"A ocupação da escola não é apenas corrigir qual o certo e qual o errado", diz sociolinguista
A distribuição do livro “Por uma vida melhor” pelo Ministério da Educação (MEC) para Educação de Jovens e Adultos (EJA) causou polêmica na sociedade, por trazer em seu conteúdo, além do português culto, questões como as variações linguísticas, variante social da língua que não segue a gramática normativa, mas o contexto social de origem. Na obra, são usadas frases como: “Nós pega o peixe”, com a explicação de que "na variedade popular, basta que a palavra ‘os’ esteja no plural", pois "a língua portuguesa brasileira admite esta construção". Os defensores da norma culta criticaram a publicação da obra, justificando que o livro incentivaria alunos a praticarem erros. Contudo, o que o livro apresenta são concepções da sociolinguística - sub-área da Linguística que estuda a variação da língua e o seu funcionamento social – e alerta para a existência do preconceito lingüístico.
Diante da polêmica em torno dos supostos “erros”, o professor Cosme Batista dos Santos, professor da Universidade do Estado da Bahia, em Juazeiro, e Doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas, esclarece que, na concepção da sociolingüística, “não existe linguagem errada ou correta, existe linguagem que se usa em uma situação e em outra não”. Assim, é necessário compreender o conceito de certo e errado, e inserir na escola o ensino das variações linguísticas. Para o professor, os meios de comunicação fizeram uma interpretação errada da obra. “O livro não fala de “erro”, quem evidenciou a questão do “erro” foi a mídia. Ele não afirma, por exemplo, que falar errado é certo. A obra fala que é correto falar de certo modo em uma situação, mas que, em outras situações, é melhor falar de outro modo, ou seja, desconstrói e relativiza a noção de certo e errado na linguagem”.
Multiciência: Parte da sociedade acredita que o MEC defende que alunos sustentados pela sua variação linguística podem falar ‘errado’, mesmo em sala de aula. Qual a justificativa da sociolinguística como ciência a respeito do que é a variação da língua e sua relação com a norma culta convencional?
Cosme Batista: A sociolinguística vai explicar que certas estruturas da linguagem popular têm uma razão de ser, têm uma função e não é à toa que elas existem. A nossa linha é trabalhar com o relativismo linguístico, considerando que não existe linguagem errada ou correta, existe linguagem que se usa em uma circunstância e em outra não. O que a escola tem que fazer é assumir que tem uma heterogeneidade cultural em seu ambiente, sem abrir mão de ensinar a escrita padrão, o dialeto culto, pois é através da leitura e da escrita que o aluno tem acesso a outros conhecimentos.Multiciência: Na obra, ressaltou-se a substituição da classificação certa ou errada por adequada ou inadequada, a depender da situação. O que se entende por erro ou norma adequada?
Cosme Batista: A tarefa da escola não é apenas corrigir qual o certo e qual o errado, mas tentar estudar e explicar porque certas estruturas são consideradas erradas e porque outras são consideradas certas. Quais as relações de poder envolvidas? Por exemplo, se um aluno de determinada comunidade vai à escola e aprende que o correto é o dialeto padrão e que os outros são errados, ele pode chegar à sua comunidade discriminando o dialeto de seus pares, por exemplo, o dialeto dos idosos de tradição oral. Eu tenho depoimento de aluno que passou a vida escutando as histórias contadas pelos pais e avôs e que, após a escolarização, deixou de escutá-los, por não dar mais valor aquela linguagem. Por isso, a escola deve permitir que o aluno aprenda o saber escolar, respeitando o seu saber, a sua língua e a sua cultura, porque isso também é conhecimento.
Multiciência: Por que a Sociolinguística admite a construção "Os menino pega o peixe”, presente no livro. Em que circunstâncias a aplicação dessa oração fere a norma culta da língua portuguesa e deve ser ‘corrigida’?
