Entrevista
Um encontro histórico
O bispo de Macau aos responsáveis da Associação Patriótica: "Sinto uma grande consolação, hoje, por este encontro convosco".
De 25 de Outubro a 3 de Novembro, esteve de visita à República Popular da China o bispo da diocese de Macau, D. Arquimínio Rodrigues da Costa acompanhado dum grupo de cristãos, constituído por cinco sacerdotes, duas religiosas e dois leigos respectivamente RR. PP. Francisco Hung, João Evangelista Lau, José Lai, Luís Sequeira, Pedro Chung, Irs. Rosa Hung e Victoria Lau e os Srs. Carmen Cheng e Carlos Choi.
Foi uma experiência extraordinária que permitiu um maior conhecimento, porque mais de perto, das novas realidades da Igreja na China e também a tranquilização dos nossos receios em relação ao futuro da Igreja em Macau, quando se verificar a transferência da administração para a China.
Da riqueza dessa experiência, vivida por todo o grupo, e de modo especial pelo pastor da nossa diocese de Macau, aqui oferecemos aos nossos leitores o testemunho pessoal do nosso bispo.
Clarim — D. Arquimínio, acaba de regressar da sua viagem à China, à frente de um grupo de cristãos constituído por sacerdotes, religiosos e leigos da Diocese de Macau. Começando pela primeira etapa (Beijing), qual foi o tipo de contactos aí havidos?
D. Arquimínio — Em Beijing tivemos vários contactos muito importantes. O primeiro foi com o Bispo de Pequim, o pároco da catedral e alguns membros da Associação Patriótica da Igreja na China. O segundo foi com a Associação Patriótica, presidida pelo Bispo dessa Associação. Havia outros bispos presentes e também leigos da Associação. Sobre cada um desses encontros poderia dizer duas palavras.
O primeiro encontro foi de carácter informativo, durante o qual o bispo e também os membros da Associação Patriótica nos fizeram uma exposição sobre a situação da Igreja em Beijing, frisando o carácter específico da Igreja na China. Para eles, a Igreja na China é totalmente independente do exterior. É uma Igreja que é ajudada pelo Governo e com ele procura colaborar, sobretudo nas quatro modernizações.
Da nossa parte, também expusemos a situação da Igreja em Macau, frisando as actividades que aqui desenvolvemos, não só no campo da evangelização, no campo estritamente eclesial, mas também no campo do serviço ao povo. Por exemplo, no campo da educação, falámos das nossas escolas; no campo da assistência social, falámos também das nossas obras de assistência. Um aspecto importante, que também quisemos focar, foi o da Igreja em Macau estar em comunhão com as outras dioceses, no intercâmbio existente a nível de pessoas e bens (há missionários estrangeiros que trabalham em Macau e missionários de Macau a trabalhar no exterior, a Igreja em Macau recebe apoio material de outras partes do mundo católico e nós também, quando há qualquer necessidade premente no exterior - terramoto no México, tragédia ferroviária em Portugal, etc. - também procuramos ajudar. Frisámos também que a Igreja em Macau é uma Igreja local que está a ser construída e há a tendência de dar aos chineses, que são a maioria, a direcção desta Igreja, a nível de paróquias, de comunidades religiosas, etc. Por enquanto, o bispo ainda não é chinês, mas há-de sê-lo no futuro. Este foi, em grandes linhas, o conteúdo do primeiro encontro.
Quanto ao segundo encontro, não foi substancialmente diferente do primeiro a nível de conteúdo. Simplesmente, nesse encontro participaram já, não só o bispo de Pequim, mas todos os bispos daquela região, que ali se encontravam. Um encontro, portanto, em que participou um maior número de membros da Associação Patriótica. Frisaram a grande importância de os católicos amarem a Pátria, de colaborarem com o governo nas quatro modernizações e noutros problemas afins. Salientaram o grande auxílio que o Governo está a dar à Igreja, nomeadamente, no restauro das igrejas que foram subtraídas ao culto durante a revolução cultural e cujas despesas são substancialmente suportadas pelo Governo. Quiseram que nós visitássemos uma dessas igrejas. Trata-se de uma igreja de estilo gótico, de grandes dimensões, cujas obras de restauro estão já numa fase bastante adiantada e que vai ser aberta ao culto no Natal. Essa abertura é feita, porque é necessária para o culto. De facto, as igrejas existentes abertas ao público são insuficientes. Beijing é uma cidade muito vasta, de grandes espaços e os cristãos não podem fazer grandes deslocações. Lá a deslocação é feita, em grande parte, por meio de bicicletas. É verdade que há também o transporte de autocarro, mas os cristãos não podem gastar uma ou duas horas para chegar à igreja. Portanto, é necessário que haja igrejas em vários pontos de Beijing, para os cristãos poderem participar nos actos do culto, o que motiva precisamente o facto de estarem a ser restauradas, neste momento, várias outras igrejas além daquela que nós visitámos. Por nossa parte, voltámos a repetir a mesma exposição sobre a Igreja de Macau, que já tínhamos feito no primeiro encontro.
