terça-feira, 10 de janeiro de 2012

bispo da diocese de Macau, D. Arquimínio Rodrigues da Costa


Entrevista

Um encontro histórico
O bispo de Macau aos responsáveis da Associação Patriótica: "Sinto uma grande consolação, hoje, por este encontro convosco".
De 25 de Outubro a 3 de Novembro, esteve de visita à República Popular da China o bispo da diocese de Macau, D. Arquimínio Rodrigues da Costa acompanhado dum grupo de cristãos, constituído por cinco sacerdotes, duas religiosas e dois leigos res­pectivamente RR. PP. Francisco Hung, João Evangelista Lau, José Lai, Luís Sequeira, Pedro Chung, Irs. Rosa Hung e Victoria Lau e os Srs. Carmen Cheng e Carlos Choi.
Foi uma experiência extraordinária que permitiu um maior conhecimento, porque mais de perto, das novas realidades da Igre­ja na China e também a tranquilização dos nossos receios em re­lação ao futuro da Igreja em Macau, quando se verificar a trans­ferência da administração para a China.
Da riqueza dessa experiência, vivida por todo o grupo, e de modo especial pelo pastor da nossa diocese de Macau, aqui oferecemos aos nossos leitores o testemunho pessoal do nosso bispo.



Clarim D. Arquimínio, acaba de regressar da sua viagem à China, à frente de um grupo de cristãos constituído por sacerdotes, reli­giosos e leigos da Dio­cese de Macau. Come­çando pela primeira etapa (Beijing), qual foi o tipo de contactos aí havidos?
D. Arquimínio — Em Beijing tivemos vários contactos muito im­portantes. O primeiro foi com o Bispo de Pequim, o pároco da catedral e alguns mem­bros da Associação Pa­triótica da Igreja na China. O segundo foi com a Associação Patriótica, presidida pelo Bispo dessa Associação. Havia outros bispos presentes e também lei­gos da Associação. So­bre cada um desses en­contros poderia dizer duas palavras.
O primeiro encontro foi de carácter informa­tivo, durante o qual o bispo e também os membros da Associa­ção Patriótica nos fi­zeram uma exposição sobre a situação da Igreja em Beijing, frisan­do o carácter específico da Igreja na China. Para eles, a Igreja na China é totalmente in­dependente do exterior. É uma Igreja que é ajudada pelo Governo e com ele procura co­laborar, sobretudo nas quatro modernizações.
Da nossa parte, tam­bém expusemos a situa­ção da Igreja em Macau, frisando as actividades que aqui desenvolvemos, não só no campo da evangelização, no cam­po estritamente eclesial, mas também no campo do serviço ao povo. Por exemplo, no campo da educação, falámos das nossas escolas; no cam­po da assistência social, falámos também das nossas obras de assistên­cia. Um aspecto impor­tante, que também qui­semos focar, foi o da Igreja em Macau estar em comunhão com as outras dioceses, no in­tercâmbio existente a nível de pessoas e bens (há missionários estran­geiros que trabalham em Macau e missionários de Macau a trabalhar no exterior, a Igreja em Macau recebe apoio ma­terial de outras partes do mundo católico e nós também, quando há qualquer necessidade pre­mente no exterior - ter­ramoto no México, tra­gédia ferroviária em Por­tugal, etc. - também pro­curamos ajudar. Frisá­mos também que a Igreja em Macau é uma Igreja local que está a ser construída e há a ten­dência de dar aos chineses, que são a maioria, a direcção desta Igreja, a nível de paró­quias, de comunidades religiosas, etc. Por en­quanto, o bispo ainda não é chinês, mas há-de sê-lo no futuro. Este foi, em grandes linhas, o conteúdo do primeiro encontro.



