800 euros para cantar às estrelas!
Os Açores estão transformados num
deserto de investimentos.
A extinção da APIA, a agência de
investimentos que nos ia salvar do purgatório, é o culminar de um
imenso falhanço da estratégia económica regional.
A crise não pode desculpar tudo.
É verdade que estamos num período
recessivo, mas há sinais de bons exemplos no país que nos levam a
interrogar a razão porque não se replicam nos Açores.
Porque razão sectores produtivos do
nosso país estão em franca recuperação e expansão, enquanto nos
Açores definhamos em tudo o que é produtivo?
O sector do calçado registou em
2012 o melhor ano de sempre, com um crescimento de 20%, tornando-se
no segundo mais caro do mundo, numa recuperação notável que motiva
outras indústrias tradicionais; as conserveiras estão a recuperar
ânimo e a Ramirez vai investir agora 18 milhões em novas unidades
industriais; os vinhos estão numa enorme pujança, aumentando as
exportações e fomentando a entrada de milhões de euros sempre a
crescer; a Portucel tornou-se no principal fabricante europeu do
chamado papel de escritório; somos líderes na construção de
aparelhos auto-rádios; em 2012 foram celebrados contratos de
investimento em Portugal no valor de 1.164 milhões de euros, que
resultaram em 3.098 postos de trabalho.
E nos Açores, o que temos?
Temos um aparelho produtivo a
definhar e um “investimento político”, como o do Casino, Hotel 5
estrelas e SPA nas Furnas, que é bem o emblema da estratégia
açoriana dos últimos anos.
Não atraímos minguém. Nas áreas
mais atractivas, só complicamos. Não sabemos legislar a nosso favor
porque o nosso parlamento é uma paróquia. O discurso empresarial é
provinciano. E a nossa massa crítica que ainda não emigrou, é
abafada pela capa do vasto aparelho público.
A APIA foi um desastre, com a
nomeação de pessoas desajustadas à função, criaram-se gabinetes,
fizeram-se “road shows” atamancados. Centenas de jantaradas
depois e cartões de crédito ao desbarato para despesas de
representação, o resultado é uma coisa confrangedora.
Paralelamente, criou-se outra
entidade “investidora” chamada “Ilhas de Valor”, esta coisa
híbrida que congrega resmas de funcionários do orçamento regional,
gerindo empresas falidas numa atitude bíblica de fraternidade
social, porque é preciso aguentar até à derrocada final, em vez de
se reestruturar, modernizar e viabilizar.
Uma economia assim não resiste.
A economia regional está recheada
de gente política, de amiguismos, de influências, de partidos, em
detrimento de gestores, investidores, conhecedores, visionários,
estrategas e apostadores.
À estratégia do arrojo no
investimento, respondemos com subsídios.
Até já se diz, no discurso
político, que os apoios sociais são investimento!
Precisamos urgentemente de
investimentos com retorno e com sustentabilidade.
É preciso direccionar todos os
nossos recursos para os sectores reprodutivos, retirando máximo
rendimento e as respectivas mais-valias.
Precisamos de uma geração sem medo
de desafios.
As políticas de coesão falharam em
toda a linha e o mercado regional tornou-se uma miragem.
Até a nossa maior riqueza
geoestratégica, o mar, parece estar a saque. O potencial da nossa
Zona Económica Exclusiva, com cerca de um milhão de quilómetros
quadrados, com uma biodiversidade fantástica e enormes riquezas
hidrotermais, jaz esquecido nos compêndios das prioridades
políticas.
Não sabemos proteger os nosos
produtos, quanto mais desenvolvê-los.
É tudo atamancado. Tudo subsidiado.
Tudo facilitado.
Politicamente, estamos confinados à
gestão do auto-reconhecimento, como aquela dos políticos se pagarem
a si próprios, com senhas de presença, pela participação em
reuniões da Associação de Municípios.
Os voluntariosos das freguesias, das
aldeias, das Casas do Povo, das associações cívicas, dos clubes
populares, agradecem o manjar de trabalho voluntário.
E os ranchos que vão cantar às
estrelas, não têm direito a senha de presença de 800 euros?
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PS – O Congresso do PS-Açores
cumpriu a sua função: apunhalar Seguro e “eleger” António
Costa futuro líder nacional. O cargo de César passou despercebido.
Missão cumprida!
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RELVAS – O Ministro Relvas é um
pontalhão. Falhou em toda a linha na privatização da RTP e ainda
tem a lata de dizer que tinha razão. Agora vai passar a Ministro dos
Despedimentos. Este país não tem cura.
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DEVOLVIDO – Afinal os autarcas vão
devolver tudo o que ganharam em senhas de 800 euros. É um rebate de
consciência. Mas foi preciso o Tribunal de Contas descobrir a
marosca e muita gente refilar. E os que ocuparam os mesmos cargos nos
anos anteriores? E nas outras Associações de Municípios, passa-se
o mesmo?
Pico da Pedra, Janeiro 2012
Osvaldo Cabral
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