LIBERDADE DE RELIGIÃO E INDEPENDÊNCIA
Clarim — Para além destes dois encontros que já referiu, houve algum outro que queira salientar?
D. Arquimínio — Sim, tivemos ainda outro encontro, este já mais de carácter político. Foi o encontro com o director do Gabinete para os Assuntos Religiosos, em que ele nos expôs a política do Governo quanto à liberdade de religião. Disse que essa liberdade é garantida pela constituição e que todos são livres de praticarem a própria fé. Lembrou que, no passado, a Igreja tinha tido um carácter de Igreja colonial, e dominadora e que, por isso, a China de hoje, ao querer defender a sua independência, quis estender também essa independência ao campo religioso. De modo que a Igreja na China é uma igreja independente, uma igreja que se governa a si mesma, que se sustenta a si mesma, que se propaga por si mesma, sem interferência ou qualquer outro tipo de dependência que venha do exterior. No entanto, acentuou que isso não quer dizer, de modo nenhum, que eles não queiram o diálogo e a mútua compreensão e amizade entre Igreja da China e as outras Igrejas. A Igreja da China e aquele Gabinete não interferirão na Igreja de Macau, e esta também não pode interferir na Igreja da China. Este foi um ponto muito frisado.
Nós procurámos, por nossa parte, salientar que a Igreja tinha evoluído muito nestes últimos vinte anos e que agora já não tinha esse carácter colonialista, como eles haviam referido, e de estreita ligação ao poder civil, como antigamente. Que era uma Igreja muito mais aberta e que era a favor da promoção das igrejas locais. O Director do Gabinete reconheceu que se registara essa evolução, mas que havia ainda dois pontos na Igreja Católica que eles não podiam admitir. O primeiro é que o Vaticano tinha relações diplomáticas com Taiwan e não com Beijing. O segundo é que o Vaticano se intrometia nos assuntos internos da Igreja chinesa. Mas acrescentou imediatamente que não queria discutir estes assuntos para não prejudicar o clima amistoso daquele encontro, que era, de facto, um encontro de amigos.
O FUTURO DA IGREJA EM MACAU
Clarim — Tivemos conhecimento de que, para além dos encontros já referidos, houve também um encontro com os responsáveis do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau. Dado tratar-se de dois territórios com muitos pontos em comum que, num futuro próximo, irão passar para a Administração chinesa, penso que esse encontro, tenha um interesse particular no que se refere a Macau e, por conseguinte, à sua população. Pode dizer-nos algo do que se passou nesse encontro?
D. Arquimínio — Esse encontro, de facto, aconteceu, mas devo dizer que foi um encontro que partiu de um nosso pedido. Claro que se tratava, neste caso, de um encontro que se revestia de um carácter estritamente político. Solicitámos esse encontro e explicámos qual o motivo, ou seja: nós estamos preocupados com o futuro de Macau. A Igreja faz parte da sociedade de Macau. Por isso mesmo, tudo o que afecta a sociedade de Macau, afecta a Igreja. Queríamos saber, portanto, qual seria o futuro da Igreja em Macau após a transferência da Administração de Macau para a China. Ele disse que não podia adiantar-se às negociações entre Portugal e a China, porque esses assuntos pertenciam às duas partes, mas que podia, no entanto, ouvir as nossas preocupações e até dizer o que ele pensava e o que pensava o governo chinês. Perante tal resposta, apresentámos-lhe várias questões. A primeira foi a que se relaciona com a liberdade religiosa. E frisámos que, em Macau, a liberdade religiosa de que nós gozamos, implica a comunhão com o Papa. E quisemos saber se, após a transferência feita, essas relações com o Papa continuariam ou não. Ele afirmou-nos que certamente continuariam, porque a política do Governo em matéria religiosa é para a China, mas não é para as "regiões especiais". O princípio fundamental é "um país, dois sistemas". Por isso, no futuro, Macau pertencerá ao mesmo país, mas terá um sistema diferente e, portanto, haverá também essas diferenças que existem hoje. E assim, a comunhão com o Papa poderá continuar.
