quarta-feira, 20 de junho de 2012

falares do Porto e Lisboa

Trocou Cascais pelo Porto e sentiu-se uma estrangeira. Quase 20 anos depois, Susana Catarino criou o Speak Porto para minimizar falhas de comunicação entre portuenses e lisboetas através de pins. E em breve noutros formatos


Oscila entre um desbloqueador de conversa perfeito e uma barreira linguística que acaba algumas vezes em mal entendidos. Portuenses e lisboetas nem sempre se entendem na perfeição? Afirmativo, responde Susana Catarino, que trocou Cascais pelo Porto em 1993 e se sentia uma estrangeira na cidade - não sabia o que eram repas (franja) e sapatilhas (ténis) eram para ela uns sapatos de ballet.

Quase vinte anos depois, Susana Catarino é praticamente "bilingue" e transformou esse “estatuto” num negócio: o Speak Porto são pins que traduzem expressões portuenses para os lisboetas – e vice-versa. Susana já não fica espantada se depois de cantarem os parabéns alguém desatar a dizer “bufa, bufa” – não se está a sugerir que libertem gases a meio da festa, não, está apenas a dizer-se que “soprem” as velas.

Vamos rebobinar. Susana tinha 18 anos e percorreu o país para fazer o curso de design têxtil, no Centro de Formação Profissional da Indústria Têxtil (Citex). No Porto deparou-se com “expressões que não fazia a menor ideia do que significassem” e sentiu-se “completamente perdida”.

Adaptação linguística

Minimizava o problema com blocos de notas onde apontava expressões, qual estrangeiro em país longínquo. Habituou-se a não pedir uma bica (cimbalino) nem um garoto (pingo) e a nunca pronunciar a palavra imperial (fino). Foi-se adaptando.

Conheceu no Porto aquele que viria a ser o marido e pai dos filhos e foi ficando pelo Norte. Até 2007, trabalhou na indústria têxtil, em Guimarães. Depois cansou-se: quando o segundo filho nasceu decidiu que queria dedicar-se mais à família e trabalhar a criatividade.

O sotaque lisboeta ainda se percebe em Susana e as expressões que usa no dia-a-dia (excepção para o fino) são quase sempre as lisboetas, ainda que assegure que não tem preferência (“É uma questão de hábito”). Diz cadeado (aloquete), saltos (tacões), atacadores (cordões), frigideira (sertã), refogado (estrugido), sopra as velas (bufa) e chama gulosos (lambareiros) aos filhos.

Mas o Speak Porto – e não Speak Lisboa – quer ser um hino às “expressões [portuenses] fantásticas que começam a perder-se”. A lista já conta com 18 pins - a expressão portuense vem primeiro e a amarelo, a lisboeta a seguir e a branco. E não param de surgir ideias. No Facebook do projecto é vê-las a cair: guarda-chuva/chuço ou chapéu de chuva?; pão/molete ou cacete?; malga ou tigela? bicha ou fila?

Para já, o projecto da designer têxtil de 38 anos espalha-se em forma de "pins" (apesar de já existir em íman), mas o objectivo é espalhar as expressões por outros suportes: cadernos, bolsas, talvez "t-shirts".

Para já, Susana vende online: são dois euros por "pin" (sem custos de envio incluídos) e quem encomendar cinco ou mais não paga portes. Para quem prefere ver antes de comprar pode aproveitar as feiras por onde o projecto vai passando - a próxima é já de 14 a 16 de Junho, no Urban Market, no Porto.
Texto [e fotografias] de Mariana Correia Pinto
[Fonte: www.publico.pt]

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