Expressões de Angola
A B C D E F G I L M P Q R S T V W Z
- A
ACA – Expressão que significa, de acordo com a entoação ou situação, enfado, repugnância, surpresa; alegria, alívio, espanto. AJINDUNGADO – Temperado com jindungo, picante.
ALAMBAMENTO – Dote do noivo à família da noiva, regra geral em gado e
outros animais domésticos, vestes, mantimentos ou dinheiro. O
alambamento, condição fundamental para tramitação do noivado, é tratado
entre as famílias dos nubentes, mesmo não se tratando do primeiro
matrimónio. As regras variam ligeiramente, de etnia para etnia mas,
princípio universal, a família da noiva obriga-se a devolvê-lo caso não
se verifique a consumação do casamento ou em caso de divórcio. Também
pode ser entendido como “tributo de honra prestado pelo noivo à família
da noiva”.
AMIGO DA ONÇA – Fraco amigo, amigo de “Peniche”. ANGOLAR – Antiga
moeda que circulou em Angola entre 1928 e 1957 (a sua recolha terminou
em 31 de Dezembro de 1959), tendo sido substituída pelo escudo. ANGOLENSE – Angolano; o natural, o habitante ou o que pertence ou se refere a Angola.
ANHARA – Xana, planície arenosa, correspondente africano da charneca, na
região central de Angola, atravessada por cursos de água, com vegetação
rasteira formada principalmente por gramíneas e arbustos de pequeno
porte, podendo apresentar-se alagada. O ongote (planta leguminosa
arbustiva, com folhas compostas e flores minúsculas em pequenos cachos,
característica da anhara angolana)é a típica personalidade vegetativa da
anhara.
ARMADO EM CARAPAU DE CORRIDAS – Armado em esperto, armado aos cucos. APAGAR O MAÇARICO – Morrer, lerpar, bater a caçuleta, fazer uafa.
- B
BAILUNDO
– Reino do planalto central de Angola, fundado cerca de 1700 por
Katiavala. Município e cidade da província do Huambo. Povo Vambalundu
pertencente ao grupo etnolinguístico Ovimbundo . A designação Bailundo
estendeu-se a todo o grupo. O falante de Umbundo; aquele ou o que
pertence ou se refere a este grupo ou região; naturais do Huambo e Bié.
BALEIZÃO – Gelado, sorvete; “Resultou do apelido de um fabricante desse
gelado, o qual, em 1941, se havia estabelecido na cidade de Luanda.” BAMBI
– (Cephalophus mergens) Pequeno antílope, também conhecido por
cabra-do-mato, de pelagem castanha, com uma mancha mais escura ao longo
da coluna dorsal; não ultrapassa 1m de comprimento, 55cm de altura ao
garrote, 20cm de cauda e chifres direitos e delgados com 9cm de
comprimento. Vive em matas fechadas, onde existam cursos de água
próximos.
BANGA – (Di-banga = envaidecer-se) Ostentação, presunção, vaidade; distinção, elegância, garbo. Causar sensação. BANZADO – Pensativo, admirado, assombrado, espantado, maravilhado. BATUCADA – Acto ou efeito de batucar; percussão do batuque; dança ou festa com batuques; barulho de batuques.
BATUCAR – Fazer soar ou tocar o batuque; dançar ao som do batuque. Dar
pancadas ou bater com as mãos num qualquer objecto a ritmo cadenciado.
Bater aceleradamente (o coração). BATUQUE – (Ba atuka = local onde se
salta e pula)Tuka saltar, pular. Instrumento de percussão; bombo,
tambor. Apresenta formas e designações variadas de acordo com a região,
aspecto, material utilizado na sua confecção e som produzido. O som
produzido pela percussão do instrumento. Dança, divertimento ou festa
com acompanhamento de batuques. Esta é a concepção mais moderna de
batuque. Pode ter acompanhamento de vocalizações harmónicas, cânticos de
cariz social, ou refrães apenas poéticos. Na verdade, o batuque é uma
espontaneidade anímica dos povos africanos. Começou por ser uma
manifestação que acompanhava os ritos fúnebres, tendente “à satisfação
da alma a que se propicia semelhante folguedo, a fim de lhe minorar a
tristeza, pelos entes que
deixou. Nesta conformidade, as danças obituárias não constituem, como
ordinariamente se julga, uma natural manifestação de folia, antes uma
forma de expressão religiosa… Os batuques organizam-se de noite,
geralmente começando à tardinha. Se respeitam a óbitos, podem durar
noites inteiras, mesmo um mês.”
BICANJOS – subúrbios, aldeias. BICHINHO DO MATO – Pessoa muito acanhada. BICUATAS – Tarecos. BITACAIA – Espécie de pulga criada (nos dedos dos pés). BICO-DE-LACRE
– ( Estrilda astrild angolensis ) Ave passeriforme da família dos
Estrildídeos, é um pequeno pássaro com 11,5 cm de comprimento originário
de Angola. Devido à sua grande capacidade de sobrevivência em cativeiro
emigrou para Portugal e Brasil, após a descolonização, foi solto na
natureza e adaptou-se perfeitamente, integrando hoje a avifauna daqueles
países. A plumagem é castanho-amarelada e tons de bege no peito, dorso e
asas, peito com listras onduladas de branco e preto, ventre rosado,
cauda vermelho-escura e bico cor de lacre. Apresenta uma banda ocular
vermelha, larga e escura no macho e desmaiada e mais estreita ou
inexistente na fêmea. Esta é mais pequena do que o macho e a plumagem é
mais vistosa no macho e desmaiada na fêmea. O bico das crias é
negro à nascença, torna-se alaranjado na primeira muda e só em adulto
adquire o tom que dá o nome à espécie. Desloca-se em bandos numerosos
que chamam a atenção pelos gritos estridentes incessantes. Vive em
habitats abertos de silvados, savanas de gramíneas e espaços urbanos
ajardinados. Alimenta-se no solo, de grãos, sementes e de toda a espécie
de insectos, estes principalmente na altura de alimentação das crias. O
ninho é construído no solo no meio do capim alto ou sob arbustos. É
redondo e provido de um túnel de acesso, construído com raminhos, penas,
palha e ervas. O macho constrói o abrigo e a fêmea dá-lhe o acabamento
final, transportando penas e capim para o acolchoamento onde irá fazer a
postura de 4-6 ovos que serão chocados pelos dois membros do casal,
alternadamente de 2 em 2 horas, passando ambos a noite no ninho, durante
cerca de 12 dias. Duas semanas depois de nascer as crias estão aptas a
voar, embora continuem a
ser alimentadas, durante algum tempo mais, pelos progenitores.
