sábado, 3 de novembro de 2012

se os portugueses votassem

Se os portugueses votassem nas eleições americanas, Obama era eleito
Hoje, 31 de outubro, é Dia de Halloween e os republicanos dizem que este
ano as máscaras de Barack Obama vendem-se mais do que as de Mitt Romney visto
serem “mais aterradoras pela perspetiva de mais quatro anos de crise”.
É uma das muitas piadas a propósito das eleições presidenciais do dia 6 de
novembro nos EUA e que, coisa impensável há trinta anos, são um pleito entre
um milionário mórmon, Mitt Romney e um negro esperto, Barack Obama.
Romney, pertence a uma rica dinastia política mórmon e republicana. O pai,
George Romney, foi governador do Michigan (1963-1969) e, em 1968, tentou a
Casa Branca, mas perdeu nas primárias republicanas para Richard Nixon, que
foi eleito e o nomeou secretário da Habitação e Desenvolvimento Urbano. A mãe.
Leonore Lafount Romney, foi atriz (participou em vários filmes da MGM) e
candidatou-se em 1970 ao Senado pelo Michigan.
O filho, cujo nome completo é Willard Mitt Romney, nasceu há 65 anos em
Detroit e, depois de uma bem sucedida carreira empresarial, foi eleito
governador de Massachusetts. Não se recandidatou para se lançar na corrida à Casa
Branca e, em 2008, gastou do seu próprio bolso 48 milhões de dólares, mas foi
preterido por John McCain. Volta a tentar em 2012, não se sabe quanto terá
gasto desta vez, mas as sondagens sobre as intenções de voto dão-lhe um
empate a 49% com o presidente Obama.
Quanto a Barack Hussein Obama, nasceu em 1961 em Honolulu e era filho de
Ann Dunham, uma antropóloga americana e um estudante queniano, mas foi criado
apenas pela mãe. Foi deputado estadual de Illinois (1967-2004), tornou-se
senador federal em 2005 e, em 2008, o primeiro afro-americano eleito
presidente dos EUA.
A eleição de Obama, recebida como algo de mágico que iria mudar a América e
o mundo, foi sobretudo porque os americanos estavam cansados de Bush Jr.,
que lançou o país na desnecessária guerra do Iraque e na bagunça de Wall
Street com a prática dos subprimes que despoletou uma crise financeira e
económica mundial.
Mas as reformas na saúde e nas finanças propostas por Obama assustaram o
grande capital e, nas eleições legislativas de 2010, os bancos de Wall Street,
as seguradoras e a indústria médico-farmacêutica investiram três biliões de
dólares, qualquer coisa como três mil milhões, nos candidatos republicanos
e o investimento compensou: os republicanos passaram a controlar a Câmara
dos Representantes com 240 lugares e a boicotar as iniciativas da Casa Branca.
Obama caçou Osama bin Laden, o inimigo número um dos EUA, tirou o país da
alhada do Iraque, mas ainda assim os americanos estão desanimados com o
desemprego e, embora a crise não tenha sido da sua responsabilidade, poderá
custar-lhe a reeleição.
Na história das eleições americanas só nove presidentes não conseguiram ser
reeleitos, incluindo três após a II Guerra Mundial: George Bush, 1992;
Jimmy Carter, 1980 e Gerald Ford, 1976. Obama poderá juntar-se ao grupo e por
isso o antigo presidente português Mário Soares decidiu escrever dia 11 de
outubro uma carta aberta dirigida ao 44º presidente dos EUA que saiu em vários
jornais americanos, nomeadamente o PortugueseTimes.
Soares declara-se admirador de Obama e considera-o “um dos grandes
estadistas mundiais”, mesmo “digno de um Roosevelt, de um Churchill, de um Willy
Brandt, de um François Mitterrand, bem como, pela sua estatura moral e
humanitária, de um Nelson Mandela”.
