Rei Artur
“Dom Sebastião continuará o mito do Rei Artur, como modelo exemplar da soberania; do rei que, como oficiante e vitima, se oferta e Imola no sacrifício ritual pelo seu reino, dele seu representante, a ele identificado transcendentemente; e o que, após longa dormição, o virá salvar. E assim como os Cavaleiros da Távola Redonda foram exterminados na batalha de Camlan, assim também o foram os cavaleiros da nobreza do reino lusíada na batalha de Alcácer Quibir: mas também depois da sua morte, seu longo período de pausa e ocultamento, o rei salvador voltará ressuscitado, purificado e iniciado, para redimir e ressuscitar o seu povo. E entretanto, como Artur ficou permanecendo na Ilha de Avalon, centro do mundo, assim também Dom Sebastião ficou permanecendo na sua Ilha Encoberta, como outro centro do mundo.”
Dalila Pereira da Costa
A Nau e o Graal
A Nau e o Graal
Os paralelismos entre o mito arturiano do “rei perdido, mas que regressará” e o sebastianismo português, são, como aponta esta grande teórica do movimento lusófono, evidentes. Sebastião é o Artur dos portugueses e Artur o Sebastião dos ingleses. Um e outro pertencem ao mesmo quadro mítico-simbólico de fundo celta, cruzado de elementos messiânicos judaicos. Um e outro mito fundador buscam numa misteriosa e oculta ilha atlântica o refúgio desse Rei refundador. Um e outro construíram um projeto nacional em torno das navegações atlânticas e um e outro ergueram impérios transatlânticos absolutamente ímpares.
Os ingleses de hoje não sentem muitos traços de união com estes seus parentes celtizados, atlânticos e ultraperiféricos, mas a mesma matriz civilizacional continua lá. E o mesmo sucede com Portugal, país que sempre foi muito mais atlântico, que “europeu” (no sentido restrito), muito mais marítimo que continental e muito mais aventureiro do que laborador (no sentido germânico do termo).
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