Designa-se este por bico-de-lacre-comum já que existe outro
bico-de-lacre de Angola; é o Estrilda thomensis , o
bico-de-lacre-cinzento-de-angola, que tomou esta designação (thomensis)
por se julgar, erradamente, ser originário de São Tomé e Príncipe.
Difere do bico-de-lacre-comum essencialmente pelo colorido da plumagem,
mais escura e sem as listras onduladas.
BISSONDE – Formiga gigante que ferroava nas pessoas desprevenidas. BOMBÓ
– Pedaços de mandioca descascada e demolhada. Depois de fermentada ou
seca é moída, ou pisada, dando a fuba de bombó. Também se come assado,
como acompanhamento para qualquer tipo de alimento.
BOTECO – Botequim, bar de fracas qualidades.
- C
CABAÇA –
Fruto da cabaceira, semelhante à abóbora, em forma de pêra, apresentando
na parte superior uma espécie de gargalo pronunciado; pode ter a forma
de um 8, em que o bojo inferior é maior do que o superior, estando
separados por um estrangulamento. Em Angola tem uma grande importância
ancestral pois sempre foi o recipiente por excelência para armazenamento
de líquidos, depois de seco e oco.
CABACEIRA – ( Lagenaria siceraria sin. Cucurbita spp) Planta anual
vigorosa, trepadeira ou prostrada, da família das Curcubitáceas, que
pode alongar-se por 5m de comprimento. Apresenta flores tubulares com 5
pétalas, brancas ou amareladas, com 4,5cm. É originária de África,
embora hoje esteja também presente na Europa, Ásia e América. O fruto, a
cabaça, é muito utilizado como recipiente.
CABEÇA-DE-PEIXE – (ou CABEÇA DE PUNGO) São epítetos por que são
conhecidos os naturais ou habitantes do distrito de Moçamedes /
província do Namibe. O bairrismo das populações pretende as águas
separadas: os alexandrenses (naturais de Porto Alexandre) reivindicam a
designação cabeças-de-peixe e os moçamedenses cabeças-de-pungo. As
designações derivam do facto destas populações viverem essencialmente da
pesca.
CABRA-DE-LEQUE – ( Antidorcas marsupialis angolensis ) Mamífero
artiodáctilo da família dos Bovídeos, a cabra-de-leque, é uma pequena
gazela de 75 cm de altura, 1m de comprimento para um peso de 40-50 kg. É
uma das gazelas mais velozes, podendo a atingir os 90 km/h e pode, com
facilidade, dar saltos de mais de 5 m. A pelagem é castanha-avermelhada,
com uma barra castanha-escura nas laterais junto à delimitação do
ventre, que é branco. A alvura do ventre prolonga-se pela parte interna
das patas. A garganta é branca bem como a face, que apresenta uma lista
escura que se prolonga dos olhos ao nariz. No final do dorso onde nasce a
cauda, branca, apresenta um triângulo de longos pêlos brancos que se
abrem em leque durante a corrida, empreendida sempre que pressente algum
predador. O leque destaca-se, brilhante, na poeira levantada pela
manada. Esta acção, sempre acompanhada de vistosas cabriolas que mais
parecem elegantes passos de ballet,
servem para indicar a posição aos companheiros que seguem na
retaguarda. O leque abre-se também, dramaticamente, no momento da morte.
Os chifres, em forma de lira de pontas convergentes, são pequenos, não
ultrapassam os 50 cm, apresentam anéis bastantes vincados e são mais
desenvolvidos no macho sendo que na fêmea são mais finos e não
apresentam convergência nas pontas. A fêmea atinge a maturidade sexual
entre os 7 e os 12 meses, ao passo que o macho a alcança aos 2 anos de
idade. O período de gestação é de 6 meses. Vive nas savanas abertas e
regiões semidesérticas. Alimenta-se da parte aérea das plantas, de
raízes e tubérculos. Se os vegetais de que se alimenta contiverem, no
mínimo, 10% de humidade, o animal não necessita de beber.
CACETE – Pau que serve para dar cacetadas. CACIMBA – Cova, lagoa ou
poço que recebe água das chuvas; buraco aberto para se procurar ou
armazenar água. Estação fria dos trópicos; chuva miudinha, orvalho,
relento. CACIMBADO – Quem ou o que recebeu cacimbo; húmido, molhado;
enevoado, nublado. Neurótico, perturbado, triste, tristonho; aquele que
sofre de perturbações psíquicas, mormente dos traumas provocadas pela
guerra.
CACIMBO – É poca das chuvas, Inverno. Humidade própria dos climas
tropicais e equatoriais; chuva miudinha, orvalho, relento; época das
chuvas. CAÇULA – O filho mais novo. CADA CARANGUEJO NO SEU LUGAR – Cada macaco no seu galho.
CAFECO, UFEKO ou UFEKU – Mulher jovem, púbere. CAGAÇO – Medo, muito medo. CALCINHA – Pessoa toda não-me-toques. CALEMA
– Fenómeno natural da costa ocidental africana, caracterizado por
grandes vagas de mar. A ondulação forma-se no alto-mar e a ressaca
origina correntes muito fortes que, dirigindo-se para a costa, rebentam
estrondosamente, provocando grandes estragos.
CALHAU COM OLHOS – Pessoa com muito poucas capacidades intelectuais, pouco inteligente. CALONJANDA – Expressão que quer dizer que alguém tem os pés tortos (virados para fora). CALULU
– R ama da batata-doce. Prato típico de guisado à base de peixe ou
carne, tendo como ingredientes (calulu de galinha) cebola, tomate,
pau-pimenta, louro, jindungo , couve, quiabo , beringelas, e óleo de
palma, engrossando-se o molho com farinha de trigo. Acompanha-se com
arroz. Guisado de peixe, fresco e seco, tendo como ingredientes quiabo,
abóbora, tomate, cebola, rama de cará ou de mandioca , jimboa e óleo de
palma. É acompanhado de pirão ou funje . “Esta designação, usual entre
as populações do Sul e Centro de Angola, corresponde, pela identidade da
iguaria, à de funje de azeite de palma.
CAMACOUVE – Comboio de mercadorias que efectuava paragens em todas as
estações e apeadeiros transportando correio e materiais diversos. CAMANGA – Diamantes. CAMANGUISTA – Negociante de diamantes. CAMAPUNHO – Pessoa desdentada dos dentes da frente.
