domingo, 8 de julho de 2012

ukelele o cavaquinho português

os espanhóis descrevem o instrumento português do havai:
http://ccaa.elpais.com/ccaa/2012/07/06/galicia/1341596721_905876.html


El ukelele según Víctor Coyote

El músico tudense recrea en un peculiar espectáculo la historia de este instrumento de origen portugués

 Santiago de Compostela 6 JUL 2012 - 19:45 CET

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Representación del espectáculo Ukele, la pulga que salta, la semana pasada en Madrid. / J.C. MARTÍN LERA
El ukelele se ha convertido en uno de los instrumentos de moda. Muchas de las bandas indies del momento introducen este sonido en sus canciones y saber tocar el ukelele parece una de las condiciones imprescindibles para opositar a moderno. Bandas como Beirut o músicos como Eddi Vedder de Pearl Jam, han heredado la devoción por este instrumento que antes habían procesado Neil Youg, George Harrison y el mismo Elvis Presley. Su paso por estas islas del Pacífico sirvió para que el ukelele quedase fijado en la historia de la música popular como un instrumento hawaiano.
Pero la realidad del origen de este pequeño instrumento de cuerda no es exactamente esa. “No deja de ser un cavaquinho portugués que llegó a Honolulu desde Madeira”, afirma el músico Víctor Coyote, que a partir de esta idea ha concebido su nuevo espectáculo, estrenado la pasada semana en el Matadero de Madrid y que está cerrando fechas en Galicia tras el verano.
La historia documentada arranca en 1879, cuando el velero Ravenscrag zarpa de la Isla de Madeira rumbo a Honolulu con 400 pasajeros a bordo que van buscando contratos para trabajar en la recogida de la caña de azúcar. En el barco viajan Joao Fernades y Manuel Nunes, que tocan el cavaquinho, un instrumento originario de Braga, con el que amenizan la travesía a los pasajeros. “Llegaron a Hawai y el éxito fue inmediato. Manuel montó la primera tienda documentada de estas guitarras en 1884, y la Casa Real le concedió el marchamo de “inventor del auténtito ukelele”, explica Víctor Coyote, que siguiendo la estela de músicos portugueses como Júlio Pereira, un gran especialista en cavaquinho, ha estudiado abundante documentación.
Pero al cavaquinho le cambiaron el nombre en Hawai. Su peculiar sonido llevó a los nativos a rebautizarlo con una palabra en su lengua: ukelele, la pulga que salta. Así es como ha titulado Víctor Coyote su nuevo espectáculo, en el que recrea justo esa travesía en barco de Madeira a Honolulu. “A partir de una realidad histórica se construye una ficción, imaginando que pasaba en ese barco donde se gestaba el ukelele”, afirma este creador multidisciplinar que en este espectáculo ha desplegado muchas de sus varias facetas. Nacido en Tui, ese carácter fronterizo y su permanente curiosidad por la música y tradición portuguesas han alimentado un universo creativo que se condensa en muchos de sus trabajos en los últimos años, especialmente en la música y el audiovisual. Todo ese universo de creación transversal tiene cabida en este container sobre la historia del ukelele. “La base es la música, pero aquí se mezclan desde el videoarte al ganchillo, al burlesque o las marionetas”, desgrana sobre este montaje en el que contó con la colaboración de José Luis Arrizabalaga, Arri, habitual director artístico de las películas de Alex de la Iglesia.
Acompañado de la actriz Malena Gutiérrez y el músico Javier Santos, la historia se asienta sobre una base musical de canciones que van desde sonidos tradicionales portugueses como el vira o músicas de baile de Madeira, pasando por canciones hawainas o composiciones propias. “Esa travesía representa el paso de la música tradicional a la música popular, con la penetración en EEUU de un instrumento tradicional a mediados del siglo XX. Coincide con un boom de la música hawiana que se introduce en el teatro y el cine donde hasta Marilyn Monroe aparece tocándolo”, detalla el artista tudense. Desde esa época el ukelele ha pasado a ser un instrumento tremendamente popular, y este músico tiene claro por qué despierta tantas simpatías. “No es muy difícil aprender a tocar unas nociones básicas y sobre todo triunfa por su manejabilidad”, describe.
Pero una cosa es analizar la cuestión técnica y otra el contexto general de las modas de determinados instrumentos, donde Coyote traza una particular teoría, no exenta de un punto de acidez: “La moda del ukelele tiene que ver con el infantilismo de la música y el peterpanismo que todo lo invade, que favorece la emergencia de instrumentos infantiles como el casiotone o el xilofono de play-school”. Su teoría va todavía más allá y para él esta corriente “infantilista” tiene un origen. “Este contexto de crisis y de problemas genera una sociedad que tiende hacia lo infantil porque en cierta medida es una forma de tratar de evadir responsabilidades, por eso hice un espectáculo para niños pero que lo van a disfrutar muchos adultos”, sentencia. Por si acaso, en la definición que aparece en el folleto del espectáculo queda bien claro: “Ukelele, la pulga que salta. Opereta folk para niños y modernos”. Ukeles, ganchillo, burlesque y ventriloquía. Coyote nunca deja a nadie indiferente.


