quarta-feira, 29 de agosto de 2012

crónica 119 o último verão


CRÓNICA 119 o último verão 24 julho 2012

A Alemanha prossegue imparável a sua campanha para escravizar a europa do sul, mas o 4º reich terá o mesmo fim dos anteriores: a derrota, só que até esse momento muitos de nós morrerão pelo caminho, outros afundar-se-ão na miséria, e disso não falarão as televisões…a fome alastrará e haverá violência mas o povo português tal como as chocas das touradas da minha infância continua «manso», abúlico, anestesiado prosseguindo a sua herança feudal de escravo. Tal como a avestruz que enfiou a sua cabeça na areia porque não era nada com ela ou como a ameixa de Luiz Pacheco que se deixou ficar quieta e calada, á espera que viessem e a comesse.
Confúcio disse «não tento conhecer as perguntas; tento conhecer as respostas» mas neste caso fico pior que ele pois nem tenho perguntas nem respostas. Nem sempre chega sorrir só porque se está vivo.
João Franco (Revista Nova Águia, número oito) interroga «se Portugal ainda existirá no século XXII? Dois caminhos estendem-se à nossa frente, a escolha que for feita, determinara a sobrevivência ou o desaparecimento do nosso país. Por um lado estende-se o caminho da perda de soberania, com o consequente esboroar de Portugal, diluído numa Europa burocrática e cinzenta, ou numa Ibéria. Por outro, o caminho de um reerguer nacional, em que Portugal recupere independência, isto é a capacidade e autonomia de tomar decisões quanto ao seu futuro». Não são poucos os que defendem que por detrás da dita «crise da dívida soberana» se encontra um impulso – mais ou menos subterrâneo, mais ou menos intencional – para criar uma «federação europeia», não democrática e totalmente dominada pelas elites económicas e financeiras do norte da Europa. Até europeístas convictos como eu começam a ter dúvidas, bem sei que hoje não existem líderes europeus como aqueles que sonharam com a Europa, mas esta sistemática destruição da unidade europeia a troco de trinta moedas encapuçada numa tirania mundial sem cara nada augura de bom. Não creio que surjam, do nada, líderes capazes de se oporem a esta oligarquia do lucro sedeada na América, com agendas secretas de aniquilar a Europa e salvaguardar os seus interesses assentes no dólar. Convém não esquecer que os EUA estão tão falidos (aliás, dizem-me que estão mais falidos) do que a Europa dos 27, que a sua dívida soberana está quase toda nas mãos dos chineses e por isso a autonomia ou independência norte-americana estão tão comprometidas como a europeia. Por outro lado a Europa de tão envelhecida que está corre o risco de se tornar deserta de europeus a muito curto prazo, estando já a ser substituída nalguns países por muçulmanos com uma elevada taxa de reprodução, nacionalidade e descendência e que, mais dia menos dia, passarão a governar essa velha Europa de burka e sharia, embora não se possa dizer isto por ser politicamente incorreto. Claro que devemos ouvir e calar, como ontem dia 23 de julho de 2012, quando foi anunciado que a ministra dos direitos d amulhere quejandos em Marrocos disse que não havia motivo para se preocuparem com as violações das mulheres e o casamento abaixo da idade por que isso não eram problemas da sociedade marroquina…nem nos devemos deixar apoquentar por se seguirem normas islâmicas semelhantes às da Idade Média da civilização dita ocidental, quando apedrejaram uma mulher até à morte ou executaram outra no Afeganistão por adultério, o que se veio provar que nem sequer era verdade. Não devemos dizer nada e devemos respeitar essas civilizações e religiões mesmo que continuem a viver na Idade da Pedra dos direitos do homem e sobretudo, da Mulher.
Por outro lado a crise internacional instigada pelos especuladores bancários do ocidente continua a ameaçar os cidadãos europeus com o Medo (do Desemprego, da Recessão, do Caos, etc.) e estes interesses estariam a confrontar os cidadãos, pouco a pouco, com a «inevitabilidade» da entrega dos derradeiros limites de soberania à “união” europeia. Os pretextos para este falso «federalismo» (que mais justamente deve ser chamado de «nortismo neoliberal», porque assenta no norte da europa) estão aí, à vista de todos: um sistema fiscal único, abertura total de fronteiras, moeda única, soberanias limitadas e governos «autocráticos», etc. A Islândia, em 2008 deu-nos a lição de que é preferível deixar os credores perder os seus investimentos especulativos a reduzir pensões, benefícios sociais e criar o caos na sociedade. Em vez de salvar os seus Bancos a todo o custo e sacrificando em seu nome toda a sociedade, a Islândia preferiu deixá-los falir de forma controlada, salvando a economia.

