sábado, 16 de junho de 2012

Traduzir Trotski e a Galiza

A REVOLUÇÃO DESFIGURADA
A Falsificação Estalinista da História

Leão Trotski

Introdução do Tradutor

И Ленинн             E Lenine,    
  Снова       que outra vez  
    В своём иэгнании       no desterro está
Готовит       prepara-nos    
  Нас       para  
    Перед новoй битвой       a nova batalha
В. Маякоскuŭ
Vladimir Maiakovsk(1)

Molotov — E onde está nisso o Partido?
TrotskiO Partido? O Partido foi estrangulado por vós!

* * *

Esta tradução está dedicada à memória dos milhares de operários anónimos aniquilados nas ruas de Xangai em 1927; aos dous mil mineiros bolivianos assassinados em Catavi em 1949; ao milhão de obreiros, lavradores e comunistas massacrados em Indonésia pola vaga de terror de 1965... Sem o seu exemplo de firmeza e heroicidade far-se-ia mais difícil conceber um melhor mundo futuro para as crianças.

* * *

Responde este prólogo, caro leitor, às perguntas que o tradutor se tem feito no decurso de verter à nossa língua, um texto de capital importância para compreender processos que actuando a longo tempo, deram na destruição dos regimes dos países nomeados do “socialismo real”, sobretudo da União Soviética, e a ulterior brutal passagem para esse “mundo feliz” que o professor Carlos Taibo com amargo pleonasmo tem definido como vampiro contemporâneo: a globalização.(2) Questão que se apresenta imprescindível esclarecer mais uma vez, pois “não parece que se enuncie falsidade alguma quando se afirma que os problemas gerados polo afundamento dos sistemas burocráticos imperantes durante decénios na Europa central e oriental são, ontològicamente, os problemas do planeta inteiro dum século comprido”.(3)
Não é doado, nem se pretende no marco dum prólogo, representar uma análise esmigalhada de tão complexo problema; decerto seria indispensável para isso um livro, investigação em grande estilo feita polo escritor Marxista sul-africano Ted Grant(4) com feliz resultado e não é cousa de arremedar a retalho o que está por atacado. Emoldurarei conquanto debates, sem qualquer pretensão a fazer revelações sensacionais que, suscitados com antecipação na direção do Partido Comunista (bolchevique) russo e depois no terreno internacional atingiram, alcançam ainda, toda a humanidade. Problemas que reclamam dos proletários mais conscientes um titânico esforço para pôr a nu a imensa maranha de patranhas, mitos, trivialidades e enganosos esquemas lançados durante decénios pola camarilha estalinista às cabeças de honestos militantes, que mascaravam na velha União Soviética as brutais diferenças entre o que se procurara na Revolução e o existente e, consubstancial, mas não menor, as ilimitadas montanhas de falsidades fornecidas com grande luxo e sofisticação pola direção burocrática, aproveitadas largamente pola burguesia de aquém e de além para planear o sepultamento do arrepio que lhe mostra o irreversível destino ao que se vê impelida. “Vivemos em tempos de gestação e de transição para uma nova época” sinalara o grande Hegel.(5) Cumprimentado já o papel que a história lhe destinou, o derradeiro rendimento que apenas pode dar a burguesia ao progresso humano é dizer como o imperador Augusto no seu leito de morte: acta est fabula, a obra terminou.
A publicação do livro que na primavera de 1929 prologara Lev Davidovitch Bronstein, dentro duma batalha assumida com férrea e tenaz vontade contra a burocratização que galgava de lês a lês por todo o Estado soviético e que, andando o tempo, haveria coalhar no seu clássico A Revolução atraiçoada, cobre de primeiras, uma necessidade objectiva: pôr nas mãos do leitor preocupado pola marcha dos acontecimentos históricos e desassossegado perante os actuais, um texto clave cujas edições anteriores estavam esgotadas sem se saber, se a curto ou a meio prazo, pudesse vir a lume.