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Um Livro que ensina a tocar Cavaquinho.
Cavaquinho



O Cavaquinho é o mais popular dos instrumentos de cordas portugueses e também de mais reduzidas dimensões: não excede os 50 cm de comprimento e tem quatro cordas.
É no Minho que ele aparece como espécie tipicamente popular, ligado às formas essenciais da música característica dessa província e tem carácter exclusiva e acentuadamente lúdico e festivo.
Toca-se geralmente de "rasgado", como instrumento harmónico para acompanhamento de cantares e danças, ou associado à Viola e outros instrumentos. Na região, o Cavaquinho alterna com a Rabeca Chuleira as funções de instrumento agudo, com o seu tom vibrante e saltitante, próprio para acompanhar "viras", "chulas", "canas-verdes", "malhões", etc.
Uma outra técnica de tocar o Cavaquinho é o “Ponteado”, onde o seu executante sola simplesmente a melodia.

Da região de Braga terá sido levado para as ilhas da Madeira e dos Açores. Da Madeira, “o Braguinha”, como lá é conhecido, terá acompanhado os emigrantes do século XIX para as ilhas Hawaii, onde logo se popularizou com o nome de Ukulele, que quer dizer "pulga saltadora".
O Cavaquinho existe também no Brasil onde tem uma grande popularidade e em Cabo-Verde e na Indonésia. O Cavaquinho é um cordofone com origem, talvez, nos tetracórdios helénicos, com 4 cordas e diversas afinações que dependem da música e do músico. Em Portugal, existem dois tipos de Cavaquinhos, embora possamos incluir um terceiro, bastante raro, o Cavaquinho do Sul, também conhecido por Guitarrilho, instrumento de luxo, sempre bem decorado com madrepérolas.
Voltando aos tipos mais conhecidos, o de Braga e o de Lisboa, eles são instrumentos com características bem diferentes.
Minhoto com a escala rasante ao tampo e por isso sem divisões de escala sobre o mesmo e o de Lisboa com escala sobreposta, onde a escala se prolonga até à “boca ou abertura musical”.
A tradição de construção de Cavaquinhos está mais enraizada no norte de Portugal, dependendo o seu preço da qualidade da madeira e dos requintes de acabamento. Muitas são as afinações dadas a este instrumento.
As mais frequentes são: Mi, Dó#, Lá, Lá e Ré, Si, Sol, Sol. Para o Braguinha da Madeira a afinação mais comum é Ré, Si, Sol, Ré (grave em bordão).
As afinações são dadas sempre do agudo para o grave.
Para as afinações: Mi, Dó#, Lá, Lá ou Ré, Si, Sol, Sol, devem-se utilizar os seguintes calibres de cordas:

1ª Corda que afina em Mi ou Ré (0,23 mm, carrinho nº 10).
2ª Corda que afina em Dó# ou Si (0,25mm, carrinho nº 9).
3ª e 4ª Cordas que afinam em  ou Sol (0,30mm , carrinho nº6
O Livro "O Cavaquinho sem Mestre"
Para ver e ouvir as Músicas deste Livro

Cavaquinho -  Esquema de Construção
Cavaquinho - Aprender a tocar
Vídeo do Cavaquinho - (Laurindinha)
Vídeo do Cavaquinho - (Loja do Mestre André)

O Cavaquinho

Para que os amantes da música possam saborear uma bonita sonoridade, nada melhor do que aprender a tocar o instrumento responsável por essa sonoridade.
Os instrumentos do ambiente popular português, nem sempre são bem vistos pelos músicos profissionais. As principais razões invocadas são a sua deficiente afinação e os seus pobres recursos para executarem determinadas músicas.
Mas, um instrumento popular foi criado para representar um determinado ambiente musical. Ele identifica-se com o pulsar dum povo, onde as suas modas, as canções de trabalho, as festas e romarias e a sua identidade são ilustradas, musicalmente falando. Este pequeno contributo visa dar a conhecer o nossoCavaquinho, com a sua história, a arte de o tocar, as viagens que fez nas mãos dos nossos emigrantes, os construtores e finalmente a construção deste pequeno grande instrumento.
O Cavaquinho é um instrumento popular, que pode afinar rigorosamente e mediante a afinação que tiver, tocar muitas músicas. A provar esta afirmação estão as partituras feitas pelos seus descendentes, como o Braguinha da Madeira, o “Ukulele” do Hawaii, o Cavaquinho do Brasil ou o de Cabo Verde.
Dentro da sua simplicidade e com a sua afinação mais popular, o Cavaquinho continua a ter a sua verticalidade e quando tocado pelas mãos do povo grita bem alto, como que em sinal de protesto, fazendo frente àqueles que lhe pretendem dar um menor valor musical. Como em tudo na vida, há bons e mausCavaquinhos. Por isso quando se decidir por comprar este belo instrumento português, não compre gato por lebre. Seja exigente na sua compra.

Breve resumo da História da Música e do Cavaquinho

O Mundo, qualquer que tenha sido a sua origem, foi acompanhado de movimento e por conseguinte de som. Talvez por esse facto, a música sempre tenha tido um carácter mágico para o homem. Daí, que cada ritual tivesse a sua componente musical: o nascimento, o casamento, a morte, as boas e más colheitas, etc. Há muitos anos atrás, o homem primitivo vivia em cavernas. É bem natural, que os ouvidos fossem uma das suas principais armas. Ao aperfeiçoar as suas ferramentas de trabalho e caça, descobriu o som que um machado produzia ao cortar uma árvore. Desta observação, possivelmente inventou o Tambor. Ossos, pedras, madeiras, argilas e peles, terão sido alguns dos materiais que o homem primitivo usou para o fabrico de instrumentos musicais. Mas hoje em dia, a expressão Música, que significado terá para cada um de nós? Ouvir rádio, cassetes, ir à discoteca, ou aprender a tocar um instrumento musical? Quem gosta de música, mas não entende a linguagem dos instrumentos, assemelha-se ao turista que visita um país sem dominar o seu idioma. Pode saborear a paisagem, mas não entende nada do que dizem.
Diz um velho ditado: gostar de música, é saber governar o coração e quando tocada em roda de amigos, entendemos melhor o prazer de estar”.
Esta imagem é bem representativa da maneira de estar do povo Português. Numa taberna alentejana um copo de vinho abre a veia poética do cantor, não há desfolhada sem cantoria e se o “Manel” toca a “Gaita-de-beiços”, não há namorico que resista à “Bailação”.