Cosme Batista: Olha, para William Labov, pai da sociolinguística, a estrutura está correta. Ele diz até que é mais correta do que dizer “Os meninos”, por conta da redundância gerada pela dupla flexão “os” e “meninos”. Ou seja, é uma dupla flexão, desnecessária. Quando um usuário fala “Os menino” ele está simplesmente reduzindo, e apagando uma redundância que aparece em “Os meninos”. Em alguns casos chega a ser mais grave como na expressão: “Os meninos jogam”. Na expressão, você tem uma dupla redundância, então, a sociolinguística vai explicar que essa estrutura não é errada e pode ser legitimada, assim como se legitimou a norma padrão correta. Então, são dois usos possíveis.
Multiciência: Um conceito que, apesar de não ser novo, é a expressão preconceito linguístico. Como ele afeta a vida social de um aluno?
Cosme Batista: Um aluno de certa zona rural, por exemplo, sofre preconceito linguístico quando ele não é convidado a falar na escola. O aluno leva um conhecimento prévio para a sala de aula, um saber rico, no entanto, não é convidado a compartilhar essa experiência com os colegas e com a escola. O segundo é quando ele é convidado a falar, porém é corrigido de imediato antes de terminar sua história, antes de falar do seu mundo e de si. Ele também sofre um preconceito linguístico quando a escola, mesmo sabendo que ele tem um dialeto diferente do padrão escolar, não se esforça para poder proporcionar para ele outro dialeto. Isso também é um preconceito porque a escola não soube compreender a relevância dessa comunicação intercultural, ou seja, ela não deu possibilidades para que ele pudesse ter uma forma de deslocamento, a apropriação de um novo saber e de seu uso, como uma forma de empoderamento.
Multiciência: Como um professor, em sala de aula, deve se posicionar quando um aluno expressar “Os caderno rasgou”?
Cosme Batista: Concretamente, a escola escuta o aluno e fala: eu entendi o que você está falando, porém se você continuar falando desse modo, tem gente que não vai lhe escutar. Nesse caso, a escola vai entrar com o conhecimento da flexão gramatical padrão para que o aluno possa se deslocar e potencializar a sua fala. Nesse caso, a escola reorientou, ampliou as possibilidades, fortalecendo o aluno para falar em diversas situações.
Multiciência: E se em uma avaliação de Língua Portuguesa, o aluno escrevesse: “Os carro é azul”, como um professor avaliaria essa questão? O aluno seria corrigido pela gramática normativa ou a variação linguística prevaleceria?
Cosme Batista: Quando a escola elege que “Nós vamos” é o correto, e o aluno usa “Nóis Vai” em uma avaliação, por exemplo, ele será cobrado pelo padrão escolar. Mas ele estará errado não é porque utilizou “Nois vai”, é porque ele não usou o padrão escolar. É aí que reside a diferença entre o errado e o inadequado. O inadequado é quando o aluno tem consciência que já aprendeu que, naquele contexto, o uso é aquele e, no entanto, ele não usou o que foi ensinado para ele. O que é diferente de quando você diz que não se pode falar “Nois vai”, porque isso cria um silenciamento cultural e linguístico. É como se a escola dissesse para o aluno: eu só vou lhe escutar quando você disser: “Nós vamos”, porque “Nois vai” não é correto. Ideologicamente é um silenciamento: não me conte a sua história, não me conte quem você é, o que você faz. Assim, a escola apaga a oportunidade de conhecer o aluno e a sua história.
MultiCiência: Como o professor pode trabalhar a gramática normativa e a variação linguística em sala de aula?
Cosme Batista: A sugestão é tratar a língua como objeto de estudo e investigação, ou seja, se eu quero proporcionar para o meu aluno o aprendizado das variações lingüísticas, é importante que eu faça isso como trabalho de investigação. Então, uma coisa que eu proponho é que o aluno, a partir de sua inserção multicultural, seja capaz de escutar as narrativas dos idosos da sua comunidade. As narrativas dos idosos vão aparecer como uma variação dialetal, presente no cotidiano de determinada comunidade. Quando o aluno vai conhecendo essa variante, como investigador, ele tem duas conquistas: uma é que ele aprende a lidar com a variação dialetal, uma maneira particular de conhecer e explicar o mundo; a outra é que ele vai passar a estudar a razão de ser daquela variante linguística a partir do padrão de escrita da escola. Assim, é possível que ele entenda como aquela narrativa popular tem sentido. E para que ele possa compartilhar essa conquista, ele precisa estudar na própria escola, o que é uma narrativa, quais os seus padrões, quais as suas estruturas, além de poder ler e escrever no português padrão um pouco sobre aquilo que ele viu, ouviu e sentiu.
