terça-feira, 29 de janeiro de 2013

AÇORES 800 EUROS A CANTAR ÀS ESTRELAS

800 euros para cantar às estrelas!

Os Açores estão transformados num deserto de investimentos.
A extinção da APIA, a agência de investimentos que nos ia salvar do purgatório, é o culminar de um imenso falhanço da estratégia económica regional.
A crise não pode desculpar tudo.
É verdade que estamos num período recessivo, mas há sinais de bons exemplos no país que nos levam a interrogar a razão porque não se replicam nos Açores.
Porque razão sectores produtivos do nosso país estão em franca recuperação e expansão, enquanto nos Açores definhamos em tudo o que é produtivo?
O sector do calçado registou em 2012 o melhor ano de sempre, com um crescimento de 20%, tornando-se no segundo mais caro do mundo, numa recuperação notável que motiva outras indústrias tradicionais; as conserveiras estão a recuperar ânimo e a Ramirez vai investir agora 18 milhões em novas unidades industriais; os vinhos estão numa enorme pujança, aumentando as exportações e fomentando a entrada de milhões de euros sempre a crescer; a Portucel tornou-se no principal fabricante europeu do chamado papel de escritório; somos líderes na construção de aparelhos auto-rádios; em 2012 foram celebrados contratos de investimento em Portugal no valor de 1.164 milhões de euros, que resultaram em 3.098 postos de trabalho.
E nos Açores, o que temos?
Temos um aparelho produtivo a definhar e um “investimento político”, como o do Casino, Hotel 5 estrelas e SPA nas Furnas, que é bem o emblema da estratégia açoriana dos últimos anos.
Não atraímos minguém. Nas áreas mais atractivas, só complicamos. Não sabemos legislar a nosso favor porque o nosso parlamento é uma paróquia. O discurso empresarial é provinciano. E a nossa massa crítica que ainda não emigrou, é abafada pela capa do vasto aparelho público.
A APIA foi um desastre, com a nomeação de pessoas desajustadas à função, criaram-se gabinetes, fizeram-se “road shows” atamancados. Centenas de jantaradas depois e cartões de crédito ao desbarato para despesas de representação, o resultado é uma coisa confrangedora.
Paralelamente, criou-se outra entidade “investidora” chamada “Ilhas de Valor”, esta coisa híbrida que congrega resmas de funcionários do orçamento regional, gerindo empresas falidas numa atitude bíblica de fraternidade social, porque é preciso aguentar até à derrocada final, em vez de se reestruturar, modernizar e viabilizar.
Uma economia assim não resiste.
A economia regional está recheada de gente política, de amiguismos, de influências, de partidos, em detrimento de gestores, investidores, conhecedores, visionários, estrategas e apostadores.
À estratégia do arrojo no investimento, respondemos com subsídios.
Até já se diz, no discurso político, que os apoios sociais são investimento!
Precisamos urgentemente de investimentos com retorno e com sustentabilidade.
É preciso direccionar todos os nossos recursos para os sectores reprodutivos, retirando máximo rendimento e as respectivas mais-valias.
Precisamos de uma geração sem medo de desafios.
As políticas de coesão falharam em toda a linha e o mercado regional tornou-se uma miragem.
Até a nossa maior riqueza geoestratégica, o mar, parece estar a saque. O potencial da nossa Zona Económica Exclusiva, com cerca de um milhão de quilómetros quadrados, com uma biodiversidade fantástica e enormes riquezas hidrotermais, jaz esquecido nos compêndios das prioridades políticas.
Não sabemos proteger os nosos produtos, quanto mais desenvolvê-los.
É tudo atamancado. Tudo subsidiado. Tudo facilitado.
Politicamente, estamos confinados à gestão do auto-reconhecimento, como aquela dos políticos se pagarem a si próprios, com senhas de presença, pela participação em reuniões da Associação de Municípios.
Os voluntariosos das freguesias, das aldeias, das Casas do Povo, das associações cívicas, dos clubes populares, agradecem o manjar de trabalho voluntário.
E os ranchos que vão cantar às estrelas, não têm direito a senha de presença de 800 euros?
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PS – O Congresso do PS-Açores cumpriu a sua função: apunhalar Seguro e “eleger” António Costa futuro líder nacional. O cargo de César passou despercebido. Missão cumprida!
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RELVAS – O Ministro Relvas é um pontalhão. Falhou em toda a linha na privatização da RTP e ainda tem a lata de dizer que tinha razão. Agora vai passar a Ministro dos Despedimentos. Este país não tem cura.
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DEVOLVIDO – Afinal os autarcas vão devolver tudo o que ganharam em senhas de 800 euros. É um rebate de consciência. Mas foi preciso o Tribunal de Contas descobrir a marosca e muita gente refilar. E os que ocuparam os mesmos cargos nos anos anteriores? E nas outras Associações de Municípios, passa-se o mesmo?

Pico da Pedra, Janeiro 2012
Osvaldo Cabral

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