domingo, 15 de julho de 2012

EQUIVALÊNCIAS UNIVERSITÁRIAS

ENQUANTO O MINISTRO RELVAS TEM EQUIVALÊNCIA A QUASE TUDO PARA OBTER UMA "LICENCIATURA"

Universidades portuguesas não estão a reconhecer todas as cadeiras que os alunos fazem no estrangeiro
 
 
 
 

7 de Junho, 2012por Margarida Davim
Universidades não estão a reconhecer todas as cadeiras que os alunos fazem no estrangeiro. Ministério admite problema.
Alguns alunos portugueses estão a ter surpresas desagradáveis quando regressam de Erasmus: problemas nas equivalências, cadeiras que valem créditos diferentes do que se pensava e até professores que obrigam a que façam novos trabalhos ou exames. Um semestre no estrangeiro passou a ser para muitos sinónimo de tempo perdido. 

Foi o que aconteceu a Denise Oliveira, aluna do curso de Promoção Artística e Património do Politécnico de Setúbal. Num semestre na Holanda fez nove cadeiras – em vez das seis que faria se tivesse ficado em Portugal –, mas corre o risco de ter de realizar novos exames e trabalhos para conseguir aproveitamento. «As cadeiras não valem os créditos que eu pensava que valiam e, na Holanda, o ano lectivo funciona por períodos e não por semestres», explica a estudante, a quem o coordenador do curso sugeriu «que traduzisse os trabalhos feitos em Inglês para Português» para poderem ser avaliados, apesar de já terem tido notas positivas na Holanda. 

A outra opção para Denise é inscrever-se a todos os testes e voltar a fazer as cadeiras que já fez no estrangeiro. Não era o que estava à espera quando se inscreveu no programa de intercâmbio. «Antes de sair do país, assinei uma espécie de contrato – o Learning Agreement – com todas as cadeiras que ia fazer e os créditos. Mas quando cheguei lá percebi que era tudo diferente do que estava no site da universidade holandesa». 

Não foi a única a ser surpreendida com uma realidade bem diferente daquela que ficou estabelecida no Learning Agreement– o documento que os estudantes assinam antes de ir para Erasmus e que contém todo plano de estudos que vão fazer o estrangeiro e a garantia de que este vai ser reconhecido quando regressarem a Portugal. 

Passar a tudo e ficar com cadeiras em atraso 

Marina Lopes Dias, estudante de Marketing e Publicidade da Escola Superior de Educação de Lisboa, teve o mesmo problema. «Foi uma confusão», resume a universitária, que se queixa da falta de informação que teve antes de ir para a Eslovénia e que levou a que não conseguisse equivalências a todas as cadeiras feitas por lá. «Se a Faculdade tem uma lista de universidades com as quais tem protocolos, devia ter o cuidado de garantir que havia o máximo de correspondência possível entre o curso de cá e o de lá, para que não fiquem cadeiras em atraso». 

Marina, que regressou no final do primeiro semestre, ainda nem sabe que exames terá de fazer em época especial para garantir que não fica com cadeiras para trás. Apesar de ter considerado «muito enriquecedora a experiência» na Eslovénia, a aluna teme agora que o Erasmus atrase a conclusão do curso: «Acho que o mínimo era garantir que tínhamos a oportunidade de completar todo o semestre lá fora tal como se tivéssemos ficado cá». 

Graças ao semestre que fez em Dresden, na Alemanha, Diogo Brito – aluno de Engenharia Informática da Universidade Nova de Lisboa – ficou mesmo com cadeiras obrigatórias em atraso. «Só quando cheguei à Alemanha é que percebi que algumas das cadeiras que tinha escolhido, afinal, não eram leccionadas em Inglês», conta Diogo, que não tendo conseguido um plano de estudos com todas as disciplinas obrigatórias atrasou a conclusão do curso apesar de ter ficado com «créditos a mais» graças às cadeiras concluídas em Dresden. 

Pelo meio, ainda teve uma surpresa desagradável. «Por ter voltado na primeira semana de Março em vez de ser na última, não recebi a última prestação da bolsa, apesar de ter pago a residência pelo mês inteiro». 

Joana Fernandes, aluna de Animação e Intervenção Sócio-Cultural do Politécnico de Setúbal, é que nem esperou até ao final do semestre. Desistiu quando percebeu que se arriscava a não ter equivalências. «Até já tinha casa em Valência (Espanha), mas resolvi voltar quando percebi que num semestre inteiro só ia ter uma cadeira». É que, ao contrário do que pensava quando se inscreveu no Erasmus, as cadeiras a que poderia ter equivalência não iam, afinal, estar disponíveis. 

Ministério da Educação fala em más práticas 

«Temos consciência de que estas situações acontecem e que alguns docentes ou coordenadores de curso solicitam que os estudantes realizem alguns trabalhos, como forma de salvaguardar a nota a atribuir, no entanto esta não é uma boa prática e desvirtua o princípio base do programa», comenta fonte oficial do Ministério da Educação e Ciência (MEC). 

O gabinete de Nuno Crato reconhece, aliás, que «o Processo de Bolonha ainda não se encontra ao mesmo nível em todos os países participantes, razão pela qual podem persistir algumas dificuldades». Outro problema, reconhece o MEC, está no facto de nem sempre os sites das universidades actualizarem as informações sobre os planos de estudos dos cursos, criando «entropias e alguns contratempos». 

Apesar dos casos recolhidos pelo SOL, à Agência Nacional que coordena o programa Erasmus neste ano lectivo chegou apenas uma queixa formal, sendo que «anualmente chegam três a quatro exposições de estudantes» relacionadas com problemas de reconhecimento de planos de estudos. 

A Agência recomenda, por isso, aos estudantes que se inscrevam neste programa de intercâmbio que se assegurem de que «o programa de estudos/estágio profissional a ser cumprido no estrangeiro, é válido, no que respeita ao grau ou diploma que o estudante está a frequentar» antes de sair do país.

Programa sempre a crescer

São cada vez mais os estudantes portugueses que aderem ao Erasmus – um programa de intercâmbio europeu que se iniciou há 25 anos. No ano lectivo passado foram 5.964 os alunos que estiveram a estudar fora do país: mais 10,7% do que no ano anterior, um valor acima da média europeia. A Espanha foi o país escolhido pela maioria (1.425) dos universitários portugueses, seguindo-se a Itália (904), a Polónia (665) e a República Checa (343). 

Por outro lado, as universidades portuguesas receberam 8.536 estudantes estrangeiros, ao abrigo do Erasmus, na sua maioria espanhóis (2.463). A universidade portuguesa que mais estrangeiros acolheu foi a Técnica de Lisboa (733), que está no 26.º lugar do top 100 das instituições que mais alunos acolhem na União Europeia.

margarida.davim@sol.pt

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