quarta-feira, 25 de abril de 2012

lembrar abril 1974


Trova do Vento Que Passa

Poema: Manuel Alegre (excerto) [texto integral >> abaixo]
Música: António Portugal
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (in EP "Trova do Vento Que Passa", Orfeu, 1963; LP "Memória de Adriano", Orfeu, 1983, reed. Movieplay, 1992; "Obra Completa": CD "Adriano Canta Manuel Alegre I", Movieplay, 1994, 2007; CD "Vinte Anos de Canções", Movieplay, 2001) [>> YouTube] [>> YouTube]


[instrumental]

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça   | bis
o vento nada me diz.           |

[instrumental]

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia   | bis
canções no vento que passa.      |

[instrumental]

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste     | bis
há sempre alguém que diz não.   |


* António Portugal – guitarra de Coimbra
Rui Pato – viola



TROVA DO VENTO QUE PASSA

(Manuel Alegre, in "Praça da Canção", Coimbra: Cancioneiro Vértice, 1965)


                                    Ao António Portugal

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que eu morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
porque vai de olhos no chão.
Silêncio – é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

Também nascem flores no esterco
(diz quem ganha em te perder).
Eu é por ti que me perco
perder-me assim é viver.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.



Canta Camarada

Letra: Popular
Música: José Afonso
Intérprete: José Afonso* (in single "Menina dos Olhos Tristes / Canta Camarada", Orfeu, 1969; CD "De Capa e Batina", Movieplay, 1996) [>> YouTube] [>> YouTube]
Outra versão de José Afonso (in LP "República", Lotta Continua/Il Manifesto/Vanguardia Operaria (Itália), 1975) [>> YouTube]


[instrumental]

Canta, camarada, canta!
Canta que ninguém te afronta;
Que esta minha espada corta
Dos copos até à ponta.

[instrumental]

Eu hei-de morrer dum tiro
Ou duma faca de ponta;
Se hei-de morrer amanhã
Morra hoje, tanto conta.

[instrumental]

Tenho sina de morrer
Na ponta duma navalha;
Toda a vida hei-de dizer:
Morra o homem na batalha!

[instrumental]

Viva a malta e trema a terra!
Daqui ninguém arredou;
Quem há-de tremer na guerra
Sendo um homem como eu sou?

[instrumental]

Canta, camarada, canta!
Canta que ninguém te afronta;
Que esta minha espada corta
Dos copos até à ponta.

[instrumental]

Eu hei-de morrer dum tiro
Ou duma faca de ponta;
Se hei-de morrer amanhã
Morra hoje, tanto conta.

[instrumental]

Tenho sina de morrer
Na ponta duma navalha;
Toda a vida hei-de dizer:
Morra o homem na batalha!

[instrumental]

Viva a malta e trema a terra!
Daqui ninguém arredou;
Quem há-de tremer na guerra
Sendo um homem como eu sou?

[instrumental]


* Rui Pato – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos



Fala do Homem Nascido

Poema: António Gedeão (ligeiramente adaptado) [texto original >> abaixo]
Música: José Niza
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (in LP "Cantaremos", Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1999; "Obra Completa": CD "Adriano Canta José Niza", Movieplay, 1994, 2007) [>> YouTube]


[instrumental]

Venho da terra assombrada,
Do ventre da minha mãe;
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.

Trago boca para comer
E olhos para desejar.
Tenho pressa de viver,         | bis
Que a vida é água a correr.  |
Venho do fundo do tempo;
Não tenho tempo a perder.

[instrumental]

Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao norte;
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham,
Nem forças que me molestem,
Correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
Que a Natureza sou eu,
E as forças da Natureza
Nunca ninguém as venceu.

[instrumental]

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.  | bis
Mesmo morto hei-de passar.   |
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

[instrumental]

Venho da terra assombrada,
Do ventre da minha mãe;
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui,
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.


* Rui Pato – viola



FALA DO HOMEM NASCIDO

(António Gedeão, in "Teatro do Mundo", Coimbra, 1958; "Poemas Escolhidos: Antologia Organizada pelo Autor", Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1997)


(Chega à boca de cena, e diz:)

Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
Não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.