Parece-me exagero comparar Obama a Mandela, que para além da pigmentação da
pele nada têm em comum, e ainda menos a Roosevelt e Churchill, tanto mais
que a Al Qaeda não é (ainda) a Alemanha nazista e nem Osama bin Laden é Adolf
Hitler.
Contudo, surpreendido com a performance dececionante de Obama no primeiro
debate com Romney, Soares decidiu estimulá-lo: “Dê tudo por tudo para ganhar.
É o futuro da Humanidade - não é só a América - que está em jogo.”
Para Soares, a derrota de Obama constituiria “uma verdadeira desgraça para
a América, para a Europa e para o mundo”, uma vez que se “os seus rivais
republicanos voltassem ao poder, teriam resultados muito piores do que os do
mandato de Bush Júnior”.
Tal como a maioria dos governantes europeus, Soares tem certa apreensão se
Romney vier a ser presidente devido ao peso do ultraconservador movimento
Tea Party na sua administração e à escolha de um radical, Paul Ryan, como
candidato a vice-presidente.
Ainda por cima, em 1993, quando concorreu ao Senado, Romney era mais
liberal que Ted Kennedy, mas agora é mais conservador que Newt Gingrich e por isso
até muitos republicanos moderados estão apreensivos.
Por essas e por outras, o mundo prefere Obama. Segundo sondagem
GlobeScan/Pipa, Obama é preferido de 81% da população mundial e apenas 19% prefere
Romney. Por continentes, os europeus são os que dão a maior avaliação positiva a
Obama (42%), seguidos sul-americanos (40%) e asiáticos (39%).
Na Europa, Obama é favorito de 98% dos islandeses e de 97% dos portugueses,
holandeses, franceses e alemães. No continente americano, Obama receberia
66% dos votos dos canadianos e de 65% dos votos dos brasileiros e Romney
apenas 7%.
Os únicos países onde Romney é favorito são a Geórgia (36%), Macedónia
(30%), Israel (65%) e Paquistão (41%).
Nos EUA, nem todos pensam que as nossas vidas - e talvez as nossas mortes -
dependem em grande medida do inquilino da Casa Branca e alguns sentem-se
seduzidos pela promessa de Romney de que vai convencer os seus amigos
milionários a criar milhões de empregos.
Mas quando um político em campanha fala em criar empregos está é a
referir-se ao seu próprio emprego. Os amigos milionários de Romney (e ele próprio),
têm as fortunas a render em paraísos fiscais e pouco investem nos EUA.
Números do Departamento de Comércio revelam que as grandes companhias
americanas cortaram 2,9 milhões de empregos nos EUA entre 2000 e 2009 e criaram
2,4 milhões de empregos no estrangeiro. As pequenas empresas é que são
responsáveis pela maioria (60%) dos novos postos de trabalho nos EUA e são a
espinha dorsal da economia do país.
Quem conhece bem Romney é António Cabral, deputado estadual de
Massachusetts, que fez as seguintes declarações ao jornal Público, de Lisboa: “Na minha
região, no estado de Massachusetts, temos um conhecimento profundo de Mitt
Romney e quando foi governador desse estado foi sem dúvida um dos
governadores mais anti-imigrante das últimas décadas (...) Na minha opinião, se tiver
sucesso em 6 de novembro levará essa maneira de pensar e de abordar o assunto
da imigração a nível nacional e isso não é bom para a comunidade
luso-americana, não é bom para o país”.
Refira-se que Romney foi o 70º governador de Massachusetts (2003-2006), mas
não resolveu o problema do desemprego e a sua principal preocupação foi
privatizar as universidades.
Acresce que faço parte dos 47% de estadunidenses que Romney considera
parasitas.
Portanto, o que vos posso dizer é que não sei quem votará Obama, mas sei
quem não votará Romney.

