Li
numa edição recente do DI que as bruxas chegaram a
Florianópolis com os açorianos que ali aportaram em meados
do século XVIII. Esta frase, a propósito de um livro para
crianças lançado recentemente pelo escritor brasileiro
Cláudio Fragata, cujo título – Uma História
Bruxólica –
não engana ninguém, pôs-me em pé os poucos cabelos que me
restam.
Uma sensação que se me afigurou mais aguda depois de ter
lido o romance The
Undiscovered Island [A Ilha Encoberta],
do escritor americano Darrell Kastin, onde tropeçamos em
casas assombradas, navios fantasmas, sereias merencóricas e
descendentes de Inês de Castro que deambulam por estas
nossas ilhas, sobretudo no Pico e no Faial, em busca de
homens desaparecidos no mar e de papéis enigmáticos por eles
deixados em terra (este romance muito interessante e bem
feito, apesar de publicado em 2009, ainda não teve, que eu
saiba, uma tradução para Português, sendo de supor que os
professores de “literatura açoriana” da Universidade dos
Açores já terão metido mão à obra, como seria seu mister).
Mas que não se enganem os meus queridos leitores: se eu
fiquei de cabelos em pé (e mais: com pele de galinha por
todo o corpo) não foi com medo das bruxas que os nossos
antepassados exportaram para o Brasil, ou dos fantasmas que
escritores norte-americanos com ascendência açoriana teimam
em vir desmascarar nas nossas Ilhas Afortunadas. Não
senhores! Eu fiquei assim, porque me apercebi de que andamos
a desperdiçar capital.
Ou seja, e no que diz respeito às bruxas, e embora o
escritor brasileiro não diga que as bruxas açorianas
emigraram todinhas para Santa Catarina (acho que sempre nos
ficaram algumas por cá, embora, provavelmente, não as de
melhor qualidade), a verdade é que se um povo despreza
aquilo que de melhor tem e o deixa partir-se portas afora –
como terá acontecido com as nossas simpáticas bruxinhas dos
tempos pombalinos, ou, mais recentemente, com a nossa
agricultura – poderá, no mínimo, ser apelidado de louco:
tanta falta que nos faz um bom grupo de bruxas que nos
ajudem a resolver os nossos problemas actuais… E sejamos
honestos: não creio que o programa eleitoral da dr.ª Berta
Cabral, por muitos plim-plins que ela faça com a sua varinha
mágica, consiga levar-nos a algum lado sem a ajuda de uma
boa bruxa – até porque é muito possível que, entretanto, o
governo da República que ela apoia e pelo qual anseia, e que
se nos tem revelado o melhor exemplo de Casa Assombrada que
possamos imaginar, dê o seu derradeiro suspiro – fornecendo
assim matéria fresca para um novo romance do supradito
escritor americano.
Bem vistas as coisas, faltam-nos as bruxas, sobejam-nos os
fantasmas…
(no diXL, de Angra
do Heroísmo)
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