IN DIÁLOGOS LUSÓFONOS
Os portugueses - Manuel Ribeiro, o último dos garimpeiros Nuno Ferreira | terça-feira, 10 de Janeiro de 2012
Manuel Ribeiro Gonçalves, 85 anos, mais conhecido por Manuel «Paneiro» acabara de chegar do lagar de azeite e sentara há não mais de cinco minutos num sofá das instalações do GAFOZ (Grupo de Amigos da Foz do Cobrão): «Não gosto de estar parado. Gosto de andar ou então leio os livros que a câmara traz. Ultimamente li um da Isabel Alçada e esse grandalhão que está aí (“ 2666” de Roberto Bolaño). Li tudo mas não gostei muito. Do Sousa Tavares gostei muito, aquele passado em África».
Manuel já trabalhou muito no campo, nas ceifas no Alentejo, na azeitona e na vinha, vendeu fatos para homem e transportou limões da zona para vender no Mercado da Ribeira em Lisboa mas do que todos querem saber é dos seus tempos como garimpeiro no Tejo e no vizinho Ocreza.
«Eram anos de miséria. Só íamos para o rio pesquisar o ouro para matar a fome. Era preciso comer quando terminavam as ceifas ou a apanha da azeitona. Naquele tempo a aldeia tinha umas 600 pessoas e só oliveiras, batata, couves. Não havia cereais. Tínhamos 20 moinhos a água mas precisávamos de comprar o cereal para fazer o pão no mercado de Vila Velha do Ródão», conta Manuel, que começou no garimpo em criança com o pai.
Da Foz do Cobrão partiam grupos de três ou quatro homens que se espalhavam pelas margens alcantiladas do Ocreza, entre as fragas das Portas de Almourão onde, conta a lenda, um dia dois pescadores encontraram no fundo do rio um carrinho de bois em ouro. «Queriam levá-lo para casa mas com a ganância deixaram-no resvalar e lá voltou ele para o fundo. É o que se conta, sempre se contou essa lenda».
Manuel e os outros garimpeiros chegavam a andar por ali semanas, dormindo à beira rio, pesquisando, lavando, uns dias com sorte, outros nem por isso. Usavam uma bandeja redonda em madeira. «Segurava melhor o minério».
Na bandeja vinha estanho, ferro, chumbo e com sorte algum ouro. «Era preciso ter cuidado para não deixar chumbo nenhum na bandeja. Depois, colocávamos o mercúrio. Este é que separava o ouro do resto. Ficava branquinho...». No final, aqueciam o ouro numa colher até o amarelecer.
«Dava poucochinho, se desse muito estava rico», conta a sorrir. À procura do ouro da Foz do Cobrão chegavam das bandas de Cantanhede os «malas verdes», ourives ambulantes empoleirados em bicicletas transportando um baú de folha-de-flandres. No mercado de Vila Velha do Ródão, tanto compravam como vendiam: «Aos 19 anos, no Dia dos Santos, comprei-lhes um relógio por 360 escudos, ganhava eu 15 a 16 escudos…Ainda o tenho».
À medida que os outros iam largando o rio e o garimpo, Manuel «Paneiro» foi dos últimos. «Andei lá até 1955». Hoje, Foz do Cobrão tem cerca de 40 habitantes, a maioria idosos. Ganhou alguma vitalidade e muitos visitantes com a criação do GAFOZ e a adesão à Rede das Aldeias de Xisto. «Aparece muita gente no Verão e nos fins-de-semana». Muitos querem saber como se fazia o garimpo de ouro no rio Ocreza e Manuel, um homem que gosta de conversar, nunca se faz rogado e leva-os até ao rio. «Sempre que há um grupo e me pedem eu vou…»
Manuel já trabalhou muito no campo, nas ceifas no Alentejo, na azeitona e na vinha, vendeu fatos para homem e transportou limões da zona para vender no Mercado da Ribeira em Lisboa mas do que todos querem saber é dos seus tempos como garimpeiro no Tejo e no vizinho Ocreza.
«Eram anos de miséria. Só íamos para o rio pesquisar o ouro para matar a fome. Era preciso comer quando terminavam as ceifas ou a apanha da azeitona. Naquele tempo a aldeia tinha umas 600 pessoas e só oliveiras, batata, couves. Não havia cereais. Tínhamos 20 moinhos a água mas precisávamos de comprar o cereal para fazer o pão no mercado de Vila Velha do Ródão», conta Manuel, que começou no garimpo em criança com o pai.
Da Foz do Cobrão partiam grupos de três ou quatro homens que se espalhavam pelas margens alcantiladas do Ocreza, entre as fragas das Portas de Almourão onde, conta a lenda, um dia dois pescadores encontraram no fundo do rio um carrinho de bois em ouro. «Queriam levá-lo para casa mas com a ganância deixaram-no resvalar e lá voltou ele para o fundo. É o que se conta, sempre se contou essa lenda».
Manuel e os outros garimpeiros chegavam a andar por ali semanas, dormindo à beira rio, pesquisando, lavando, uns dias com sorte, outros nem por isso. Usavam uma bandeja redonda em madeira. «Segurava melhor o minério».
Na bandeja vinha estanho, ferro, chumbo e com sorte algum ouro. «Era preciso ter cuidado para não deixar chumbo nenhum na bandeja. Depois, colocávamos o mercúrio. Este é que separava o ouro do resto. Ficava branquinho...». No final, aqueciam o ouro numa colher até o amarelecer.
«Dava poucochinho, se desse muito estava rico», conta a sorrir. À procura do ouro da Foz do Cobrão chegavam das bandas de Cantanhede os «malas verdes», ourives ambulantes empoleirados em bicicletas transportando um baú de folha-de-flandres. No mercado de Vila Velha do Ródão, tanto compravam como vendiam: «Aos 19 anos, no Dia dos Santos, comprei-lhes um relógio por 360 escudos, ganhava eu 15 a 16 escudos…Ainda o tenho».
À medida que os outros iam largando o rio e o garimpo, Manuel «Paneiro» foi dos últimos. «Andei lá até 1955». Hoje, Foz do Cobrão tem cerca de 40 habitantes, a maioria idosos. Ganhou alguma vitalidade e muitos visitantes com a criação do GAFOZ e a adesão à Rede das Aldeias de Xisto. «Aparece muita gente no Verão e nos fins-de-semana». Muitos querem saber como se fazia o garimpo de ouro no rio Ocreza e Manuel, um homem que gosta de conversar, nunca se faz rogado e leva-os até ao rio. «Sempre que há um grupo e me pedem eu vou…»
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