Segundo uma classificação organológica actualizada, os instrumentos musicais estão divididos em 5 grandes grupos:

Os IDEOFONES (os Ferrinhos) 
Os AEROFONES (a Flauta de Amolador)
Os MEMBRANOFONES (o Tambor) 
Os CORDOFONES (o Cavaquinho)
Os ELECTROFONES (o Órgão Electrónico)

Cada um destes grupos tem diversos subgrupos. Para os interessados em mais pormenores, aconselho uma leitura atenta da magnífica obra de Ernesto Veiga de Oliveira (Instrumentos Musicais Populares Portugueses).
No entanto, este trabalho visa apenas dar um contributo a um grupo específico, os cordofones. Por definição, são instrumentos em que o elemento vibratório é uma corda. Os cordofones do ambiente tradicional português perderam os seus adeptos e os nossos Violeiros ficaram sem clientes.
Se há uns anos atrás não havia romaria sem uma banca de Cavaquinhos e Braguesas, com o aparecimento da Concertina e do Acordeão no nosso ambiente popular, os cordofones deixam o seu lugar na ribalta passando a ocupar um lugar no topo do guarda-vestidos. A capacidade volumétrica do Acordeão e a possibilidade de poder executar o acompanhamento e a melodia em simultâneo, fizeram com ele passasse a ser a base principal dos Ranchos Folclóricos. Se bem que na “Tocata” de um Rancho pudessem existir executantes de instrumentos de corda, os seus timbres não eram ouvidos, abafados pelo Acordeonista. Além disso, o Acordeão tinha outra vantagem sobre estes instrumentos: mantinha a sua afinação. A grande divulgação da Viola de 6 cordas (Guitarra Clássica ou Viola Dedilhada) e o aparecimento das chamadas “Guitarras Eléctricas” deram o golpe de misericórdia aos cordofones portugueses. Sem clientes os nossos Violeiros desinteressaram-se pelo seu fabrico.
Era importante recuperar essas tradições, as afinações usadas, os calibres das cordas para que a nossa história musical não ficasse mais pobre. Dar dignidade aos nossos cordofones é o objectivo primordial deste trabalho.

Curiosidade histórica: não sei se alguma vez pensou como é que apareceram as sete notas musicais?
O Monge Beneditino de nome “Guido” (995-1055), natural de Arezzo de Toscana e monge da Abadia de Pomposa em Itália, foi o inventor das notas musicais.
Onde é que ele foi buscar esta ideia?

Às primeiras sílabas dum Hino dedicado a S. João Batista.
Ut queant laxis - Resonares fibris - Mira gestorum - Famuli tuorum
Solve polluti - Labii reatum - Sancte Joannes

Mas o que dizia o Hino a S. João Batista?
“Purificai bem-aventurado João, os nossos lábios polutos, para podermos cantar dignamente as maravilhas que o Senhor realizou em Ti”. Numa outra versão:
“Para que teus servos possam exaltar a plenos pulmões as maravilhas dos teus milagres perdoa a falta do lábio impuro ó São João".Antigamente UT significava. A sua substituição foi devida à pouca musicalidade de UT. O Si deriva das duas primeiras letras de Sancte Joannes. Mas porque é que o SJ se transformou em Si? Pelo facto de Joannes se pronunciar “Ioannes” (o “j” em latim pronuncia-se “i”).