 Quanto ao segundo encontro, não foi substancialmente dife­rente do primeiro a nível de conteúdo. Sim­plesmente, nesse encontro participaram já, não só o bispo de Pequim, mas todos os bispos daquela região, que ali se encontravam. Um encontro, portanto, em que participou um maior número de membros da Associação Patriótica. Frisaram a grande im­portância de os católicos amarem a Pátria, de colaborarem com o go­verno nas quatro mo­dernizações e noutros problemas afins. Salien­taram o grande auxílio que o Governo está a dar à Igreja, nomeada­mente, no restauro das igrejas que foram sub­traídas ao culto durante a revolução cultural e cujas despesas são subs­tancialmente suporta­das pelo Governo. Qui­seram que nós visitás­semos uma dessas igre­jas. Trata-se de uma igreja de estilo gótico, de grandes dimensões, cujas obras de restauro estão já numa fase bastante adiantada e que vai ser aberta ao culto no Natal. Essa abertura é feita, porque é neces­sária para o culto. De facto, as igrejas existen­tes abertas ao público são insuficientes. Beijing é uma cidade muito vasta, de grandes espa­ços e os cristãos não podem fazer grandes des­locações. Lá a desloca­ção é feita, em grande parte, por meio de bicicletas. É verdade que há também o transporte de autocarro, mas os cristãos não po­dem gastar uma ou duas horas para chegar à igreja. Portanto, é ne­cessário que haja igrejas em vários pontos de Beijing, para os cristãos poderem participar nos actos do culto, o que motiva precisamente o facto de estarem a ser restauradas, neste mo­mento, várias outras igrejas além daquela que nós visitámos. Por nossa parte, voltámos a re­petir a mesma exposição sobre a Igreja de Macau, que já tínhamos feito no primeiro encontro.


LIBERDADE DE RELIGIÃO E INDEPENDÊNCIA

Clarim Para além des­tes dois encontros que já referiu, houve algum outro que queira sali­entar?
D. Arquimínio — Sim, tivemos ainda outro encontro, este já mais de carácter político. Foi o encontro com o di­rector do Gabinete para os Assuntos Religiosos, em que ele nos expôs a política do Governo quanto à liberdade de religião. Disse que essa liberdade é garantida pela constituição e que todos são livres de pra­ticarem a própria fé. Lembrou que, no pas­sado, a Igreja tinha tido um carácter de Igreja colonial, e dominadora e que, por isso, a China de hoje, ao querer de­fender a sua indepen­dência, quis estender também essa indepen­dência ao campo reli­gioso. De modo que a Igreja na China é uma igreja independente, uma igreja que se governa a si mesma, que se sustenta a si mesma, que se propaga por si mesma, sem interferên­cia ou qualquer outro tipo de dependência que venha do exterior. No entanto, acentuou que isso não quer dizer, de modo nenhum, que eles não queiram o diálogo e a mútua compreensão e amizade entre Igreja da China e as outras Igrejas. A Igreja da China e aquele Gabinete não inter­ferirão na Igreja de Macau, e esta também não pode interferir na Igreja da China. Este foi um ponto muito frisado.
Nós procurámos, por nossa parte, salientar que a Igreja tinha evoluído muito nestes últimos vin­te anos e que agora já não tinha esse carácter colonialista, como eles haviam referido, e de estreita ligação ao po­der civil, como antiga­mente. Que era uma Igreja muito mais aberta e que era a favor da promoção das igrejas locais. O Director do Gabinete reconheceu que se registara essa evolu­ção, mas que havia ainda dois pontos na Igreja Católica que eles não podiam admitir. O primeiro é que o Va­ticano tinha relações di­plomáticas com Taiwan e não com Beijing. O segundo é que o Va­ticano se intrometia nos assuntos internos da Igreja chinesa. Mas acres­centou imediatamente que não queria discutir estes assuntos para não prejudicar o clima amis­toso daquele encontro, que era, de facto, um encontro de amigos.