CAMBUTA – Pessoa de baixa estatura, um quase anão. CAMUECA – Mal-estar, doença. CAMUNDONDO – Natural de Luanda. Rato. COMBOIO
MALA – Comboio do Caminho de Ferro de Benguela que transportava os
passageiros entre a cidade do Lobito e Vila Teixeira de Sousa, mais
tarde Dilolo.
CANDINGOLO – Bebida confeccionada pelos nativos indígenas, sem qualquer
qualidade mas com muito álcool, uma espécie de cachaça muito mais forte. CANDENGUE – Criança, miúdo, rapaz; o irmão mais novo. CANDINGOLO
– Bebida licorosa preparada a partir da hortelã-pimenta. “Em sua
preparação, entram normalmente as seguintes quantidades de ingredientes:
1 litro de álcool puro, 2 de água, 0,5 de açúcar branco e essência de
hortelã-pimenta. Reduzido o açúcar a calda, junta-se esta, depois de
esfriada, ao álcool, ministrando-se por fim, a essência.”
CANDONGA – Permuta, contrabando. CANDONGUEIRO – Aquele que faz candonga. CANGALHO – Carro velho. CANGONHA – Liamba ou Diamba . CANGULO – Carrinho de mão. CANHANGULO – Arma antiga de fabricação caseira (regra geral).
CANIÇO – Cana delgada. CAPANGA – Esbirro; guarda-costas, indivíduo que faz a segurança pessoal de alguém. CAPIM
– Nome genérico por que são conhecidas as plantas gramíneas e
ciperáceas, geralmente forraginosas; chegam a cobrir enormes extensões
de terreno e atingem altura relativamente elevada após as chuvas,
formando grandes pastos naturais; erva; relva.
CAPINA – Capinação, Monda, Sacha. Acto ou efeito de capinar; desbaste do capim. CAPINAR – Mondar, Sachar. Cortar o capim, limpar o terreno de capim, mondar. CAPINZAL – Terreno coberto de capim. CAPOTA
– (Numida meleagris) A capota, pintada, galinha-de-angola ou
galinha-do-mato é uma ave Galiforme da família Numididae, oriunda de
África, que tem a particularidade de apresentar a cabeça nua de penas,
com uma crista ou capacete no topo e barbelas por baixo da base do bico.
Estes apêndices servem, muito provavelmente, para a ave regular a
temperatura do cérebro. A plumagem é cinzenta prateada com pintas
brancas. Prefere os habitats semiáridos e a savana, mas também pode ser
vista na orla de bosques ou florestas É uma ave monogâmica embora se
junte em grandes bandos, fora da época de reprodução. Alimenta-se no
solo e abriga-se nas árvores, sempre que isso é possível. O nome
específico, bem como as pintas que lhe cobrem as
penas por todo o corpo, estão ligadas à mitologia grega: as
meleágridas, irmãs do herói Meleagro que morre após matar a própria mãe,
ao chorarem a sua morte cobrem-se de lágrimas e são transformadas em
aves cuja plumagem se cobre de pintas lacrimais. É uma ave de fácil
domesticação.
CAPUTO – Português; a Língua Portuguesa; aquele ou o que pertence ou se refere a Portugal. CARA DE CU À PAISANA – Cara de traseiras de tribunal, cara de poucos amigos. CARCAMANO – Sul-africano. CARDINA – Bebedeira, pifão, pifoa, piruca, piela.
CARREIRO – Caminho estreito aberto no mato. CARIANGO – Biscato. CARÁ
– (pomoea batatas) Nome popular porque é conhecida, nas regiões do Sul
de Angola, a batata-doce. Utiliza-se na alimentação de duas formas:
assado ou cozido, acompanhando uma grande variedade de pratos, ou
isoladamente.
CASA DE PAU-A-PIQUE – Cubata feita com paus e barro. CASQUEIRO – Pão CASSANJE
– (também Ka + sanji = galinha pequena) Vale na região de Malanje, a
zona angolana mais produtora de algodão. A “Baixa do Kassanje” é célebre
pela cultura intensiva de algodão.
CATATUA – Arara. CATUITUI – ( Uraeginthus angolensis) Pequena ave Passeriforme com 11,5 cm. CAVÚLA – Mulher tchingandji. CAXIPEMBE – Bebida alcoólica resultante da fermentação de batata-doce ou de cereais e posterior destilação.
CAZUMBI – Alma de um antepassado, alma penada, espírito errante; feitiço. CELHA – Pipo de vinho cortado ao meio, e que servia para se tomar banho ou para lavar roupa. CHAFARICA – Pequeno estabelecimento. CHICORONHO – Natural de Sá da Bandeira.
CHINGANJIS – (ou Tchinganjis) Homens vestidos com fatos feitos de palha e
outros materiais, com máscaras e que diziam ser sobrenaturais. CHINGUE – Cubata, palhota. Nalgumas circunstâncias era uma aldeia de palhotas.
CHIPALA – Cara, face, rosto. CHIPRULENTO – Pessoa ciumenta. CHITACA – Fazenda, roça. CHITAQUEIRO – Dono da chitaca. CHORAR LÁGRIMAS DE CROCODILO – Chorar falsas lágrimas. CHURRASCO – Frango assado na brasa.
CIPAIO – Polícia africano, ordenança adstrito às Administrações de
Concelho e aos Postos Administrativos. Pertenceu aos Serviços de
Administração Civil e actuava junto da população autóctone. O cargo era
desempenhado por naturais.
CONDUTO – Berera, molho para acompanhar o pirão COTÓTÓ – Unha de fome, forreta. CUANHAMA
– Povo pertencente ao grupo etnolinguístico Ambó, de língua
Tchikwanyama uma das línguas étnicas de Angola; o falante desta língua;
aquele ou o que pertence ou se refere a este povo. Uma antiga lenda
pretende explicar a origem da designação Ova-kwa-nyama, “os da carne”:
“Uma pequena fracção da tribo donga deslocou-se para a floresta, à
procura de víveres. Encontrou tanta abundância de caça e de peixe que
resolveu fixar-se ali. Quando deram esta notícia ao soba, ele enviou
emissários, ordenando-lhes que regressassem à terra tribal. A aludida
fracção da tribo não quis, porém, obedecer à ordem emitida pelo soba.
Este acabou por dizer: “Deixai-os lá com a sua carne”.