Umas Breves Notas Sobre os Problemas da Tradução e a Norma Ortográfica

A tradução dum texto é sempre um complexo e delicado trabalho que propõe a quem o aborda com entusiasmo múltiplos problemas. Quem assina esta introdução pode asseverar o que lhe tem rosnado, quanto lhe fijo andar polas ruas da amargura, a interrogaçção: existe com certeza a tradução? Pode semelhar a pergunta ao avisado leitor impertinente em excesso, tópica de mais, frivolidade para navegar a bolina por enredadas derrotas que orça para nenhures, contra uma disciplina que conta com uma prosápia mais que venerável. Argumentar que já desde a Babilônia de Hammurabi (2011 anos antes da nossa era) este labor teve que ser realizado por simples necessidades práticas econômicas e legislativas, numa cidade onde se falavam diferentes idiomas; argüir talvez que um Lúcio Lívio Andrónico, escravo grego de Tarento que deu sinal de partida à grandiosa literatura latina, pôs em versos latinos a Odisséia que o cego Homero cantara em arcaico grego jónico-eólio; que mesmo Quintiliano na Institutio Oratoria através da abbreviato, amplificatio, setentiae, chriae e actiologiae deu corpo basilar bem cumprido à teorização desta prática, ou, por não cansar nem dar imagem de gratuita erudição o sábio leitor, mesmo recorrer à autoridade de Dom Duarte e propor a leitura “Da maneira para bem tornar algûa leitura em nossa linguagem”(6). Embora este humilde vertedor, desconfia às avessas que, estricto sensu, haja traduções, mesmo que isto semelhe paradoxal, uma boutade talqualmente para comover ilusos. Justificar-me-ei:
Quando se falar de tradução torna-se indispensável entender “interpretação”,(7) isto é, a redução para um espaço de experiência o pensamento mostrado num código lingüístico para procurar transcrever essa situação modificada já polo vertedor — que na decodificação inseriu a sua própria bagagem de estratos culturais, históricos, sociais, mesmo de capacidade individual — para o código duma outra unidade cultural.(8) A obra que dê em resultado afinal não é já a que escreveu o autor, no entanto a que o tradutor põe diante dos olhos do leitor. Isto vem a dizer que há uma impossibilidade de dous textos serem sinónimos porquanto o expressado responde a um propósito, a uma axiologia para um sucesso vivo, em dependência intra-histórica diversa da modelada polo tradutor.(9) Tal é assim que este modesto escritor possuiu sempre a suspeita de ser uma personae da dramaturgia clássica pondo na mão do autor original palavras que hipoteticamente tivesse escrito no caso de empregares o nosso idioma, adaptando em estruturas semânticas compreensíveis para lusófonos as geradas originalmente na língua de Puchkin.
Se se pretender que dous textos sejam absolutamente sinônimos teríamos de transcrever não só o significado, também o significante do texto em questão como, e abunde com isto, no esplêndido conto de Borges: Pierre Menard, autor del Quijote: “a sua admirável ambição era produzir umas páginas que coincidissem — palavra por palavra e linha por linha — com as de Miguel de Cervantes(10). Pobre do tradutor que iguale traduzir a decalcar! As palavras ordenam e não se pode ser servil com elas, “não se pode andar de brincadeiras com a língua”, tem escrito o muito sábio professor Isaac Alonso Estravíz no já distante 1987(11). Há sempre nesta arte uma indeterminação [indeterminacy], por usar dum termo carimbado polo filósofo de Harvard, Willard van Orman Quine em Word and Object,(12) consoante com a falta de possibilidade de fixar-lhe uma realidade extralingüística à que alude o signo lingüístico evidente.
Mas é indubitável, a gente lê traduções suposto que o único modo de aceder aos textos e literaturas de outras línguas — a não ser que se conheçam quantos idiomas há, dito seja de passagem — é por meio da tradução. Seria absolutamente inadmissível, todavia, asseverar que a leitura das traduções nos tem colocado em situação de tergiversação de textos que desejamos conhecer — não é, de certo, a clássica sentença traduttore-traditore(13) — tirante estes textos venham fixados nos termos duma grande incerteza referencial como a poesia. Mas há aí outros problemas, como a íntima conexão entre a estética e a técnica, que não vamos aqui e agora aproximar.
Nesta tarefa que pensei basilar empenhei as minhas exíguas forças. Que a interpretação seja boa ou má, julgue o tempo, outros tradutores e os próprios leitores, que eu tão só pido benevolência polo esforço.
Não pode deixar de chamar a atenção, por outro lado, o teimoso tradutor ao tolerante leitor para a justificação da escolha da modalidade ortográfica, fenômeno insólito em quaisquer outras latitudes, mas perfeitamente compreensível para quem conhecer o malfadado decorrer da história da Galiza. Quem isto escreve acredita na imperiosidade de alvitrar um caminho ajeitado de normativização para o emprego normalizado na nossa terra do idioma dos nossos avôs que, além disto, seja harmônico com outros padrões da comum língua portuguesa.(14)
Numa situação como a da Galiza onde o idioma milenário vê-se atacado atreu polos túçaros espanholistas (que de regra são todos firmes paladinos dos grilhões do capitalismo)(15) com discursos legitimativos dos elementos jurídico-económicos que consagram a unidade política e de mercado e, outrossim, os discrepantes e libertadores são ferozmente combatidos impondo-nos não só uma norma coactiva que avassala o português da Galiza para o castelhano, reforçando a ideologia dominante da classe dominante, mas ainda alenta através dela, a radical divisão entre os dominantes e os opressos, que estimam para a eternidade.(16)
Defronte a dupla coerção — que de modo mútuo se sustenta — da necessidade “óbvia” do castelhano e a restrictiva “possibilidade” do galego-português,(17) torna-se imperativo a tomada de atitude(18) e gritar mais uma vez: o português da Galiza (o galego) é o idioma genuíno do nosso povo, faustoso e deslumbrante legado dos nossos antepassados; o espanhol, na nossa nação, é o dos opressores.(19)
