Para uma nova arte de balear (comunitária, económica, europeia)
by Urbano Bettencourt on Sunday, 27 January 2013 at 10:30 ·
Se
o salitre nos encharca os olhos e o vento se esfarrapa na rama dos
pinheiros, é tempo de dizer a solidão extrema da ilha, desoladoramente
outonal, e nem Augusto Gil transformaria tudo isto na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho. E que fazer destas casas naufragadas entre
mistério e mistério?
Quereria eu regressar ao apelo da página, mas deverá ser a escrita o lado oposto do silêncio?
Vamos, então, à caça da baleia!
Da arte do fingimento (pessoana, comme il faut) colhamos os ensinamentos necessários à sobrevivência da espécie e do Museu dos Baleeiros desviemos os instrumentos de baleação, de cuja ausência quem suspeitaria?
Poderíamos talvez pintar as baleias de azul celestial, com estrelas na cauda ou nos flancos, e nelas cavalgar pelas rotas do atlântico. E se de repente estes dorsos inquietos se erguessem das águas e violassem o espaço aéreo, levando-nos para lá das ilhas sem outra palavra que não um breve adeus?
Os turistas não gostariam, por certo, de práticas tão pouco simulatórias e haveriam de exigir reembolsos e indemnizações à conta de artes folclóricas avessas ao imprevisível do sonho e da loucura.
Rendamo-nos, pois, à mediania dos números e do poliglotismo das cifras!
Rememos veridicamente pelo Canal fora, acenando com a nossa hospitalidade (con)cordata ao convés vigilante dos cruzeiros multinacionais. Os turistas rebolar-se-ão de gozo ecológico, quando, sobre a proa se alevantar o trancador para arpoar a baleia com agulhas de pinheiro manso.
Quem atentará, então, no olhar perplexo do monstro vindo dos fundos líquidos da história?
(jornal Signo, 24 de Novembro de 1987)
Quereria eu regressar ao apelo da página, mas deverá ser a escrita o lado oposto do silêncio?
Vamos, então, à caça da baleia!
Da arte do fingimento (pessoana, comme il faut) colhamos os ensinamentos necessários à sobrevivência da espécie e do Museu dos Baleeiros desviemos os instrumentos de baleação, de cuja ausência quem suspeitaria?
Poderíamos talvez pintar as baleias de azul celestial, com estrelas na cauda ou nos flancos, e nelas cavalgar pelas rotas do atlântico. E se de repente estes dorsos inquietos se erguessem das águas e violassem o espaço aéreo, levando-nos para lá das ilhas sem outra palavra que não um breve adeus?
Os turistas não gostariam, por certo, de práticas tão pouco simulatórias e haveriam de exigir reembolsos e indemnizações à conta de artes folclóricas avessas ao imprevisível do sonho e da loucura.
Rendamo-nos, pois, à mediania dos números e do poliglotismo das cifras!
Rememos veridicamente pelo Canal fora, acenando com a nossa hospitalidade (con)cordata ao convés vigilante dos cruzeiros multinacionais. Os turistas rebolar-se-ão de gozo ecológico, quando, sobre a proa se alevantar o trancador para arpoar a baleia com agulhas de pinheiro manso.
Quem atentará, então, no olhar perplexo do monstro vindo dos fundos líquidos da história?
(jornal Signo, 24 de Novembro de 1987)
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