Alexandre Herculano
[Lisboa, 1810 - Vale de Lobos/Santarém, 1877]
[Lisboa, 1810 - Vale de Lobos/Santarém, 1877]
De seu nome completo Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, foi, ao lado de Almeida Garrett, o fundador do romantismo em Portugal. Poeta, romancista e historiador, introduziu entre nós o método da elaboração científica da história, que supera a tradição narrativa da crónica, que dominava até então.
Descendente de pedreiros e mestres de obras, era filho de um modesto funcionário da Fazenda, não tendo podido fazer estudos universitários, pois cedo foi obrigado a ganhar a vida. Seguiu o curso de Humanidades da Congregação do Oratório e estudou Paleografia ou Diplomática, como então se dizia, na Torre do Tombo, desde 1830 até Março de 1831, tendo aprendido por conta própria inglês e alemão.
A sua simpatia pelas ideias liberais torna-o suspeito ao regime miguelista, contra o qual conspira, e, para escapar à forca, emigra para Inglaterra (1831). Esteve em Plymouth, onde conheceu a penúria, e desloca-se depois para Rennes. Aí lia muito, servindo-se da biblioteca pública, tomava notas e meditava. Em 1832 segue para a ilha Terceira e daí vai incorporado na expedição dos 7500, comandada por D. Pedro, que desembarca no Mindelo. Bate-se valorosamente no cerco do Porto, dividindo o tempo entre a linha de fogo e os velhos arquivos da cidade.
Em 1833 entra para a Biblioteca Pública do Porto como segundo bibliotecário municipal. Dedica-se então intensamente ao estudo e colige e redige poesia, onde se reflectem as tensões da nova sociedade que nasce.
Após a vitória liberal na guerra civil de 1832-1834, dava-se uma cisão no bloco político que alcançara o poder. A nova aristocracia política pretendia que os bens nacionais revertessem em proveito próprio e no das suas clientelas; a pequena burguesia, afastada desses interesses económicos, desejava a continuação do movimento revolucionário segundo a linha do vintismo. A Revolução de Setembro (1836) dava à segunda facção o triunfo sobre a primeira. Herculano, que havia jurado a Carta Constitucional, demite-se e abala para Lisboa.
Os seus livros de poemas, A Voz do Profeta (1836) e A Harpa do Crente (1838), impregnados de biblismo, combatem simultaneamente o absolutismo e o democratismo setembrista e tentam esboçar uma doutrina que servisse o cartismo, movimento heterogéneo e sem uma ideologia definida.
Em Lisboa dedica-se ao jornalismo, dirigindo a revista O Panorama (1836-1843). Em 1839 é nomeado bibliotecário-mor das Bibliotecas da Ajuda e das Necessidades por D. Fernando II, marido de D. Maria II. Herculano tem então os meios necessários, à tranquilidade e à segurança económica que lhe permitem consagrar-se à investigação histórica. Dispõe de uma vasta documentação e vive muito perto das fontes que utiliza.
Em 1842 publica as suas «Cartas sobre a História de Portugal» na Revista Universal Lisbonense, dirigida por António Feliciano de Castilho. Nelas expõe a orientação que deverá presidir à elaboração de uma História de Portugal. Herculano preconiza que se abandone o anacronismo e se opte pelo conteúdo local do documento. Propõe a abolição das dinastias como vector cronológico e a sua substituição pelos grandes períodos, quais são a Idade Média e o Renascimento. Advoga numa carta dirigida a Oliveira Martins, o estudo da sociedade, dos costumes, das instituições e das ideias como o único processo válido, capaz de captar a realidade viva do passado. Para ele a acção dos indivíduos insere-se no tecido social, e é neste e a partir deste que se define a história política do «grande indivíduo moral chamado povo ou nação».
O seu objectivo era, portanto, fazer a história do povo, seguindo na esteira do que havia feito Thierry na França. O povo como entidade era constituído para Herculano pelos cidadãos activos: aqueles que possuem a riqueza e a ilustração.
