sexta-feira, 8 de junho de 2012

“NÃO QUEREMOS FUZILAMENTOS” Samora Machel: 27.05.1975

O Autarca – Jornal Independente, Quarta-feira - 06/06/12, Edição nº 2364 - Página 2/4




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REPOSIÇÃO [pelo colunista com distanciamento consciente e lúcido, necessários, ainda que doloroso in Relatos de Nachingwea, Tanzania. JK©].
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“NÃO QUEREMOS FUZILAMENTOS
Samora Machel: 27.05.1975. Nachingúea. Tanzânia. (Nachingwea, Tanzania)

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     Nachingueia, Farm 17, sul de Tanzânia. Manhã de um dia diferente no mês de Janeiro de 1975. Alguns Homens e mulheres abatidos estão perfilados perante Samora Machel, e o então 1º Ministro Joaquim Chissano (do Governo de Transição com os portugueses, 20 Setembro 1974 - 24 Junho 1975) passando revista e verificando até que ponto a “sessão” da noite anterior no mato (tortura até ao amanhecer) tinham causado danos físicos aos apresentados (o cronista desta coluna estava num desses grupos).
     O destino desses homens e mulheres está em jogo. Samora Machel dirige-se ao veterano nacionalista Adelino Gúambe (Gwambe) com a saudação (em shangane): - “Kundjane uá ly kaya?” (Como estás patrício da terra?). Adelino Gúambe responde com altivez de mãos nos bolsos: - ”Chaúane mufana uá mina”… (olá meu miúdo) …
     Valentim o Pide tetense, mestre da tortura “reconvertido,” e os guardas de capacete de imediato tiram-lhe as mãos dos bolsos com brusquidão. Mas Adelino uá kaGúambe coloca-as de novo nos bolsos, em desafio. Samora sorri condescendente.
     Adelino Gúambe (ex-protegido de Kwame Nkrumah e de Mao-Tse-Tung). A. Gúambe, na década de 1950, sem dúvida, o jovem moçambicano mais dinâmico no
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nacionalismo africano clássico. Marcelino dos Santos no exterior (na Europa e norte de África), outra “bandeira” do inconformismo nacionalista mais à esquerda. “Apadrinhado” pelo Rei Hassan de Marrocos, pelo francês George Marchais do Partido Comunista Francês e ainda por Mao-Tse-Tung líder da revolução chinesa. Conviveu com a resistência argelina de Ben Bela.
     Regressando a esse dia, algures do mês de Janeiro de 1975, em Nachingúeia estão também perfilados: - Uria Simango ex-vice-presidente e sua esposa Celina Muchanga a ex-Presidente da LIFEMO; Paulo Gomane (co-fundador da FRELIMO e Presidente do COREMO baseado em Zâmbia); o ex-comandante da FRELIMO, Januário Napulula (rendeu-se aos portugueses em 1971); Joaquim Nhaúnga (idem em Cabo Delgado); Pedro Simango ex-1º comandante de mísseis portáteis terra-ar (entregou-se em Tete em 1972); Judas Honuana (Honwana), ex-representante da FRELIMO no Cairo apoiou Uria Simango  em finais de 1969 depois do ManifestoGloomy Situation in FRELIMO.”
    J. Honuana apresentou-se voluntariamente à FRELIMO em 1974. Outros presentes são Lázaro Kavandame; Kambeu; Veronika; Pascoal Almeida Nhampulo (Nyampule) ex-comandante em Cabo Delgado muito corajoso (do tempo de Filipe Magaia); João Craveirinha do DIP (agitprop e agita-graf) desiludido e “refugiado” em Nairobi (Quénia). “Empurrado” entrega-se em Lourenço Marques em Junho 1972. Após “conversações à distância” apresenta-se em Dar Es Salaam  (aeroporto) em 1 de Agosto de 1974 onde é preso (pelos tanzanianos) numa cave subterrânea alagada no centro da cidade. Mais tarde (1975/1976) levado para Nachingúeia e Niassa. Amnistiado em Abril de 1976 por Samora Machel em Maputo.
     Outro dissidente, Lourenço Mutaca, separado de todos “passeia” num jeep russo com Samora Machel em Janeiro 1975, que lhe mostra o campo de Nachingúeia. O regressado Lourenço Mutaca (dissidente muito activo) “apadrinhado” pela Suécia é poupado. Reintegrado mais cedo no Moçambique Independente como quadro superior. Anos mais tarde, misteriosamente é assassinado em Adis Abeba (Etiópia) para onde tinha sido destacado por uma Organização Internacional, autorizado pela própria Frelimo. 
     Da enorme lista de dissidentes detidos constam ainda os nomes de Casal Ribeiro (um dos fundadores da FRELIMO pela Unamo de Tete) e refugiado desde finais de 1969 no norte de Tanzânia. Narciso iMbule um dos fundadores da Frelimo e oposicionista da 1ª
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hora ao movimento. Basílio Banda ex-estudante do Inst. Moç. Unhai (médico com consultório na Beira em 1974). Marqueza (engenheiro agrónomo) e Júlio Razão todos bolseiros da FRELIMO. Presente Joana Simeão vítima de cálculos políticos errados e “manipulada” pelo General Costa Gomes e antes por Jorge Jardim (ambos portugueses).
    De Blantyre (Maláui), Joana Simeão é induzida em erro (involuntário) por Kambeu (PhD em Direito Interna-
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cional), professor de Liceu na Beira. Kambeu ingenuamente acreditava num multipartidarismo em Moçambique (segundo me confidenciou, na cela). Joana Simeão regressa e é presa no aeroporto. O deputado de Salazar, Marcos Assahel Mazula é preso em Niassa em finais de 1974. Ia visitar os familiares. Vinha de Nampula onde residia, quando não estava em Lisboa. A ordem de prisão partira de Mário Sive na regência do Governo (de Transição com os portugueses) em Vila Cabral (hoje Lichinga).
…”PRENDEMOS! NÃO MATAMOS! PORQUE SÃO INIMIGOS POLÍTICOS!”…Diria mais tarde Samora Machel a 12 de Maio de 1975 em Nachingúeia, num mega comício – (centenas de recrutas e convidados) com a presença dos Presidentes da Zâmbia e Tanzânia, K. Kaunda, J. Nyerere.
     Numa entrevista concedida à RTP (Rádio Televisão Portuguesa) em 27 de Maio de 1975 (terça-feira), sobre a abolição das prisões e pena de morte depois da Independência – teria dito Samora Machel: …”PORQUE CASO CONTRÁRIO TERÍAMOS PERMITIDO A CRIAÇÃO DE ASSASSINOS NO NOSSO EXÉRCITO. ASSASSINOS QUE NÃO RESPEITAM VIDAS HUMANAS. NÓS EVITAMOS ISSO. NÃO QUEREMOS FUZILAMENTOS.” (…)” Portanto, o trabalho político, o trabalho ideológico -, achamos que este é o instrumento fundamental para transformar o homem. Porque todo o homem se transforma não é preciso prisão (ou) paredes. O que há é a reeducação do povo.” (fim de citação).   
      No entanto Samora Machel seria ultrapassado pelo (demasiado) Poder em mãos alheias. Daí talvez, sem a consulta prévia tenham surgido ordens para matar e deixar em