Face uma língua — a espanhola — da que se faz o esforço para conhecer não só a sua história literária peninsular,(20) também – e isso é de todo digno e proveitoso - a latino-americana, o estudo nas escolas da Galiza da literatura do nosso idioma reduza-se ao relato dos autores que nasceram nas administrativas quatro províncias sob domínio espanhol (A Corunha, Lugo, Ourense e Ponte-Vedra, esquecendo mesmo autores além destes domínios como Isidoro André Ovalhe — São Fiz de Corulhom, Berço? — ? — ou António Fernández Morales—Astorga, 1817 — Cacabelos, 1896 — ambos os dous da administrativa província de Leon, embora com escrita em português),(21) privando os escolares do conhecimento e prazer de escritores de importância universal como Luís de Camões, Antero de Quental, Eça de Queirós, Cesário Verde, Fernando Pessoa, Lúcio Cardoso ou João Guimarães Rosa, por só nomear alguns vultos imprescindíveis. Isto é, usurpa-se-lhes o enriquecimento com o pensamento de literatos que usaram da sua mesma língua e estorva-se-lhes a potencialidade de libertar as suas inteligências duma ressessa visão provincianista. Se calhar na escola se ensinasse a literatura de além-Minho e além-Atlântico, teriam de se perguntar muitas cabeças as rações que com genialidade plasmou Castelão(22): “Na beira do Miño: — E os da banda d´alá, ¿son máis estraxeiros que os de Madrí?. (Non se soupo o que lle respondeu o vello.)”.(23)
Na situação da Galiza — pátria mãe da língua que hoje é o útil instrumento não só na chamada, polas instâncias dominantes espanholas, Comunidade Autônoma de Galiza, embora em Portugal,(24) Cabo-Verde, Guiné-Bissau, São-Tomé-e-Príncipe, Moçambique, Angola, o Brasil e a malfadada nação de Timor-Leste — torna-se indispensável porfiar defronte os toscos desintegracionistas que, “existe entre o galego e mais o português tam estreita afinidade que canto mais português é o português, e mais galego o galego, mais venhem a se assemelharem. (...) Galego e português canto mais se enxebrizam,(25) mais se achegam, o mesmo na sintaxe que no léxico.”(26)
A Galiza é o berço, junto à parte septentrional de Portugal, onde nasceu a língua na que vocês, lusófonos dos quatro cantos do mundo, cantam, choram, amam, sonham e rim; único lugar onde o nosso idioma, à par do Norte português, é autóctone. Este nosso povo custódia o prezado tesouro lingüístico comum e vozes hoje esquecidas — não deixem que para sempre! — no resto dos territórios. Irmãos lusófonos, a situação da língua cá onde nasceu é muito dramática! O povo que durante tantos séculos manteve o idioma milenário em rude e dilacerada luita face furibundas trovoadas imperialistas castelhanizantes (e o etnocídio continua quatro séculos a andar!), sofre uma traumática ferida na língua nativa por onde se lhe vai a vida que nos liga a tantos povos polo mundo adiante.
Com robustos acentos, / grandes, os chamarás, / verbo do gram Camões, / fala de Breogám!”,(27) vigorosamente cantou o bardo bergantinhão Eduardo Pondal, grande poeta do nosso Ressurgimento, e “fixou assim na sua obra — ao dizer de Rodrigues Lapa — um nexo de reciprocidade, que liga indissoluvelmente os dois povos”.(28)
Às claras cumpria optar entre diferentes normas hoje em uso na Galiza: ora a regionalista arbitradas polo Instituto da Língua Galega-Real Academia Galega-Junta de Galicia (sic), que toma de conta as normas ortográficas e morfológicas castelhanas, de obrigatória e coercitiva aplicação para os quatro domínios (Corunha, Lugo, Ourense e Ponte-Vedra) de estatuto jurídico espanhol, isto é, a “comunidade histórica” denominada oficialmente Galicia (sic);(29) ora a reintegracionista de mínimos, defendida fundamentalmente pola Asociación Socio-Pedagóxica Galega (ASPG), que advoga por um achegamento devagar para a grafia histórica do romanço galego-português(30) considerando o galego e o português como variáveis dum mesmo diassistema;(31) ora a reintegracionista de máximos cujas mais constantes defensoras são a Associaçom Galega da Língua (AGAL),(32) a Associação de Amizade Galiza-Portugal as Irmandades da Fala da Galiza e Portugal, e a Associação Sócio-Pedagógica Galaico-Portuguesa.(33)
Três foram as razões que me impeliram optar, com ligeiras variantes próprias do português da Galiza, pola norma acordada em Lisboa (1990) junto com as propostas da Associaçom Galega da Língua (AGAL)(34) (com a variável da flexão de número onde se incorpora a forma canónica em –ais, -ões para os nomes acabados em vogal ou –m, em harmonia com os monumentos mais veneráveis do nosso idioma na Galiza, com os padrãos brasileiro-português(35) e com os falares galego-orientais que a fazem em - ais, -ois): primeiro, pola firme convicção de que este volume tinha de ser conhecido não só polos galegos, embora polos outros leitores do mundo luso-falante; em segundo lugar o de levar à prática a manda que o grande Afonso Daniel Rodríguez Castelão nos deixara em legado:“Desejo, ademais, que o galego se acerque e confunda com o português”(36) pois, “o galego é un idioma estenso e útil, porque — con pequenas variantes — fálase no Brasil, en Portugal e nas colonias portuguesas. O galego rexordeu no século pasado con poetas tan esgrevios como Rosalía, Curros e Pondal. O noso idioma ten tal fremosura que un poeta andaluz como García Lorca — o poeta mártir — non foi quén de resistirse o seu engado e compuxo poemas en galego. O galego –somentes refugado po-los señoritos ou por traballadores que quixeran ser señoritos — é hoxe o idioma que prefiren os inteleituaes como vehículo da nosa cultura; pero ainda que carecera de tantos méritos contraídos, abondaríalle ser a fala do povo traballador para estar diñificado de por sí, pois o galego é unha executoria viva do traballo e unha cédula honrosa de cibdadanía e democracia. Non esquezamos que si ainda somos galegos é por obra e gracia do idioma”(37)