Coro dos Tribunais

Letra: Bertolt Brecht (da peça "A Excepção e a Regra", na versão de Luiz Francisco Rebello); adapt. José Afonso
Música: José Afonso
Intérprete: José Afonso* (in LP "Coro dos Tribunais", Orfeu, 1974, reed. Movieplay, 1987, 1996) [>> YouTube]
Outra versão de José Afonso: "Coro dos Tribunais (Final)" (in LP "Coro dos Tribunais", Orfeu, 1974, reed. Movieplay, 1987, 1996) [>> YouTube]


Foram-se os bandos de chacais
Chegou a vez dos tribunais
Vão reunir o bom e o mau ladrão
Para votar sobre um caixão
Quando o inocente se abateu
Inda o morto não morreu
Quando o inocente se abateu
Inda o morto não morreu

[vocalizos]

A decisão do tribunal
É como a sombra do punhal
Vamos matar o justo que ali jaz
Para quem julga tanto faz
Já que o punhal não mata bem
A lei matemos também
Já que o punhal não mata bem
A lei matemos também

[vocalizos]

Soa o clarim, soa o tambor
O morto já não sente a dor
Quando o deserto nada tem a dar
Vêm as águias almoçar
O tribunal dá de comer
Venham assassinos ver
O tribunal dá de comer
Venham assassinos ver

[vocalizos]

Se o criminoso se escondeu
Nada de novo aconteceu
A recompensa ao punho que matou
Uma fortuna a quem roubou
Guarda o teu roubo, guarda-o bem
Dentro de um papel a lei
Guarda o teu roubo, guarda-o bem
Dentro de um papel a lei

[vocalizos / instrumental]


* Guitarra acústica – Fausto Bordalo Dias
Percussões – Michel De Laporte
Vozes e cordas – Adriano Correia de Oliveira, Carlos Alberto Moniz, Fausto Bordalo Dias, José Afonso, José Niza, Vitorino
Teclados – Vitorino
2.ª viola – Carlos Alberto Moniz
Arranjos e direcção musical – Fausto Bordalo Dias
Gravado nos estúdios Pye Records, em Londres, de 30 de Novembro a 8 de Dezembro de 1974
Engenheiro de som – Bob Harper



Se Vossa Excelência...

Letra: Alfredo Vieira de Sousa
Música: Adriano Correia de Oliveira
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (single "Notícias d'Abril", Orfeu, 1978; "Obra Completa": CD "A Noite dos Poetas", Movieplay, 1994, 2007) [>> YouTube]


[instrumental]

Se Vossa Excelência, Senhor Presidente
Viesse cá almoçar mais vezes
Se um dia aqui chegasse de surpresa
Iria ver onde é a nossa mesa:
P'ra aí na berma da estrada
Ou entre as pilhas da madeira
Podia ver como é que a gente come
Podia ver como é que a gente vive

[instrumental]

Se Vossa Excelência, Senhor Presidente
Viesse cá almoçar mais vezes
Iria ouvir discursos bem diferentes
Nas bocas que hoje foram tão galantes
Iria ver como essa gente
Tão boazinha e sorridente
Como essa gente trata a quem trabalha
Como nos fala aqui no dia-a-dia

[instrumental]

Se Vossa Excelência, Senhor Presidente
Viesse cá almoçar mais vezes
Se cá viesse sem a comitiva
Então veria o que é a nossa vida
Veria a gente despedida
Ameaçada e ofendida
Por defender o pão das nossas bocas
Por defender o pão dos nossos filhos

[instrumental]

Se Vossa Excelência, Senhor Presidente
Viesse cá almoçar mais vezes
Se um dia aqui chegasse sem aviso
Então faria disto um bom juízo
Iria ver como é roubado
Quem dia-a-dia é explorado
Que aqui quem manda faz tudo o que quer
Mas não vai ser, não vai ser sempre assim

[instrumental]

Se Vossa Excelência, Senhor Presidente...