Multiciência: Por que é importante professores e até livros abordarem as variações linguísticas em sala de aula?
Cosme Batista: O livro didático, assim como a educação de jovens e adultos, precisa ser culturalmente relevante. E o que seria um livro didático culturalmente relevante? É aquele que conhece profundamente para quem se destina o seu conteúdo, quem é o seu leitor em sala de aula. Quando um livro didático coloca para um aluno que falar “Nois vai” não é errado, a obra estará apenas materializando uma relação que, em minha opinião, e de muitos sociolinguístas, é uma relação de respeito com o dialeto popular e, consequentemente, com o próprio povo. O livro não pode negar ao aluno o direito de valorizar o seu dialeto e, ao mesmo tempo, o direito de aprender outras variantes da sua própria da sua língua.
Multiciência: Como o Sr. avalia a função dos meios de comunicação, eles ajudaram a esclarecer a temática ou reproduziram preconceitos?
Cosme Batista: O que está caracterizado é uma enorme ignorância sobre o assunto. O material foi mal interpretado. O próprio livro não fala de “erro”, quem colocou a questão do “erro” foi à mídia. Ele não afirma, por exemplo, que falar errado é certo. A obra fala que é correto falar de certo modo em uma situação, mas que, em outras situações, é melhor falar de outro modo, ou seja, desconstrói e relativiza a noção de certo e errado na linguagem. O ensino da variação linguística é um conhecimento científico como qualquer outro. O aluno que está na idade escolar também tem o direito de saber quais são as descobertas científicas da linguística e não ficar o tempo todo decorando as normas da gramática normativa, como se isso fosse potencializar os seus usos mais competentes da língua e do conhecimento. E a gente chegou a um estágio de descoberta sociolinguística que nos permite dizer com segurança que “Nois vai” não é errado, é apenas inadequado para algumas situações.
Por Michelle Laudilio (texto) e Emerson Rocha (foto), matéria especial para o Gazzeta do São Francisco, publicado na edição de 8 de Junho.
Diante da polêmica em torno dos supostos “erros”, o professor Cosme Batista dos Santos, professor da Universidade do Estado da Bahia, em Juazeiro, e Doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas, esclarece que, na concepção da sociolingüística, “não existe linguagem errada ou correta, existe linguagem que se usa em uma situação e em outra não”. Assim, é necessário compreender o conceito de certo e errado, e inserir na escola o ensino das variações linguísticas. Para o professor, os meios de comunicação fizeram uma interpretação errada da obra. “O livro não fala de “erro”, quem evidenciou a questão do “erro” foi a mídia. Ele não afirma, por exemplo, que falar errado é certo. A obra fala que é correto falar de certo modo em uma situação, mas que, em outras situações, é melhor falar de outro modo, ou seja, desconstrói e relativiza a noção de certo e errado na linguagem”.
Multiciência: Parte da sociedade acredita que o MEC defende que alunos sustentados pela sua variação linguística podem falar ‘errado’, mesmo em sala de aula. Qual a justificativa da sociolinguística como ciência a respeito do que é a variação da língua e sua relação com a norma culta convencional?
Cosme Batista: A sociolinguística vai explicar que certas estruturas da linguagem popular têm uma razão de ser, têm uma função e não é à toa que elas existem. A nossa linha é trabalhar com o relativismo linguístico, considerando que não existe linguagem errada ou correta, existe linguagem que se usa em uma circunstância e em outra não. O que a escola tem que fazer é assumir que tem uma heterogeneidade cultural em seu ambiente, sem abrir mão de ensinar a escrita padrão, o dialeto culto, pois é através da leitura e da escrita que o aluno tem acesso a outros conhecimentos.Multiciência: Na obra, ressaltou-se a substituição da classificação certa ou errada por adequada ou inadequada, a depender da situação. O que se entende por erro ou norma adequada?