O FUTURO DA IGREJA EM MACAU

Clarim Tivemos co­nhecimento de que, para além dos encontros já referidos, houve também um encontro com os responsáveis do Gabine­te para os Assuntos de Hong Kong e Macau. Dado tratar-se de dois territórios com muitos pontos em comum que, num futuro próximo, irão passar para a Administração chinesa, penso que esse encon­tro, tenha um interesse particular no que se refere a Macau e, por conseguinte, à sua po­pulação. Pode dizer-nos algo do que se passou nesse encontro?
D. Arquimínio — Esse encontro, de facto, aconteceu, mas devo dizer que foi um en­contro que partiu de um nosso pedido. Claro que se tratava, neste caso, de um encontro que se revestia de um carácter estritamente po­lítico. Solicitámos esse encontro e explicámos qual o motivo, ou seja: nós estamos preocupa­dos com o futuro de Macau. A Igreja faz parte da sociedade de Macau. Por isso mes­mo, tudo o que afecta a sociedade de Macau, afecta a Igreja. Quería­mos saber, portanto, qual seria o futuro da Igreja em Macau após a transferência da Administração de Macau para a China. Ele disse que não podia adian­tar-se às negociações entre Portugal e a China, porque esses assuntos pertenciam às duas par­tes, mas que podia, no entanto, ouvir as nossas preocupações e até dizer o que ele pensava e o que pensava o governo chinês. Perante tal res­posta, apresentá­mos-lhe várias questões. A primeira foi a que se relaciona com a li­berdade religiosa. E frisámos que, em Macau, a liberdade religiosa de que nós gozamos, im­plica a comunhão com o Papa. E quisemos sa­ber se, após a trans­ferência feita, essas re­lações com o Papa con­tinuariam ou não. Ele afirmou-nos que certa­mente continuariam, por­que a política do Go­verno em matéria religiosa é para a China, mas não é para as "re­giões especiais". O prin­cípio fundamental é "um país, dois sistemas". Por isso, no futuro, Macau pertencerá ao mesmo país, mas terá um sistema diferente e, portanto, haverá tam­bém essas diferenças que existem hoje. E assim, a comunhão com o Papa poderá continuar.
As outras questões que abordámos foram as referentes ao inter­câmbio (de pessoas e auxílio material) da Igreja de Macau com outras Igrejas, outras Dioceses, e também às actividades extra-culto em que a Igreja está envolvida (educação, as­sistência social, etc.). Foi-nos igualmente afir­mado que tudo isso con­tinuaria mesmo depois da transferência de Macau para a China.
Um outro problema que também apresen­támos foi o de saber se, antes ou durante as negociações, o povo de Macau seria ouvido dando também as suas sugestões. Responderam-nos afirmativamente e ate nos indicaram os canais; isto é, que, se tivéssemos alguma coisa a comunicar à delega­ção chinesa durante as negociações, poderíamos canalizar isso através da Firma Nam Kwong.