Viriato Soromenho Marques escrevia no DN de 24 de julho de 2012:
A natureza das instituições avalia-se pela sua resiliência às crises. O carácter dos amigos mede-se pela sua capacidade de ficarem ao nosso lado, contra tudo e contra todos, nas horas de perigo e desgraça. O que está a suceder a Espanha, a mergulhar numa espiral de destruição, revela que a União Económica e Monetária, como está, se tornou uma sala de tortura, condenada a perecer, e que os Estados membros da União Europeia são governados por uma gente pequenina que não percebe que é preciso ajudar os nossos aliados para nos ajudarmos a nós próprios. O índice IBEX, das maiores empresas espanholas, tem hoje menos valor bolsista do que dívida conjunta dessas empresas. A dívida pública espanhola (e italiana) está a subir em todos os prazos, apesar do incrível pacote de terror económico imposto por Berlim e Bruxelas a Madrid, para a aprovação do empréstimo de cem mil milhões de euros para o sector bancário. As autonomias, com Valência à cabeça, estão arruinadas. O cínico Weidmann, o torquemada monetarista à frente do Bundesbank, aconselhou Espanha a pedir um «resgate completo». Suprema crueldade! O FEEF está reduzido a trocos e o MEE está na mesa do Tribunal Constitucional Alemão, sob observação, pelo menos até 12 de setembro... O BCE nunca mais fez compras no mercado secundário. Prometer o que não se tem é o máximo insulto a quem precisa... Reina o silêncio dos cobardes na maioria das capitais europeias. O de Lisboa é inqualificável. Só Monti, que sabe ser a Itália o próximo alvo, expressa a sua inquietação em voz alta. Por este caminho, este será o último verão da Zona Euro. O último verão antes de uma nova, perigosa e incerta geografia política europeia, cujas dores de parto não pouparão ninguém.
Isto para não falar da ameaça do FMI à Grécia. Depois de tanta austeridade vão fechar a torneira do dinheiro. Quase os ameaçaram a eleger este governo para continuarem a dar dinheiro e agora zás, fecha-se a torneira euro…Almeida Garrett em Viagens na Minha Terra perguntava aos economistas políticos, aos moralistas se «já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico… cada home rico custa centos de infelizes, de miseráveis
Claro que não pois eles nem sequer se dão conta da existência desses seres, quando muito serão algarismos desgarrados, sem família nem existência própria, apenas casas decimais nos seus cálculos de lucro. E ao nosso lado, muitas vezes sem sabermos, nem vermos, nem ouvirmos, as famílias vão morrendo asfixiadas na sua miséria, pobreza e humilhação…famílias que até há pouco eram pilares da comunidade…esta terceira guerra mundial a que ora assistimos é mais impiedosa e brutal que a depressão de 1929 mas nem por isso menos mortífera. E o povo iletrado - mas licenciado com canudo e tratamento por doutor - assiste a tudo incrédulo refugiando-se numa qualquer telenovela, com futebol, Fátima e fado como sempre foi seu apanágio. As elites - que depois do 25 de abril foram tidas como fascistas e fascizantes - sempre serviram para liderar movimentos de massas mas como estão em vias de extinção não lideram nada. Faltam Movimentos como um novo MDP ou uma Seara Nova capazes de aglutinar a intelligentsia que resta, e dar o grito do Ipiranga que tanto é necessário neste país. Não contem com os militares que eles nem com eles próprios podem contar…por isso qualquer revolução militar está fora de questão, também não acreditem em referendos populares que estes funcionam bem no papel mas na prática deixam muito a desejar. Se já tiverem uma idade respeitável, como a minha, em que emigrar está fora de questão as alternativas são poucas…
Dentro da mesma (minha) linha de pensamento Clara Ferreira Alves escrevia há dias:
«É a falta de cultura, estúpido!