CUANZA – (ou Kuanza) O grande rio de Angola. CUBATA – Casebre de
barro seco, coberto de capim seco, folhas de palma ou mateba. Pode,
também, ser de tábuas de madeira ou de aproveitamento de chapas
metálicas. Também pode variar a cobertura, principalmente nas zonas
urbanas onde se utiliza muito a folha de chapa zincada.
CUCA – Marca de cerveja. CÚRIA – Comida, refeição.
- D
DENDÉM
– (ou Dendê ) Fruto (drupa) do dendezeiro, de cor laranja-avermelhado
quando maduro, composto por uma capa fibrosa (epicarpo), uma noz e uma
amêndoa da qual se extrai o óleo ou azeite de dendém, muito utilizado em
culinária. Pode ser consumido como petisco, cozido ou assado. Em
doçaria prepara-se uma iguaria macerando o fruto em açúcar e erva-doce.
Azeite de dendém, óleo de dendém, azeite de palma ou óleo de palma . O
óleo ou azeite preparado a partir do dendém.
DENDEZEIRO – (Elaeis guineensis) Variedade de palmeira originária da
África tropical que atinge 20-25m de a. Do seu fruto, o dendém,
prepara-se o azeite ou óleo do mesmo nome. As folhas são utilizadas na
cobertura de habitações tradicionais e da sua seiva prepara-se o malavo.
DIAMBA ou Liamba – (Cannabis sativa) Planta herbácea da família das
Canabináceas, variedade de cânhamo, cujas flores e folhas, depois de
secas, são utilizadas fumando-se como droga alucinogénia. A droga
fabricada a partir desta planta. O seu consumo provoca habituação.
DÁ-ME LICENÇA QUE O TOPE? – Expressão usada no gozo, pondo os dedos indicador e médio em círculo, no olho DOIS E QUINHENTOS – Vinte e cinco tostões.
- E
EMBALA
– (banza, libata, quimbo ou sanzala) Aldeia ou sanzala do soba; palácio
real, morada do chefe supremo. Genericamente na embala vivem o soba, as
suas mulheres, filhos, noras e respectiva descendência. As casas estão
dispostas em rectângulo ou círculo formando um terreiro interior onde
existe, pelo menos, uma árvore, geralmente uma mulemba, à sombra da qual
o soba se reúne com o conselho de anciães para resolução de conflitos e
administração da justiça.
ERVA SANTA MARIA – Erva medicinal. ESPIRRA CANIVETES – Pessoa muito magra.
- F
FAROFA
– Farinha-de-pau preparada a frio como salada: cebola picada, azeite,
vinagre e água suficiente para descompactar. Original e tradicionalmente
o vinagre é substituído por óleo de palma.
FAZER CAPIANGO – Fazer gamanço, rapinar. FEIJÃO KALONGUPA – Feijão encarnado. FEIJÃO MACUNDE – Feijão-frade, “ciclistas”. FRUTA-PINHA – Variedade de anona ou Sape-sape. FUBA
– Farinha moída em grão muito fino, a partir de batata-doce, mandioca,
massambala, massango ou milho. Farinha de bombó, farinha de mandioca
fermentada. Farinha de quindele, farinha de milho.
FUBEIRO – Comerciante que vende fuba; comerciante reles; pessoa reles. FUNJE
– Pasta de farinha de mandioca. Prepara-se batendo ou amassando a
farinha com o luico, em água a ferver, até adquirir uma consistência
pegajosa e sedosa. É acompanhado com caldo de peixe fresco, peixe seco
ou muamba de carne, legumes e um molho próprio (para a confecção do
funje ver FUNGERARD).
FUNJADA – Funje com um bom conduto.
- G
GABIRU – Malandrão, sacripanta, vígaro., GÂMBIAS – Pernas altas. GANDULO – Malandrão. GINGUBA
– ( Macoca , Quifufutila ou Quitaba) Amendoim, planta da família das
Faseoláceas ou Leguminosas, também conhecida por amendoim. As folhas
apresentam quatro grandes folíolos ovados. As flores são amarelas e
reunidas em espiga nas axilas das folhas. Depois de fecundada, a
estrutura que envolve o ovário alonga-se e penetra no solo, onde
amadurecem os frutos, vagens oblongas com 1-4 sementes. As sementes são
comestíveis e delas se extrai um óleo alimentar. É utilizada na
alimentação, torrada ou cozida, em variados pratos e em doçaria.
GOMA – Instrumento musical de percussão; batuque, bombo, tambor.
Tradicionalmente é construído de um tronco escavado de mafumeira, com as
duas extremidades abertas. Uma delas é depois coberta com pele de
antílope ou veado, apertada sob tensão. O seu tamanho varia de região
para região, podendo atingir 1,5 m de comprimento, motivo pelo qual o
tocador monta ou se encavalita no instrumento. A afinação é feita por
aquecimento da pele. Apresenta formas e designações variadas de acordo
com a região, aspecto, material utilizado na sua confecção e som
produzido.
GONGA – Gavião, ave de rapina. GUELENGUE – Mamífero artiodáctilo da
família dos Bovídeos endémico que atinge 200 kg de peso, com a estatura
de 1,20 m e 90 cm ao garrote. A pelagem é de tom castanho-acinzentado
muito claro; o ventre, branco, é separado dos flancos por uma barra
preta; a face é branca com riscas pretas na zona dos olhos e rodeando a
parte alta do focinho; a cauda, de crina longa, é preta bem como as
patas, acima dos joelhos. Ambos os sexos apresentam chifres, em forma de
lança, anelados, longos e voltados para trás e para o alto, sendo os da
fêmea (1m) mais compridos e mais finos do que os do macho (75cm).
Habita territórios secos, em zonas semidesérticas de pequena pastagem e
savanas abertas fazendo, por vezes, incursões aos bosques abertos em
busca de pastagens. Alimenta-se de herbáceas, raízes, tubérculos e
rizomas. Passa vários dias sem beber e pode ser encontrado muito longe
das fontes de água.
GULUNGO – (Tragelaphus scriptus) Mamífero artiodáctilo da família dos
Bovídeos. O gulungo é um antílope africano de porte médio, com 1-1,5 m
de comprimento e pesa de 25 a 80 kg. Distribui-se pelo Leste de Angola.
Tímido e desconfiado, emite balidos quando perseguido ou perturbado.
Vive, solitário ou aos pares, em bosques densos, pequenas montanhas ou
savanas arbustivas, sempre perto de cursos de água permanentes.