Em terceiro lugar, mas não em importância, a obriga que qualquer escritor tem - sempre que não se prostitua e torne medíocre e vulgar — para engrandecer a língua de uso (“que nom se ponha palavras latinadas, nem d´outra linguagem, mas todo seja em nossa lingua scripta, mais achegadamente ao geeral boo costume de nosso fallar que se poda fazer”)(38), ainda mais se ele pertence a um país oprimido e com o idioma de seu opresso(39) e por riba se declara aluno de Marx e Engels. Um bom Marxista escreveu certa vez: “a linguagem também tem necessidade duma higiene. E não em grau menor, embora mais que as outras, a classe operária tem necessidade duma linguagem sá, pois que, por vez primeira na história, começa a pensar independentemente sobre a Natureza, sobre a vida e os seus fundamentos; e o instrumento indispensável de todo pensamento correcto é a claridade e a agudeza da linguagem(40) e noutro lugar: “A luita contra a grosseria faz parte da briga pola pureza, a claridade, a beleza da linguagem.”(41) Foi por acaso que Lenine se enfadasse com os que deturpavam a língua russa quando escrevia: “Estamos a estragar o idioma russo. Usamos sem necessidade palavras estrangeiras; e empregamo-las mal. (...) Não chegou o momento de declarar a guerra à deterioração do russo?(42)
Obriga é de todo comunista impelir a totalidade do programa emancipatório — crítico, no senso de ético-político, praxeolóxico e programático, isto é, executável, suposto que não pode haver uma libertação derreada (parceladas dos modelos: nacional, da mulher, de minorias, das e dos homossexuais não as há e é metafísico, puro idealismo reacionário procurar fender criminosamente o que está cingido na energia prática do acontecer) —, batalhando a entortada idéia das divindades da razão para encumear o homem total, não como hodierna epifania embora como a necessidade da libertação do fatal mecanismo que converte a humanidade num apêndice da máquina e o trabalho num simples médio para a existência.
D. Leandro Carré Alvarelhos(43) e D. Ricardo Carvalho Calero,(44) por mencionar dous grandes estudiosos do português da Galiza, fizeram muito finca-pé sempre na uniformidade estrutural dos nossos falares com o português(45) estudando polo miúdo ao mesmo nível, as variedades da Galiza(46) que explicam, por sua vez, tanto o cânon em Portugal, Brasil e os outros países da lusofonia, como abrem um adequado tratamento, livre de qualquer prejuízo, para tentar resolver numa imprescindível coinê a questão normativa na Galiza, respeitosa com a fala viva das distintas áreas dialectais, sem apriorismos de qualquer espécie nem detrimento de nenhuma, em harmonia com a história do idioma desde os mais antigos monumentos escritos, a sua articulação interna e, de utilidade, com os outros falares além Galiza, bem literários bem orais.
Um exame destas variáveis, sem efeitos de prejulgar, levar-nos-á ao convencimento de que, como me tem reparado o professor e grande lexicógrafo Doutor Isaac Alonso Estravis:(47)não há fenómeno lingüístico algum na Galiza que não se dê em Portugal(48) e vice-versa. Descobertas que ainda nos aportarão cada dia novas surpresas.”(49) Posição defendida e mantida com muita inteligência e paixão no decurso duma longa e frutífera vida científica por D. Manuel Rodrigues Lapa.(50) Infelizmente bastante incompreendida, entre nós, por um espírito tão avisado e fino como o Doutor Francisco Rodríguez(51) tão rigoroso e perspicaz noutros momentos, cujo método analítico está esguelhado por um espírito filosófico de idealismo transcendental,(52) (é sintomático que este autor assevere: “Para unha crítica aos argumentos de Lapa, desde unha postura cultural, liberal e con perspectivas de futuro, compre ter presente a «Carta a D. M. Rodrigues Lapa», de Ramón Piñeiro, publicada no número 42 da revista «Grial», 1973”)(53) esquecendo ele que a ideologia reflete em última instância, a básica contradição forças produtivas-relações de produção.(54)
Quando o senhor Francisco Rodríguez sinala que “falar duma Europa unida como impedimento para a normalização da língua é admitir uma Europa dessimétrica”,(55) a ideologia dominante é quem fala porque, de certo, a Europa Unida sempre foi, daquela e hoje em dia, dessimétrica. Por riba, a Europa Unida é Europa Unida em tanto está assentada nessa dessimetria. Ainda mais, só pode ser dessimétrica por fundarem a sua existência, ao fim e ao cabo, na desigualdade da relação fundamental patrão-operário. É essa irregularidade a que empeçonha, abofê, a normalização da nossa comunidade.
Só numa Europa simétrica, isto é, varrida do cancro do capitalismo pode, então sim, ter lugar uma normalização da cultura de nós. Se a ideologia é “um processo que obra polo chamado pensamento consciente, com efeito, mas com uma consciência falsa. As verdadeiras forças propulsoras que o movem, permanecem ignoradas para ele; de outra maneira, não seria tal processo ideológico”,(56) a proposição de Francisco Rodríguez,(57) com todo o respeito que merece o companheiro, é ideológica, mostra um caminho incorrecto que se faz necessário corrigir de seguida.
Para esta versão em português da Galiza valim-me das edições em francês La revolution défigurée (Ed. Minuit, 1967) e da espanhola La revolución desfigurada (Ed. Júcar, 1979). Há, que eu saiba, uma tradução ao português, A Revolução Desfigurada (Ed. Antídoto, 1977) que por enquanto não teve oportunidade de olhar. Se algum leitor galego, português, brasileiro ou de outro país da lusofonia conhece essa publicação, o tradutor muito agradecido lhe estaria se lhe fixe-se chegar a impressão desta versão e, dentro do possível, algum exemplar da edição portuguesa.
Por fim, não podo conceber dúvida alguma que os trabalhadores e qualquer pessoa desprejuiçosa e com desejos de julgar ela própria as vicissitudes dum período fundamental da história do movimento operário que dolorosamente nos bate, saberão apreçar no que realmente vale este livro e dizer como Keats no Endymion “thing of beauty is a joy for ever(58) desculpando os erros que o tradutor cometera.

