sábado, 28 de abril de 2012

A Propósito do Idioma: Fator político e económico J Craveirinha

A Propósito do Idioma: Fator político e económico
     
AICL - XVII Colóquio da Lusofonia. 30 de Março a 3 de Abril 2012
Intervenção a 1 de Abril 2012. Cineteatro Almeida. Concelho de Lagoa.
Arquipélago dos Açores. Ilha de S. Miguel. Portugal.
[Participação de João Craveirinha – autor moçambicano]
A Propósito do Idioma: Fator político e económico. [Onze itens]
1.      Nota Prévia:
          Ao refletirmos através da linguagem e comunicação, sobre a atual crise financeira em Portugal versus crispação na sociedade portuguesa poderíamos inferir um “síndrome” de Ícaro, ou “glorificação” da queda da política económica do país. É potenciado assim, um desequilíbrio da linguagem nos meios de comunicação de massas. Ignorada a (metáfora) do efeito Dédalo (pai de Ícaro) na superação das dificuldades desenvolvendo resistências contra a crise abrindo campo à esperança coletiva. Pelo contrário, a própria comunicação investe sem sinais de “prudência” cum grano salis (pitada de sal) no doseamento da informação sobre essa crise e a austeridade em curso. Nesse contexto, institucionalmente, as manifestações culturais, académicas e da divulgação da língua portuguesa são adiadas sine die (sem data de retorno). Os apoios são draconianamente cancelados. Critérios de estatísticas do défice financeiro impõem-se na sociedade em Portugal.

2.      Notas introdutórias do idioma luso:
          Por outro lado existem antecedentes evolutivos da língua portuguesa, na transição do colonial para o pós-colonial, na sua divulgação pelo mundo. Nunca é demais referir o papel incontornável, na década de 1960-70, da dinâmica dos movimentos de libertação das colónias portuguesas em África, nomeadamente de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
3.      Do colonial ao pós-colonial:
          Após a conferência de Bandung (Indonésia 1955) os “ventos da história” varreriam o cenário colonial do mundo. Em pouco menos de uma década em diante surgiria a necessidade global de aprendizagem do português devido às colónias de Portugal em África. A partir de 1961, países como a URSS e demais países do leste europeu dinamizariam apoios a esses movimentos anticoloniais reunidos em Marrocos na CONCP: Conferência de Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, que substituiria em 1961 a FRAIN-CP: Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas (PAIGC e MPLA, Tunísia 1960). Na Ásia, a Coreia do Norte de Kim Il Sung (1912-1994) e a China Popular de Mao-Tse-Tung (1893-1976) destacam-se no apoio aos movimentos de libertação africanos.
          Essa necessidade do conhecimento da língua portuguesa nas universidades dos blocos comunistas surgia para fornecer intérpretes aos instrutores militares locais, junto dos guerrilheiros africanos que vinham para treino militar. Num curto período (1961) alguns estudantes universitários chineses (Pequim-Beijing) teriam aprendido a língua portuguesa do Brasil da era do Presidente Jânio Quadros (1917-1992). Mesmo com Macau em comum, a China, devido à sua política anticolonial não tinha relações diplomáticas, oficiais, com Portugal.

4.      Em 1963 a primeira visita à China:
          A primeira delegação moçambicana da Frente de Libertação de Moçambique à China-Pequim (1963) foi chefiada pelo comandante Filipe S. Magaia (1937-1966). O grupo guerrilheiro do comandante Magaia, antigo subsargento do exército colonial português (1960) seria acompanhado na China Popular por intérpretes chineses com sotaque brasileiro. Entre 1967-1972 instrutores militares chineses (veteranos) ministravam aos moçambicanos treinos de estratégia e tática no sul de Tanzânia, Nachingwea , - campo de treino político-militar próximo da fronteira com o norte de Moçambique. Os intérpretes de português eram jovens universitários chineses. Decorria a revolução cultural chinesa (1966-1976) liderada pela madame Chiang Ching (1914-1991), esposa do líder chinês Mao-Tse-Tung.
          Tanzânia na década de 1964 a 1974 torna-se a sede dos movimentos de libertação anticoloniais e anti- apartheid da África Austral. Em achega repare-se no pacto militar entre o Portugal colonialista e o Brasil da ditadura militar na questão da guerra colonial. Entre 1969-1974, esse pacto com o Brasil seria intensificado na gestão do seu Presidente, o General Emílio Garrastazu Medici (1905-1985). Segundo fontes da guerrilha moçambicana, em 1969, o Brasil teria enviado fuzileiros em auxílio a soldados comandos portugueses, no combate à FRELIMO, no norte de Moçambique (Niassa).
          Anos mais tarde surgiriam certos incómodos diplomáticos na aproximação do Brasil aos ditos PALOP, em particular com Moçambique após a independência em 1975. A era pragmática (1995-2011) dos presidentes FHC (1931) e Lula (1945) desanuviariam as relações. Na divulgação da língua portuguesa a partir de 1992, em Moçambique, a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) e a sua TV Record e Rádio Miramar desempenhariam a partir daí um papel importante. A aproximação “política” do Brasil com Moçambique, paulatinamente seria feita através da pessoa do líder da IURD, o bispo carioca Edir Macedo (1945) no apoio ao partido no poder (FRELIMO) nas primeiras eleições multipartidárias de 1994.
          A TV Globo do empresário também carioca, Roberto Marinho (1904-2003) seria relegada para segundo plano, após anos de cooperação solidária com a TVM – Televisão pública de Moçambique na década de 1986-1996.