Falámos igualmente da liberdade de imprensa que existe em Macau (onde não existe censura prévia) e dos nossos meios de comunicação social; se isso continua­ria no futuro. E também a este problema nos foi respondido afirmati­vamente. Quando tocá­mos, porém, o problema dos programas de rádio que a diocese produz e emite e quisemos sa­ber se a emissão de tais programas poderia continuar, aí ele afir­mou-nos que não estava devidamente preparado para poder responder e que teria, por conseguin­te, de estudar o assunto. Foi também nossa preocupação, neste en­contro, frisar a necessi­dade de preparação do povo local para a admi­nistração do Território no futuro, uma vez que Macau será administra­do pelo povo de Macau e salientámos que o modelo de Hong Kong será aplicado a Macau, mas que não poderia ser aplicado cem por cento, porque Macau tem as suas especificidades. Por exemplo, os Códigos de Direito estão escritos em português e não estão tra­duzidos para chinês; é o caso do código civil, o código de registo, o código penal. Os pró­prios juízes são portu­gueses, os juristas são portugueses, os delegados são portugueses. Se eles se vão embora, que acontecerá? Há que for­mar pessoal chinês lo­cal no direito português, uma vez que essa le­gislação se vai manter aqui. Ele concordou com a nossa preocupa­ção e reconheceu, de facto, a necessidade de preparar o pessoal.
Por último, apresen­támos o problema da necessidade da oficiali­zação da língua chinesa em Macau, com o que ele concordou tam­bém inteiramente.
ENCONTRO COM O EMBAIXADOR DE PORTUGAL
Clarim Dado que se tratava da visita de uma comitiva de Macau chefiada pelo próprio bispo de Macau, era de esperar que o em­baixador de Portugal em Beijíng tivesse igual­mente interesse em con­tactar com o Sr. Bispo, pelo menos. Houve, de facto, qualquer encon­tro com o nosso em­baixador?
D. Arquimínio - Quan­do o embaixador por­tuguês soube que es­távamos em Beijing, mos­trou interesse em en­contrar-se connosco e nós também tínhamos igual interesse. E foi nesse encontro que vie­mos a saber que será ele quem vai chefiar a delegação portuguesa nas negociações com a China, sobre Macau. Vi­mos que era uma pessoa muito aberta e muito sensível aos problemas da Igreja, tanto assim que ele nos pediu que, se tivéssemos proble­mas, os fizéssemos che­gar até à nossa embaixa­da, para ele depois, nas negociações, ter lambem em conta os interesses da igreja em Macau, no futuro. Deixou-nos, na verdade, uma óptima im­pressão e julgamos tenha sido também um en­contro muito importan­te, pois convém-nos man­ter as boas relações também com a nossa embaixada, uma vez que ela, em parte, vai também defender os in­teresses da Igreja em Macau.
RELAÇÕES DA IGREJA DA CHINA COM O PAPA
Clarim Foi focado o problema das relações da Igreja da China com o Papa?
D. Arquiminío — Esse assunto foi tocado in­directamente, e não por indicativo nosso, mas dos nossos interlocutores. Em todos os encontros que tivemos, eles fize­ram notar o aspecto específico da Igreja da China, que é uma Igreja independente de qual­quer interferência exterior e que não está sujeita, portanto, a qual­quer autoridade fora da China. Este foi um tema que, embora indi­rectamente, foi focado em todos os encontros, mas sobretudo no que tivemos com o Director do Gabinete de Assun­tos Religiosos, dado ser a pessoa responsável pela política da China neste campo.


