quarta-feira, 1 de agosto de 2012

aonde chega o fumo da casa (GALIZA)


Joám Lopes Facal

Aonde chega o fumo da casa?

A sabedoria diferencia-se do simples conhecimento em que oferece critérios, valores que orientan a nossa vida. Nela afinca a nossa trama interpretativa, o solo firme das nossas convicçons.
A minha infáncia transcorreu na aldeia; umha experiência que marcou a minha vida. Lembro agora umha sábia sentença, procedente de um velho petrúcio da aldeia, que ouvim referir muitas vezes ao meu pai: “Aonde chega o fume da casa é sempre terra de primeira”. A afirmaçom está cheia de sentido: o que temos de mais próprio, o que nos pertence, o domicílio familiar nom remata nas paredes da casa.
Lembro agora umha sábia sentença, procedente de um velho petrúcio da aldeia, que ouvim referir muitas vezes ao meu pai: “Aonde chega o fume da casa é sempre terra de primeira”
É umha sentença de sabedoria. Oferece-nos orientaçom moral, explora os limites da nossa identidade, abre-nos ao entorno, questiona as fronteiras que nos impomos. E, sobre todo, nom exige nada, apenas sugire como querem os mestres Zem. O traçado dos limites confia-se ao fumo, nom à mirada. O convite que se nos fai é a considerarmos próprio o nosso entorno, nom a demarcá-lo para apropriarmo-lo. Umha sugestom imperativa, autêntica sabedoria.

 

Aonde chega o fumo da Galiza?

Os que fiam no poder da visom nom tenhem dúvida: o limite passa polos montes de Cervantes e a Pena Trevinca. Que a resposta é errada é fácil de provar. Os símbolos da Galiza, os símbolos nada menos, nascérom fora destes confins. O Hino e a Real Academia Galega na Havana, o Sempre em Galiza em Buenos Aires. Em contraste com outras estirpes e casais o nosso fumo é mui expansivo, mesmo podemos dizer que tem ares de grandeza, vocaçom global, agora que o conceito está na moda.
Muito lhe deve Galiza à sua diáspora. Temos experimentado que mais aló do confim paroquial hai mundo e mundo. Dizia-o Rosalia: “Ánimo, companheiros, toda a terra é dos homes. Aquel que nom veu mais que a própria a ignoráncia o consome”. O poema titula-se, lembramos, Para A Havana.
O mundo muda dia a dia, novos países convocam o futuro. Seria funesto nom percebê-lo. É neles onde esperam as novas instituiçons mobilizadoras, os livros que ham de instruir às juventudes galegas de amanhá
Faltam-nos hoje referências foráneas poderosas: Cuba, A Argentina; a nesma Suiça perdérom o atractivo que tivérom em tempos. O mundo mudou muito desde os princípios do XX e os esperançadores sessenta quando as repúblicas americás ou a Europa da prosperidade cresciam com vigor. No entanto, Galiza foi perdendo gentes e folgos. Hoje achamo-la exausta. Nem hinos nem instituiçons nem livros convocam já a ninguém no país das expectativas decrescentes que habitamos. E contodo, o mundo muda dia a dia, novos países convocam o futuro. Seria funesto nom percebê-lo. É neles onde esperam as novas instituiçons mobilizadoras, os livros que ham de instruir às juventudes galegas de amanhá.
O fumo da Galiza arremoinha hoje com força na volta de pujantes paises da nossa propria fala. Falámos naturalmente do Brasil que pasou de ser o país do futuro a ser parte do mesmo futuro. Manhá falaremos talvez de Angola. Som países imensos, em crescimento, respeitados, com políticas próprias, que estám marcando já o novo século.
O fumo da Galiza arremoinha hoje com força na volta de pujantes paises da nossa propria fala. Falámos naturalmente do Brasil que pasou de ser o país do futuro a ser parte do mesmo futuro
Engana-se quem pense que estamos a fazer literatura. Falamos de economia. Engana-se quem pense que falamos apenas de economia, referimo-nos ao nosso idioma e cultura. Á lareira onde sempre afumeou o nosso lume.
Um exemplo para a reflexom. O recém eleito presidente da Real Academia Espanhola declarava hai uns dias que considerava umha honra ter sido eleito como substituto da malograda candidatura do grande escritor peruano Vargas Llosa. Afirmou também que teria como prioridade prestar especial atençom ao espanhol americano. Boa liçom. Pergunto: quantos especialistas existem na Real Academia Galega em literatura portuguesa e brasileira? Quantos dedicam os seus desvelos às variantes do nosso mesmo idioma em plena expansom? Ao galego do futuro?
O fumo da casa marca a direcçom. Nom demoremos demasiado sachando na cortinha e no jardim. Hai terra e terra em volta

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