terça-feira, 3 de janeiro de 2012

o tempo e a memória Mário Soares


O TEMPO E A MEMÓRIA

Tempos difíceis

por MÁRIO SOARES
1. Entramos no novo ano - 2012 - em plena transformação e incerteza. Tudo parece ter de mudar. Esperemos que não seja para pior. Na Europa e portanto em Portugal, mas também noutros continentes: na Ásia, no mundo islâmico, nas Américas. A África conta ainda pouco, embora sofra também dos efeitos perversos da globalização desregulada.
As populações, que cada vez comunicam melhor e mais rápida e facilmente entre si, graças à revolução informática e à globalização, sentem um vazio e uma ausência de rumo - e de valores - a par de um certo desespero, quanto ao futuro, que parece poder vir a ser extremamente perigoso. Porque o vazio de ideias conduz com facilidade às revoltas e à violência.
Acabo de ler um livro, traduzido para o francês, do ensaísta e pensador holandês Rob Riemen, intitulado: "O Eterno Regresso do Fascismo", publicado em Outubro de 2011. O título, só por si, é insólito e, ao mesmo tempo, extremamente preocupante. Sessenta e seis anos após o fim da II Grande Mundial, vencida sob a bandeira da Liberdade, da Carta do Atlântico e das Nações Unidas, quem podia imaginar ser possível voltarmos a falar, seriamente, no perigo do fascismo ou, pior ainda, do nazi-fascismo, como uma calamidade que pode voltar a contaminar a Europa, como um micróbio que reaparece anos depois num corpo social doente? É, como o título indica, o teor do livro de Rob Riemen, que invocando grandes autores como: Goethe, Alexis de Tocqueville, Nietzsche e Ortega y Gasset, que tanto escreveu sobre a rebelião das massas, e, mais recentemente, Paul Valéry, Max Scheler e Albert Camus, entre outros, relembra que tanto o fascismo como o nazismo chegaram ao poder por via de eleições democráticas, em sociedades que tinham perdido os valores éticos e só viam o dinheiro, a "joie de vivre" e os mercados especulativos.
Estamos, na realidade, de novo, a viver uma crise, para além de financeira e económica, de civilização. Sem ideais que nos inspirem e, por isso, se cria nas camadas populares um sentimento de mal-estar, de frustração e de ressentimento, em que os valores democráticos da cidadania se perdem e os líderes políticos, cada vez mais desacreditados, procuram dirigir-nos, apostando no neoliberalismo e, consequentemente, no nacionalismo e no populismo. Através de slogans de uma cultura kitsche, conseguem, assim, da pior maneira, interessar as massas, aparentemente ganhando o sentimento dos povos...
O grande Winston Churchill, num discurso que proferiu em 1946, no imediato pós-guerra, em Zurique, com a Europa destroçada e para evitar novas guerras, advertiu: "É preciso recriar a família europeia (...) para se desenvolver em paz, em segurança e em liberdade. E para tanto é necessário construir uma espécie de Estados Unidos da Europa" em que, obviamente, o Reino Unido não entraria.

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