quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

"Manter o país unido" – entrevista a Lopo do Nascimento


rEVISTA ÁFRICA21

"Manter o país unido" – entrevista a Lopo do Nascimento

"Da mesma forma que atualmente a geração jovem tem os seus sonhos em relação ao futuro, nós também tínhamos. Mas depois, na realidade, há sempre uma diferença".
Redação revista África21
 
Brasília - Antigo combatente nacionalista e um dos mais importantes atores políticos angolanos nos últimos 36 anos, Lopo do Nascimento, antigo primeiro-ministro, esteve por dentro de alguns dos principais acontecimentos da história recente do país. 

Em entrevista à África21, dá a sua opinião sobre alguns desses acontecimentos, como as divisões históricas dentro do MPLA, as condições de ascensão de Angola à independência, o 27 de Maio, a guerra, os acordos de paz com a UNITA e as relações com Portugal. Atualmente deputado e empresário, espera que a juventude mantenha a unidade e faça Angola avançar.

África21 - Trinta e seis anos depois da independência, Angola está como os «combatentes da liberdade» sonharam?

Lopo do Nascimento - Entre o sonho e a realidade há uma diferença. Eu pertenço àqueles que Pepetela chamou a geração da utopia. Há um poema português que diz que o sonho comanda a vida. Da mesma forma que atualmente a geração jovem tem os seus sonhos em relação ao futuro, nós também tínhamos. Mas depois, na realidade, há sempre uma diferença, em função daquilo que se passa concretamente e da realidade do momento.

Quais os aspetos positivos que realça nestes 36 anos?

Uma questão que deve ser realçada é a capacidade que a população de Angola teve de suportar uma guerra fratricida durante tantos anos e a atitude que tem depois de terminada a guerra. Outro aspeto foi manter a integridade e a unidade do país, pois, quando se declarou a independência, a 11 de Novembro, havia dois governos, duas repúblicas. A República Popular de Angola e a República Democrática de Angola. O MPLA ocupava um terço do território angolano. O facto de se ter ocupado o território na sua totalidade, de haver apenas uma república e um governo é uma das grandes conquistas do povo. A terceira
questão que também ressalto diz respeito a se ter conseguido criar – esta é uma questão nunca acabada, vai evoluindo sempre – uma consciência nacional.

Dois fatores contribuíram bastante para essa consciência nacional que já existe de Cabinda ao Cunene. Primeiro foi a guerra. A guerra conseguiu unir pessoas. Os soldados vinham do norte, do sul, do leste e foram esbatendo qualquer visão mais restrita. E a segunda foi a utilização da língua portuguesa. Não é a nossa língua de origem, mas foi um fator de união entre todos nós, independentemente dos fatores materiais. Os fatores materiais são importantes, mas para mim estas questões são mais importantes.

E os mais negativos?

Há muitas coisas negativas, porque cometemos erros, mas o balanço é positivo. Foi possível fazer mais acertos que erros. É preciso ver que estamos em paz apenas há dez anos e partimos duma base muito mais baixa da que tínhamos em 1975. Nessa altura tivemos problemas resultantes da saída das pessoas que tinham competência, os quadros, mas não tínhamos o país destruído como em 1992. Por isso é que logo no início registámos índices muito altos de crescimento.

Leia na íntegra a entrevista dada a João Melo e Adriano Sousa, na edição de dezembro-janeiro da África21

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