Alimenta-se de herbáceas, folhas, rebentos e frutos. As hastes do macho
são curtas e espiraladas com pontas afiadas. O costado, percorrido por
uma crina branca, é arqueado, tem orelhas grandes e cauda espessa. A
pelagem é castanho-avermelhada com riscas brancas verticais nas partes
laterais do tronco e manchas também brancas nas espáduas, quartos
traseiros e face. A fêmea, que não possui armação, é mais pequena do que
o macho e a sua pelagem é menos vistosa. Atinge a maturidade sexual dos
11 para os 12 meses, tem um
período de gestação de 6 meses, com 1 cria por parto.
- I
IMBAMBAS – Tarecos, as coisas de uma casa. IMBONDEIRO –
(Adansonia digitata) Árvore de porte gigante, da família das
Bombacáceas. O tronco é grosso e bojudo, podendo atingir 20 m de altura e
10 m de diâmetro, chegando a armazenar 100.000 litros de água. Há
exemplares que atingiram a idade de 3.000 anos. O seu fruto é a múcua.
“… o imbondeiro é venerado no Leste de Angola e encarregado pela
tradição de albergar determinados espíritos…”
IMPALA – (Aepicerus melampus) Mamífero artiodáctilo da família dos
Bovídeos com 50-60 kg de peso, a impala apresenta pelagem
castanho-avermelhada, escurecendo no dorso e rosto, sendo que o ventre,
os queixais, a linha dos olhos e a cauda são brancos. Uma zona de pêlos
mais compridos do que o normal, de cor preta, cobre-lhe os calcanhares.
Os chifres, esbeltos e só existentes no macho, podem atingir 1 m de
comprimento e desenvolvem-se em forma de lira. A maturidade sexual é de 1
ano para os machos e 20 meses para as fêmeas com um período de 195 a
200 dias de gestação. É um antílope que vive na savana, em grandes
manadas. Prefere zonas onde exista capim de porte baixo ou médio, com
uma fonte de água por perto, condição que pode ser desprezada caso a
erva seja abundante.
IPUTA – Pirão. IR Á TUJE – Ir “a outra parte”. IR AOS GAMBUZINOS – Partida feita a um novo morador. IR PASTAR CARACÓIS – Ir pentear macacos, ir chatear outro. ISTO NÃO É CONGO ! – Expressão usada aquando das confusões naquele País.
ISTO NÃO É DA MÃE JOANA ! – Aqui não é a casa da sogra!
- J
JINDUNGO
– ( ou Gindungo ) Espécie de malagueta muito ardente e aromática,
utilizada no tempero dos alimentos e confecção de molhos. Fruto do
jindungueiro.
JINDUNGUEIRO – Planta da família das pimentas, Solanáceas, nativa dos
trópicos, que atinge 60-80 cm de altura e cujo fruto, o jindungo, é
muito utilizado em culinária.
- K
KUANZA , Cuanza, Kwanza ou
Quanza – O maior rio nascido em Angola, com uma extensão de 965 km e uma
bacia hidrográfica de cerca de 148.000 km2. Nasce junto a Mumbué, no
distrito do Bié, a uma altitude de 1.450 m e desagua no Atlântico, 40 km
ao Sul de Luanda. É navegável até ao Dondo, a 200 km da foz. São seus
afluentes, entre outros, os rios Kuiva, Luando e Lucala.
KUATA – Agarra, apanha, pega, segura. Guerras de kuata! kuata! Guerras
empreendidas, na época da escravatura, quer pelo exército português,
quer pelos reinos angolanos mais poderosos, com o intuito de fazer
escravos.
- L
LARICA – Estar cheio de traça, ter muita fome. LAUREAR O QUEIJO – Passear. LOMBI – ( LÔMBUAS ou SUANGA) Rama de alguns arbustos para condutos. LOSSAKAS E QUIABOS – Frutos verdes que se usam nos condutos.
LUICO – Espécie de grande colher de pau ou bastão comprido com que se amassa ou bate o funje.
- M
MABOQUE
– (Maboke ) Fruto do maboqueiro, de aspecto semelhante ao da laranja
mas de casca muito dura (pericarpo ósseo) contendo inúmeras sementes
envolvidas por uma abundante polpa gelatinosa com sabor agridoce ou
sub-ácido. É também conhecido por laranja-do-natal e
laranja-dos-macacos. Come-se ao natural ou temperado com açúcar. Pode
também ser constituinte de salada de frutos, dando-lhe um sabor
especial.
MABOQUEIRO – ( Strychnos spinosa ) Arbusto de porte arbóreo, da família
Lagoniaceae, muito ramificado. As pernadas e ramos são revestidos de uma
grossa casca, com aspecto semelhante à cortiça. Produz um fruto muito
apreciado, o maboque.
MAFUMEIRA – ( Ceiba pentandra) (Eriodendron anfractuosum) Árvore
frondosa da família das Bombacáceas que pode atingir 35 a 40 m de
altura. O tronco é cilíndrico, sólido e grosso e atinge 3 m de diâmetro.
A copa, arredondada ou plana, pode apresentar uma cobertura até 50 m.
As folhas, caducas, são alternas e aglomeram-se nas extremidades dos
ramos. As flores, dispostas em fascículos nas axilas de folhas que
tenham caído, são grandes, com cinco pétalas brancas, rosadas ou
douradas, muito perfumadas. O fruto é uma cápsula cheia de uma espécie
de lã vegetal, designada capoca ou sumaúma, que envolve as sementes. A
capoca é utilizada em colchoaria e das sementes extrai-se o óleo de
capoca, usado no fabrico de sabões. A madeira é muito leve e suave e é,
por isso, utilizada no fabrico de dongos isto é canoas compridas e
relativamente largas.
MACA – ( MAKA ) Conversa, dito, fala. Na tradição oral angolana as maka
são “histórias narrativas de acontecimentos reais e verdadeiros ou tidos
como tais… Evoca factos e acontecimentos do passado, uns verdadeiros,
outros de origem lendária e fruto da imaginação, mas que se foram
impondo como se de factos reais se tratasse.” Conversa decisória,
conversação, assembleia pública ou familiar. Altercação, confusão,
discussão, problema, sarilho.
MAQUEIRO – Pessoa zaragateira. MALUVO – ( Marufo, Maruvo ) Bebida
resultante da seiva fermentada das palmeiras, principalmente de palmito,
bordão e matebeira. É uma bebida muito apreciada no Norte de Angola
onde tem funções sociais precisas, como seja a cerimónia do alambamento,
o final de uma maca ou o agradecimento ao voluntariado comunitário nas
zonas rurais. Segundo uma lenda, o primeiro homem a extrair o marufo e a
preparar o azeite de dendém foi Lenchá, escravo do Rei do Congo. A
partir dessas descobertas nunca faltaram estas delícias na mesa do rei.