Notas:
(1) Do poema Vladimir Ilitch Lenine, pág. 102, Progresso, Moscovo, s.d. (retornar ao texto)
(2) Miseria de las grandes potencias. Nuevo desorden, intervencionismo humanitario, globalización, Ediciones Libertarias, Madrid,1999.. (retornar ao texto)
(3) Antes y después del Muro, pág. 81 (retornar ao texto)
(4) RUSSIA from revolution to counter-revolution há tradução em espanhol: Rusia. De la revolución a la contrarrevolución. Un análisis marxista. Não existe, polo de agora, translação ao português. (retornar ao texto)
(5) Fenomenología del Espíritu, pág. 12, Fondo de Cultura Económica, México, 1966. (retornar ao texto)
(6) Leal Conselheiro, Ed. Joseph Piel, Bertrand, Lisboa, 1942, pág. 317. (retornar ao texto)
(7) Que isto foi o que o poeta italiano Vicenzo Monti fizera com a tradução da Ilíada, que sem ser um altíssimo escritor “Ebbe maestria squisita di modulatore e di cesellatore del verso, ebbe immaginazione e colore (...). non soppeseremo se e quanto l´Iliade del Monti renda fedelmente la lettera e lo spirito dell´Iliade di Omero (...) Basterà dire che tutte quelle rare qualità del Monti cui accennammo qui felicissimamente concorrono a ricreare (proprio nel senso primo e stretto della parola: creare di nuovo) il poema, dandogli accordo, armonia, compattezza, commozione, necessità, accento di vera e grande poesia” (Eugenio Treves, Premesse: Omero e L´Iliade. Vicenzo Monti e la traduzione dell´Iliade, em Iliade nella versione di Vicenzo Monti, La Nuova Italia Editrice, Firenze, 1962, pág. XXVIII.) (retornar ao texto)
(8) André Martinet tem advertido sobre as armadilhas que entranha esta disciplina: “Convém, pois, ter consciência dos perigos (...) de rearticular a experiência estranha para o modo que nos é familiar” (Elementos de lingüística general, pág. 48, Editorial Gredos, Madrid, 1978). (retornar ao texto)
(9) “Por outra banda, o facto da dificuldade das traduções e, não poucas vezes, mesmo a sua impossibilidade, estamos a manifestar que uma palavra e a sua tradução noutra língua podem não ser meros instrumentos para dizer o mesmo, senão que significante e significado conformam unha relação dialéctica muitas vezes de difícil, e às vezes impossível, separação. A cousa vê-se diferente segundo a língua que empregamos. Quando, como resposta a um favor, um espanhol dize graças e um português obrigado estão a manifestar duas atitudes distintas diante dum mesmo comportamento: o espanhol destaca o acto de gratidão de que fizo gala o doador, o português a situação de dependência em que queda o destinatário” (Marcial Gondar Portasany, Crítica da razón galega. Entre nós-mesmos e nós-outros, p. 15-16, Edicións A Nosa Terra, Vigo, 1993. [Adotou-se para a normativa reintegrada a utilizada polo autor do livro]) (retornar ao texto)
(10) Obras Completas de Jorge Luís Borges. Vol. II, págs. 34-35, Cículo de Lectores, Barcelona, 1992. (retornar ao texto)
(11) Estudos filológicos Galego-portugueses, Alhena Ediciones, Madrid, 1987, pág. 19. (retornar ao texto)
(12) A tese é muito complexa e não é este o lugar para desenvolvê-la. Chegue que, segundo Ferrater Mora (Diccionario de filosofía, Tomo IV, Barcelona, 1994), “As hipóteses analíticas tem por função encaixar com as disposições verbais. Semelha que se produze tal encaixe, então não existem problemas relativos à tradução de frases (sentenças). Mas, não acontece assim. Quine mostra a possibilidade dum completo encaixe de dous sistemas de hipóteses analíticas e, ao mesmo tempo, a possibilidade de que haja conflito nalgumas traduções. Como, ademais, dous sistemas de hipóteses analíticas são equivalentes se não há nenhuma conducta verbal que ordene distingo entre elas, há que concluir que há uma indeterminação da tradução dum sistema lingüístico para outro.” [as itálicas são de Ferrater Mora]. (retornar ao texto)
(13) Roman Jakobson teima que «se tivéssemos que traduzir a fórmula tradicional “Traduttore, traditore” por “o tradutor é um traidor”, tiraríamos à expressão italiana de todo o seu valor paranomástico. Então ver-nos-iamos obrigados por uma atitude cognoscitiva a converter o aforismo numa afirmação mais explícita e aclarar a qualidade das mensagens traduzidas e dos valores atraiçoados» (Ensayos de lingüística general,Editorial Planeta - De Agostini, Barcelona, 1985, pág. 77). (retornar ao texto)
(14) O saudoso professor Ricardo Carvalho Calero firmou terminantemente numa Comunicação para um Congresso de lingüistas em 1.983, o que se segue: “Ao falarmos do português na Galiza, nom podemos esquecer que a língua da Galiza e a portuguesa padrom tenhem umhas conexons históricas e actuais que ponhem a questom em termos mui diferentes que se tratássemos da situaçom — diacrónica ou sincronicamente considerada — do português num país de fala catalá ou euskera ou castelhana. O português dificilmente pode ser considerado na Galiza como umha língua estrangeira, a menos que extrapolemos ao campo filológico os conceitos políticos.” (O português na Galiza, em Letras Galegas, Associaçom Galega da Língua, A Corunha, 1984, págs. 21-22) (retornar ao texto)
(15) Também não quer isto dizer, nem muito menos, que todos os militantes do reintegracionismo sejam partidários da abolição do modo de produção capitalista, mas ao estimarem terminantemente que o galego tem um passado esplendoroso, um presente esmorecido e, sobretudo, tem de ter um futuro feliz nos usos formalizados como nos coloquiais, põem-se a par dos marxistas conseqüentes numa contenda por um porvir que desfaça, também aí, as articulações de dependência vigorantes na nossa nação. (retornar ao texto)
(16) Não é em valeiro que o professor Marcial Gondar tenha observado: ”É justamente esta possibilidade de utilização diferencial da língua a que permite que, como passava com as formas anteriores, a identidade que configura não seja algo essencialista e estático senão dinâmico e processual. É isto o que faz possível utilizá-la como estratégia para enquadrar interesses polimorfos. O uso ritual do galego, próprio de tantos intelectuais e políticos que se proclamam galeguistas, a luita porque a totalidade da população se instale em galego como língua normalizada e os que, nas antípodas, denunciam o acosso que o espanhol está a sofrer aqui, são práticas que confirmam a utilização estratégica da identidade lingüística”. Crítica da razón galega. Entre nós-mesmos e nós-outros, pág. 16, Edicións A Nosa Terra, Vigo, 1993. (Dessepanizou-se aqui a normativa utilizada polo autor do livro). (retornar ao texto)
(17) Perante tão injusta situação, a ninguém há de estranhar que alguns galegos — não em demasia, mas também não em número tão fraco que não resulte relevante o estimar — digam como poeta compostelano do século XIII, Joám Airas, ao rei castelhano:
Se mi justiça nom val
Ante rei tam justiçeiro,
Ir-me-ei ao de Portugal