As outras questões que abordámos foram as referentes ao intercâmbio (de pessoas e auxílio material) da Igreja de Macau com outras Igrejas, outras Dioceses, e também às actividades extra-culto em que a Igreja está envolvida (educação, assistência social, etc.). Foi-nos igualmente afirmado que tudo isso continuaria mesmo depois da transferência de Macau para a China.
Um outro problema que também apresentámos foi o de saber se, antes ou durante as negociações, o povo de Macau seria ouvido dando também as suas sugestões. Responderam-nos afirmativamente e ate nos indicaram os canais; isto é, que, se tivéssemos alguma coisa a comunicar à delegação chinesa durante as negociações, poderíamos canalizar isso através da Firma Nam Kwong.
Falámos igualmente da liberdade de imprensa que existe em Macau (onde não existe censura prévia) e dos nossos meios de comunicação social; se isso continuaria no futuro. E também a este problema nos foi respondido afirmativamente. Quando tocámos, porém, o problema dos programas de rádio que a diocese produz e emite e quisemos saber se a emissão de tais programas poderia continuar, aí ele afirmou-nos que não estava devidamente preparado para poder responder e que teria, por conseguinte, de estudar o assunto. Foi também nossa preocupação, neste encontro, frisar a necessidade de preparação do povo local para a administração do Território no futuro, uma vez que Macau será administrado pelo povo de Macau e salientámos que o modelo de Hong Kong será aplicado a Macau, mas que não poderia ser aplicado cem por cento, porque Macau tem as suas especificidades. Por exemplo, os Códigos de Direito estão escritos em português e não estão traduzidos para chinês; é o caso do código civil, o código de registo, o código penal. Os próprios juízes são portugueses, os juristas são portugueses, os delegados são portugueses. Se eles se vão embora, que acontecerá? Há que formar pessoal chinês local no direito português, uma vez que essa legislação se vai manter aqui. Ele concordou com a nossa preocupação e reconheceu, de facto, a necessidade de preparar o pessoal.
Por último, apresentámos o problema da necessidade da oficialização da língua chinesa em Macau, com o que ele concordou também inteiramente.
ENCONTRO COM O EMBAIXADOR DE PORTUGAL
Clarim — Dado que se tratava da visita de uma comitiva de Macau chefiada pelo próprio bispo de Macau, era de esperar que o embaixador de Portugal em Beijíng tivesse igualmente interesse em contactar com o Sr. Bispo, pelo menos. Houve, de facto, qualquer encontro com o nosso embaixador?
D. Arquimínio - Quando o embaixador português soube que estávamos em Beijing, mostrou interesse em encontrar-se connosco e nós também tínhamos igual interesse. E foi nesse encontro que viemos a saber que será ele quem vai chefiar a delegação portuguesa nas negociações com a China, sobre Macau. Vimos que era uma pessoa muito aberta e muito sensível aos problemas da Igreja, tanto assim que ele nos pediu que, se tivéssemos problemas, os fizéssemos chegar até à nossa embaixada, para ele depois, nas negociações, ter lambem em conta os interesses da igreja em Macau, no futuro. Deixou-nos, na verdade, uma óptima impressão e julgamos tenha sido também um encontro muito importante, pois convém-nos manter as boas relações também com a nossa embaixada, uma vez que ela, em parte, vai também defender os interesses da Igreja em Macau.
RELAÇÕES DA IGREJA DA CHINA COM O PAPA
Clarim — Foi focado o problema das relações da Igreja da China com o Papa?
D. Arquiminío — Esse assunto foi tocado indirectamente, e não por indicativo nosso, mas dos nossos interlocutores. Em todos os encontros que tivemos, eles fizeram notar o aspecto específico da Igreja da China, que é uma Igreja independente de qualquer interferência exterior e que não está sujeita, portanto, a qualquer autoridade fora da China. Este foi um tema que, embora indirectamente, foi focado em todos os encontros, mas sobretudo no que tivemos com o Director do Gabinete de Assuntos Religiosos, dado ser a pessoa responsável pela política da China neste campo.