Mas Lenchá levou as suas experiências ao ponto de deixar fermentar a
seiva da palmeira, durante três dias. O rei achou o néctar delicioso e
bebeu em doses elevadas. Apanhou a primeira bebedeira da sua vida . Com o
rei viviam nove sobrinhos. Makongo, o mais velho, vendo o rei em tal
estado julgou-o às portas da morte. Fez crer às mulheres do rei que tal
situação resultava do
veneno que lhe fora ministrado por Lenchá. Chamou os oito irmãos,
levaram o escravo para longe de Banza Congo e queimaram-no vivo. O rei,
ao acordar da bebedeira, estranhou a presença dos sobrinhos junto ao seu
leito. Perguntou por Lenchá, o seu escravo querido. Posto ao corrente
da situação proferiu sentença imediata contra a acção estúpida dos
sobrinhos: seriam queimados, como o haviam feito ao seu servo. Antes,
porém, que a sentença fosse executada, os nove sobrinhos fugiram da
cidade e, atravessando o rio Zaire, formaram os nove reinos que
passariam a constituir Cabinda.
MANDA CHUVA – Patrão. MANDIOCA – ( Manihot utilíssima) Planta
herbácea tuberosa, da família das Euforbiáceas, de grandes folhas
divididas, flores pouco vistosas dispostas em cacho, muito utilizada na
alimentação. É a base alimentar de muitos povos de Angola. Os tubérculos
são utilizados de formas variadas. Expostos ao calor e moídos produzem a
farinha de pau e a fuba de bombó com que se confecciona o funje. Também
se consome em cru. Com as folhas prepara-se a quizaca. Tiras de
mandioca secas ao sol, as macocas
MANDIOQUEIRA – Termo popular que também designa a mandioca. MANGA –
Fruto da mangueira. É uma drupa de forma ovóide oblonga com 15-25 cm de
comprimento, de cor verde-amarelada, amarela ou avermelhada quando
madura. A polpa é amarela, sumarenta e fibrosa.
MANGA DE CAPOTE – Macarrão. MANGONHA – Farsa, mentira. Indolência, moleza, preguiça. MANGONHAR – Dar-se à mangonha, mandriar, molengar, preguiçar. MANGONHEIRO – Indolente, calaceiro, mandrião, molengão, preguiçoso.
MANGUEIRA – ( Mangifera indica) Árvore da família das Anacardiáceas de
copa densa e arredondada, tronco grosso, que chega a atingir 20 m de
altura, com ramos numerosos que lhe dão um porte majestoso. As folhas de
cor verde-escuro são perenes, coriáceas, simples, de forma lanceolada
ou oblonga, com 15-30 cm de comprimento. As flores, que nascem em
panículas piramidais terminais, são pequenas e de cor verde-amarelada. O
fruto, a manga, é muito apreciado.
MANGUITO – Gesto obsceno. MARIMBA – Instrumento musical do grupo dos
idiofones, semelhante ao xilofone e constituído por uma cadeia de
cabaças, servindo de caixa de ressonância, encimada por uma série de
faixas de madeira ou metal (teclas) que são percutidas com uma baqueta
apropriada. Pode apresentar corpo direito (recto) ou curvo, com quinze a
dezanove teclas, havendo notícia de marimbas com mais de vinte teclas.
Em cerimónias religiosas é comum uma marimba ter tamanho reduzido,
apenas duas a quatro teclas.
MASSAROCAS – Espigas de milho. MATA-BICHO – Pequeno-almoço (de faca e garfo). MATABICHAR – Tomar o pequeno-almoço. MATACO – Bunda, nádegas, traseiro. MATARRUANO – Patego. MATETE – Papa de farinha de milho.
MATRINDINDE – Insecto ortóptero saltador, semelhante ao gafanhoto, com
7-10 cm, de cor arroxeada que, com a vibração das asas, produz um som
semelhante ao da cigarra. O seu aparecimento indicia o início da época
do cacimbo. Chega, por vezes, a constituir uma praga.
MATUMBO – Estúpido, tacanho, ignorante, inculto, provinciano. MERENGUE – Ritmo de dança muito animado. MESSENE – Mestre, mestre de ofício, professor. MILONGO – Medicamento, remédio; qualquer fármaco. MISSANGA
– Pequenas contas de vidro ou outro material com que se confeccionam
colares, pulseiras e outros adereços, também utilizadas nas tranças dos
penteados tradicionais. Há designações variadas para as missangas usadas
em cerimónias tradicionais. Variedades de missangas adoptadas em
colares ou relicários consagrados aos espíritos.
MOKOTÓ – Pé de boi preparado para confeccionar comida. MORINGA – Bilha de água de gargalo estreito. MORRO – Monte, outeiro. MUAMBA
ou Moamba – Líquido ou molho oleoso obtido por cozedura de massa de
dendém pisado. Prato típico de guisado de galinha ou outras aves, carne
de vaca ou peixe, com o referido molho, tendo como temperos e
ingredientes azeite, alho, cebola, quiabo e jindungo. Dizendo-se
simplesmente Muamba, está a referir-se a de galinha. Sendo de outra
carne ou de peixe é necessário especificar, Muamba de… Tradicionalmente é
acompanhado de funje ou pirão, mas também o pode ser com arroz. Também
designa contrabando, negócio ilegal.
MUCANDA – Carta, bilhete, papel; qualquer escrito. Recado. MÚCUA – Fruto do imbondeiro, constituído por uma massa ácida comestível e um emaranhado de fibras que envolvem as sementes. MUCUBAL – Povo Ovakuvale do grupo etnolinguístico Herero , que vive essencialmente da pastorícia.
MUKENKO – Murro. MULEMBA – (Ficus thonningii sin. F. welwitschii)
Figueira africana. Árvore sarmentosa da família das Moráceas, de seiva
leitosa. Apresenta um porte elevado, chegando a 15-20m de altura, e a
copa é volumosa e muito ramificada, sendo muito apreciada pela sombra
que produz. Dá-se em terrenos secos e arenosos. Apresenta raízes aéreas,
conhecidas popularmente por barbas. Os frutos, figos, que nascem nas
axilas das folhas, com 8-12 mm de diâmetro, atraem uma grande variedade
de pássaros. É a árvore real angolana, já que à sua sombra se reuniam os
chefes e reis. Mulemba-xietu a mulemba da nossa terra.
