segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

timor manu-fahi 1911 e guerras tribais



Timor - Leste  

A GUERRA DE MANUFAHI (1911-1912)

Neste mês de Dezembro de 2011, completam-se os cem anos do início do
conflito de Manufahi. O começo da guerra de Manfahi teve a sua origem na
morte do comandante de Same tenente Luiz Álvares da Silva e de europeus
(três militares e um civil) dentro da tranqueira de Same e do comandante e
Faturberliu.

Como é que tudo começou?

Em Dezembro de 1911, era comandante militar de Same o tenente Luiz Álvares
da Silva; e era régulo (Liurai) de Manufai Dom Boaventura da Costa.

Conta-se que havia vários dias que Dom Boaventura não aparecia no Comando
apesar de várias vezes ter sido convocado pelo tenente Silva. Dias antes, o
comandante até mandara à casa do liurai (na localidade de Bandeira) um
soldado português, velho no Comando, amigo pessoal e compadre de Dom
Boaventura. Esse soldado foi retido e depois assassinado.

Na manhã do dia 24 de Dezembro de 1911, véspera de Natal, o tenente Luís
estava na sua residência e acabava de tomar banho. Apareceram no comando uns
homens mandados por Dom Boaventura da Costa. Um ia amarrado e outros
seguiam-no. Davam a entender que iam apresentar uma queixa ao comandante. O
Tenente ao ver aquilo saiu para ouvir a queixa do que ia amarrado. Mas, de
repente caíram golpes de catanadas sobre o comandante. Este tentou reagir
correndo para dentro em busca da uma arma. Mas, tudo foi inútil. Os homens
perseguem-no e cortam-lhe cabeça. A esposa do tente Silva estava dentro da
casa com o filho ainda bebe. Os homens arrastam-na para fora e colocam no
regaço a cabeça do marido. No interior da residência os timorenses reúnem os
móveis sobre os quais colocam o cadáver do tenente Luís Silva. Entretanto
mais três portugueses são mortos: dois soldados e um civil.

O irmão do régulo telefona ao Comandante de Fatuberliu Ferreira: “Diz o
senhor comandante que, sendo amanhã Natal, o convida vir a Same, passar as
festas como seu hóspede”. O comandante parte para Same no dia 25, mas foi
morto perto da ribeira Sui.

Entretanto, Dom Boaventrua manda um guarda-fio acompanhar a mulher do
malogrado tenente para Maubisse.

A notícia do assalto ao Comando de Same e a morte dos seis portugueses
espalha-se pelas aldeias de Same. E de Maubisse, os ecos dos trágicos
acontecimentos chegam a Dili.

Em resposta aos actos de rebelião, o governador Filomeno da Câmara mobilizou
soldados, moradores e auxiliares que atacaram os redutos dos “revoltosos”
desde Janeiro de 1912 até Outubro do mesmo ano. O resultado dessa campanha
foi a prisão de Dom Boaventura e a sua consequente destituição no dia 26 de
Outubro de 1912.

Os motivos remotos desta acção:

a) - Motivos nacionalistas:

expulsar os portugueses de Timor. “Timor era para os Timorenses”. Rebeliões
de 1895. Desde os tempos de Dom Duarte, pai de Dom Boaventura que os povos
de Manufahi estavam rebelados contra os Portugueses. A forçada pacificação
foi levada a cabo pelo governador José Celestino da Silva.

Desde tempos recuados que alguns reinos não aceitavam o domínio dos “malae
muitin.” Basta recordar o pacto de 1719, cujo actor principal era o régulo
de Camanasa, e a consequente guerra de Cailaco (1725-1726).

b) - Motivos políticos:

A 5 de Outubro de 1910, deu-se a implantação do regime republicano em
Lisboa. Os régulos timorenses que sempre juraram fidelidade ao rei de
Portugal, não aceitaram a mudança do regime e a troca de bandeira. A
bandeira real (azul e branca) pela nova bandeira (verde-rubra).Alguns
liurais temiam que com o nome regime eles fossem destituídos e perdessem as
regalias.

Diz-se que quando em Outubro 1910, os régulos foram a Díli para assistir à
cerimónia da implantação da República, já havia um pacto para uma possível
revolta. E que esses régulos eram incitados por timorenses assimilados ou
civilizados, entre os quais se contava um mestiço chamado Domingos de Sena
Barreto que era filho de um goês e de uma chinesa; e incitados por europeus
ligados à loja maçónica de Díli e que estavam descontentes com o Governador.

Da parte das autoridades portugueses, forjou-se outro motivo: a implicação
dos holandeses que eram monárquicos e que queriam também expulsar os
portugueses de Timor, para poderem dominar toda a ilha.

c) - Motivos económicos:

As rebeliões que ocorreram em Timor, nos reinos das Províncias do Bellos e
de Servião, tiveram a sua origem principal na cobrança de impostos.

Parecia que em 1911 o governo ia aumentar os impostos. A capitação deveria
passar de uma pataca para duas patacas. O corte de uma árvore de sândalo
seria taxado de duas patacas. Os coqueiros e os gados seriam recenseados.
Seria estabelecido um imposto de 5 patacas aplicado sobre os animais
abatidos por ocasião das cerimónias (enterros, construção de uma lulic e
realização de estilos).

Foram estes os principais motivos de descontentamento por parte dos régulos
que depois se uniram em guerra contra as autoridades.

Para o governo português e para muitos timorenses, o Natal de 1911 foi um
Natal triste!

Porto, 22 de Dezembro de 2011.

Dom Carlos Filipe Ximenes Belo

publicada por FORUM HAKSESUK @
 5:43 PMe-mail: fhaksesuk@gmail.com

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Publicada por LenaLorosae em UMA LULIK
 

http://manufahi.blogspot.com/2008/10/timor-d-boaventura-halo-funu-manufahi.html

obrigado por este testemunho do Prémio Nobel da Paz, do amigo Bispo Ximenes Belo (presente no colóquio da lusofonia de 2005) e para o complementar em anexo vos remeto para um capítulo de ChrónicAçores uma circum-navegação volume um sobre este tema e época também disponível em
http://www.scribd.com/doc/39955110/CHRONICACORES-UMA-CIRCUM-NAVEGACAO-DE-TIMOR-A-MACAU-AUSTRALIA-BRASIL-BRAGANCA-ATE-AOS-ACORES-VOLUME-UM-DA-TRILOGIA

Chrys CHRYSTELLO,

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