(18) “Quando se renega das senhas de identidade dificilmente se assumirão outros compromissos”, repara o professor Ramom Lôpez-Suevos em Dialéctica do desenvolvimento: naçom, língua, classes sociais, pág. 81, Associaçom Galega da Língua, A Corunha, 1983. (retornar ao texto)
(19) Isidoro Padim Cortegoso no relatório apresentado ao Iº Congresso Internacional da Língua Galego-Portugesa na Galiza, ´O marxismo-leninismo e a questom da normativa´, diz a respeito da terrível situação da nossa nação: “Somos o povo mais atrasado da Europa, nom só no terreno económico-social. Também do ponto de vista cultural, porque na nossa Terra hai um analfabetismo encoberto massivo. O imperialismo está-nos a fazer pagar bem cara a teima de nom querer renunciar à fala dos nossos avós. A imensa maioria dos galegos nom está em condiçons de cumprir os requisistos internacionais que se exigem para considerar que umha pessoa está alfabetizada. Sofremos umha das mais crueis vinganças com que se pode castigar um povo, como é mantê-lo na ignoráncia, incapacitá-lo para aceder à cultura, e, ao mesmo tempo, estender-lhe um certificado acreditativo de possuir estudos primários, de nom ser analfabeto. A imensa maioria dos nossos compatriotas ao verem-se forçados a estudar numha língua que nom praticam regularmente e que rejeitam instintivamente, nom só nom podem adquirir no mesmo tempo tantos conhecimentos como os rapazes da naçom opressora, senom que, ademais, em deixando a escola, logo esquecem os conhecimentos adquiridos sobre a escrita e a fonética espanhola. (...) Este fenómeno é anormal mesmo do ponto de vista do capitalismo, para cujo desenvolvimento representa um estorvo, pero que nom pode solucionar dado o carácter colonial que adopta na nossa naçom e que o conduz a buscar a saída numha assimilaçom à que se resiste a gente galega´.
As conseqüências deste fenómeno nom se limitam ao baixíssimo grau de cultura a respeito da média peninsular e européia. Ele é responsável de numerosos conflitos familiares, de traumas e complexos de todo tipo que distorsionam a vida social.” (pág. 61). (retornar ao texto)
(20) Que se entenda corretamente. A língua espanhola — o castelhano — tem dado ao pensamento e à arte universais poderosos engenhos que não podemos esquecer sem cair na parvoíce. O que se critica não são os estudos e gozos duma literatura, enquanto a utilização ideológica duma língua e literatura para tentar corrigir as carências da unificação dum mercado por parte da classe social dominante espanhola que històricamente sempre se mostrou ruinçalha. (retornar ao texto)
(21)O português com sotaque galego transcende amplamente as raias administrativas da Galiza. [a este respeito ver o mapa publicado polo Instituto da Língua Galega: http://www.usc.es/~ilgas/welcome.html e os dialectais http://www.usc.es/~ilgas/mapas.html]. Maravilhosos estudos se têm feito destes falares. Entre eles cumpriria salientar: El dialecto galaico-portugués hablado en Lubián (Zamora), Luís L. Cortés y Vázquez, Universidade de Salamanca, 1954. El gallego-leonés de Ancares y su interés para la dialectología portuguesa, Dámaso Alonso e Valentín García Yebra, em III Colóquio Internacional de Estudos luso-brasileiros, Lisboa, 1957. Actas, vol. I, 1959, págs. 309-339. Dámaso Alonso: Gallego-asturiano «bedro» ‘estivada, em Nueva Revista de Filología Hispánica, 1953, VII, núm. 1-2.Dámaso Alonso: Gallego-asturiano «ozca» ‘paso entre peñas, em Der Vergleich... Festgabe Hellmuth Petriconi, Hamburger Romanistische Studiem, Reihe A, XLII = Reihe B, XXV, Hamburgo, 1955, págs. 199-204. Dámaso Alonso: Narraciones orales gallego-asturianas. (San Martín de Oscos): I. Recuerdos de niñez y mocedad, em Cuadernos de Estudios Gallegos, XXIV, 1969, núms. 72-74, págs. 140-153. Dámaso Alonso: Ganado vacuno en San Martín de Oscos, em Archivum, VII, 1957, págs. 5-12.  José Ramón Fernández González: Etnografía del Valle de Ancares. Estudio lingüístico según el método “Palabras y Cosas”, Anexo 10 de Verba, Universidade de Santiago de Compostela, Vigo, 1978 e do mesmo autor, El habla de Ancares (León). Estudio fonético, morfosintáctico y léxico, Universidad de Oviedo, Oviedo 1981. X. Babarro González: Galego de Asturias: delimitación, caracterización sociolingüística (Tese de doutoramento), Universidade de Santiago de Compostela. Francisco Fernández Rei: Textos do galego exterior: Piantón (A Veiga-Oviedo), Paradaseca do Bierzo (León) e Lubián (Zamora): Caracterización lingüística, em Homenaje a Álvaro Galmés Fuentes. Vol.I. Oviedo, Universidad/ Madrid, Gredos; do mesmo autor: A Terra Navia-Eo, O Bierzo e As Portelas. Delimitación xeográfica e caracterización lingüística do ‘galego exterior’, em M. García Crego (ed.): I Congreso da Língua e a Cultura Galegas en Asturias, León e Zamora (Celanova, 1989). Vigo, Clube Cultural Adiante. Etc. Há, em todas elas, grupos muito activos pro - defesa do galego-português tais Eilao (Astúrias), Fala Ceibe (no Berço), A Asociación Cultural Alén do Val (Valverde do Freixo, As Elhas, San Martinho de Trevejo, no Sul da Serra do Xalma, na Estremadura espanhola) —Benxamín Riobó e Miguel Anxo Sartal, membros desta Associação, estão a fazer importantes contributos lingüísticos e antropológicos—, etc. (retornar ao texto)
(22) Quem isto escreve recomenda para os leitores de outras latitudes da lusofonia que não conhecer este grande artista dos nossos tempos, o ensaio de Manuel Rodrigues Lapa Castelao e a Galiza (Estudos galego-portugueses. Por uma Galiza renovada, pp. 5-16), Sá da Costa Editora, Lisboa, 1979 [1ª edição em Seara Nova, n.º 309 (1932), pp. 327-330]. (retornar ao texto)
(23) Álbum Nós. Edição de Júcar, Madrid, 1974. Edição original de 1917. (retornar ao texto)
(24) O historiador da literatura portuguesa António José Saraiva sinala: “Ainda hoje, a pesar da separação fronteiriça determinada polos acidentes da história, ressalta perceptível a identidade de língua e cultura numa e noutra banda do Minho” [tradução própria da edição em espanhol Breve historia de la literatura portuguesa, pág. 11, Ediciones Istmo, Madrid, 1971] e nas palavras que dão entrada ao esplêndido livro para crianças Sonhos na gaiola do grande poeta galego Manuel Maria Fernández Teixeiro [Serv. Sociais dos Tabalhadores da C.G.D., Lisboa, Março de 1977] assevera-se: “Quem conhece as províncias portuguesas minhota e transmontana e visitou a Galiza sabe decerto como são grandes as semelhanças existentes entre as paisagens e os povos dos dois lados da fronteira”. (retornar ao texto)
(25) Galeguismo literário: fazer castiço, vernáculo. (retornar ao texto)
(26) Língua Franca galaico-portuguesa. Rafael Dieste. Cita recolhida em Método prático de língua galego-portuguesa, pág. 124, José Martinho Montero Santalha, Galiza Editora, Ourense, 1983. (retornar ao texto)