No entanto, e embora esses fossem os seus objectivos, dá-se conta de que tinha todos os materiais necessários para a história política. E é esta que ele escreverá. A empresa começa, assim, sem um plano muito definido, devendo a sua preparação datar de 1840, ou 1842 a 1846, pouco mais de quatro a seis anos.
É durante este período que Herculano dá ainda a lume os seus romances históricos: Eurico, o Presbítero (1844) e O Monge de Cister ou a Época de D. João I(1848), constituindo um díptico que enfaixou sob a designação de O Monasticon. Aí explora com subtileza e calor poético o conflito entre o amor e as exigências dos votos religiosos. Em O Pároco de Aldeia, igualmente saído em 1844 (n' O Panorama), traça o autor um quadro idílico da vida rural, conferindo à figura idealizada do padre o papel que ele desejava para o clero na obra de reconstrução da sociedade liberal.
A edição de outro romance histórico, O Bobo (1128), incluído primeiro na mesma revista (1843), é de 1878, já póstuma, as Poesias têm a data de 1850, e as Lendas e Narrativas, 2 vols., saíram em 1851.
Em 1846 publica o primeiro volume da sua História de Portugal – projecto que realizara num período relativamente breve de sete anos, pois o conclui em 1853. A sua História compreende o período que vai desde o começo da monarquia até ao fim do reinado de Afonso III, quando os municípios obtêm do rei a representação às Cortes. Nela desmitifica mitos patrioteiros, excluindo da sua óptica de historiador qualquer episódio do maravilhoso pagão, cristão ou popular, sem exame crítico. Ao contestar a validade histórica do milagre de Ourique, Herculano suscitou involuntariamente o ódio do clero. Atacado do púlpito, o historiador viu-se obrigado a defender a sua posição em peças que ficaram célebres pelo rigor lógico da argumentação, pelo seu saber e pelo vigor polémico (Eu e o Clero, Solemnia Verba, 1850).
Como a campanha contra ele não abrandasse, Herculano, apenas terminou a História de Portugal, volta à liça, um ano depois, com o primeiro volume da História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-1859). Obra polémica, ela interrompeu o projecto da continuação da História de Portugal, que conheceu quatro edições em vida do autor.
Apesar dos dissabores sofridos e da agitação política em que se viu envolvido, Herculano exprime por mais de uma vez o desejo de prosseguir o seu generoso projecto inicial. O historiador não era, porém, um erudito que desdenhasse a acção política. Opondo-se vigorosamente ao governo de Costa Cabral, fundou O País (1851) e O Português (1853) – periódicos destinados a criar uma corrente de opinião pública favorável às reformas que ele reputava de essenciais. De 1840 a 1841 fora deputado e o seu interesse pela coisa pública, ao longo da vida, reteve-o sempre na linha de intervenção.
Mas as polémicas em que tomou parte por causa da sua História de Portugal, as pressões ideológicas de todo o género, que sofreu e se exerceram até junto do rei, abalaram-lhe o ânimo e desiludiram-no. Por outro lado, depara-se com limitações materiais graves no domínio da investigação. Dispunha de uma base sólida para a história política até 1279. Todavia, a documentação para o reinado de D. Dinis é muito abundante e variada, tornando-se muito mais difícil de analisar e de sintetizar. Com D. Afonso III concluía-se o processo da constituição do direito municipal e Herculano poderia argumentar que o que mais lhe interessava estava feito. Faltava, no entanto, no seu projecto, tal como o havia enunciado, o estudo das mentalidades, que só abordará pelo viés da ficção, nos seus romances. Ciente, embora, dos obstáculos, a ideia de prosseguir a obra iniciada não o abandona. Sente-se encorajado pelo interesse que ao projecto dedica D. Pedro V. A História de Portugal fora também escrita por Herculano como guia de exemplo cívico e moral, no género do regimento ou espelho medievais, que pudesse servir ao jovem príncipe na sua futura governança do reino.
