segunda-feira, 27 de agosto de 2012

TIMOR +- CORRUPÇÃO

Mostrem ao povo o que não roubaram!

Por em 26/08/2012


A notícia pode e deve ser objeto do nosso contentamento e de esperança num Timor-Leste que apesar de ter estado todos estes dez anos desde sua independência alapado na opacidade conveniente a políticos e agentes nas suas ilhargas (familiares e amigos) finalmente votou num Presidente da República que merece letras maiúsculas, que fez questão de ser transparente, honesto, e que lança um desafio público enorme a Xanana Gusmão – anterior e atual PM – à sua cumplicidade, ao seu conveniente desleixo, com a opacidade e roubos enormes que têm prejudicado o povo timorense a braços com carências inadmissíveis, apesar de imensos milhões de dólares alegadamente aplicados em benefício do país se terem exaurido não se sabe bem para onde. Para colmatarem as carências do país não foram, com toda a certeza.

Falamos de que notícia? Pois poderemos confrontar e regozijarmo-nos com o título em português – traduzido por Timor Rai Murak porque a Agência Lusa é perita em não cumprir seu dever que nos diz PRESIDENTE TAUR MATAN RUAK DESAFIA A ELITE POLÍTICA TIMORENSE, o original, em inglês, encontrará no timorenseTempo Semanal.

Na verdade, ao longo de mais de uma década nunca os timorenses tiveram oportunidade de consultar declarações de bens dos políticos timorenses. Acreditamos que nem de seus familiares e amigos (porque há muitos cambalachos nestas ilhargas dos políticos e agentes com poderes em sintonia com os não menos que ladrões que temem a transparências por razões obvias).

Ao longo desta década vimos em Timor-Leste acontecerem exibições de poderio financeiro surpreendentes e que só podem ter acontecido por via de “desvios”, de cambalachos, de roubos, que infernizam a vida dos timorenses pela decadência e/ou inexistência de cuidados de saúde, de empregos, de melhores habitações. De melhores estruturas viárias onde alegadamente foram gastos milhões de dólares para nada, ou quase nada. Repare-se no entanto na exuberante e demonstrada abastança de empreiteiros que abraçaram obras neste e noutros setores… Mas estradas, são do piorio, escolas com um mínimo de condições, com equipamentos alegadamente adquiridos, do piorio são. As faltas são enormes e os milhões de dólares esvaíram-se. Para onde? Nem precisamos de usar a imaginação… Olhemos para os sinais exteriores de riqueza de uns quantos, regra geral da área do regime xananista. Mas não só.

Os timorenses depauperados, quer no interior do país, quer na capital, em Díli, nunca experimentaram ao longo desta década o desenvolvimento prometido pelo domínio de Xanana Gusmão, nem viram o correspondente aos gastos orçamentais inscritos naquilo que devia ser o desenvolvimento e as melhores condições de sobrevivência do povo e do país. A oposição ao regime denunciou vários casos mas podemos constatar que na prática quase não obteve resultados. Podemos dizer agora que esse resultado talvez se fique a dever à sua falta de energia enquanto oposição. Com muito menos potencial partidário vimos, isso sim, denúncias de Mário Carrascalão, que chegou a ocupar o cargo de vice-ministro, apontar a corrupção monstruosa como algo de muito descarado e desumano – atendendo às péssimas condições de sobrevivência dos timorenses. O “prémio” do vice-ministro de Xanana Gusmão, Mário Carrascalão, foi ser chutado do governo, foi ter sido maltratado, desrespeitado, por aquele que em tempos julgávamos ser o grande defensor dos interesses e bem-estar dos timorenses – o “herói” Xanana Gusmão.

Mas eis que surge Taur Matan Ruak, provavelmente um herói. Ex-guerrilheiro da resistência timorense, desde muito jovem, ao ocupante indonésio-australiano (porque a Austrália beneficiou desmesuradamente com a situação aterrorizante e ocupacional do país). Taur, recentemente eleito Presidente da República, surpreende os mais cépticos relativamente à eficiência do desempenho do cargo de PR. Foi um candidato de Xanana Gusmão-CNRT que se desmarcou para moralizar e credibilizar a política que quer ver instaurada no país. Taur, ao tornar público a sua declaração de bens e de sua família apresentou praticamente um ultimato a Xanana Gusmão, aos que se alapam na sua ilharga, e outros: mostrem ao povo o que não roubaram!

Sem grandes apelos à imaginação devemos acreditar que em grande percentagem haverá os que se estão a “encolher” perante a atitude do PR Taur Matan Ruak e que provavelmente vão fazer de conta que não sabem, não viram, nem sequer admitiram ser possível ter tal atitude e demonstração de honestidade. Esses assobiarão para o lado e esperam que o tempo ocupe a memória do povo com outros acontecimentos e preocupações. Haverá os que já admitem que talvez com “engenharias” possam seguir o exemplo do PR Taur sem que por isso tenham um pingo de honestidade para mostrar… Haverá de tudo. São os defeitos do ser humano, de alguns. Principalmente daqueles que chegados a poderes imensuráveis se tornam verdadeiros bandidos e inimigos das sociedades de justiça e realmente democráticas.

Ao que tudo indica algo está a mudar em Timor-Leste pela vontade e atitudes de Taur Matan Ruak. Esperemos que não sofra um atentado à sua vida. Não seria o primeiro a um Presidente da República nestes tão poucos anos em que Timor-Leste foi reconhecido pela comunidade internacional como um país. Nem seria o primeiro atentado a Taur Matan Ruak nem à sua família (2006). Timor-Leste, um país. Sim, mas contendo muitos políticos e associados desonestos. Demasiados. Não é por acaso que Timor-Leste subiu para terceiro dos países com maiores carências alimentares do mundo. Se não é a governação de Xanana Gusmão a responsável, quem é? Se não se deve aos roubos ao povo, a que se deve?

Assim, a continuar assim, longa vida a Taur Matan Ruak. Finalmente vislumbra-se que Timor-Leste pode mudar e melhorar!

Nota importante: Não esqueçamos a “Vitalicia Pensão” dos políticos timorenses – deputados e outros – que estão e vão continuar a depauperar os orçamentos timorenses permanentemente, sem escrúpulos, ante a fome e a miséria do povo que vagueia logo ao lado. Lei digna da canção Vampiros de Zeca Afonso, em Timor-Leste ou noutro país qualquer em que os políticos se servem dos bens públicos, da desgraça e do trabalho explorado das vítimas, do povo, para viverem faustosamente no bem-bom. Tal qual vampiros ou parasitas. Só uma eficiente desinfestação resolve tal maquiavélica lei, quer em Timor-Leste, quer noutros países.

*António Veríssimo, português nascido em Lisboa, timorense de coração, aposentado. Produtor de audiovisuais. Colaborador em várias publicações de Portugal, Moçambique e Timor-Leste (extintas). Redator nos semanários portugueses Extra e Página Um (extintos). Apaixonado da rádio, fez parte do grupo dinamizador do movimento pela legalização das Rádios Piratas, algumas que formou e dirigiu, na clandestinidade e depois de legalizadas. Coordena e escreve em publicações na blogosfera, entre as quais o Página Global.

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