[instrumental]


* Fausto Bordalo Dias – guitarras
Rão Kyao – flautas
Pinguinhas – percussões



O Que Faz Falta

Letra e música: José Afonso
Intérprete: José Afonso* (in LP "Coro dos Tribunais", Orfeu, 1974, reed. Movieplay, 1987, 1996) [>>
YouTube]


[instrumental]

Quando a corja topa da janela
O que faz falta
Quando o pão que comes sabe a merda
O que faz falta

O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
[2x]

[instrumental / coros]

Quando nunca a noite foi dormida
O que faz falta
Quando a raiva nunca foi vencida
O que faz falta

O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é acordar a malta
O que faz falta
[2x]

[instrumental / coros]

Quando nunca a infância teve infância
O que faz falta
Quando sabes que vai haver dança
O que faz falta

O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
[2x]

[instrumental / coros]

Quando um cão te morde uma canela
O que faz falta
Quando à esquina há sempre uma cabeça
O que faz falta

O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
[2x]

[instrumental / coros]

Quando um homem dorme na valeta
O que faz falta
Quando dizem que isto é tudo treta
O que faz falta

O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta
[2x]

[instrumental / coros]

Se o patrão não vai com duas loas
O que faz falta
Se o fascista conspira na sombra
O que faz falta

O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é dar poder à malta
O que faz falta
[2x]

O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta

O que faz falta é acordar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta

O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta

O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é dar poder à malta
O que faz falta


* Guitarra acústica – Fausto Bordalo Dias
Percussões – Michel De Laporte
Vozes e cordas – Adriano Correia de Oliveira, Carlos Alberto Moniz, Fausto Bordalo Dias, José Afonso, José Niza, Vitorino
Teclados – Vitorino
Arranjos e direcção musical – Fausto Bordalo Dias
Gravado nos estúdios Pye Records, em Londres, de 30 de Novembro a 8 de Dezembro de 1974
Engenheiro de som – Bob Harper



Canção da Beira Baixa

Letra e música: Popular (Beira Baixa)
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (in LP "Cantigas Portuguesas", Orfeu, 1980; "Obra Completa": CD "Cantigas Portuguesas", Movieplay, 1994, 2007; CD "Vinte Anos de Canções", Movieplay, 2001) [>> YouTube] [>> YouTube]
Primeira versão de Adriano Correia de Oliveira (in EP "Lira", Orfeu, 1964)


[instrumental]

Era ainda pequenino
Acabado de nascer
Inda mal abria os olhos
Já era para te ver
Acabado de nascer

[instrumental]

Quando eu já for velhinho
Acabado de morrer
Olha bem para os meus olhos
Sem vida são p'ra te ver
Acabados de morrer

[instrumental]

Era ainda pequenino
Acabado de nascer
Inda mal abria os olhos
Já era para te ver
Acabado de nascer

[instrumental]


* Arranjos e direcção musical – Fausto Bordalo Dias
Técnicos de som – Moreno Pinto e Manuel Cunha
Gravado nos Estúdios Arnaldo Trindade, Lisboa



Vira de Coimbra 

Letra e música: Popular
Arranjo: António Portugal
Intérprete: José Afonso* (in EP "Balada do Outono", Rapsódia, 1960; LP "Baladas e Fados de Coimbra", 1982; CD "Os Vampiros", Edisco, 1987, 2006)
Outra versão de José Afonso (in LP "Fados de Coimbra e Outras Canções", Orfeu, 1981, reed. Movieplay, 1987, 1996)


[instrumental]

Dizem que amor de estudante
Não dura mais que uma hora;
Só o meu é tão velhinho,
Inda se não foi embora.
  
Coimbra p'ra ser Coimbra
Três coisas há-de contar:
Guitarras, tricanas lindas,
Capas negras a adejar.

Ó Portugal trovador,
Ó Portugal das cantigas,
A dançar tu dás a roda,
A roda co'as raparigas.

Vou encher a bilha e trago-a
Vazia como a levei;
Mondego que é da tua água?
Que é dos prantos que eu chorei?