O Cavaquinho

O Cavaquinho é o mais popular dos instrumentos de cordas portugueses e também de mais reduzidas dimensões: tem cerca de 50 cm de comprimento e quatro cordas. Existem Cavaquinhos com 6 e 8 cordas (corda dupla).
É no Minho que ele aparece como espécie tipicamente popular, ligado às formas essenciais da música característica dessa província com carácter exclusivo, acentuadamente lúdico e festivo.
Toca-se geralmente de "rasgado", como instrumento harmónico para acompanhamento de cantares e danças, ou associado à Viola e outros instrumentos.
Na região, o Cavaquinho alterna com a Rabeca Chuleira as funções de instrumento agudo, com o seu tom vibrante e saltitante, próprio para acompanhar "viras", "chulas", "canas-verdes", "malhões", etc.
Uma outra técnica de tocar o Cavaquinho é o “ponteado”, onde o seu tocador executa simplesmente a melodia.
Da região de Braga terá sido levado para as ilhas da Madeira e dos Açores. Na Madeira, “o Braguinha”, como é conhecido, terá acompanhado os emigrantes do século XIX para as ilhas Hawaii, onde logo se popularizou com o nome de Ukulele, que quer dizer "pulga saltadora".
O Cavaquinho existe também no Brasil onde tem uma grande popularidade, em Cabo-Verde e na Indonésia.
O Cavaquinho é um cordofone com origem, talvez, nos tetracórdios helénicos, com 4 cordas e diversas afinações que dependem da música e do músico.
Em Portugal, existem dois tipos de Cavaquinhos, embora possamos incluir um terceiro, bastante raro, o Cavaquinho do Sul, também conhecido por Guitarrilho, instrumento de luxo, sempre bem decorado com madrepérolas.
Voltando aos tipos mais conhecidos, o de Braga e o de Lisboa, eles são instrumentos com características bem diferentes. O Minhoto com a escala rasante ao tampo e por isso sem divisões de escala sobre o mesmo e o de Lisboa com escala sobreposta, onde esta se prolonga até à “boca ou abertura musical”. A tradição de construção de Cavaquinhos está mais enraizada no norte de Portugal, dependendo o seu preço da qualidade da madeira e dos requintes de acabamento.
Muitas são as afinações dadas a este instrumento.
As mais frequentes são: Mi, Dó #, Lá, Lá e Ré, Si, Sol, Sol.
Para o Braguinha da Madeira a afinação mais comum é Ré, Si, Sol, Ré (grave em bordão).
As afinações são dadas sempre do agudo para o grave.
Para a afinação: Mi, Dó #, Lá, Lá ou Ré, Si, Sol, Sol, devem-se utilizar os seguintes calibres de cordas:
1ª Corda – afina em Mi ou Ré (0,23 mm, carrinho Nº 10)
2ª Corda – afina em Dó # ou Si (0,25 mm, carrinho Nº 9)
3ª/4ª Cordas – afinam em  ou Sol (0,30 mm, carrinho Nº6)
Mas a história dos instrumentos populares portugueses também é feita de fábulas. Para completar este capítulo, que não pretende ser mais do que um pequeno resumo da história do Cavaquinho, aqui fica uma delas.
Era uma vez um Cavaquinho
Era uma vez um Cavaquinho que vivia em cima de um armário onde o seu dono o tinha deixado há muitos e muitos anos.
Antigamente, o seu dono tocava-o todas as noites em Festas e Romarias, onde os rapazes namoriscavam as raparigas.
Muitas vezes, ao meio da semana, o seu dono às escondidas da patroa, catrapiscava-o para animar uma “festaça”, só porque uns rapazolas tinham ido às sortes (inspecção médica militar).
Tempos bonitos e saudosos em que o dono do Cavaquinho o cuidava com esmero.
Tinha cuidado com a humidade e o calor, nunca faltando carrinhos de cordas suplentes (o Nº6, o Nº9 e o Nº10), bem como as unhas postiças do indicador e do polegar.
Sabem... (pensava o Cavaquinho em melodias tocadas de mansinho) o meu dono tinha uma certa graça e mantínhamos uma certa relação de companheirismo onde a palavra amizade se escrevia com punhos de renda.