MULEQUE – Rapaz, criado, moço de recados. Malandro, preguiçoso, vadio. MUSSEQUE
– Começou por designar os terrenos agrícolas pobres e arenosos,
situados fora da orla marítima e em redor das cidades. A designação
tornou-se extensível ao bairro de lata, bairro pobre, na cintura urbana
das grandes cidades, principalmente em Luanda.
MUXIMA – Vila e município da província do Bengo, na margem esquerda do
rio Cuanza. É célebre a Igreja de Nossa Senhora da Muxima, ou da
Conceição, de culto à Virgem Maria. MUXITO – Mata ou bosque denso. MUZONGUÊ – Guisado com peixe seco e fresco, com bastante jindungo e farinha de pau.
- P
PEITO-CELESTE – Este nome advém do colorido das penas do peito,
azul celeste vivo no macho, sendo que as fêmeas além de um colorido
menos vivo apresentam o ventre bege. O canto do macho é agradável e
vigoroso. Vive em pequenos bandos, preferindo os terrenos cultivados, o
campo aberto e a savana, mas também frequenta os limites urbanos desde
que haja charcos de água por perto. Embora no campo seja mais fácil
ocupar os ninhos abandonados pelos tecelões e outros pássaros, também
constrói o seu próprio ninho com pedacinhos de mato seco e capim,
chegando a fazê-lo na cobertura de colmo das cubatas. A sua postura é de
3 a 4 ovos. Alimenta-se de insectos, grãos, sementes e verdura fresca.
PENEIRENTA – Pessoa vaidosa. PICADA – Estrada de terra batida de 3.a categoria. PILDRA – Prisão, chossa, xilindró. PILIM – Dinheiro, taco, carcanhol, bago, kumbú. PIPI – Pessoa vaidosa, calcinhas. PIRÃO
– Iguaria gastronómica. Coze-se, conjuntamente, peixe fresco e seco com
batata-doce ou mandioca. A água da cozedura, ainda quente, é temperada
com óleo de palma ou azeite de oliveira, cebola e tomate, formando um
caldo leve, o muzonguê. Acompanha-se com farinha de mandioca embebida no
caldo. Embora o termo se tenha generalizado para o prato em si, é à
farinha assim preparada que a designação é devida. Por acomodamento, em
Angola deve chamar-se funje a massa confeccionada com fuba de mandioca e
pirão a confeccionada com fuba de milho e similares. O pirão é
característico das regiões do centro e Sul de Angola.
PIRAR A ROSCA – Entrar em parafuso, ficar meio choné. PITANGA – Fruto
comestível da pitangueira, de forma globosa, polarmente achatado,
sulcado longitudinalmente e de aspecto brilhante. A polpa, alaranjada ou
vermelha quando madura, tem um sabor adocicado, levemente ácido ou
agridoce.
PITANGUEIRA – Planta arbustiva da família das Mirtáceas, originária da
América do Sul, muito provavelmente do Brasil. Pode atingir o porte de
árvore, com 6 a 10 m de altura, com copa piramidal, tronco de 30 a 50 cm
de diâmetro e cujo fruto, a pitanga, é muito apreciado. As folhas
variam do vermelho ao verde-brilhante, da juventude à idade madura. As
flores, genericamente, são brancas e aromáticas com floração abundante.
PÓPILAS! – Chissa! Possa! Arre! Porra! PUNGO – Peixe perciforme marinho.
- Q
QUIABEIRO
– (Hibiscus esculentus) Erva anual da família das Malváceas, de porte
erecto que atinge cerca de 1m de altura, cultivada pelas folhas, frutos,
sementes e fibras. O fruto, o quiabo, é muito utilizado em culinária.
QUIABO – Fruto do quiabeiro , também designado quingombo , em forma de
cápsula cónica, de consistência viscosa quando maduro, muito utilizado
em culinária, nomeadamente na muamba. QUIMBANDA – (Kimbanda,
Kimbandeiro, Quimbandeiro) Curandeiro; aquele que pratica a medicina
tradicional. O quimbanda na tradição cultural bantu, como supremo
ocultista, tem uma amálgama de poderes: é, simultaneamente, adivinho,
curandeiro e feiticeiro.
QUIMBO – (Embala, Libata, Sanzala) Aldeia rural tradicional, aldeia indígena, povoado, sanzala. QUINDA – Cesto sem asas, que servia para transportar cereais. QUISSÂNGUA – Bebida fermentada feita com milho ou com fuba.
QUISSANJE ou Quissange – Instrumento musical do grupo dos lamelofones,
constituído por uma tábua ou placa de madeira, onde estão fixadas várias
palhetas ou lâminas de bordão, bambu ou metal, presas a um cavalete.
Apresenta de sete a dezasseis palhetas, ou mesmo vinte e duas (muito
raro). Pode ser-lhe adaptada uma cabaça truncada que serve de caixa de
ressonância ou amplificador. O instrumento mantém-se preso entre as duas
mãos e os dedos polegares fazem vibrar as palhetas.
QUITANDA – Banca, tenda ou loja de comércio; negócio, venda; tratava-se,
originalmente, de produtos hortícolas frescos, tendo-se esta acepção
tornado extensível a qualquer tipo de comércio praticado nas mesmas
condições. Tabuleiro, maleta ou quinda onde o vendedor ambulante
transporta os produtos.
QUITANDEIRO – Aquele que faz negócio em quitanda, dono de quitanda, pequeno comerciante, vendedor ambulante.
- R
REBITA
– ( Massemba ) Farra de sanzala. Embora considerada tipicamente
angolana, proveniente da área do quimbundo, resultou da aculturação,
provavelmente de grupos étnicos portugueses. Posteriormente à sua
formação, este bailado, em nova incorporação lusitana, foi, por esses
elementos, designada por rebita. E o termo, antes restrito ao seu meio,
generalizou-se à massa popular. Este género de diversão foi muito usado
pelas gentes de Benguela, Catumbela e Bié.
REVIENGA – Finta de corpo, movimento rápido em zig-zag, volteio rápido.
- S
SACANA – Malandro, sacariôto, sacripanta. SANGA
– Cântaro ou pote de barro para transportar ou conservar água. Pote
onde cai a água, filtrada por pedra porosa própria para purificá-la, ou o
próprio conjunto pedra/pote.