Cosme Batista: A tarefa da escola não é apenas corrigir qual o certo e qual o errado, mas tentar estudar e explicar porque certas estruturas são consideradas erradas e porque outras são consideradas certas. Quais as relações de poder envolvidas? Por exemplo, se um aluno de determinada comunidade vai à escola e aprende que o correto é o dialeto padrão e que os outros são errados, ele pode chegar à sua comunidade discriminando o dialeto de seus pares, por exemplo, o dialeto dos idosos de tradição oral. Eu tenho depoimento de aluno que passou a vida escutando as histórias contadas pelos pais e avôs e que, após a escolarização, deixou de escutá-los, por não dar mais valor aquela linguagem. Por isso, a escola deve permitir que o aluno aprenda o saber escolar, respeitando o seu saber, a sua língua e a sua cultura, porque isso também é conhecimento.
Multiciência: Por que a Sociolinguística admite a construção "Os menino pega o peixe”, presente no livro. Em que circunstâncias a aplicação dessa oração fere a norma culta da língua portuguesa e deve ser ‘corrigida’?
Cosme Batista: Olha, para William Labov, pai da sociolinguística, a estrutura está correta. Ele diz até que é mais correta do que dizer “Os meninos”, por conta da redundância gerada pela dupla flexão “os” e “meninos”. Ou seja, é uma dupla flexão, desnecessária. Quando um usuário fala “Os menino” ele está simplesmente reduzindo, e apagando uma redundância que aparece em “Os meninos”. Em alguns casos chega a ser mais grave como na expressão: “Os meninos jogam”. Na expressão, você tem uma dupla redundância, então, a sociolinguística vai explicar que essa estrutura não é errada e pode ser legitimada, assim como se legitimou a norma padrão correta. Então, são dois usos possíveis.
Multiciência: Um conceito que, apesar de não ser novo, é a expressão preconceito linguístico. Como ele afeta a vida social de um aluno?
Cosme Batista: Um aluno de certa zona rural, por exemplo, sofre preconceito linguístico quando ele não é convidado a falar na escola. O aluno leva um conhecimento prévio para a sala de aula, um saber rico, no entanto, não é convidado a compartilhar essa experiência com os colegas e com a escola. O segundo é quando ele é convidado a falar, porém é corrigido de imediato antes de terminar sua história, antes de falar do seu mundo e de si. Ele também sofre um preconceito linguístico quando a escola, mesmo sabendo que ele tem um dialeto diferente do padrão escolar, não se esforça para poder proporcionar para ele outro dialeto. Isso também é um preconceito porque a escola não soube compreender a relevância dessa comunicação intercultural, ou seja, ela não deu possibilidades para que ele pudesse ter uma forma de deslocamento, a apropriação de um novo saber e de seu uso, como uma forma de empoderamento.
Multiciência: Como um professor, em sala de aula, deve se posicionar quando um aluno expressar “Os caderno rasgou”?
Cosme Batista: Concretamente, a escola escuta o aluno e fala: eu entendi o que você está falando, porém se você continuar falando desse modo, tem gente que não vai lhe escutar. Nesse caso, a escola vai entrar com o conhecimento da flexão gramatical padrão para que o aluno possa se deslocar e potencializar a sua fala. Nesse caso, a escola reorientou, ampliou as possibilidades, fortalecendo o aluno para falar em diversas situações.
Multiciência: E se em uma avaliação de Língua Portuguesa, o aluno escrevesse: “Os carro é azul”, como um professor avaliaria essa questão? O aluno seria corrigido pela gramática normativa ou a variação linguística prevaleceria?
