em Cata de Sentido”.
(Re)ler este autor é entrar no seu mundo, composto por vários mundos, o de ambas das margens do Rio Atlântico, o do meio deste rio, e de muitos outros. Onésimo Almeida é, na verdadeira aceção do termo, um cidadão do mundo, e a o (re)lermos os seus textos acompanhamo-lo nas suas viagens por diversos quadrantes. O seu estilo peculiar de dizer as coisas cativa-nos logo às primeiras linhas e à medida que passamos as páginas ficamos literalmente agarrados às suas palavras, e queremos ler mais e mais e mais. O humor é uma arma, quando utilizado com conta, peso e medida, e este autor sabe utilizá-la, na dose certa, com mestria. Ao longo da leitura de algumas destas crónicas damos por nós a rir a bandeiras despregadas com o modo pelo qual ele descreve várias situações. Mas para além do riso, alguns textos deste autor também nos fazem pensar, e muito, ao acompanharmos o seu raciocínio sobre diversos temas, que apesar de já terem sido escritos há algum tempo, ainda fazem parte da atualidade. Este escritor consegue dizer muito em poucas palavras, pois escreve, à boa maneira americana, to the point, sem entrar em muitos devaneios nem floreados inócuos. E esse facto leva-nos a fruir avidamente os seus textos, que se seguem em catadupa.
Apesar de viver nos Estados Unidos há várias décadas, Onésimo Almeida tem os Açores e Portugal no seu coração, mas essa afetividade não o inibe de tecer, por vezes, juízos críticos sobre a(s) realidade(s) portuguesas que tão bem conhece. No mundo que talvez lhe seja mais familiar, a L(USA)lândia, este autor colhe um manancial de histórias e estórias que transcreve para o papel de um modo peculiar. Ler os seus textos é ficar a conhecer, de um modo realista, os açorianos e o caráter dos homens das ilhas. E também sobre o que é ser emigrante, e sofrer com a ausência da terra natal, e das vicissitudes que os expatriados têm que lidar no seu quotidiano, no país to Uncle Sam, que é mais tio para uns do que outros.
Ao longo da sua vida de escritor, Onésimo Almeida tem recebido inúmeras críticas positivas sobre a sua produção literária, e na parte final desta obra, encontramos alguns excertos de comentários aos seus livros de diversos autores reputados, a saber, Eugénio Lisboa, Urbano Tavares Rodrigues, Maria Alzira Seixo, João de Melo, João Maurício Brás, Fernando Venâncio, Ana Paula Coutinho, Ungulani Ba Ka Khosa, George Monteiro, Gabriel Magalhães, David Brookshaw, Vamberto Freitas, Francisco Fagundes, Pedro Teixeira Neves e Dinis Borges, que vêm confirmar e sublinhar os dotes criativos deste prolífico autor. Mas para além destes, esta obra encontra-se ainda enriquecida com um Posfácio da autoria de Miguel Real, que traçou uma interessante análise aos textos que compõem esta fantástica antologia.
Diz o autor que “O nome estranha-se. As estórias entranham-se.” E de que maneira. Depois de ler este autor ficamos mais ricos, mais cultos, e sobretudo mais alegres e bem-dispostos, e nunca esqueceremos as suas narrativas que, à vez, nos alegram, comovem, e educam.
(Re)ler Onésimo Almeida faz bem à alma, e no estado atual que Portugal atravessa, precisamos de algo a que nos agarrar, algo que nos distraia do cinzentismo e negativismo que abafa e sufoca o país. (Re)ler Onésimo Almeida não será a solução para os nossos problemas atuais, mas com certeza que nos dará outro ânimo para enfrentá-los. Aqui fica pois uma sugestão cultural para ajudar a combater o nosso triste fado.
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