PANORAMA DA IGREJA NA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA
Clarim — Pode dar-nos uma ideia de como vive a Igreja na China?
D. Arquímínio - A Igreja na China está numa fase de reorganização após a revolução cultural. Como é sabido, durante esse período a Igreja foi perseguida, houve igrejas que foram destruídas, juntamente com todos os objectos de culto, ou subtraídas ao culto e transformadas em armazéns, em escolas, etc.; os bens que eram propriedade da Igreja foram confiscados. De modo que agora a Igreja está precisamente a reconstruir-se. E nesta obra de reconstrução e restauro o Governo tem ajudado muito. Aliás, eles tiveram sempre a preocupação de salientar este aspecto em todos os encontros que tivemos: a grande generosidade que o Governo está a mostrar nas obras de restauro das igrejas e a entregá-las à hierarquia, e não só igrejas como também aos seminários.
Outro aspecto da Igreja na China é a falta de clero e a idade avançada do actual. Há padres e bispos de 70, de 80 e 90 anos. Dada esta falta de clero, estão interessados em criar e incentivar os seminários, contando hoje com sete seminários regionais em toda a China. As vocações são abundantes. Visitámos o seminário de Shangai que tem cerca de 100 seminaristas de diversas dioceses. Há vocações jovens e vocações adultas. Lembro-me, por exemplo, de me terem falado num seminarista de 61 anos, que está a estudar e vai ser ordenado em breve.
Notei também um grande fervor por parte dos cristãos, uma grande afluência, devoção e participação nos actos de culto. Recordo, por exemplo, que em Beijirig onde assisti à última parte da Missa e à bênção do SS. mo, todo o povo cantava, apesar de alguns cantos serem em latim. Foi--me dado verificar isso na visita que fizemos ao santuário de N.a S.a de She-Shan, em Shangaj, onde pude ver grande número de pessoas ajoelhadas devotamente diante da imagem de N.a S.a de Lurdes ou do Coração de Jesus a fazer em voz alta as suas orações. E falaram-me que sobretudo no mês de Maio, o povo acorre em número extraordinário e aí, de joelhos, percorre as 14 estações da Via-Sacra que se encontram na encosta da colina. Tudo isto mostra bem a grande devoção e espírito de oração do povo cristão da China.
Clarim — De quanto acaba de dizer pode concluir-se que há uma forte participação dos leigos na Igreja na China?
D. Arquimíni o - Com certeza. Os leigos participam não só da vida litúrgica da Igreja, mas também, em grande parte, na administração da Igreja, libertando o clero desse serviço, visto ser muito reduzido e de idade avançada. Todos os trabalhos relacionados com as obras de restauro de igrejas ou a procura de soluções para as igrejas ainda ocupadas com armazéns e a sua reentrega à hierarquia e outros problemas afins, tudo isso é tarefa dos leigos, que para isso têm de contactar com os diversos organismos do governo. Mais ainda: nos próprios seminários há leigos a ensinar os seminaristas, ensinando, para além de outras matérias, inclusivamente o latim. Trata-se em geral de ex-seminaristas, que possuem uma boa formação cultural. Tudo isto acontece porque os padres são insuficientes e mostra bem como até nos seminários é bem evidente a participação dos leigos.
Clarim — Nota-se também alguma participação por parte da juventude?
D. Arquimínio — Nós não tivemos nenhuns contactos específicos com a juventude. Mas sabemos que há muitas conversões de adultos e, entre eles, há também jovens que se convertem, embora, segundo me afirmaram, em menor número.
Por outra parte, soubemos que há muitas vocações na China (vocações religiosas e vocações para o sacerdócio}. Falta é lugar para receber tantas vocações. O seminário de Shangai, por exemplo, tem recebido anualmente uns trinta seminaristas. Presentemente, não dispõe de mais vagas e por isso está a ser construído um novo seminário, para cujas despesas o governo contribui em grande parte. A abundância de vocações revela também, por outro lado, a abertura da juventude chinesa aos problemas da Igreja e a sua sensibilidade à acção desenvolvida pela Igreja entre povo da China.
Clarim — Pode considerar-se a Igreja na China uma igreja empenhada em caminhar com os novos tempos e em abrir-se cada vez mais ao mundo?