* António Portugal e Eduardo Melo – guitarras de Coimbra
Manuel Pepe e Paulo Alão – violas



Charamba

Letra e música: Popular (Açores)
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira (in LP "Cantigas Portuguesas", Orfeu, 1980; "Obra Completa": CD "Cantigas Portuguesas", Movieplay, 1994, 2007) [>> YouTube]
Primeira versão de Adriano Correia de Oliveira (in EP "Lira", Orfeu, 1964)


[instrumental]

É esta a vez primeira,
A vez primeira
Que neste auditório canto;
Em nome de Deus começo,
De Deus começo,
Padre, Filho, Esp'rito Santo.

[instrumental]

A saudade é um luto,
Ai, é um luto,
É um luto, uma afeição;
É um cortinado roxo,
Ai, é um luto
Que me corta o coração.

[instrumental]

Eu cá sei e tu lá sabes,
E tu lá sabes,
O que não sabes eu sei;
Eu já vi andar a morte,
Andar a morte
Às costas de um peixe-rei.

[instrumental]


* Arranjos e direcção musical – Fausto Bordalo Dias
Técnicos de som – Moreno Pinto e Manuel Cunha
Gravado nos Estúdios Arnaldo Trindade, Lisboa



Inquietação

Letra: Edmundo de Bettencourt
Música: Alexandre Resende
Intérprete: José Afonso* (in LP "Fados de Coimbra e Outras Canções", Orfeu, 1981, reed. Movieplay, 1987, 1996) [>> YouTube] [>> YouTube] [>> YouTube]


[instrumental]

És linda, se foras feia
Mesmo assim eu te queria;
Não é por ser lua cheia
Que a lua mais alumia.

[instrumental]

Todo o bem que não se alcança
Vive em nós morto de dor;
Quem ama d'amor não cansa
E se morrer é d'amor.


* Octávio Sérgio – guitarra de Coimbra
Durval Moreirinhas – viola
Gravado nos Estúdios Rádio Triunfo, Lisboa
Técnicos de som – Jorge Barata e Moreno Pinto



Roseira Brava

Letra: António Ferreira Guedes
Música: José Niza
Arranjo: Rui Ressurreição
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (in LP "Gente de Aqui e de Agora", Orfeu, 1971, reed. Movieplay, 1999; "Obra Completa": CD "Adriano Canta José Niza", Movieplay, 1994, 2007; CD "Vinte Anos de Canções", Movieplay, 2001) [>> YouTube]


[instrumental]

Roseira brava, roseira
barco sem leme nem remos
roseira brava é a vida
que amargamente vivemos.

Roseira brava não tem
rosas abertas nos ramos
roseira brava é espinho
que em nosso peito cravamos.

Roseira brava, roseira
rosa em botão desfolhada
roseira brava é teu rosto
rompendo de madrugada.

Roseira brava no vento
vai espalhando a semente
roseira brava é lembrar
quem se não lembra da gente.

Roseira brava, roseira
que o sol de Verão não aquece
roseira brava é o amor
a quem amor não merece.

Roseira brava é o ódio
que vai minando a raiz
roseira brava, roseira
roseira do meu país.

Roseira brava é o ódio
roseira do meu país.

[instrumental]


* Rui Ressurreição – piano e acordeão
José Niza – viola acústica
Thilo Krasmann – baixo
José Eduardo L. Cardoso – bateria
Produção e supervisão musical – José Niza
Gravado nos Estúdios Polysom, Lisboa
Técnico de som – Moreno Pinto
Biografia e discografia em: A Nossa Rádio



Traz Outro Amigo Também

Letra e música: José Afonso
Intérprete: José Afonso* (in LP "Traz Outro Amigo Também", Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1987, 1996) [>> YouTube] [arquivo da RTP >> YouTube]


[instrumental]

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

[instrumental]

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja bem-vindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

[instrumental]

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

[instrumental]


* Carlos Correia (Bóris) – viola
Luís Filipe Sousa Colaço – 2.ª viola
Gravado nos Estúdios Pye Records, Londres, em 1970
Biografia e discografia em: A Nossa Rádio



Quatro Quadras Soltas

Letra: Sérgio Godinho, António Aleixo e José Afonso
Música: Sérgio Godinho
Intérpretes: Sérgio Godinho*, Adriano Correia de Oliveira, José Afonso e Fausto Bordalo Dias (in LP "Campolide", Orfeu, 1979, reed. Movieplay, 1999) [>> YouTube] [>> YouTube]


[Sérgio Godinho:]
Eu vi quatro quadras soltas
à solta lá numa herdade,
amarrei-as com uma corda
e carreguei-as para a cidade.