SANZALA ou SENZALA – Aldeia rural tradicional. SAPE-SAPE – ( Annona
spp) Árvore da família das Anonáceas, também conhecida por anoneira. A
árvore pode atingir 15 m de altura. As folhas, alternas, são perenes e
de cor verde-escura. O fruto, cordiforme e coberto de saliências
espinhosas, é segmentado, com um diâmetro de 10-12 cm, coloração
exterior variando do amarelo-esverdeado ao vermelho quando o fruto está
amadurecido e polpa branca de sabor adocicado. As folhas são utilizadas
na medicina tradicional.
SECULO – Ancião, velho; conselheiro do soba; homem respeitável. Corresponde a Cota, entre os quimbundos. SEMBA
ou REBITA – Dança tradicional angolana caracterizada pelas umbigadas
(sembas) dos dançarinos. Na sua forma mais genuína a dança é acompanhada
por coros de sátira social a acontecimentos do quotidiano ou políticos.
SÉTIMO ANO DE PRAIA – 4.a classe. SIPAIO – Polícia africano,
geralmente adstrito às Administrações de Concelho e aos Postos
Administrativos. Pertenceu aos Serviços de Administração Civil e actuava
junto da população autóctone. O cargo era desempenhado por naturais.
SIRIPIPI ou SERIPIPI – ( Colius castanotus) Pássaro frugívero, da
família dos Coliídeos, o siripipi-de-benguela, também conhecido por
rabo-de-junco-de-rabadilha-vermelha, é uma ave com 35 cm de comprimento e
45-60 g de peso nativa de Angola, característica por apresentar, em
ambos os sexos, uma crista e cauda duas vezes superior ao tamanho do
corpo. A plumagem é cor-de-canela, a face é negra, o peito e garganta
cinzentos, o ventre alourado pálido e a rabadilha vermelha. O ninho, em
forma de taça, é construído pelo casal, oculto entre a vegetação e por
vezes junto ao solo, com materiais vegetais e penas. A fêmea põe 2-5
ovos que são incubados por ambos, durante 2-3 semanas. A incubação
começa no momento da postura do primeiro ovo, o que provoca que o ninho
tenha crias em vários estádios de desenvolvimento. Os juvenis estão
aptos a voar ao fim de 17 dias. Vive em matas e na orla das florestas.
Voa pausadamente, dado o comprimento
da cauda, em bandos de 5-8 indivíduos em fila indiana. Alimenta-se de
rebentos, folhas e frutos de vegetação variada.
SOBA – Autoridade tradicional, chefe do quimbo ou sobado; chefe tribal,
régulo. O soba, em certas regiões, é escolhido pelo conselho de sobas;
noutras a sucessão é matrilinear, sucedendo-lhe um sobrinho, filho de
uma irmã.
SOBADO – Território sob administração de um Soba. SUMAÚMA – Enchimento seco mas muito fofo para almofadas e colchões. SURRIADA GALINHA ASSADA – Expressão acompanhada de gesto com os dedos, a fazer pouco de outra pessoa
- T
TABAIBEIRA – (Opuntia ficus indica) Figueira-da-índia; Piteira. TABAIBO
– Designação que se dá no Sul de Angola, por influência madeirense, ao
fruto da figueira-da-índia ou tabaibeira. De forma ovóide, achatado nos
pólos e recoberto de inúmeros espinhos, tem uma polpa muito sumarenta e
sabor agridoce.
TACANHO – Panhonha, patarôco. TACULA – (Pterocarpus tinctorius)
Árvore de grande porte que chega a atingir 20 m de altura, endémica das
matas de Angola. A madeira, de grande dureza e resistência, branca ou
vermelha com veios vermelhos, é usada em mobiliário. É uma madeira de
enorme beleza.
TAMARINDEIRO – (Tamarineiro, Tamarinheiro, Tambarineiro) (Tamarindus
indica) Árvore de tronco grosso, folhas pinadas e flores
amarelo-avermelhadas, que fornece boa madeira e frutos comestíveis, o
tamarindo. TAMARINDO – Fruto do tamarindeiro, comestível e também utilizado em farmacologia.
TCHINDELE – Homem branco TEMPO DE CAPARANDANDA – Há muito tempo, tempo antigo. TIPOIA – Palanquim de tecido p/ transportar pessoas. TORTULHOS – Cogumelos grandes. TRINCA-ESPINHAS – Pessoa muito magra. TUQUEIA – Peixe miúdo (seco) pescado nas anharas de Camacupa e do Moxico.
- U
UMBUNDO – Povo do grupo etnolinguístico Ovimbundo e uma das
línguas étnicas de Angola. O falante desta língua; aquele ou o que
pertence ou se refere a este grupo.
- V
VENDER A BANHA DA COBRA – Vender com muita lábia, vender bem aquilo que não presta.
VIMBAMBAS – Tarecos, as coisas de casa. VISSAPA ou Bissapa – Moita, sarça, silvado.
- W
WELWITSCHIA
– ( Welwitschia mirabilis) Planta descoberta pelo botânico austríaco
Frederico Welwitsch no século XIX. “A primeira informação que deste
vegetal chegou à Europa transmitiu-a o seu descobridor a Sir William
Hooker, reputado homem de ciência, em carta, escrita de Luanda, a 16 de
Agosto de 1860… Tem a Welwitschia o tronco obcónico, de cor acastanhado,
que se eleva poucas polegadas acima do terreno e é na parte superior
achatado, bilobado e deprimido lateralmente, atingindo por vezes catorze
pés de circunferência no seu máximo desenvolvimento. Segue-se-lhe,
internando-se pelo solo, uma forte raiz, que só muito para a extremidade
se ramifica e se divide em radículas. Das origens dos dois lóbulos
nascem duas únicas folhas, largas, rijas e persistentes, que se estendem
pela superfície da terra, fendendo-se com a idade. E
junto à inserção das folhas partem duas hastes ou pedúnculos
sustentando pinhas escarlates, em cujas escamas se abrigam flores
solitárias. A Welwitschia é curiosíssima, não apenas por invulgar, mas
ainda por se apresentar sempre repetida quase exclusivamente de
numerosos indivíduos da mesma espécie que dão ao terreno um aspecto
especial deveras interessante… A Welwitschia existe, porém, somente no
Distrito de Moçâmedes.
- X
XANA ou Chana – Planície, savana, charneca africana. XINDELE – Branco, indivíduo de raça branca; Amo, senhor, patrão. XINGAR – Injuriar, praguejar. XITACA ou Chitaca – Pequena propriedade agrícola de subsistência; terreno para plantação; lavra.
- Z
Zamberenguenjê – estar com os azeites, estar zangado.Ver mais
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