(27)Queixumes dos pinos e outros poemas, Edicións Castrelos, Vigo, 1972, pág. 125. (retornar ao texto)
(28) Centenário de Pondal, em Estudos Galego-portugueses, Sá da Costa Editora, Lisboa, 1979, pág. 24 (retornar ao texto)
(29) O sábio lingüista Dom Ricardo Carvalho Calero tem afirmado: “Hai que reconhecer ao Estado a capacidade legal para regulamentar a sua actividade, mas a finalidade que assi licitamente se persegue, é a melhor marcha dos assuntos públicos, da qual o governo é um mero gestor. Nom cabe, pois, contrariar desde o poder o interesse social sem que o governo se converta em tirânico. (...) Entrementres que umha Administraçom que nom tenha fé nas soluçons concertadas, continuará confiando em que os recursos coercitivos directos e indirectos do poder acabarám por reduzir a zero toda discrepância e toda crítica, e que escritores e professores, vivos ou mortos, terminarám por aceitar a postura oficial, os vivos por nom serem capazes de suster indefinidamente a sua incómoda postura de independentes marginados, e os mortos porque, como já ocorrera em 1984 no país de Orwell, serám ajeitadamente reconvertidos à norma burocrática polos técnicos estatais especialistas em rectificaçons históricas. (...) Em matéria de uso da língua - como de qualquer outro bem comum—, teriam que derrogarem-se as disposiçons que ignorassem os princípios da liberdade legítima na eleiçom de alternativas e que tratassem de forçar umha única soluçom dogmática e coercitiva para os problemas postos. Umha cousa é que o grupo que alcançou democraticamente o poder governe conformemente à sua opiniom, e outra que pretenda raer para sempre da face da terra toda opiniom contrária. A experiência nos di que isto último, além de imoral, é impossível”. Do Galego e da Galiza, Sotelo Blanco Edicións, Santiago de Compostela, 1990, págs. 81-83. (retornar ao texto)
(30)Para as normas: Orientacións para a escrita do noso idioma. Edicións Xistral, A Corunha, 1980. (retornar ao texto)
(31) Uma boa introdução para o pensamento desta corrente acha-se em: O noso idioma: problema central e problemas laterais de D. Pilar Garcia Negro em Actas do II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza. 1987, págs. 215-219; A consciéncia lingüística do século XIX en relación coa dos nosos dias do Dr. Francisco Rodríguez Sánchez, também nas Actas do II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza. 1987, págs. 663-670; Vigência dos plantexamentos lingüísticos do professor Ricardo Carballo Calero da Sra. D. Pilar Garcia Negro em Actas do III Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza. 1990, págs. 557-559. (retornar ao texto)
(32) No prefácio da segunda edição do Estudo Crítico das normas ortográficas e morfológicas do idioma galego, a Comissão Lingüística assinala: “A normativa ortográfica galega depende do conceito que se tenha do território em que se usa o galego. Admitir que em Portugal, Brasil, Angola, Moçambique... se falam variedades do galego, conduz a elaborar a língua-padrão, para a escrita e para a fala, de modo que seja válida para a Galiza e concorde, no possível, com os padrões lingüísticos usados nesses territórios. A este fim, a lingüística e dialectologia comparadas podem servir de grande ajuda”. (págs. 31-32) (retornar ao texto)
(34 )Em dous textos básicos: Estudo Crítico das Normas ortográficas e morfológicas do idioma galego (I.L.G. – R.A.G.) 1982, Edit. AGAL, 2ª Edição, A Corunha, 1989 e Prontuário ortográfico galego, Edit. AGAL, 1ª Edição, A Corunha, 1985, recolhem-se de forma didáctica e assisada, bem longe de disquisições de especialistas, as justificações teóricas, além das orientações práticas, do processo normalizador do idioma. Tive também em consideração, ainda que algo ressessas já, as “Orientaçons para a escrita do noso idioma”, 3. ª edição, da Associaçom Sócio-Pedagógica Galega, Galiza Editorial, Ourense, 1980, assim como o artigo de Santiago Esteban Radio: “Normativización e normalización do idioma galego. 1”, Ensino, Revista galega de Sócio-Pedagoxia e Sócio-Lingüística, n.º 0, Novembro-Dezembro, Ourense, 1980, págs. 43-52, e “Normativización e normalización do idioma galego. 2”, Ibid., n.º 1, Março-Abril, Ourense, 1981, págs. 47-52. (retornar ao texto)
(35) Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro assinado em 12 de Maio de 1986 no encerramento do Encontro de Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa realizado na sede da Academia Brasileira de Letras de 6 a 12 de Maio de 1986 [A Galiza foi representada por membros das Irmandades da Fala de Galiza e Portugal e da Associaçom Galega da Língua, em qualidade de observadores convidados, que aderiram ao Acordo]. Em quanto o Protocolo aceita a tese de existirem padrões ortoépicos próprios no mundo lusofalante, tentei a adequação às normas morfológicas vigorantes na nação galega sem desvirtuarem os princípios básicos que conformam os princípios do Acordo [Vede: “Bases Analíticas da Ortografia Simplificada da Língua Portuguesa de 1945, renegociadas em 1975 e consolidadas em 1986”, Nós – Revista Galaicoportuguesa de Cultura, núms. 2/3, Portugal-Galiza, Maio-Agosto, 1986; “Comentários ao novo acordo ortográfico“, J.L. Fontenla, I.A. Estravís, A. Figueroa (membros da delegação da Galiza convidada ao Encontro de Unificação), in Cadernos do Povo de Literatura e Ensaio, Ponte-Vedra – Braga, 1986; “Achegas socialistas às Bases Analíticas da Ortografia Simplificada para a língua da Galiza, Portugal, Brasil e países africanos de língua oficial portuguesa”, J.J. Santamaria Conde, A. Figueroa, J. Cândido, E. Estrela, Cadernos do Povo, Revista Internacional da Lusofonia, n.º 1, Braga, Janeiro-Abril, 1987]. (retornar ao texto)
(36) Carta a Cláudio Sánchez Albornoz, fotografada em Valentin Paz-Andrade, Castelao na luz e na sombra, pág. 596, Ediciós do Castro, A Corunha, 1982. (retornar ao texto)
(37) Sempre en Galiza, Ediciós Galiza, Centro Gallego de Buenos Aires – Instituto de Cultura Gallega, págs. 41-42, Cuarta Edizón, Buenos Aires,  1974. [na cita respectou-se escrupulosamente a escrita de Castelão]. (retornar ao texto)
(38) Teófilo Braga, História da Literatura Portuguesa. Idade Média, Imprensa Nacional, Lisboa, 1984, pág. 392. (retornar ao texto)
(39) “Toda opressão nacional implica uma opressão cultural. Sem ter instituições políticas próprias nem uma vida social e econômica soberana, não pode a cultura de seu manter-se na normalidade”, escreveram Francisco Rodríguez e Ramón López Suevos em Problemática nacional e colonialismo. O caso galego, pág. 44, Edicións Xistral, A Corunha, 1978. [Desespanolizei o texto cá inserido]. (retornar ao texto)
(40) Literatura y revolución, em Obras de Trotsky, Vol. 7, pág. 336, Akal editor, Madrid, 1979 (retornar ao texto)