5.      Língua instrumento político de unidade nacional – o caso de Moçambique:    
          A língua portuguesa emerge como idioma de unidade nacional por necessidade pragmática dos próprios movimentos de libertação das então colónias portuguesas em África. A diversidade linguística assim o exigia.
          Além dos países de ideologia comunista (como da então Alemanha - RDA), organizações de alguns países nórdicos (Holanda e Suécia) e da Inglaterra dinamizam o estudo do português enviando professores para as escolas da FRELIMO em Tanzânia, Dar-es-Salaam e Bagamoyo (África Oriental). A Índia envia professores de origem goesa. Esse precedente será ampliado após a independência de Moçambique (1975) inserido em programas de alfabetização massiva do português. Participam voluntários de diversas nacionalidades como monitores de português e em áreas sociais da saúde preventiva, nomeadamente vindos da Guiné-Conacri, Suécia, Holanda, Finlândia, Noruega, Dinamarca, França, Cuba. Alguns exilados do Chile e do Brasil.
          Mais tarde, com a abertura política a partir de 1994, programas de ensino do inglês utilizando a língua portuguesa como primeira plataforma seriam desenvolvidos com monitores dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, etc. Saliente-se também, que após a independência em 25 Junho 1975, alguns exilados africanos (anglófonos) em Moçambique ministravam o ensino da língua inglesa. Tal foi o caso em Quelimane (Zambézia) de Robert Mugabe do Zimbabué (ZAPU-Zimbabwe African People Union), mais tarde Presidente do país. Por outro lado, a língua portuguesa seria “apreendida” por exilados sul-africanos anti-apartheid do ANC (African National Congress) e zimbabuanos (ZAPU) com a instalação em Moçambique de campos de exilados.

6.      Língua portuguesa, fator económico de desenvolvimento social em África:
          Os antecedentes políticos da evolução da língua portuguesa partem inicialmente, de uma imposição colonial portuguesa tornando-se paradoxalmente no pós-colonial, uma língua de unidade nacional africana devido à riqueza da diversidade linguística das suas colónias de África. Nesse contexto e por empatia a língua portuguesa amplia o seu raio de influência aos vizinhos francófonos da Guiné-Bissau, membros da União Económica e Monetária do Oeste Africano com o franco CFA como moeda comum. Por sua vez estes países integram a CEDEAO, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. S. Tomé e Príncipe pela “proximidade” tem o Gabão, e a Guiné Equatorial observadora na CPLP.
          Na África Austral existe a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, a SADC (Southern Africa Development Community) abrangendo Angola e Moçambique. Entre outros fatores advém daí o facto da República da África do Sul ser o terceiro país em África onde o português é mais falado. É também uma das línguas oficiais. Está estimado em cerca de um milhão e meio, os usuários da língua portuguesa nas terras do Rand. São na sua maioria moçambicanos com dupla nacionalidade e emigrantes. A comunidade madeirense – portuguesa seria a segunda.
          De notar, que na transição para as independências em Angola e Moçambique, os portugueses fugidos das situações políticas violentas refugiar-se-iam na Namíbia, Rodésia (Zimbabué) e na África do Sul. Alguns desses (re) emigrariam para a Austrália, Nova Zelândia, para o Brasil, Estados Unidos e o Canadá. No entanto, após a queda do apartheid (1991) muitos dos portugueses radicados na África do Sul regressariam a Portugal. Outros de novo para Moçambique.