Após vinte anos de labor (1839-1859), A. Herculano deixa o seu cargo de bibliotecário da Ajuda e, com os direitos de autor pagos pela sua editora, compra a quinta de Vale de Lobos, na Azóia, a seis quilómetros de Santarém (1859). O historiador torna-se lavrador, empenhado na aplicação de novas técnicas agrícolas, chegando a ser premiado num concurso internacional pela qualidade do seu azeite. Casa-se (1-5-1867) aos 57 anos, com D. Mariana Hermínia Meira, de quem se enamorara aos 26 anos, e que acatara o sacrifício, que ele lhe pedira, na demora do noivado, para poder realizar a sua obra. As novas ocupações, a morte de D. Pedro V, vitimado pela peste (1861), as desilusões acumuladas, minam a vontade de Herculano, que, nas horas consagradas ao trabalho intelectual, adia a continuação da sua História de Portugal e vai ordenando e revendo os seus estudos dispersos. À notícia da pneumonia que de súbito o acometeu, acorreram os amigos fiéis a Vale de Lobos, onde se extinguiu, com pouco mais de 67 anos, o escritor cuja vida ficou como um exemplo de grandeza cívica e intelectual.
A maior influência de Herculano na cultura portuguesa é como historiador. Organizou colecções documentais, Portugaliae Monumenta Historica (1856 1873), indispensáveis ao estudo da nossa história. A sua História de Portugal ocupa ainda hoje um lugar primacial como síntese da história política e das instituições nos séculos XII e XIII. Nela se reconhecem hoje lacunas graves, em especial no tocante à história cultural, à história demográfica e à problemática económica. Não se aceita que a Nação tenha sido construída progressivamente a partir da decisão mais ou menos arbitrária de um chefe de Estado. E a tese, que tão vigorosamente defendeu, da não existência do feudalismo em Portugal é considerada pelos medievalistas contemporâneos altamente controversa.
Dos estudos dispersos, que Herculano ia reunindo, alguns saíram ainda em vida dele, mas a colecção completa foi publicada postumamente pelos editores legatários: Opúsculos (10 vols., 1873-1908). Uma nova edição crítica, organizada por Jorge Custódio e José Manuel Garcia, foi publicada pela Presença (vols. I a V, 1982-1986). A Bertrand teve a mesma obra em curso de publicação. Sobre a figura e a obra do escritor, são indispensáveis os estudos de Vitorino Nemésio: A Mocidade de Herculano e os prefácios aos volumes das suas Obras Completas.
Descendente de pedreiros e mestres de obras, era filho de um modesto funcionário da Fazenda, não tendo podido fazer estudos universitários, pois cedo foi obrigado a ganhar a vida. Seguiu o curso de Humanidades da Congregação do Oratório e estudou Paleografia ou Diplomática, como então se dizia, na Torre do Tombo, desde 1830 até Março de 1831, tendo aprendido por conta própria inglês e alemão.
A sua simpatia pelas ideias liberais torna-o suspeito ao regime miguelista, contra o qual conspira, e, para escapar à forca, emigra para Inglaterra (1831). Esteve em Plymouth, onde conheceu a penúria, e desloca-se depois para Rennes. Aí lia muito, servindo-se da biblioteca pública, tomava notas e meditava. Em 1832 segue para a ilha Terceira e daí vai incorporado na expedição dos 7500, comandada por D. Pedro, que desembarca no Mindelo. Bate-se valorosamente no cerco do Porto, dividindo o tempo entre a linha de fogo e os velhos arquivos da cidade.
Em 1833 entra para a Biblioteca Pública do Porto como segundo bibliotecário municipal. Dedica-se então intensamente ao estudo e colige e redige poesia, onde se reflectem as tensões da nova sociedade que nasce.
Após a vitória liberal na guerra civil de 1832-1834, dava-se uma cisão no bloco político que alcançara o poder. A nova aristocracia política pretendia que os bens nacionais revertessem em proveito próprio e no das suas clientelas; a pequena burguesia, afastada desses interesses económicos, desejava a continuação do movimento revolucionário segundo a linha do vintismo. A Revolução de Setembro (1836) dava à segunda facção o triunfo sobre a primeira. Herculano, que havia jurado a Carta Constitucional, demite-se e abala para Lisboa.
