quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

1º de dezembro por Carlos Durão



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Hoje é feriado. Comemora-se a Restauração da Independência. Em 1640 os Filipes foram corridos, e Portugal consolidou-se como país independente. Ora parece que vai ser a última vez que temos feriado por causa desta comemoração. Trata-se de mais uma medida do governo de Passos Coelho, para mostrar que é duro, e que tem o país bem na mão. E com a independência nacional vai também a república. Para o ano também já não teremos o feriado de 5 de Outubro.
 
O 1.º de Dezembro e o 5 de Outubro, em conjunto com o 1.º de Maio e o 25 de Abril, formam um conjunto de datas com significado para Portugal e para o povo português. É verdade que os hábitos nacionais, que não põem o civismo e o patriotismo em lugar destacado, levam a que a comemoração destas datas seja normalmente pouco participada. Apenas o 25 de Abril e o 1.º de Maio vai sendo excepções, e cada vez menos. Dirão, então porquê os feriados? Não serão apenas símbolos? Acabar com eles até seria vantajoso para a economia, dizem.
 
É óbvio que os quatro feriados são símbolos importantes para o nosso país. O 25 de Abril trouxe ao nosso país um motivo para se orgulhar de alguma coisa (pese embora à propaganda dos saudosos da apagada e vil tristeza do antigamente). Sem o 1.º de Dezembro, um cenário provável é o de que Portugal seria ainda mais pobre e despovoado, equiparável mais a Marrocos ou à Mauritânia, do que à Galiza ou mesmo à Andaluzia (Passos Coelho com as portagens, os cortes nos salários e nas pensões, etc.  está, é certo, a tornar real um cenário semelhante a este). O 1.º de Maio dá aos trabalhadores a noção de que a sua condição tem dignidade própria, porque são a espinha dorsal da nação, não um mero apêndice do patrão. E o 5 de Outubro, pese aos monárquicos, é a defesa da república, que é uma forma de organização do estado mais democrática que a monarquia, por muito que alguns amantes de opereta digam o contrário. A existência dos feriados recorda-nos estes assuntos.
 
A maior desfaçatez é invocar o argumento económico. Há muitos anos que em Portugal há um défice de postos de trabalho com um mínimo de condições. Por isso os portugueses emigram tanto. Emigram menos quando têm mais esperança, e não o contrário. Aumentar o número de dias e de horas de trabalho equivale a reduzir ainda mais o número de postos de trabalho. Será isso o que pretendem? Realmente, há quem diga que estão a encorajar a emigração. Possivelmente, querem as remessas dos emigrantes para ajudar a equilibrar as contas. Dá menos trabalho do que desenvolver o país, e criar postos de trabalho.

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