7.      O Brasil em África, Moçambique e a língua portuguesa:
          Não tem sido referenciado o papel (in) direto da divulgação do português (variante PB) através dos pastores evangélicos da IURD e da sua TV e Rádio Record do Brasil em particular nos ditos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). Paradigmático é o caso de Moçambique com sinal aberto para a TV Record e Rádio Miramar. Moçambique foi o primeiro país de língua oficial portuguesa com implantação total da TV e Rádio Record em sinal aberto na capital Maputo e na cidade da Beira. A comunidade brasileira cresceria nos ditos PALOP através da IURD.
          Segundo o diário económico digital português, em 2007 (26.10), já se posicionavam em Angola grandes empresas brasileiras como a Companhia Vale do Rio Doce, a Construtora Cowan, a Eaglestar, a Odebrecht, a OGX Petróleo e Gás, a Orteng Equipamentos, a Petrobrás, a PetroRecôncavo, a Queiroz Galvão, a RAL Engenharia, a Starfish, a UTC Engenharia, a Vitória Ambiental e a W. Washington. Outras empresas brasileiras seriam das áreas de construção civil, agroindústria, agropecuária, transportes, engenharia e projetos, imobiliária, energia e consultoria empresarial.
          A Construtora Norberto Odebrecht opera na Guiné Equatorial que aguarda o “veredicto” sobre a formalização de sua adesão à CPLP. Esta prende-se com critérios de visibilidade de democratização política do país, por parte de Portugal. Em Moçambique na área dos investimentos brasileiros a Vale do Rio Doce parece liderar.
          Segundo o Macauhub (26.01.2012), serviço de notícias em chinês, português e inglês, sedeado em Macau (China), empresas brasileiras já teriam investido em Moçambique mais de 5 biliões de dólares. A maior parte aplicada pela mineira Vale, citando informação de António de Sousa e Silva, embaixador cessante do Brasil em Maputo. Sem dúvida, esta movimentação empresarial brasileira por África implica uma mobilidade dos recursos humanos brasileiros que ao se instalarem para execução das empreitadas divulgam a língua portuguesa de expressão cultural brasileira.
8.      Questões finais: - em que medida a implantação de um “Darwinismo Social” em Portugal afetará o desenvolvimento da Lusofonia?
          Os titulares em epígrafe sugerem em pleno século 21 pressupostos de retorno às teorias distorcidas do darwinismo do século XIX (séc. 19). Foram teorias disseminadas por Francis Galton, Benjamin Kidd, Herbert Spencer a John Reid Rentoul (e outros) “adaptadas” às questões sociais (classes económicas) e genéticas (ditas raças superiores e inferiores) em que subsistiria o mais forte como mais apto (o rico), e o mais fraco (o pobre) entregue à sua sorte teria de desaparecer.
          São teorias herdades de Thomas Malthus (1766-1834) sobre o controlo demográfico, pois segundo ele, o mais pobre teria de desaparecer por que seria a essência da natureza os mais fracos serem destruídos e deixarem espaço aos mais habilitados. Malthus sugeria ainda para combater o excesso populacional, que se negasse qualquer assistência social, alimentar e médica, aos mais desfavorecidos. Recomendava a abstinência sexual entre os pobres para diminuir a natalidade “causa dos males sociais.”
          Segundo o sociólogo da cultura Raymond Williams, o filósofo britânico Herbert Spencer seria …«who first, in 1864, coined the phrase: ‘the survival of the fittest’» (H. Spencer seria… «quem pela primeira vez, em 1864, cunhou a frase: ‘a sobrevivência do mais apto.’»: Spencer apud Williams, p. 87 (…) He opposed state aid to the poor on the grounds that this would preserve the weaker and less successful members of the race.Social Darwinism pp. 86-102. (...) “Ele [Spencer] opôs-se ao apoio social do estado aos pobres na base de que isso iria manter os mais fracos e menos capacitados membros da raça.” Williams, Raymond (1980). Problems in Materialism & Culture. London, New York: Verso. Selected Essays 277 pp. (Social Darwinism pp. 86-102). No cômputo geral trata-se da aplicação distorcida da teoria de Darwin da evolução das espécies a partir de uma seleção natural e de adaptação das plantas e animais ao meio ambiente.
          Por outro lado, o académico Benjamim Isaac (1945) é categórico quando afirma que “não existem raças, mas racismo sim.” «Race Does Not Exist, Racism Does» [p.33]. Isaac, Benjamin (2006). The Invention Of Racism In Classical Antiquity. USA: Princeton University. 
          Nesse contexto, a ciência biológica prova que de facto existe uma única espécie humana. A reprodução sexual entre humanos de diferentes continentes comprova. Dessa relação surge um novo ser humano: o mestiço. O resto é superficial e ideológico gerador de preconceitos. A língua portuguesa e a comunicação devem elucidar que o fator socioeconómico é determinante no desenvolvimento humano, e não a superficialidade da cor da pele ou de outro item discriminatório, histórico ou atual.
          Os aspetos do (re) emergente “darwinismo social” em Portugal tem relegando para terceiro plano a funcionalidade das instituições portuguesas que lidam com a cultura e por suposto com a língua portuguesa (neste caso) alicerce de comunidades usuárias deste idioma em cinco continentes. Será que a atual prioridade das instituições lusas sejam somente os aspetos empresariais, de negócios e diplomáticos para sair da crise? A austeridade mais austeridade é a única fórmula? No cômputo geral, em pleno século XXI (21) estaríamos perante uma EUTANÁSIA SOCIAL evoluindo do “Darwinismo Social” dos dois séculos anteriores.
          Num contexto de austeridade, a questão de fundo seria a de reflexão sobre o papel real da língua portuguesa e a de saber “a lusofonia serve para quê?” Tem sido assim questionado o autor deste texto, dentro e fora de Portugal, por usuários da língua portuguesa. Por outro lado, e em paralelo temos a controvérsia da implementação do “acordo ortográfico” de 1990.