(41)Il faut lutter pour un langage chatie, em Les questions du mode de vie. L´époque du «militantisme culturel» et ses tâches, Union Général d´Éditions, Paris, 1976, pág. 102. (retornar ao texto)
(42) Cuestiones de lengua y literatura, Ediciones Vanguardia Obrera, Madrid, 1990, págs. 88-89. (retornar ao texto)
(43)Gramática gallega, A Corunha, 1967. Na Espricazón Obrigada doseu Diccionário Galego-Castelán e Vocabulário Castelán-Galego (Barcelona, 8ª Edição, pág. XIX) sustentara terminantemente: “tamén en Portugal que perpetuóu a antiga fala galega como língua nazonal.” (respeitamos nesta introdução a forma escrita na altura polo lexicógrafo). (retornar ao texto)
(44) “A comunidade lingüística galego-portuguesa é um feito evidente, que nom pode ser borrado pola qualificação relativa que demos às suas diversas manifestaçons na linguagem.” (Os da banda de alá, em Da Fala e da Escrita, Galiza Editora, Ourense, 1983, pág. 115). E noutro lugar: “O galego nom pode viver de costas ao português, pois o Minho nom é uma fronteira lingüística.” (Sobre a situaçom do galego, em: Do galego e da Galiza, Sotelo Blanco Edicións, pág. 46). (retornar ao texto)
(45) O grande historiador da língua portuguesa Serafim da Silva Neto reconhece: “A Península Ibérica apresenta-nos, desde a Idade Média até hoje, três grupos lingüísticos românicos fortemente constituídos pela tradição, pela literatura e pela firme vontade dos habitantes: o português-galego, o espanhol (castelhano, leonês, asturiano) e o valenciano-catalão”. (História da língua portuguesa, Presença, Rio de Janeiro, 1979, pág. 365) [as itálicas som do da Silva]. Vede para o galego a Gramática Portuguesa das Doutoras Pilar Vázquez Cuesta e Maria Albertina Mendes da Luz (Volume I, págs. 84-127, Editorial Gredos, Madrid, 1971). (retornar ao texto)
(46) Um estudo exemplar entre nós foi efectuado por D. Ricardo Carvalho Calero: Modalidades do galego, em Sobre língua e literatura galega, págs. 211-228, Ed. Galáxia, Vigo, 1971. (retornar ao texto)
(47) O tradutor recomenda, amém dos insubstituíveis, Dicionário Galego Ilustrado, I Vol. (Ed. NOS, A Corunha, 1983); Dicionário da Língua Galega em três tomos (Ed. Alhena, Madrid, 1986); Dicionário da Língua Galega (Ed. Sotelo Blanco, 1995) da sua autoria, a colectánea de ensaios apanhados sob o título: Estudos filológicos galego-portugueses (Ed. Alhena, Madrid, 1987) e a minuciosa indagação: Léxico não registrado nos dicionários galegos, em Estudos dedicados a Ricardo Carvalho Calero, Tomo I, pp. 337-367, Ed. Parlamento da Galiza – Universidade de Santiago de Compostela, 2000. (retornar ao texto)
(48) Abunde com consultar uma obra da altura científica como Estudos de Dialectologia Portuguesa do Professor Luís F. Lindley Cintra (Sá Da Costa Editora, 1ª edição, Lisboa, 1983), comparando os seus resultados com escrupulosos estudos como: El habla de Ancares (León). Estudio fonético, morfosintáctico y léxico do doutor José Ramón Fernández González. Universidad de Oviedo, Oviedo 1981, e Etnografía del Valle de Ancares. Estudio lingüístico según el método “Palabras y Cosas” do mesmo investigador, Anexo 10 de Verba, Universidade de Santiago de Compostela, Vigo, 1978; Dialectoloxía da língua galega de F. Fernández Rei, Ed. Xerais, Vigo, 1990;  El gallego hablado en la comarca ferrolana, Anexo 9 de Verba, Universidade de Santiago de Compostela, 1977; Léxico de O Grove, de M. C. Henríquez, Anexo 3 de Verba, Universidade de Santiago de Compostela, 1974; El habla de Feás, de J. L. Couceiro Pérez, Anexo 5 de Verba, Universidade de Santiago de Compostela, 1976; El habla del Valle de Verín; Anexo 15 de Verba, Universidade de Santiago de Compostela, 1979; em fim, os volumes do Atlas Lingüístico galego do Instituto da Língua Galega editados pola Fundación Barrié de la Maza (1990-1995), por não referir à mesma página do I.L.G.: http://www.usc.es/˜ilgas/Biblio=.html (retornar ao texto)
(49) “A situação do escritor galego ante a cultura luso-brasileira”, em Estudos filológicos galegoportu-gueses, Alhena Ediciones, S.A., Madrid, 1987, pág. 84. (retornar ao texto)
(50) Vedeos Estudos galego-portugueses. Por uma Galiza renovada. Sá Da Costa Editora, Lisboa, 1979. Fundamentalmente são aconselháveis os ensaios: A Galiza, o Galego e Portugal; A recuperação literária do galego; Duas atitudes face ao problema do galego e Língua portuguesa: a quantidade e a qualidade. (retornar ao texto)
(51) Pode-se olhar o apartado: “As teses de Rodrigues Lapa ou o culturalismo e cosmopolitismo intelectual”, (págs. 52-54) no livro da sua autoria Conflicto lingüístico e ideoloxía en Galicia, Edicións Xistral, Vigo, 1980. (retornar ao texto)
(52) A linguagem é consciência social, certo, mas também bosquejo do conhecimento da sociedade. Apóia tanto na poiesis como na práxis. Enquanto a linguagem é poiesis, o homem apropria-se da natureza tanto do seu entorno como dele mesmo. Enquanto praxis estabelece as relações entre os seres humanos, isto é, as relações de intercâmbio. É por isso que a linguagem é consciência social e elemento de transformação. Como forma da praxis a linguagem é conteúdo que cria formas numa relação dialéctica entre as formas e o conteúdo. Só uma práxis revolucionária, quer dizer, marxista, fornece os elementos para a compreensão concreta, isto é, dialéctica, das relações sociais. Que o Professor Francisco Rodríguez entenda correctamente. Não pretendo cargar ad hominem, tão só explicitar a inteligência duma desventurada incompreensão. (retornar ao texto)
(53) Op. cit. pág. 76. [as negritas são da minha autoria] (retornar ao texto)
(54) Os filólogos Michael Metzeltin e Marcolino Candeias têm escrito: “Onde quer que um grupo numa sociedade detenha o poder, tratará de impor a sua ideologia aos demais membros da sociedade. Como uma língua é um dos meios mais poderosos para veicular uma ideologia, mas também para as combater, o grupo dominante tratará por conseguinte de impor também a sua língua como modelo, enquanto que os dissidentes tratarão de o destruir”. Semântica e sintaxe do português, pág. 274. Livraria Almedina, Coimbra, 1982. (retornar ao texto)
(55) Op. cit., pág. 53 (retornar ao texto)
(56) Carta de Engels a Francisco Mehring, em Obras escogidas de Marx y Engels, Vol. III, pág. 523. (retornar ao texto)
(57) Francisco Rodríguez não é qualquer pessoa indeterminada na Galiza. Trata-se dum dos mais importantes quadros políticos do nacionalismo galego de esquerda, membro da Permanente do Conselho Nacional do B.N.G. (Bloco Nacionalista Galego), do Secretariado Político da U. P. G (a União do Povo Galego é um partido que se tem definido nos seus congressos como marxista-leninista) e porta-voz do Bloco Nacionalista Galego no Parlamento de Espanha. (retornar ao texto)
(58) Um belo objecto é um prazer eterno. (retornar ao texto)

Inclusão 25/10/2007
Última alteração 22/11/2011

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