Os seus livros de poemas, A Voz do Profeta (1836) e A Harpa do Crente (1838), impregnados de biblismo, combatem simultaneamente o absolutismo e o democratismo setembrista e tentam esboçar uma doutrina que servisse o cartismo, movimento heterogéneo e sem uma ideologia definida.
Em Lisboa dedica-se ao jornalismo, dirigindo a revista O Panorama (1836-1843). Em 1839 é nomeado bibliotecário-mor das Bibliotecas da Ajuda e das Necessidades por D. Fernando II, marido de D. Maria II. Herculano tem então os meios necessários, à tranquilidade e à segurança económica que lhe permitem consagrar-se à investigação histórica. Dispõe de uma vasta documentação e vive muito perto das fontes que utiliza.
Em 1842 publica as suas «Cartas sobre a História de Portugal» na Revista Universal Lisbonense, dirigida por António Feliciano de Castilho. Nelas expõe a orientação que deverá presidir à elaboração de uma História de Portugal. Herculano preconiza que se abandone o anacronismo e se opte pelo conteúdo local do documento. Propõe a abolição das dinastias como vector cronológico e a sua substituição pelos grandes períodos, quais são a Idade Média e o Renascimento. Advoga numa carta dirigida a Oliveira Martins, o estudo da sociedade, dos costumes, das instituições e das ideias como o único processo válido, capaz de captar a realidade viva do passado. Para ele a acção dos indivíduos insere-se no tecido social, e é neste e a partir deste que se define a história política do «grande indivíduo moral chamado povo ou nação».
O seu objectivo era, portanto, fazer a história do povo, seguindo na esteira do que havia feito Thierry na França. O povo como entidade era constituído para Herculano pelos cidadãos activos: aqueles que possuem a riqueza e a ilustração.
No entanto, e embora esses fossem os seus objectivos, dá-se conta de que tinha todos os materiais necessários para a história política. E é esta que ele escreverá. A empresa começa, assim, sem um plano muito definido, devendo a sua preparação datar de 1840, ou 1842 a 1846, pouco mais de quatro a seis anos.
É durante este período que Herculano dá ainda a lume os seus romances históricos: Eurico, o Presbítero (1844) e O Monge de Cister ou a Época de D. João I(1848), constituindo um díptico que enfaixou sob a designação de O Monasticon. Aí explora com subtileza e calor poético o conflito entre o amor e as exigências dos votos religiosos. Em O Pároco de Aldeia, igualmente saído em 1844 (n' O Panorama), traça o autor um quadro idílico da vida rural, conferindo à figura idealizada do padre o papel que ele desejava para o clero na obra de reconstrução da sociedade liberal.
A edição de outro romance histórico, O Bobo (1128), incluído primeiro na mesma revista (1843), é de 1878, já póstuma, as Poesias têm a data de 1850, e as Lendas e Narrativas, 2 vols., saíram em 1851.
Em 1846 publica o primeiro volume da sua História de Portugal – projecto que realizara num período relativamente breve de sete anos, pois o conclui em 1853. A sua História compreende o período que vai desde o começo da monarquia até ao fim do reinado de Afonso III, quando os municípios obtêm do rei a representação às Cortes. Nela desmitifica mitos patrioteiros, excluindo da sua óptica de historiador qualquer episódio do maravilhoso pagão, cristão ou popular, sem exame crítico. Ao contestar a validade histórica do milagre de Ourique, Herculano suscitou involuntariamente o ódio do clero. Atacado do púlpito, o historiador viu-se obrigado a defender a sua posição em peças que ficaram célebres pelo rigor lógico da argumentação, pelo seu saber e pelo vigor polémico (Eu e o Clero, Solemnia Verba, 1850).
Como a campanha contra ele não abrandasse, Herculano, apenas terminou a História de Portugal, volta à liça, um ano depois, com o primeiro volume da História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-1859). Obra polémica, ela interrompeu o projecto da continuação da História de Portugal, que conheceu quatro edições em vida do autor.