Portugal tem hoje uma pequeníssima elite que consome cultura, quase toda velha e sem sucessores. …merecemos isto…elegemos esta gente. …não somos muito diferentes…convém não esquecer o que nos separa, exatamente, do Relvas. Pouco. O dito não é um espécime isolado, um pobre diabo animado de força e disposição para fazer negócios e trepar na vida, que entrou em associações e cambalachos, comprou um curso superior e … se autoinstituiu em conselheiro do rei. Nunca vimos isto nesta escala, porque na 25ª hora da tragédia nacional, quando Portugal se confronta com a humilhação da venda dos bens preciosos (os famosos ativos) aos colonizados de antanho e seus amigos chineses, o que o país tem para mostrar como elite é pouco. Nada distingue hoje a burguesia do proletariado. Consomem as mesmas revistas do coração, leem a mesma má literatura, veem a mesma televisão, comovem-se com as mesmas distrações. Uns são ricos, outros pobres. A elite portuguesa nunca foi estelar, e entre a expulsão dos judeus e a perseguição aos jesuítas, dispersámos a inteligência e adotámos uma apatia interrompida por acasos históricos que geraram alguns estrangeirados ou exilados cultos permanentemente amargos e desesperados com a pátria (Eça, Sena) e alguns heróis isolados ou desconhecidos (Pessoa, O'Neill). Em “Memorial do Convento”, Saramago dá-nos um retrato da estupidez dos reis mas exalta romanticamente o povo…o partido comunista tinha uma elite intelectual e de resistência inspirada por um chefe que, aos 80 anos, quase cego, resolveu traduzir Shakespeare. Cunhal traduzindo o «Rei Lear» de um lado, Relvas posando nas fotografias ao lado da bandeira do outro. Relvas, um subproduto de telenovela O tempo dos chefes cultos acabou, e não acabou apenas em Portugal. A cultura de massas ganhou…cada estúpido é o busto de si mesmo, a burguesia e o lúmpen distinguem-se na capacidade de fazer dinheiro. … uma massa informe de consumidores que votam. E que consomem democracia, os direitos fundamentais, como consomem televisão, pela imagem. Sócrates e o Armani, Passos Coelho e a voz de festival da canção. O jornalismo, aterrorizado com a ideia de que a cultura é pesada e de que o mundo tem de ser leve, nivelou a inteligência e a memória pelo mais baixo denominador comum. A brigada iletrada, como lhe chama Martin Amis, venceu. Estão admirados? John Carlin, o sul-africano autor do livro que foi adaptado ao cinema por Clint Eastwood, «Invictus», conta que Nelson Mandela e os homens do ANC, na prisão, discutiam acaloradamente, apaixonadamente, Shakespeare. Foram «Júlio César» ou «Macbeth», «Hamlet» ou «Ricardo III» que os acompanharam. Não é um preciosismo. A literatura, o poder das palavras para descrever e incluir o mundo num sistema coerente de pensamento, é, como a filosofia e a história, tão importante como a física ou a álgebra. A grande mostra da Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos é Shakespeare (no British Museum) e não um dono de supermercados ou futebolista. Os «heróis» portugueses descrevem-nos. E descrevem a nossa ignorância. Passos Coelho é fotografado à entrada do La Féria ou do casino. Um dono de supermercados ou um esperto ministro reformado são os reservatórios do pensamento nacional. Portugal tem hoje uma pequeníssima elite que consome cultura quase toda velha e sem sucessores. Não estamos sós. Como bem disse Vargas Llosa, em vez de discutirmos ideias discutimos comida. A gastronomia é uma nova filosofia. Ferran Adriá é o sucessor de Cervantes e de Ortega Y Gasset.» Cara Ferreira Alves - Expresso - 21-07-2012
Dito isto, creio que a única hipótese é juntar a pouca elite que resta, criar um governo de salvação nacional e liderar o país, antes que ele se afaste como a «Jangada de Pedra» rumo não ao oceano mas ao abismo para onde caminha demasiado depressa para que o possamos parar. Pode nem ser a tempo, mas ficaríamos com a sensação de que ainda íamos salvar o país. Com esta gente e estes partidos não há democracia que resista e teremos mais do mesmo, qualquer que seja o partido ou a coligação no poder. Foram eles que criaram o «sistema» da impunidade na justiça, da não educação no ensino, da saúde que nos querem tirar e da forma de entrelaçarem os seus negócios e negociatas de forma a saírem sempre vencedores, qualquer que seja o partido no poder.





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