O meu 25 de abril
Em 25 de abril de 1974 achava-me em Roma, onde, ademais de trabalhar na minha tese de doutoramento, era professor na Universidade Gregoriana. No meio da noite (talvez as 3 ou as 4 da manhã) acordei (não lembro se começavam já os calores romanos, que tantas dificuldades ocasionam ao descanso noturno...). E olhando a hora e vendo que era tempo de noticias, liguei a rádio: no boletim de notícias da RAI conheci o que estava acontecendo em Portugal. Com a emoção fugiu-me definitivamente o sono, e procurei imediatamente uma emissora portuguesa. Em Roma as emissoras portuguesas ouviam-se bastante mal na rádio normal de onda média, mas nessas horas da noite pude escutar, com algumas dificuldades, a Rádio Renascença, que informava do que se estava passando e repetia periodicamente os pontos do programa do Movimento das Forças Armadas: apesar das interferências pude compreender perfeitamente que se tratava de um movimento democrático e não de um vulgar golpe de estado militar.
Já ao longo do dia, os meios de comunicação italianos seguiram com grande simpatia tudo o que acontecia em Portugal, e em geral a sociedade italiana celebrou como uma festa aquela revolução pacífica.
Mas o que quero compartir hoje é o texto do telegrama que um grupo de galegos enviamos dias depois ao General Spínola. Não é já inédito, porque acaba de aparecer reproduzido no volume Un canto e unha luz na noite: Asociacionismo cultural en Galicia (1961-1975), elaborado por Ricardo Gurriarán e publicado pelo "Consello da Cultura Galega" (174 pp.) como guia da magnífica exposição que sobre esse tema está instalada neste momento (até ao 13 de maio) no Museu do Povo Galego (em São Domingos, Santiago de Compostela).
O rascunho do telegrama em foco aparece reproduzido fac similarmente na pág. 111, e diz assim:
General Spínola e Junta Militar, Lisboa, Portugal.
Grupo sacerdotes e laicos católicos galegos residentes Roma manifestam simpatia instauração liberdades democráticas - esperam pronta solução política problema colonial - anelam intensificação relações culturais galego-portuguesas língua comum - Viva Portugal.
Firmas: Monteiro - Uxio - Portela - Currais - Chucho - Gude - Cabaleiro - José - Otero - Valcárcel - Busto - Trillo... Foi enviado na segunda-feira 29 de abril, e o envio custou-nos 5.450 liras italianas (que equivaleriam a uns 3 euros de hoje). Dos assinantes, dois já faleceram.
Por cautela política (aqui continuava o franquismo) não indicamos nenhum nome completo nem nenhum endereço dos remetentes, de modo que não pudemos receber nenhuma resposta, e nem sequer saber se o telegrama chegaria ao seu destino. Se efetivamente chegou, como suponho, talvez se conserve em algum arquivo português.
José-Martinho Montero Santalha
Em 25 de abril de 1974 achava-me em Roma, onde, ademais de trabalhar na minha tese de doutoramento, era professor na Universidade Gregoriana. No meio da noite (talvez as 3 ou as 4 da manhã) acordei (não lembro se começavam já os calores romanos, que tantas dificuldades ocasionam ao descanso noturno...). E olhando a hora e vendo que era tempo de noticias, liguei a rádio: no boletim de notícias da RAI conheci o que estava acontecendo em Portugal. Com a emoção fugiu-me definitivamente o sono, e procurei imediatamente uma emissora portuguesa. Em Roma as emissoras portuguesas ouviam-se bastante mal na rádio normal de onda média, mas nessas horas da noite pude escutar, com algumas dificuldades, a Rádio Renascença, que informava do que se estava passando e repetia periodicamente os pontos do programa do Movimento das Forças Armadas: apesar das interferências pude compreender perfeitamente que se tratava de um movimento democrático e não de um vulgar golpe de estado militar.
Já ao longo do dia, os meios de comunicação italianos seguiram com grande simpatia tudo o que acontecia em Portugal, e em geral a sociedade italiana celebrou como uma festa aquela revolução pacífica.
Mas o que quero compartir hoje é o texto do telegrama que um grupo de galegos enviamos dias depois ao General Spínola. Não é já inédito, porque acaba de aparecer reproduzido no volume Un canto e unha luz na noite: Asociacionismo cultural en Galicia (1961-1975), elaborado por Ricardo Gurriarán e publicado pelo "Consello da Cultura Galega" (174 pp.) como guia da magnífica exposição que sobre esse tema está instalada neste momento (até ao 13 de maio) no Museu do Povo Galego (em São Domingos, Santiago de Compostela).
O rascunho do telegrama em foco aparece reproduzido fac similarmente na pág. 111, e diz assim:
General Spínola e Junta Militar, Lisboa, Portugal.
Grupo sacerdotes e laicos católicos galegos residentes Roma manifestam simpatia instauração liberdades democráticas - esperam pronta solução política problema colonial - anelam intensificação relações culturais galego-portuguesas língua comum - Viva Portugal.
Firmas: Monteiro - Uxio - Portela - Currais - Chucho - Gude - Cabaleiro - José - Otero - Valcárcel - Busto - Trillo... Foi enviado na segunda-feira 29 de abril, e o envio custou-nos 5.450 liras italianas (que equivaleriam a uns 3 euros de hoje). Dos assinantes, dois já faleceram.
Por cautela política (aqui continuava o franquismo) não indicamos nenhum nome completo nem nenhum endereço dos remetentes, de modo que não pudemos receber nenhuma resposta, e nem sequer saber se o telegrama chegaria ao seu destino. Se efetivamente chegou, como suponho, talvez se conserve em algum arquivo português.
José-Martinho Montero Santalha
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