A Inevitabilidade das 2ªs Gerações ...Ou as Refundações Democráticas
Rui Tavares escreve periodicamente, e bem, à volta do que pensa e do como age enquanto deputado europeu.
Sen duvida que, mesmo não concordando com ele não poucas vezes, leio-o atentamente, pois representa uma corrente de opinião à Esquerda, que merece ser ouvida e lida.
Desta vez está a dedicar-se a refletir sobre a refundação democrática, em Portugal (?), um tema bem interessante diga-se.
No seu primeiro artigo sobre o tema, recorda Rui Tavares o virtuosismo das primeiras gerações, liberal e republicana, e o pecado permanente das sequentes gerações nestes Regimes.
Estará tal no sangue, no ADN, do espaço de expressão portuguesa ?
(Nota 1: Na verdade, esta reflexão de Rui Tavares arrisca-se a saber a requentado, pois o tema tem sido recorrente em Portugal...mas nada como aguardar para entender a sequencia do seu raciocínio..).
(Nota 2: Relevo que me sinto obrigado a assumir não o conceito Portugal, mas sim o de espaço de expressão portuguesa, já que Portugal não existia nos séculos XIX e XX, até 1975, ano das Independências das ex colónias ).
Hoje vive-se, no minimo, muito, essa ideia de perca gerada pela velhice e ou pela morte, dos primeiros leaderes do atual regime e deste novo e continental europeu Portugal, Sá Carneiro, Alvaro Cunhal, que morreram e Mário Soares hoje uma essencial "reserva da Republica" mas tão só!
Dessa noção de perca vem, acho, esta dor, segundo a qual os sequentes são piores que "os fundadores "....
Respeitável dor, respeitável atitude.
No entanto, na minha opinião, o liberalismo nasce das Invasões francesas e das Ocupações inglesas, recordo-o com veemência, e destas, nasce ainda, ( ainda bem), o Brasil, o primeiro momento do Fim do Império, e há que relevar este facto, o que, como de costume, o português historiador esquece.
Na verdade, dos 15000 a 25000 cidadãos e cidadãs que acompanharam a retirada/fuga da familia real para o Brasil, regressam a Portugal nem 3000 !
Esta perca na componente da elite do Império, e que se nacionaliza brasileira, faz nascer um pais e quase destrói a cabeça do Império português, dilacerado que foi na sua sequencia, com 30 anos de guerra civil, algo que mereceria um pouco mais de atenção e de reflexão que a que tem existido!
Guerra civil entretanto tão mal resolvida que, dela mesmo , nascem as inicialmente monárquicas Carbonárias que, esquecidas, não deixam, na minha opinião, de estar presentes na cena política portuguesa, até 1931 pelo menos, gerando no seu percurso o 5 de Outubro de 1910, a I Republica e a Revolta da Marinha Grande!
Há aqui a primeira diferença entre o vivido com as segundas gerações liberal e republicana e esta segunda geração democrática pós 25 de Abril – desta feita não há qualquer guerra civil a afetar consciências, ainda que esteja bem presente, mesmo que neste ruidoso silencio, todo o processo de descolonização.
(Uma terceira nota a ver com este ruidoso silencio – a inserção entre 1975 e 1977 de mais de 500 000 cidadãos e entre 1981 e 2001 de bem mais de 100 000, os primeiros regressados com as Independências e os segundos em consequência dos conflitos soviético americanos nas ex colonias portuguesas e, claro, das guerras civis em Angola, são sempre uns esquecidos da História, um elemento que nunca, ao que sei, foi colocado na mesa de negociações da CEE/UE, mas a Alemanha não teve qualquer pejo em apanhar dos fundos europeus ao que me lembro 20 biliões de dólares... para a reunificação das Alemanhas...).
Há na verdade muito mais que as tais 2ªs gerações para tratar nesta aparente crise de valores que justificam a preocupação, séria, de Rui Tavares – “Mas como evitar que a nossa democracia sofra o mesmo destino das experiencias anteriores é a pergunta essencial a que teremos de dar resposta”.
Mas realço, fazer de casos circunstancias a História e da História o caso circunstancial tem sido a opção banal da elite portuguesa reconstruida entre os escombros das Ocupações franco-britânicas, da I Grande Guerra, e do Fim do Império e que tão bem se tem mantido “à tona da água” apesar de tudo, dando mostra de grande flexibilidade e adaptabilidade aos tempos e momentos.
Ora, tal facto que mereceria uma reflexão bem mais atenta que aquele repositório “de factos”, que é o livro “Os Donos de Portugal”, que até esquece os “Novos Donos”, curiosamente...é algo que todos nos recusamos a reconhecer!
Na verdade, somos Seres Humanos, por tudo e mais alguma coisa, mas por isso mesmo, Imperfeitos, erráticos, inconsequentes e, assim que somos, esperar que o deixaremos de ser um sebastiânico dia, é alimentar visões totalitárias perigosas e que deram já péssimos resultados.
O 28 de Maio de 1926 está aí para quem o quiser estudar...
Ponhamos “as coisas” de outra forma – e que tal pôr a funcionar o Estado de Direito que temos, mobilizando esta Democracia que temos, com estas Pessoas que existem por cá?
Enfim, que tal sermos Cidadãos, Solidários, Críticos, Intervenientes?
Porque esta visão de “novos, futuros e brilhantes Sóis”, perdoem-me, já cansa e, entre 1920 e 1926, entre debates ideológicos sectários, (recordo Raul Proença e os debates deste com António Sérgio e o restante grupo da Seara Nova...), e defesas de “ditaduras temporárias e sãs”, (que, curiosamente, como hoje, uniram e unem algumas Esquerdas a algumas Direitas...pois uniram os Filós da extrema direita a António Sérgio, mesmo que só temporariamente.. ) e, assumo, escandaliza-me que se façam manifestações por causa de “licenciaturas” e nada se faça contra quem empurra este país para o inferno da Miséria, do Desemprego e da Fome, a senhora Merkell !
Fico ansiosamente a aguardar os próximos números desta novela de Rui Tavares...porque se começou mal até pode continuar e terminar bem!
Joffre Justino
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