Cosme Batista: Quando a escola elege que “Nós vamos” é o correto, e o aluno usa “Nóis Vai” em uma avaliação, por exemplo, ele será cobrado pelo padrão escolar. Mas ele estará errado não é porque utilizou “Nois vai”, é porque ele não usou o padrão escolar. É aí que reside a diferença entre o errado e o inadequado. O inadequado é quando o aluno tem consciência que já aprendeu que, naquele contexto, o uso é aquele e, no entanto, ele não usou o que foi ensinado para ele. O que é diferente de quando você diz que não se pode falar “Nois vai”, porque isso cria um silenciamento cultural e linguístico. É como se a escola dissesse para o aluno: eu só vou lhe escutar quando você disser: “Nós vamos”, porque “Nois vai” não é correto. Ideologicamente é um silenciamento: não me conte a sua história, não me conte quem você é, o que você faz. Assim, a escola apaga a oportunidade de conhecer o aluno e a sua história.
MultiCiência: Como o professor pode trabalhar a gramática normativa e a variação linguística em sala de aula?
Cosme Batista: A sugestão é tratar a língua como objeto de estudo e investigação, ou seja, se eu quero proporcionar para o meu aluno o aprendizado das variações lingüísticas, é importante que eu faça isso como trabalho de investigação. Então, uma coisa que eu proponho é que o aluno, a partir de sua inserção multicultural, seja capaz de escutar as narrativas dos idosos da sua comunidade. As narrativas dos idosos vão aparecer como uma variação dialetal, presente no cotidiano de determinada comunidade. Quando o aluno vai conhecendo essa variante, como investigador, ele tem duas conquistas: uma é que ele aprende a lidar com a variação dialetal, uma maneira particular de conhecer e explicar o mundo; a outra é que ele vai passar a estudar a razão de ser daquela variante linguística a partir do padrão de escrita da escola. Assim, é possível que ele entenda como aquela narrativa popular tem sentido. E para que ele possa compartilhar essa conquista, ele precisa estudar na própria escola, o que é uma narrativa, quais os seus padrões, quais as suas estruturas, além de poder ler e escrever no português padrão um pouco sobre aquilo que ele viu, ouviu e sentiu.
Multiciência: Por que é importante professores e até livros abordarem as variações linguísticas em sala de aula?
Cosme Batista: O livro didático, assim como a educação de jovens e adultos, precisa ser culturalmente relevante. E o que seria um livro didático culturalmente relevante? É aquele que conhece profundamente para quem se destina o seu conteúdo, quem é o seu leitor em sala de aula. Quando um livro didático coloca para um aluno que falar “Nois vai” não é errado, a obra estará apenas materializando uma relação que, em minha opinião, e de muitos sociolinguístas, é uma relação de respeito com o dialeto popular e, consequentemente, com o próprio povo. O livro não pode negar ao aluno o direito de valorizar o seu dialeto e, ao mesmo tempo, o direito de aprender outras variantes da sua própria da sua língua.
Multiciência: Como o Sr. avalia a função dos meios de comunicação, eles ajudaram a esclarecer a temática ou reproduziram preconceitos?
Cosme Batista: O que está caracterizado é uma enorme ignorância sobre o assunto. O material foi mal interpretado. O próprio livro não fala de “erro”, quem colocou a questão do “erro” foi à mídia. Ele não afirma, por exemplo, que falar errado é certo. A obra fala que é correto falar de certo modo em uma situação, mas que, em outras situações, é melhor falar de outro modo, ou seja, desconstrói e relativiza a noção de certo e errado na linguagem. O ensino da variação linguística é um conhecimento científico como qualquer outro. O aluno que está na idade escolar também tem o direito de saber quais são as descobertas científicas da linguística e não ficar o tempo todo decorando as normas da gramática normativa, como se isso fosse potencializar os seus usos mais competentes da língua e do conhecimento. E a gente chegou a um estágio de descoberta sociolinguística que nos permite dizer com segurança que “Nois vai” não é errado, é apenas inadequado para algumas situações.
Por Michelle Laudilio (texto) e Emerson Rocha (foto), matéria especial para o Gazzeta do São Francisco, publicado na edição de 8 de Junho.
Sem comentários:
Enviar um comentário