PANORAMA DA IGREJA NA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA

Clarim — Pode dar-nos uma ideia de como vive a Igreja na China?
D. Arquímínio - A Igreja na China está numa fase de reorganização após a revolução cultural. Como é sabi­do, durante esse perío­do a Igreja foi perse­guida, houve igrejas que foram destruídas, junta­mente com todos os objectos de culto, ou subtraídas ao culto e transformadas em arma­zéns, em escolas, etc.; os bens que eram pro­priedade da Igreja foram confiscados. De modo que agora a Igreja está precisamente a reconstruir-se. E nesta obra de reconstrução e res­tauro o Governo tem ajudado muito. Aliás, eles tiveram sempre a preocupação de salien­tar este aspecto em todos os encontros que tivemos: a grande ge­nerosidade que o Governo está a mostrar nas obras de restauro das igrejas e a entre­gá-las à hierarquia, e não só igrejas como também aos seminários.
Outro aspecto da Igreja na China é a falta de clero e a idade avançada do actual. Há padres e bispos de 70, de 80 e 90 anos. Dada esta falta de clero, estão interessados em criar e incentivar os se­minários, contando hoje com sete seminários re­gionais em toda a China. As vocações são abun­dantes. Visitámos o se­minário de Shangai que tem cerca de 100 seminaristas de diversas dioceses. Há vocações jovens e vocações adul­tas. Lembro-me, por exemplo, de me terem falado num seminarista de 61 anos, que está a estudar e vai ser or­denado em breve.
Notei também um grande fervor por parte dos cristãos, uma grande afluência, devoção e participação nos actos de culto. Re­cordo, por exemplo, que em Beijirig onde assisti à última parte da Missa e à bênção do SS. mo, todo o povo cantava, apesar de alguns can­tos serem em latim. Foi--me dado verificar isso na visita que fizemos ao santuário de N.a S.a de She-Shan, em Shangaj, onde pude ver grande número de pes­soas ajoelhadas devotamente diante da imagem de N.a S.a de Lurdes ou do Coração de Jesus a fazer   em voz alta as suas orações. E fala­ram-me que sobretudo no mês de Maio, o povo acorre em número extraordinário e aí, de joelhos, percorre as 14 estações da Via-Sacra que se encontram na encosta da colina. Tudo isto mostra bem a gran­de devoção e espírito de oração do povo cristão da China.
Clarim De quanto acaba de dizer pode concluir-se que há uma forte participação dos leigos na Igreja na China?
D. Arquimíni o - Com certeza. Os leigos participam não só da vida litúrgica da Igreja, mas também, em grande par­te, na administração da Igreja, libertando o clero desse serviço, visto ser muito reduzido e de idade avançada. Todos os trabalhos relaciona­dos com as obras de restauro de igrejas ou a procura de soluções para as igrejas ainda ocupadas com armazéns e a sua reentrega à hierarquia e outros problemas afins, tudo isso é tarefa dos leigos, que para isso têm de contactar com os di­versos organismos do go­verno. Mais ainda: nos próprios seminários há leigos a ensinar os se­minaristas, ensinando, para além de outras ma­térias, inclusivamente o latim. Trata-se em geral de ex-seminaristas, que possuem uma boa for­mação cultural. Tudo isto acontece porque os padres são insuficientes e mostra bem como até nos seminários é bem evidente a partici­pação dos leigos.
Clarim Nota-se tam­bém alguma participação por parte da juven­tude?
D. Arquimínio — Nós não tivemos nenhuns contactos específicos com a juventude. Mas sabemos que há muitas conversões de adultos e, entre eles, há tam­bém jovens que se con­vertem, embora, segun­do me afirmaram, em menor número.

Por outra parte, sou­bemos que há muitas vocações na China (vo­cações religiosas e vo­cações para o sacerdó­cio}. Falta é lugar para receber tantas vocações. O seminário de Shangai, por exemplo, tem re­cebido anualmente uns trinta seminaristas. Pre­sentemente, não dispõe de mais vagas e por isso está a ser construí­do um novo seminário, para cujas despesas o governo contribui em grande parte. A abun­dância de vocações re­vela também, por outro lado, a abertura da ju­ventude chinesa aos pro­blemas da Igreja e a sua sensibilidade à acção desenvolvida pela Igreja entre povo da China.
Clarim Pode considerar-se a Igreja na China uma igreja em­penhada em caminhar com os novos tempos e em abrir-se cada vez mais ao mundo?
D. Arquimínio - A prin­cipal preocupação da Igreja na China é a manutenção da sua iden­tidade.
Há também um gran­de interesse em cola­borar com o governo nas quatro moderniza­ções.
Quanto a acompanhar os novos tempos, não há possibilidades para grandes voos, porque o clero, sendo muito re­duzido e bastante idoso, mal chega, para os servi­ços essenciais (celebra­ção da Missa, confissões c administração dos de­mais sacramentos), o que os obriga, por vezes, a longas deslocações de comboio para atender a essas necessidades e ajudar outros padres nes­sas tarefas. Limitam-se, por isso mesmo, ao es­sencial e, em vista do futuro, todo o seu esforço e esperanças se concentram nos semi­nários.