9.      Último Acordo Ortográfico de 1990:
          O (novo) acordo foi assinado por “todos” países falantes do português em 12 de Dezembro de 1990. A ratificação tem sido adiada e foi avançada (2009) pelo Brasil, por Portugal e outros membros da CPLP. Angola e Moçambique ainda não ratificaram (Abril 2012). No referido acordo ortográfico a supressão das consoantes mudas é a tónica principal. O que não se lê elimina-se. Se pronunciamos o de facto esta consoante C mantém-se (PE). No caso brasileiro do (PB) não se pronuncia por que é muda daí o fato (deles). Existem outros itens adicionais que não são a motivação deste apontamento.
          A questão do acordo pode ser mais profunda do que parece, daí o “ruído” que tem surgido politicamente. Seria desejável com mais distanciamento e sem crispação, um dia, analisar até que ponto interesses ideológicos em conflito e empresas editoriais portuguesas terão pressionado os políticos, na ratificação do meio-esquecido acordo ortográfico de 1990. Nesse contexto seria interessante analisar qual o papel real, político, diplomático e económico de Portugal e do Brasil (inserido nos países emergentes dos BRICS). Trata-se de hegemonias ou de lusofonias? Portal da Língua Portuguesa http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?action=acordo&version=1990

10.   Que fazer para alargar o âmbito do debate dos Colóquios da Lusofonia:
           Dentro dos novos desafios da atual crise económica, do neoliberalismo da globalização em Portugal e no mundo, como dinamizar a língua portuguesa fator económico de comunicação a ter em conta nos areópagos internacionais?
          Seria interessante contextualizar os alertas de estudiosos da língua portuguesa e da lusofonia como os do Prof. Patrick Chabal do King’s College de Londres, de que a Lusofonia possa ser vista por Portugal como uma “saudade do império colonial perdido.”