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cinzas a maioria dos que ali condenados e humilhados lhes prometera um dia conceder amnistia geral depois de apresentados em mega comício no Estádio da Machava.
    No fundo, reconhecendo (?!) o direito (humano), a “serem libertados e contribuírem” apesar de “terem traído a Luta pela Independência.” Esse era o espírito de Samora Moisés Machel dentro do seu peculiar pragmatismo um tanto ao quanto “naïve ou ingénuo.” 
     E em 1975 indiferentes aos vários dramas e tragédias, o povo, do Rovuma ao Maputo continuava a entoar com fervor as canções militantes de Nachingúeia (Nachingwea): - “Tchengera, kapriconi ku Moçambique, lero. Tchengera, tiri, hokongúera, kumenha inkondo. Tchengera, ku Cabo (Delgado, Niassa, etc), ku lero, kuli ana uá Samora, tchengera… (tradução livre: atenção, hoje - agora, inimigos de Moçambique, atenção, com Samora estamos preparados para a luta, para a guerra, em Cabo Delgado, Niassa (etc).” CONTINUA. Retirado da CRÓNICA exotérica por Yahia ben Yokhanon (alias João Craveirinha) no Jornal “O Autarca” da Beira de 11 de Maio de 2006, quinta-feira, e no Zambézia Online em 2004. (Segundo texto apócrifo de Zoao Kraveirinya na era do Tsuname).            
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O autor Johnny Diaz Mpfumo Kraveirinya - JDMK [aliás João Craveirinha - 1947] é formado em Ciências da Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa (antiga Clássica). Área afim à Sociologia da Cultura. Em fase de defesa de tese de obtenção do grau de PhD (doutorado). É ainda pesquisador académico no estudo da Disseminação da Alimentação, dos Sons e Danças Tropicais tendo a Cultura Como Fator Económico de Desenvolvimento Humano. É autor literário em prosa e poesia. Foi designer gráfico, e é o pintor-autor da maior pintura mural de África localizada na praça dos Heróis em Maputo: comprimento 110 m x 5 m altura – dos maiores murais de arte do mundo. JK viajou por 25 países de 1967 a 2009. Viveu em África, América do Sul (Brasil) e Europa. Fundou na década de 1990 uma Associação cívica-cultural AAMO - Associação Africana de Moçambique em Portugal e uma ONGD- MISSO (Semente) apresentada em Bruxelas na Comissão Europeia-DGVIII. SEMENTE com sede provisória em Maputo, a transferir para Quelimane ou Mocuba. Fatores de má vontade política dificultaram a prossecução dos seus objetivos. Contacto: johnny_autarca2012@hotmail.com Description: https://ssl.gstatic.com/apps/gadgets/youtube/youtube.gif Canal TV Kraveirinya: http://www.youtube.com/watch?v=27GA61iL9lQ


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