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Luso-descendentes no Congresso

Há presentemente três luso-descendentes no Congresso dos EUA, um senador e
dois congressistas, todos eles bisnetos de açorianos. São eles o senador Pat
Toomey, republicano da Pennsylvania que não tem eleições este ano e os
congressistas da Califórnia Devin Nunes, republicano e Jim Costa, democrata,
ambos rancheiros no Vale de San Joaquim e que tanto sacam leite às vacas como
votos aos vaqueiros. Há ainda outros dois candidatos, Alex Pires, candidato
ao Senado pelo Delaware e David Valadão, candidato à Câmara de Representantes
pelo 21º Distrito da Califórnia.
O único com o lugar garantido, uma vez que só tem eleições em 2016, é Pat
Toomey, nascido em 1961 em Providence, RI e cuja mãe, Mary Ann Andrews
(Andrade) é neta de açorianos. De 1999 a 2005 foi congressista pelo 15º Distrito
da Pennsylvania e após uma travessia do deserto, foi eleito para o Senado em
2010. É um republicano da linha dura num estado tradicionalmente liberal. A
revista Mother Jones diz que “Pat é tão ultraconservador que mais parece um
candidato do Texas” e o site The Daily Beast considera que “fundou o Tea
Party quando ainda não existia Tea Party”.
Candidato independente ao Senado pelo Delaware, o advogado Alexander J.
Pires, 65 anos, tem raízes em Easton, MA, onde nasceu em 1947, o segundo dos
cinco filhos do casal Alexander J. Pires Sr. e Mary Barros Pires, ambos filhos
de imigrantes. Ainda tem um irmão e duas irmãs em Easton, onde a família
possui a Pires Hardware.
Alex Pires fez fortuna em processos com indemnizações de muitos milhões e
hoje é proprietário de discotecas, restaurantes e hotéis em Washington, DC,
Virginia, Maryland e Delaware. Fundou também o Community Bank Delaware,
seguindo o exemplo de um tio que fundou o North Easton Savings Bank.
Dos lusodescendentes candidatos à Câmara dos Representantes, o republicano
Devin Nunes, 39 anos, a concorrer pelo 21º distrito do estado da Califórnia,
é o que parece ter a reeleição assegurada visto estar num distrito
fortemente republicano. Foi eleito a primeira vez aos 25 anos, um dos congressistas
mais jovens na história dos EUA. Proprietário da Nunes Family Farm, Nunes
foi considerado pela revista Times uma das 40 promessas da política
norte-americana, mas o apoio do movimento conservador Tea Party não é das companhias
mais recomendáveis para os eleitores da Califórnia.
Jim Costa (o verdadeiro nome é Manuel James Costa), esteve 24 anos na
legislatura estadual na Califórnia e foi eleito para o Congresso em 2005 pelo
Distrito 20. A sua reeleição foi complicada em 2010 e a sua derrota pelo
produtor de cerejas Indy Vidak chegou a ser noticiada, mas os eleitores residentes
fora da Califórnia que votaram pelo correio asseguraram-lhe o quarto
mandato. Em 2012, Jim Costa concorre por um novo distrito, o número 16 e as coisas
não estão fáceis. Se a reeleição falhar, Costa vai dedicar-se ao seu rancho
em Kearney.
Dennis Cardoza, um democrata demasiado conservador para os padrões da
Califórnia, representou o Distrito 18 desde 2003 e foi reeleito quatro vezes, mas
decidiu resignar em 12 de agosto último alegando razões familiares, mas que
poderão ter sido as alterações introduzidas no 18º Distrito, que lhe
retirou as áreas com maior tendência democrática. Cardoza trabalha presentemente
para a firma de advogados Manatt, Phelps & Phelps, fundada por Charles Taylor
Manatt, que foi presidente do comité nacional do Partido Democrata.
O provável sucessor de Cardoza no Congresso é o republicano David Valadão,
natural de Hanford e presentemente no primeiro mandato como deputado
estadual pelo 30º Distrito da Califórnia. Neto de açorianos da Terceira (o seu avô
materno era o famoso Tio Zé Grande da Ribeirinha, que media mais de seis
pés), quando não está em Sacramento, Valadão gere a Valadão Dairy de sociedade
com os irmãos.
Com apenas 34 anos, David Valadão está bem posicionado para chegar ao
Congresso em novembro, diferindo dos outros eleitos lusodescendentes por falar
português fluentemente.



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