11.  Na AICL-Associação Internacional Colóquios da Lusofonia, onde se enquadra a Sociologia da Cultura?
          Se a ortografia não é a língua falada mas sim representação gráfica da palavra, como a fotografia de uma casa não é a casa, porquê, como diria Shakespeare “tanto barulho por nada?” Por outro lado, numa sociedade tudo evolui (ou involui). Aspetos sociológicos e culturais podem interferir no quotidiano, e a língua por isso vai sofrendo transformações que não se compadecem com a norma culta ou norma padrão instituída pelos gramáticos.
          Aliás, ao longo dos tempos temos observado esse fenómeno mesmo com a língua portuguesa. Em nossa modesta opinião, entre a norma padrão e a evolução da sociedade deveriam haver consensos de equilíbrio sopesando os prós e contras. É tarefa de todos a preservação da “saúde” da língua e da linguagem na comunicação escrita e falada. A democracia também se exige na língua pois esta não é dogma, e democracia é pluralismo. Daí as variantes da língua portuguesa. Obviamente terá de haver parâmetros reguladores. Para isso servem os gramáticos, mas também os sociólogos da cultura. JC █
          João Craveirinha [JC 1947] é formado em Ciências da Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa (antiga Clássica). Em fase de defesa de tese de obtenção do grau de PhD (doutorado). É ainda pesquisador académico no estudo da Disseminação da Alimentação, dos Sons e Danças Tropicais tendo a Cultura Como Fator Económico de Desenvolvimento Humano. É autor literário em prosa e poesia. Foi designer gráfico, e é o pintor-autor da maior pintura mural de África localizada na praça dos Heróis em Maputo: comprimento 110 m x 5 m altura - um dos maiores murais de arte do mundo. JC viajou por 25 países de 1967 a 2009. Viveu em África, América do Sul (Brasil) e Europa. Em Portugal foi pioneiro multidisciplinar na Intervenção Cultural da Lusofonia na década de 1986-1996. Organizador e cofundador de duas Associações em Portugal e Moçambique: AAMO - Associação Africana de Moçambique em Portugal (cívico-cultural) e ONGD Semente para a Cooperação e Desenvolvimento apresentada em Portugal, Moçambique e na União Europeia – Bruxelas DGV.
Description: https://ssl.gstatic.com/apps/gadgets/youtube/youtube.gifYouTube  - Canal TV Kraveirinya: http://www.youtube.com/watch?v=27GA61iL9lQ

ANEXO:
Data Venia a Monteiro Lobato (a evolução da Língua Portuguesa).
          Nesse aspeto Monteiro Lobato é paradigmático na sua obra Emília no País da Gramática (1934) do sítio do pica-pau amarelo, pp. 88- 91, capítulo XVIII (18) em GENTE DE FORA [novas palavras na língua portuguesa]. No conto a velha Dona Etimologia explicava às crianças sobre as origens e a evolução da língua portuguesa.
           “— Pois é isso, meninada! — disse logo depois a velha. — Vocês já sabem como se formam as palavras da língua. Grande número veio diretamente do latim. Foi o começo, a primeira plantação. Depois começaram a reproduzir-se lá entre elas, ou a derivar-se umas das outras.” (…) “Uma língua não para nunca. Evolui sempre, isto é, muda sempre. Há certos gramáticos que querem fazer a língua parar num certo ponto, e acham que é erro dizermos de modo diferente do que diziam os clássicos.
          — Que vem a ser clássicos? — perguntou a menina.
          — Os entendidos chamaram clássicos aos escritores antigos, como o Padre Antônio Vieira, Frei Luís de Sousa, o Padre Manuel Bernardes e outros. Para os Carrancas, quem não escreve como eles está errado.
          Mas isso é curteza de vistas. Esses homens foram bons escritores no seu tempo. Se aparecessem agora seriam os primeiros a mudar ou a adotar a língua de hoje, para serem entendidos. A língua variou muito e sobretudo aqui na cidade nova [Brasil]. Inúmeras palavras que na cidade velha [Portugal] querem dizer uma coisa aqui dizem outra.”(…)”O que sucede é que uma língua, sempre que muda de terra, começa a variar muito mais depressa do que se não tivesse mudado. Os costumes são outros, a natureza é outra — as necessidades de expressão tornam-se outras. Tudo junto força a língua que emigra a adaptar-se à sua nova pátria.
          A língua desta cidade está ficando um dialeto da língua velha.
          Com o correr dos séculos é bem capaz de ficar tão diferente da língua velha como esta ficou diferente do latim. Vocês vão ver.
          — Nós vamos ver? — exclamou Narizinho, dando uma risada. — Então pensa que somos como a senhora, que vive toda a vida e mais
séculos e séculos?”
          Devida vénia a Monteiro Lobato (1882-1948), escritor e contador de histórias brasileiro deixou-nos um legado muito importante sobre a questão da evolução da língua portuguesa.
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Em link anexo quem quiser ler em pdf a obra original na íntegra de Emília no País da Gramática de 1934. http://www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/lobato/Emilia_No_Pais_Da_Gramatica.pdf

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