A eugenia (em inglês eugenics), muito esquematicamente, consiste na aplicação de políticas públicas para a melhora genética de uma população. Galton definiu-a como “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente”. Introduzida polo darwinismo social, teve o apoio de economistas liberais como Keynes, socialistas fabianos como H.G. Wells ou conservadores como Churchill. Qualidade genética estaria relacionada com classe social, defendendo-se a esterilização dos grupos inferiores (i.e., mais pobres, na lógica industrial capitalista) para o benefício da sociedade.
Em termos gerais, este pensamento associa-se às formulações racialistas do século XIX e primeira metade do século XX assim como à sua aplicação política, principalmente na Alemanha nacional-socialista e nos Estados Unidos (neste caso até os anos sessenta). Mas como doutrina de “higiene pública” teve grande seguimento mesmo entre pensadores de esquerda como Salvador Allende (vejam-se as obras de Victor Farías) ou entre o anarquismo (vejam-se os acordos do IV Congresso da CNT celebrado em 1936). A “Politica de Branqueamento” praticada no Brasil apoia-se em teses similares (O espetáculo das raças de Lilia Schwarcz é especialmente ilustrativo).
Embora tenha surgido do geneticismo (e, por tanto, do determinismo biológico), a própria definição oferecida de eugenia por Galton permite a sua extensão para a melhora de qualidades “mentais”, entre as quais se tem enquadrado a língua. As teorias de relatividade linguística de Sapir e Whorf, por exemplo, estabelecem certa base para o desenvolvimento de uma eugenia linguística, pela qual algumas línguas seriam mais apropriadas para certos usos, enquanto outras não seriam válidas para o seu uso pleno, devendo limitar-se o seu cultivo e mesmo proceder à sua esterilização.
A eugenia linguística teve historicamente um forte seguimento na Galiza, onde desde o “Ressurgimento” se tem privilegiado uma visão da língua ligada aos usos folclóricos (florais, poéticos, …) mas afastada do cultivo ensaístico e científico, apenas rachada pela decidida coragem do Seminário de Estudos Galegos. Boa parte das “elites” que administram o país continua achando que o português da Galiza pode ser bom para tratar com o gado, ou mesmo para a poesia folclórica, mas não para a ciência, meios de comunicação ou usos “elevados”. Esta doutrina exerce uma pressão fundamental na vertiginosa queda de falantes em todos os setores e, em especial, entre os jovens.
O “Decreto do Plurilingüismo no Ensino”, aprovado polo atual governo autonómico, é mais um reflexo da política de eugenia linguística. A consequência prática desta medida legislativa é a primazia do espanhol em matérias fundamentais como matemáticas, ciências sociais ou física e química, enquanto a língua da Galiza é relegada a disciplinas consideradas periféricas ou marginais (artes, educação física, empreendedorismo, etc.). Assim, continua fomentando-se publicamente a visão de que o português da Galiza dificulta ou impede a progressão e êxito social, sendo ainda uma língua de Untermenschen que cumpriria esterilizar. A língua própria pode ser, em palavras do atual Conselheiro da Educação, “un muro para el futuro”. Ou, na visão expressada polo Conselheiro da Cultura: “La cultura gallega está muy bien pero limita”.
Conscientes das profundas verbas de Castelão, “se ainda somos galegos é por obra e graça do idioma”, os principais promotores da eugenia linguística na Galiza sabem que o linguicídio é passo fundamental e imprescindível para o etnicídio ou genocídio cultural do povo galego. Não é estranho que as próprias elites culturais galegas, totalmente dependentes dos subsídios e subornos eugenistas, continuam fieis à sua posição colaboracionista justificando a lógica desesperada de fugir e ocultar o caminho mais simples, natural e viável para a dignidade e primazia da nossa língua: a via extensa e útil da Lusofonia.
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