D. Arquimínio - A principal preocupação da Igreja na China é a manutenção da sua identidade.
Há também um grande interesse em colaborar com o governo nas quatro modernizações.
Quanto a acompanhar os novos tempos, não há possibilidades para grandes voos, porque o clero, sendo muito reduzido e bastante idoso, mal chega, para os serviços essenciais (celebração da Missa, confissões c administração dos demais sacramentos), o que os obriga, por vezes, a longas deslocações de comboio para atender a essas necessidades e ajudar outros padres nessas tarefas. Limitam-se, por isso mesmo, ao essencial e, em vista do futuro, todo o seu esforço e esperanças se concentram nos seminários.
BALANÇO FINAL
Clarim - Como conclusão, que impressões traz desta sua viagem?
O. Arquimmío - As minhas impressões são positivas. Õ fim principal desta visita i China era incrementar as relações de amizade e compreensão entre a Igreja em Macau e a Igreja na China e creio que esse objectivo foi conseguido, pois houve, na verdade, uma grande cordialidade de parte a parte, em todos os encontros que tivemos, a todos os níveis. Foi claro para nós o desejo expresso por todos eles de que estas visitas pudessem repetir-se no futuro, de modo a podermos conhecer-nos, e compreender-nos melhor e colaborarmos mais.
Gostei muito de encontrar em Shangai o bispo Kong. Como sabe, esteve preso durante trinta anos e nós pedimos para nos encontrarmos com ela. Uma vez que estávamos ali para nos encontrarmos com o maior número possível de bispos, não queríamos que ele ficasse excluído. E foi--nos dada, de facto, autorização para o encontrarmos num jantar, juntamente com um bom número de outros bispos. Apesar da sua avançada idade (85 anos), a sua presença nesse jantar permitiu-nos cumprimentá-lo e manifestar-lhe a nossa alegria por encontrá-lo e conhecê-lo, uma vez que até aí apenas o conhecíamos de nome. Dissemos-lhe que rezávamos por ele e notámos a sua grande comoção ao falar connosco, o que lhe fez vir as lágrimas aos olhos.
O bispo Jin, de Shangai, foi também de uma amabilidade estrema connosco, pedindo-nos com insistência que voltássemos, pois que a nossa visita tinha sido para eles uma bênção e um encorajamento. Declarou-nos que Macau, que em tempos foi a porta de entrada do cristianismo na China, poderia ser hoje uma ponte entre os cristãos da China e os de fora. Mostrou-se realmente muito expansivo connosco e foi bem visível o seu contentamento.
Comparando os encontros que tivemos em Beijing, Nanjim e Shanghai e também em Cantão, nós notámos que em Beijing os nossos encontros foram mais de carácter político, embora os tenha havido também de carácter pastoral. Em Nanjim e Shanghai os encontros foram, fundamentalmente, de tipo pastoral, com exposições, de ambas as partes, sobre a situação das respectivas Igrejas. Em Shanghai, nós pudemos ver realmente uma comunidade cheia de vida, dado lambem o seu elevado número (cerca de 100 mil católicos, enquanto que em Beijing são apenas uns 30 mil). Notámos um grande interesse em viver em comunhão com as outras Igrejas do exterior (comunhão de amizade, de oração, de contactos humanos, de intercâmbio de ideias,
e te.)
Tivemos, por fim, em Cantão, um outro encontro, este, aliás, inesperado Foi um encontro com 10 Bispos, o pároco da Catedral, alguns elementos da Associação Patriótica e o Director do Gabinete dos Assuntos Religiosos que, durante o jantar que nos ofereceu, nos dirigiu uma saudação, insistindo na conveniência de nós, aqui tão vizinhos, nos visitarmos mais vezes. Afinal -dizia ele - deslocaram-se a Beijing que fica tão longe, para uma visita de vários dias e aqui, que estamos tão perto limitam-se apenas a uma noite, que não chega para nada! E sugeriu-nos, entre outras coisas, uma visita à ilha de S. João, onde morreu S. Francisco Xavier.
Enfim, verificámos, na verdade, em todos os momentos da nossa visita, uma grande abertura com o nosso grupo e um grande desejo de intensificar estas relações no futuro, em vista de um cada vez maior conhecimento, estima e cooperação mútuos.
(Cardoso, Tomás Bettencourt (coord.) (1999) Textos de D. Arquimínio Rodrigues da Costa. Macau: Fundação Macau. pp. 188-194)
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