Apesar dos dissabores sofridos e da agitação política em que se viu envolvido, Herculano exprime por mais de uma vez o desejo de prosseguir o seu generoso projecto inicial. O historiador não era, porém, um erudito que desdenhasse a acção política. Opondo-se vigorosamente ao governo de Costa Cabral, fundou O País (1851) e O Português (1853) – periódicos destinados a criar uma corrente de opinião pública favorável às reformas que ele reputava de essenciais. De 1840 a 1841 fora deputado e o seu interesse pela coisa pública, ao longo da vida, reteve-o sempre na linha de intervenção.
Mas as polémicas em que tomou parte por causa da sua História de Portugal, as pressões ideológicas de todo o género, que sofreu e se exerceram até junto do rei, abalaram-lhe o ânimo e desiludiram-no. Por outro lado, depara-se com limitações materiais graves no domínio da investigação. Dispunha de uma base sólida para a história política até 1279. Todavia, a documentação para o reinado de D. Dinis é muito abundante e variada, tornando-se muito mais difícil de analisar e de sintetizar. Com D. Afonso III concluía-se o processo da constituição do direito municipal e Herculano poderia argumentar que o que mais lhe interessava estava feito. Faltava, no entanto, no seu projecto, tal como o havia enunciado, o estudo das mentalidades, que só abordará pelo viés da ficção, nos seus romances. Ciente, embora, dos obstáculos, a ideia de prosseguir a obra iniciada não o abandona. Sente-se encorajado pelo interesse que ao projecto dedica D. Pedro V. A História de Portugal fora também escrita por Herculano como guia de exemplo cívico e moral, no género do regimento ou espelho medievais, que pudesse servir ao jovem príncipe na sua futura governança do reino.
Após vinte anos de labor (1839-1859), A. Herculano deixa o seu cargo de bibliotecário da Ajuda e, com os direitos de autor pagos pela sua editora, compra a quinta de Vale de Lobos, na Azóia, a seis quilómetros de Santarém (1859). O historiador torna-se lavrador, empenhado na aplicação de novas técnicas agrícolas, chegando a ser premiado num concurso internacional pela qualidade do seu azeite. Casa-se (1-5-1867) aos 57 anos, com D. Mariana Hermínia Meira, de quem se enamorara aos 26 anos, e que acatara o sacrifício, que ele lhe pedira, na demora do noivado, para poder realizar a sua obra. As novas ocupações, a morte de D. Pedro V, vitimado pela peste (1861), as desilusões acumuladas, minam a vontade de Herculano, que, nas horas consagradas ao trabalho intelectual, adia a continuação da sua História de Portugal e vai ordenando e revendo os seus estudos dispersos. À notícia da pneumonia que de súbito o acometeu, acorreram os amigos fiéis a Vale de Lobos, onde se extinguiu, com pouco mais de 67 anos, o escritor cuja vida ficou como um exemplo de grandeza cívica e intelectual.
A maior influência de Herculano na cultura portuguesa é como historiador. Organizou colecções documentais, Portugaliae Monumenta Historica (1856 1873), indispensáveis ao estudo da nossa história. A sua História de Portugal ocupa ainda hoje um lugar primacial como síntese da história política e das instituições nos séculos XII e XIII. Nela se reconhecem hoje lacunas graves, em especial no tocante à história cultural, à história demográfica e à problemática económica. Não se aceita que a Nação tenha sido construída progressivamente a partir da decisão mais ou menos arbitrária de um chefe de Estado. E a tese, que tão vigorosamente defendeu, da não existência do feudalismo em Portugal é considerada pelos medievalistas contemporâneos altamente controversa.
Dos estudos dispersos, que Herculano ia reunindo, alguns saíram ainda em vida dele, mas a colecção completa foi publicada postumamente pelos editores legatários: Opúsculos (10 vols., 1873-1908). Uma nova edição crítica, organizada por Jorge Custódio e José Manuel Garcia, foi publicada pela Presença (vols. I a V, 1982-1986). A Bertrand teve a mesma obra em curso de publicação. Sobre a figura e a obra do escritor, são indispensáveis os estudos de Vitorino Nemésio: A Mocidade de Herculano e os prefácios aos volumes das suas Obras Completas.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990
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