Cheguei com elas a um largo
e logo ao largo se puseram;
foram ter com a família
e com os amigos que ainda o eram.

Viram fados, viram viras,
viram canções de revolta;
e encontraram bons amigos
em mais que uma quadra solta.

Uma viu um livro chamado
"Este livro que vos deixo",
reviu velhas amizades;
eram quadras do Aleixo:

[Adriano Correia de Oliveira:]
Ó i ó ai, Há já menos quem se encolha,
Ó i ó ai, Muita gente fala e canta;
Ó i ó ai, Já se vai soltando a rolha
Que nos tapava a garganta.

[Sérgio Godinho:]
Ora bem, tinha marcado
encontro com as quadras soltas;
pois sim, fiquei pendurado
como um tolo ali às voltas.

Chegou uma e disse: "Andei
a cumprimentar parentes."
E eu aqui a enxotar moscas,
vocês são mesmo indecentes!

Respondeu-me: "Ó patrãozinho,
desculpe lá essa seca;
estive a beber um copito
com uma quadra do Zeca":

[José Afonso:]
Ó i ó ai, Disse-me um dia um careca:
"Ó i ó ai, Quando uma cobra tem sede
Ó i ó ai, Corta-lhe logo a cabeça,
Encosta-a bem à parede!"

[Sérgio Godinho:]
Das restantes quadras soltas
não tinha sequer notícia;
dirigi-me a uma esquadra
e descrevi-as a um polícia.

Respondeu-me: "Com efeito,
nós temos aqui retida
uma quadra sem papéis
que encontrámos na má vida.

Diz que é uma quadra oral
sem identificação,
e que uma quadra popular
não precisa de cartão.

Se diz que pertence ao povo,
o povo que venha cá,
que eu quero ver a licença,
o registo e o alvará.

[Fausto Bordalo Dias:]
Ó i ó ai, Quando se embebeda o pobre
Ó i ó ai, Dizem "olha o borrachão!"
Ó i ó ai, Quando se emborracha o rico
Acham graça ao figurão.

[Sérgio Godinho:]
Fui com a quadra popular
à procura das restantes,
quando o polícia de longe
disse: "Venha aqui um instante

Temos aqui uma outra
não sei se você conhece;
desrespeita autoridades
e diz o que lhe apetece.

Tem uma rima forçada
e palavras estrangeiras,
e semeia a confusão
entre as outras prisioneiras.

Se for sua, leve-a já
que é pior que erva daninha!
Olhe bem para ela: É sua?"
Olhei bem para ela: "É minha!"

Ó i ó ai, Nós queremos é justiça
Ó i ó ai, E dinheiro para o bife;
Ó i ó ai, E não esta coboiada
Em que é tudo do xerife.

(Até ver...)


* [Créditos gerais do disco:]
Sérgio Godinho – voz e violas
Paulo Godinho – viola baixo
José Eduardo – contrabaixo
Guilherme Scarpa Inês – bateria
Luís Caldeira – flautas e saxofone
Pedro Osório – piano e acordeão
Pedro Caldeira Cabral – guitarra portuguesa
Carlos "Zíngaro" – violino
João Janeiro – vibrafone
António José Lages – tuba
Fernando Moura – clarinete
Emídio Coutinho – trombone
Tomás Pimentel – trompete
Paulo Pulido Valente – trancanholas
Adriano Correia de Oliveira, José Afonso e Fausto Bordalo Dias – vozes (em "Quatro Quadras Soltas")
Arranjos e direção musical – Luís Caldeira e Sérgio Godinho
Gravado nos Estúdios Arnaldo Trindade, Lisboa (Rua de Campolide), nos princípios de Outubro de 1979
Técnico de som – Moreno Pinto

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