segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

tradutor improvisado


Crônica de Andre Mello

O tradutor

Publicado em 28.12.2011
 Texto: Andre Mello    Foto: olhares.uol.com
Quando se viaja, nem sempre dominamos a língua nativa. Às vezes temos que trabalhar com o que temos... E por vezes isso te coloca em cada enrascada...
Sílvio era taifeiro. Para aqueles que não são do mar, um taifeiro é um profissional encarregado da limpeza e conservação dos navios quando em viagem. E nesse momento, Sílvio estava preocupado. O navio havia atracado em Houston, Texas e ele escutara parte da conversa entre as autoridades americanas e o comando do navio.
Bem, ouvido, ouvido mesmo ele não tinha - até porque ele não falava inglês - mas um de seus amigos que trabalhava no setor de máquinas havia lhe passado o recado: por ordem de algum fulano, o navio teria que lacrar todas as válvulas que levavam água para fora do navio. Motivo de contaminação das águas ou qualquer coisa dessas que, francamente, Sílvio nem queria saber. Sua preocupação era bem mais espartana: era quinta feira e ele teria que lavar toda a roupa de cama do navio. Eram 25 jogos! Se ele deixasse acumular, teria que fazer turno dobrado durante a viagem e ele iria perder o final da novela... Isso não! Ele teria que achar uma saída!
Nascimento, o marinheiro de convés era "o safo". Aquele que resolveria qualquer problema, principalmente porque ele falava inglês fluentemente... Pelo menos isso era o que ele achava. E não só achava como vendeu a Sílvio a ideia de que ele poderia conversar com o Terminal para resolver o problema: - "Pode deixar cum nóis!" - disse Nascimento, confiante.
E de posse de toda história, com uma coragem de Homer Simpsom e inglês de Joel Santana, Nascimento começou uma conversa com o encarregado do terminal via rádio:
- "Friend?!" - começou...
- "Yes?" - retornou o terminal, aguardando por alguma informação pertinente à operação.
- "Isso!" - comemorou em pensamento Nascimento, e continuou:
- "Friend, poderation lavation roupation bordation?"
- Do outro lado, após uma tentativa inicial de entendimento, vem a resposta, um misto de incerteza e espanto:
- "What?! I can't understand!" (O que ?! Eu não entendi!)
Nascimento sorri um sorriso amarelo. Não havia entendido nada. Sílvio, esperançoso, cutuca o amigo e pergunta:
- "E aí?"
Nascimento, sem perder a pose sorri e dispara:
- "Ele disse que lavar pode, mas estender não!"...
Moral: "Sábio é quem estende seu manto como se fosse tapete, e tolo é quem pisa." - ditado árabe

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