BALANÇO FINAL

Clarim - Como conclu­são, que impressões traz desta sua viagem?
O. Arquimmío - As minhas impressões são positivas. Õ fim prin­cipal desta visita i China era incrementar as rela­ções de amizade e com­preensão entre a Igreja em Macau e a Igreja na China e creio que esse objectivo foi con­seguido, pois houve, na verdade, uma grande cor­dialidade de parte a parte, em todos os en­contros que tivemos, a todos os níveis. Foi claro para nós o desejo ex­presso por todos eles de que estas visitas pu­dessem repetir-se no futuro, de modo a poder­mos conhecer-nos, e compreender-nos melhor e colaborarmos mais.
Gostei muito de en­contrar em Shangai o bispo Kong. Como sabe, esteve preso durante trinta anos e nós pe­dimos para nos encon­trarmos com ela. Uma vez que estávamos ali para nos encontrarmos com o maior número possível de bispos, não queríamos que ele fi­casse excluído. E foi--nos dada, de facto, autorização para o encontrarmos num jan­tar, juntamente com um bom número de outros bispos. Apesar da sua avançada idade (85 anos), a sua presença nesse jantar permitiu-nos cumprimentá-lo e mani­festar-lhe a nossa alegria por encontrá-lo e co­nhecê-lo, uma vez que até aí apenas o conhe­cíamos de nome. Dis­semos-lhe que rezávamos por ele e notámos a sua grande comoção ao falar connosco, o que lhe fez vir as lágrimas aos olhos.
O bispo Jin, de Shangai, foi também de uma amabilidade es­trema connosco, pedin­do-nos com insistência que voltássemos, pois que a nossa visita tinha sido para eles uma bênção e um encorajamen­to. Declarou-nos que Macau, que em tempos foi a porta de entrada do cristianismo na China, poderia ser hoje uma ponte entre os cristãos da China e os de fora. Mostrou-se realmente muito expansivo con­nosco e foi bem visível o seu contentamento.
Comparando os en­contros que tivemos em Beijing, Nanjim e Shanghai e também em Cantão, nós notámos que em Beijing os nossos encontros foram mais de carácter político, em­bora os tenha havido também de carácter pas­toral. Em Nanjim e Shanghai os encontros foram, fundamentalmen­te, de tipo pastoral, com exposições, de ambas as partes, sobre a situação das respectivas Igrejas. Em Shanghai, nós pu­demos ver realmente uma comunidade cheia de vida, dado lambem o seu elevado número (cerca de 100 mil ca­tólicos, enquanto que em Beijing são apenas uns 30 mil). Notámos um grande interesse em viver em comunhão com as outras Igrejas do exterior (comunhão de amizade, de oração, de contactos humanos, de intercâmbio de ideias,
e te.)
Tivemos, por fim, em Cantão, um outro encontro, este, aliás, inesperado Foi um en­contro com 10 Bispos, o pároco da Catedral, alguns elementos da As­sociação Patriótica e o Director do Gabinete dos Assuntos Religiosos que, durante o jantar que nos ofereceu, nos dirigiu uma saudação, insistindo na conveniên­cia de nós, aqui tão vizinhos, nos visitarmos mais vezes. Afinal -dizia ele - deslocaram-se a Beijing que fica tão longe, para uma visita de vários dias e aqui, que estamos tão perto limitam-se apenas a uma noite, que não chega para nada! E sugeriu-nos, entre outras coisas, uma visita à ilha de S. João, onde morreu S. Francisco Xavier.
Enfim, verificámos, na verdade, em todos os momentos da nossa visita, uma grande aber­tura com o nosso grupo e um grande desejo de intensificar estas rela­ções no futuro, em vista de um cada vez maior conhecimento, estima e cooperação mútuos.
(Cardoso, Tomás Bettencourt (coord.) (1999) Textos de D. Arquimínio Rodrigues da Costa. Macau: Fundação Macau. pp. 188-194)

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