Quantas vezes lhe pedi que me fizesse um saquinho de retalhos ou de cordel, para me preservar do frio. Sim porque um estojo… só para gente endinheirada.
Mas, o Ti Zé nunca foi na conversa.
Onde ele tinha mais graça era quando me metia pela boca dentro os carrinhos e as unhas que retirava quando a “festança” estava de “vento em popa”. Como tenho uma boca em raia, o entrar era simples mas o sair, já não digo o mesmo.
Há histórias de se lhe tirar o chapéu.
Não sei se já alguma vez viu mudar uma corda a um Cavaquinho? Quando a arte é do Violeiro, que possui o “zingarelho” necessário e o calo da experiência, tudo é simples, mas o meu dono, Deus benza a sua alma, não tinha jeitinho nenhum para estas andanças. Quando a “prima”, a minha, ou seja a 1ª corda, a mais fina e delicada se passava da cabeçorra, isto é se finava, o meu dono ficava pior que uma barata, ou seja fora de validade.
Como quem manda no Cavaquinho é a prima, que remédio senão fazer a sua substituição. Que se dane a “bailação” porque o tocador deu cabo da “prima”. Casais ao bufete que a vidinha custa a todos e Deus também pediu. A sangria é de hoje e caseira, os croquetes são da tia Rosa do Lagar e há “puvides de abobóra a 50 ct o pagode”. O torrão é de Alicante, e há merendas fresquinhas da Tia Emília. Entretanto o meu dono, com um pente e calos de enxada, enrolava o “lacete” para que a corda do carrinho Nº10 desse voz de soprano à minha gostosa “prima”. Estrebuchava o “carrilão” de modo a que esta gostosa dama gritasse quando soltava a tonalidade de Mi. Também era o que faltava se a minha prima não gostasse de “Mi”. Depois a “bailação” continuava, as sogras (salvo seja) atrás das moçoilas davam orientações sobre o aceitar ou não da “bailação”. Sim, porque a coragem não era fácil, era preciso desafiar a moçoila com um rasgar de olhos a mais de 15 metros e ter a coragem de atravessar o salão da sociedade recreativa, quantas vezes recebendo em troca uma garbosa “tampa”. As sogras sorriam triunfantes mas a vingança era terrível, porque na agricultura o nabo, a nabiça e o grelo são três pessoas distintas, mas todas sem cabelo. Desculpem os desabafos, mas até me passou da cabeçorra o intuito da conversação. Que a patroa do meu dono não lhe dê o cheiro, pois havia muita “moçoila descomprometida e casadoira” que andava babada e pelo beicinho. Em “Balhos de Oferendas” onde se dançava à “amaricana, as moçoilas compravam rifas para uma dança prometida pelo Prior da aldeia. Quantas histórias, eu Cavaquinho, tenho para vos contar. Foi numa noite de Março que o meu dono se finou. Entre a tragédia e o estar, fiquei sem saber se a vida continuava com o sabor do sentir.
Nós somos um povo… não sei se sabiam? É que já vi chorar por não saber rir e já vi rir por não ter lágrimas. Sabem, é que eu Cavaquinho, sou do tempo em que apareceu uma caixinha de madeira dita de Telefonia que contava ditos e reditos, tristezas e “toledos” da Guerra de 1914 a 1918. O meu dono era de outras andanças e para essa velhaca, eu sempre tive “varejo” para dar e vender. Depois a caixa humanizou-se e não só falava como tinha bonecos. Eram homens e mulheres, presidentes e ramaldeiras, fazia rir e chorar e eu sentia-me abandonado. Agora, aqui estou eu à procura de um novo dono já que os meus novos proprietários me olham com desprezo, não entendendo a minha necessidade de ser um instrumento musical.
Se puder aprenda-me a tocar. Talvez possamos viver o amor com carácter de urgência, ou simplesmente ser bons amigos.

Se precisar de usar este texto disponha, mas não se esqueça de que "o seu a seu dono".
Faça referência ao local (www.jose-lucio.com) e ao seu autor
(José Lúcio Ribeiro de Almeida).
Obrigado
José Lúcio Ribeiro de Almeida


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